terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A COLUNA DO JORGE...




Desigualdades sociais em Portugal


Como estudante de Serviço Social, não podia de forma alguma ficar alheio à questão das desigualdades sociais em Portugal. Considero que a concentração de riqueza está cada vez em menos mãos, logo é o factor que mais contribui para a desigualdade social. O mais estranho é que é os países mais ricos que têm menos concentração de riqueza, facto que contraria a mentalidade portuguesa que considera que quantas mais pessoas ricas, mais rico será o país. A ideia de que a pobreza resulta da preguiça, não faz sentido. Somos o país em que as pessoas trabalham mais horas e que piores salários têm. Isto está perfeitamente demonstrado pelo Prof. Bruto da Costa que ao longo de vários anos se tem dedicado a estudar o fenómeno da pobreza em Portugal, e numa entrevista publicada no Público, identifica de forma muito clara os fenómenos que conduzem à pobreza em Portugal, a saber: baixos salários, evasão fiscal, organização das empresas e métodos de gestão. Mais ainda, os pobres trabalham, têm vencimento e não conseguem deixar de ser pobres. A distribuição de riqueza, ao contrário de que afirmam os sectores conservadores da política portuguesa, não se faz pelos subsídios. Estes apenas deveriam ser usados como meio de evitar a fragilidade económica de pessoas ou famílias, mantendo um mínimo de dignidade e sobrevivência. A distribuição da riqueza faz-se antes de mais pela valorização do trabalho e da actividade económica. O investimento na produção e não na especulação é a alavanca para o combate às desigualdades sociais. Ao nível do trabalho, vencimentos dignos fazem muito mais pela distribuição de riqueza do que os investimentos na Bolsa. Esta ideia contraria a prática vigente, que reclama mais despedimentos e pouco faz para incentivar mais investimentos. Tenho consciência de que a qualidade de emprego e a sua manutenção terá que ser revista, ou seja, não poderemos manter o sistema de emprego baseado no emprego de mão-de-obra intensiva, barata e de baixas qualificações e que também a força laboral terá que trocar o emprego seguro pela empregabilidade do seu trabalho. Mas em Portugal, e no resto do mundo, diga-se, a concentração de empresas em cada vez menos grupos económicos que se estão a tornar cada vez maiores, reduz o mercado de trabalho, limita o acesso à empregabilidade e impõe a “lei do mais forte” nas relações contratuais, evitando deste modo, o desenvolvimento de um verdadeiro mercado onde realmente as capacidades e competências de cada um possa ser desenvolvidas e reconhecidas. A solução não pode ser encontrada só no país, embora os governos podem e devem fazer mais, nomeadamente, na própria consciencialização e participação dos cidadãos na resolução deste problema. E parte do segredo reside aqui. Não é continuando a pedir mais sacrifícios, nomeadamente, despedimentos e redução de vencimentos (e depois hipocritamente, como alguns sectores políticos o têm feito, chamar aos desempregados preguiçosos e oportunistas por “viverem” do subsidio de desemprego), mas sim construir a imagem de que o país é um projecto em construção no qual todos devem participar. A democracia tem um defice de participação motivada por uma classe política que na dupla tentativa de controlar o poder e permanecer nele, teme e evita o desenvolvimento de movimentos de cidadãos. O movimento associativo e cooperativo é um instrumento valioso na superação destas dificuldades. Contudo, é sistematicamente desvalorizado em favor do tecido empresarial institucionalizado. E aqui reside outra saída para crise. O desenvolvimento da economia social permitiria abrir novas áreas de negócio, melhorar o nível da distribuição de riqueza e o equilíbrio social. Para isto é necessário que o novo modelo social europeu seja implementado e considere quer a participação cívica, quer a economia social dois instrumentos fundamentais para a saída da crise social que nós e a Europa estamos a atravessar. O projecto europeu terá que se afirmar por um novo modelo económico-social que, sem pôr em causa a competitividade da economia, regule mercados, redistribua a riqueza gerada de forma mais justa e promova a inclusão social. A incapacidade de um país por si só desenvolver este projecto, leva-nos a concluir que só uma unidade supranacional e cooperando entre si, pode criar uma nova organização social mais equitativa.



Jorge Neves

Independente Bloco Esquerda

Assembleia Freguesia São Bartolomeu

1 comentário:

LUIS FERNANDES disse...

Concordo jorge. O modelo social vigente tem de ser imperiosamente repensado. Caso contrário, conduzirá à violência e ao caos.
Abraço.