sábado, 29 de outubro de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...


 



Márcio Ramos deixou um novo comentário na sua mensagem "Estão a matar a Feira de Velharias (2)":


Antes de mais seria um erro monumental tirar a Feira de Velharias da Praça do Comércio, mesmo que fosse para o Terreiro da Erva. Fazer isto, seria o mesmo que alterar o percurso da Queima das Fitas, ou, por exemplo, das procissões da padroeira. É já uma tradição nesta cidade. Acho sim que devem ser feitos alguns reparos, que a meu ver mudariam por completo esta praça centenária.
O Terreiro da Erva devolveu à cidade um espaço que outrora era preenchido por estacionamento. Hoje quem lá vai vê apenas alguns carros de moradores parados em sítio identificado para o efeito. A delimitar o terreiro, até nas entradas, como na Sofia, há pilares que podem descer a fim de deixar passar uma ambulância.
Agora pergunto: com tantas obras a decorrer na cidade, não haverá uns tostões para colocar uns pilaretes de ferro junto da igreja de São Bartolomeu, a fim de evitar o estacionamento abusivo? Seria uma solução simples e fácil de realizar.
Outra questão, as esplanadas. Será que é mesmo preciso ocupar mais de metade da praça com mesas e cadeiras? Encurtar o espaço ocupado, sobretudo nos dias em que se realizem eventos, não seria mais sensato? E não são muitos, relembro a Feira das Cebolas, de Velharias, e da Passagem de Ano Novo. Não poderiam estes comerciantes serem alertados para colocarem apenas metade da explanada nestes dias? Assim a feira iria crescer um pouco. Bem sei que os hoteleiros pagam a área por si ocupada a peso de ouro, mas cabe à autarquia harmonizar os interesses das partes.
Como já disse no inicio não acho que a Feira das Velharias deva mudar de sítio. Primeiro, está num local central da cidade, onde passam muitas pessoas. Depois, dá um pouco de alegria ao coração da Baixa, e que, retirando o turismo, está muito desertificada, com poucos moradores. Depois, por que já está gravada na memória de muitos compradores. Não seria sensato mudar de local.
A meu ver, a câmara deveria investir nesta e noutras feiras, anunciando a sua realização nos jornais e rádios locais, nas redes sociais. Por outro lado, nem que começasse a cobrar, deveria dar às pessoas que vão lá fazer o seu comércio melhores condições. É verdade que às vezes o tempo não ajuda, mas terá de se fazer alguma coisa. Também não entendo a razão de não haver policia, quer fosse por causa do estacionamento, quer fosse para proteger os comerciantes e os visitantes.
Outra questão. Nas vastas feiras que se fazem nesta cidade noto uma coisa: são todas muito iguais e pouco se distinguem entre si. Realiza-se em Coimbra um certame que atrai milhares de pessoas e só se realiza uma vez por ano, a Feira Medieval, no Largo da Sé Velha. Por que não realizar, durante o ano, outros eventos parecidos e na linha do antigo. Este género de alegorias trazem consigo muita animação. E a propósito: por que não há a participação de grupos alegóricos? Ou até teatro de rua, gaiteiros, performers? Por exemplo.
Andam agora a requalificar certos pontos da cidade, como o parque de estacionamento junto ao Estádio Universitário. Pergunto, quando vai ser requalificada a Praça do Comércio, retirando de vez os automóveis? Quando é que este largo volta a recuperar o brilho de outros tempos? Ou será que há interesse em deixar ficar tudo como esta? A bem do interesse egoísta de alguns moradores e comerciantes acaba-se com a tradição e desfigura-se uma praça magnifica?

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA":


Senhor Luís, entrar no seu estabelecimento é sempre um prazer. Eu é que não sei o que lhe poderia dizer, de viva voz, mais do que o que disse aqui e o senhor também não me diria mais sobre o estado da nossa cidade do que sempre aqui tem dito. Nenhum de nós tem dúvidas, pois não? Só uma última coisa: a propósito de uma noticia recente sobre obras na estação velha, o primeiro cartão de visitas de quem aqui chega, vamos estar atentos e que nenhum nós deixe de exigir uma coisa decente e bonita e de criticar se for o caso. Obrigado pela sua atenção.

António
 

MAIS LOGO, QUANDO DER DUAS, DÊ UMA VOLTA E FIQUE NA UMA





Esta noite, relembrando tempos passados, depois de já ter dado duas, mais uma volta, e mais uma. Fique nesta.
Mais logo, quando os relógios marcarem duas horas, não esqueça de atrasar uma hora e ficar na uma. 
É interessante como os políticos, preocupados com o nosso bem-estar, nos mandam dar uma volta. Dizem que, com este atraso horário, Portugal fica alinhado com o tempo universal. Mas há quem diga que o país diverge desta universalidade cerca de vinte anos -é certo que já foi muito mais e, já chegou a ser quarenta, e, com muita esperança, talvez ainda consigamos alcançar o azimute. A meu ver, que destas coisas pouco percebo, não é fácil encarreirar. Parecemos perdidos num labirinto em busca obsessiva de uma saída feliz. Com voltas e mais voltas, queremos, a qualquer custo, apanhar a felicidade. Mas, para ser feliz é preciso pouco e o contentamento, o bem-sentir, está tão perto, está dentro de nós.
Notoriamente, numa escala de sanidade mental, estamos a enlouquecer e não damos conta. As fixações vieram para ficar e os anti-depressivos tentam dourar a pílula, fazendo de conta de que se consegue pintar o negro de cores claras e brilhantes. A luta diária é permanecer à tona e não sufocarmos no oceano do ensandecimento.
O individualismo, o salve-se quem puder, é cada vez maior. A falta de escrúpulos, o esmagar o outro, colocando-lhe um pé em cima mesmo que isso possa resultar na sua própria destruição, é a “religião” do tempo. Não deixa de ser curioso como este “re ligar”, ligando o eu ao meu eu, nada tem a ver com o alinhar com o outro, o próximo, aquele que está ao meu lado. Toda a religião, na sua historicidade e processo histórico, belicoso ou de paz, envolveu sempre o outro. Contrariamente, hoje a guerra é surda e silenciosa. É connosco. Somos nós, que pela overdose de respostas facilitadas para problemas difíceis, perdemos o interesse para dissecar a exactidão. A verdade há muito que deixou de ser uma convicção para ser somente uma tese construída no prostíbulo da ideologia vazia, no egoísmo da afirmação sem fundamentação.
Buscando o lucro imediato, mas sempre em nome do progresso, a ciência rendeu-se à procura da solução fácil para dificuldades materiais complicadas, tangíveis, e largou de vez a investigação da verdade. A autenticidade, a veracidade, deixou de ser o húmus, a purificação da existência e, sendo remível a dinheiro pelas autoridades judiciais, passou a ser uma mera conveniência de negócio
O medo tomou conta de nós e consome as nossas entranhas. Temos receio de tudo e de todos. A sombra, enquanto devir, as mudanças pelas quais passam as coisas, perdeu o apaziguamento do transitório e transformou-se no permanente anátema da tragédia eminente.
A filosofia não traz dividendos e passou a ser apenas distracção para loucos. O Sol a pôr-se e o pôr-do-sol, enquanto fim e princípio da luz, são contemplações abstractas que adivinhamos num poema. Já poucos perdem tempo a olhar o mar e sonhar com a realização.
Mais logo, quando bater duas, não esqueça, repita e bata uma.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

UMA TERTÚLIA NO CAFÉ SOFIA






Passavam uns minutos das 18h00, perante uma plateia pequena mas interessada, quando o Mário Jesus, o organizador, deu as boas-vindas aos clientes e amigos da Aguinalda -Guida, como gosta de ser tratada. Na sala do Café Sofia, na Rua da Sofia, o silêncio tomou de assalto aquele espaço histórico da cidade. O tema da tertúlia era “Encontro de antigos e actuais clientes do Café Sofia” .
E o Mário abriu o encontro com “histórias da minha vida” onde o Café Sofia foi parte preponderante. “O Café Sofia, nos anos de 1960 e início de 70 era vigiado pela PIDE”, atirou o Mário para prender a assistência. E prosseguiu, “há alguns trabalhadores da hotelaria, dessa altura, que ainda estão no activo. Às vezes encontro amigos que deixei de ver durante algumas décadas. Ainda há dias aconteceu. “Estás bom, pá?!? Não te lembras de mim? Sou o Adelino, que estudava Direito”. Num primeiro olhar foi de surpresa e em busca da memória. O Adelino, o Adelino... Ah pois, o Adelino. Claro, o Adelino! Então não me havia de lembrar do Adelino?! Mas ele estava tão diferente, pensei para mim. O tempo, para além da memória, arrasa tudo. Começámos a relembrar episódios dessa época e depressa já estávamos sintonizados. Fiquei a saber que é advogado e está em Anadia onde tem um escritório.
Houve outros que andaram aqui na tropa, neste quartel situado aqui na rua e que já desapareceu. É tão bom encontrar amigos da nossa geração!?!”. E o Mário pareceu suspirar e procurar apoio com os olhos em alguém da assistência.
Continuou, “a primeira música do “Zeca” Afonso que ouvi foi a “formiga no carreiro”. Lembro-me bem. Havia também o doutor Santos -era comunista-, e ficámos a saber a razão de ele frequentar o Café Sofia. Na altura, a sede do PCP, Partido Comunista Português, era aqui quase em frente e do outro lado da rua. Muitos militantes vinham aqui ao café por razões de proximidade. Nesta importante via dos colégios de finais da Idade Média, por volta dos anos de 1960, havia aqui dois importantes cafés: também com fabrico de pastelaria, a Sírius e o Café Sofia. Tenho dois amigos que arranjaram aqui namoradas e, por este conhecimento, casaram.
Por alturas de 1974, antes do 25 de Abril, eu era operador cripto no Quartel-general, na Rua Antero de Quental. Quando me juntava aqui, no café, eu vinha passar informações. Não estou arrependido. Algumas que dei ajudaram a resolver algumas situações. Algumas resultaram. Não me arrependo de nada.
Há cerca de 50 anos eu trabalhava aqui na rua, num consultório de um advogado, o Dr. César Abranches -estagiou lá o Dr. Lucas Pires. Quando era preciso ir chamar o Dr. Pires eu ia e ele dava-me sempre dinheiro para comprar um croissant. Ainda havia gente boa. Ninguém passava fome, mas havia muita gente a passar mal.
Todos os Domingos, de onde quer que estivesse, eu vinha sempre ao café Sofia. Era uma espécie de catedral onde os fiéis não podiam faltar à homilia. Se viesse alguém de fora, era aqui que nos encontrávamos. O café Sofia era o ponto de encontro. Tenho tanta saudade desse tempo!”
A seguir, outro assistente relatou partes da sua vida. Por vezes até pareceu que uma lágrima balouçava nos olhos do relator.
Parabéns, Guida, pela iniciativa de trazer histórias de antanho. Foi bonito de ver.

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA":


Sr. Luís, obrigado pelo diálogo. Vou aproveitar e abusar mais um bocadinho.
Eu não disse em lado nenhum que a Baixa não era segura. Eu ando na Baixa a qualquer hora do dia e da noite sem medo de assaltos. As razões pelas quais acho que a Baixa não é exatamente um pólo turístico atrativo, são as mesmas que o senhor tem avançado ao longo dos anos aqui no seu blogue. Nem mais, nem menos. É precisamente porque gosto da minha cidade e quero dar dela uma boa imagem, e não o contrário, que hesito em recomendar passeios pela baixinha a quem vem de fora. As críticas e as imagens estão no seu blogue. Portanto, fico eu sem percebe-lo.
Neste ponto, passamos para o eventual impacto para o turista das críticas na tal reunião. O impacto é próximo do zero. São muito escassas as hipóteses de um francês ou um japonês estarem atentos a uma reunião promovida pela APBC, no Teatro da Cerca de São Bernardo, com sumidades locais. Mas, se for como diz, o sr. Luís terá também de ter cuidado com as críticas que coloca aqui no seu blogue, ainda com mais razão, até porque até são ilustradas. Eu recomendaria antes aos leitores que passem pelo site da Câmara Municipal, onde não se vê nada disto, muito pelo contrário.
Aliás, era o que faltava que o cidadão comum, instituições, o que seja, não pudessem fazer críticas públicas, com receio de que o turista as vejam. É a primeira vez que leio tal coisa.
Eu não sou procurador da Universidade, mas ainda não percebi igualmente o que se pretende que a Universidade faça, em concreto, na Rua da Sofia e na Baixa em geral. Estou a ser sincero, não percebi mesmo. Para além disso, tem noção de que a maior parte dos turistas que vão à Baixa, vieram já, ou estão a caminho, da universidade? Portanto, faz já mais a Universidade pelo turismo em Coimbra do que qualquer outra instituição.
Passando, finalmente, para razões pelas quais a Baixa não chama mais consumidores, não é difícil. Falta gente a habitar na Baixa. Falta vida local. Em primeiro lugar estão os habitantes, depois o turista. Este sente-se bem a passear em locais com gente a viver, com ruído, com luz. Mas para terem gente, é preciso várias coisas: recuperação das casas, comércio variado de proximidade, bons equipamentos, limpeza, iluminação, etc.
Eu não sei bem se, ao dizer que é bom e variado o comércio na Baixa está na sua veste de “não dizer mal para os de fora ouvirem”, ou se está a ser mesmo sincero. É que o eixo Portagem-Praça Oito de Maio, ainda vá que não vá, embora eu continue a achar que tem demasiadas lojas de recuerdos. Mas a parte das ruas estreitas da baixinha? A sério?
Quanto aos guias turísticos e centros comerciais, estava obviamente a ironizar. Nós, os habitantes e consumidores, sabemos bem as razões pelas quais vamos ou não vamos a um lugar, não precisamos que nos expliquem.

António


**************************


NOTA DO EDITOR

Muito obrigado pelo seu comentário, caro António(a). Lamento que eu não tenha sido suficientemente claro. Fragilidade minha, admito. Com todo o respeito pela sua opinião e algumas dúvidas que o perseguem, mas não é minha intenção chover no molhado, como quem diz, repetir as mesmas afirmações “ad eternum”. Se, para si, é tão importante esclarecer certas indecisões, conhece-me, não conhece? Sabe onde me encontrar, não sabe? Então, nesse caso, não preciso escrever mais nada.
Com os melhores cumprimentos.

Luís Fernandes

BOM DIA, PESSOAL...




Verdadeira poesia.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA":


Sr. Luís, o meu nome é António e juro que não tenho nada a ver com essa discussão aí em cima. Se, mesmo não me conhecendo e desconfiando se não terei outro nome, pudéssemos atentar aqui somente a factos e discutir sobre eles, agradecia. Eu já leio o seu blogue há muito tempo, não só porque é o melhor repositório de memórias da cidade (pelo menos de parte dela), como porque é um sítio onde verdadeiramente se discute a cidade. Tomara haver mais com a sua energia e gosto.

Eu vivi até à adolescência na Rua da Moeda e como o meu pai ainda por cima toda a vida trabalhou na baixa, conheço-a muito bem e a sua evolução. Quer-me explicar porque é que, depois de anos a falar no abandono da Baixa, incluindo sujidade, etc, agora a culpa é dos guias turísticos ou da universidade, que não fazem a sua promoção, ou porque falam mal dela? Nenhum turista deixa de cá vir, porque alguém, numa qualquer sala de Coimbra, ter dito isto ou aquilo.
Quanto aos guias, até eu hesito em levar amigos de fora à zona da baixinha. Tem o efeito contrário de relações públicas da minha cidade…. Se já é assim de dia, quanto mais à noite. Quanto à Universidade, quer se queira, quer não, tem feito uma boa promoção do seu património. Quanto à Rua da Sofia, a universidade até tem o seu património recuperado. Também deve fechar a rua ao trânsito e abrir lá espaços comerciais novos e modernos?
Os comerciantes passam a vida a queixar-se de os conimbricenses se terem passado para os centros comerciais. Qual foi a razão? Falta de guias turísticos para lhes explicarem as maravilhas da Baixa?


*****************************


NOTA DO EDITOR

Começo por lhe agradecer, António o seu comentário e também algumas questões que coloca. Passando o seu elogio, que me deixa satisfeito, vamos então às suas interrogações.
Comecemos pela primeira:

Quer-me explicar porque é que, depois de anos a falar no abandono da Baixa, incluindo sujidade, etc, agora a culpa é dos guias turísticos ou da universidade, que não fazem a sua promoção, ou porque falam mal dela?”

Vamos por partes, enquanto cidadão trabalhador e residente na Baixa, sempre escrevi e vou continuar a escrever contra o abandono, incluindo a sujidade. Sem exagero já plasmei várias vintenas de crónicas sobre o tema da limpeza. Nunca culpei os Guias turísticos, ou melhor, os Guias Intérpretes sobre a sujidade das ruas. Acontece que, provavelmente, também já teria escrito outras tantas sobre o turismo (viciado) na cidade -sobretudo as suas rotas.
Quando decidi participar no auditório da Escola da Noite, no Teatro da Cerca de São Bernardo, na conferência seguida de debate sobre o lema “A visão do Guia Interprete para uma Cidade Património da Humanidade", esperava ouvir dos membros do painel, primeiro, um balanço de três anos de actividade -depois da classificação de Património Mundial da cidade pela UNESCO- e depois um plano com medidas para melhorar o que está mal.
Ora aconteceu que, logo depois da apresentação dos membros da mesa em representação de várias entidades por Vitor Marques, presidente da APBC, o representante da Universidade, para além de se ter mostrado juiz em causa própria -isto é, elogiando o trabalho da entidade a que pertence, como se estivesse tudo perfeito e sem necessidade de alterar fosse o que fosse-, por silogismo, começou a atribuir a não frequência da Rua da Sofia por grupos de turistas como se a causa fosse por inteiro dos comerciantes e hoteleiros -e citou o (mau) exemplo de tudo estar fechado às 18h00 de Sábado.
A seguir, os outros elementos com poder delegado pelas organizações a que pertenciam continuaram na mesma linha condutora. Ou seja, em vez de se focalizarem no presente e apontando o futuro -avaliando o que está mal e seria preciso alterar-, fizeram um rastreio de desastre e com muitas inverdades à mistura.
Então aconteceu uma coisa gira, eu que até nem vou à bola com a vereadora da Cultura, Carina Gomes, por aquelas acusações centralizadas -, sem ofensa para os visados, a parecerem orquestradas-, de repente, vi-me ao seu lado, indignado, a defender a Baixa e a cidade de tanta acusação a esmo e ao desbarato. Eu que levava armamento pesado na sacola para acusar a edilidade de nada fazer pelo turismo na Baixa, perante tais tiros de artilharia pesada provindos do painel, acabei (pelo menos na primeira parte) ao lado da representante da Casa da Cultura. Só quem lá esteve pode aferir: parecia um ataque cerrado à Câmara Municipal. Por várias vezes aquilo me surgiu como uma encenação. Julgava que não era verdade o que ouvia, vindo de quem vinha.
Se há coisas que não prescindo é tentar ser justo. E ali, naquele auditório, perante as minhas barbas, praticava-se uma clamorosa injustiça. Explicando de outra forma, desviava-se o essencial para o acessório, do centro para a periferia.

Nenhum turista deixa de cá vir, porque alguém, numa qualquer sala de Coimbra, ter dito isto ou aquilo.”

Não estou certo de que assim seja, pelo menos quando tais afirmações de “bota-abaixismo” são proferidas pelos mais altos dignitários do turismo.

Quanto aos guias, até eu hesito em levar amigos de fora à zona da baixinha. Tem o efeito contrário de relações públicas da minha cidade…. Se já é assim de dia, quanto mais à noite.”

Com todo respeito pela sua opinião, mas cada um tem a sua. Uma coisa é eu pugnar por uma cidade mais limpa e mais atractiva, outra é eu, numa qualquer conferência -sendo eu o conferencista- afirmar que a cidade é porca, ou até insegura. Este mesmo princípio aplico-o quando falo com turistas que nos visitam e me perguntam sobre a Lusa Atenas. É óbvio que digo que Coimbra é, de facto, uma cidade segura e linda, com toda a sua monumentalidade e gente acolhedora e pacífica. Qualquer um de nós, perante um desconhecido que nos visita, deve ser um embaixador de boa-vontade. Se disser o contrário o que estou a fazer? A empurrar o turista para outra cidade. É isso que quero? É isso que me convém?

Quanto à Universidade, quer se queira, quer não, tem feito uma boa promoção do seu património. Quanto à Rua da Sofia, a universidade até tem o seu património recuperado.”

Nunca escrevi que a Universidade não tivesse feito uma boa promoção do seu património. O que disse é que não está aproveitar devidamente a Rua da Sofia, que é, como sabemos, um dos polos que deu origem à classificação pela UNESCO. Escrevi também que, em metáfora, está muito centralizada no seu umbigo -como quem diz, na área da Universidade, incluindo a Biblioteca Joanina, e esquecendo toda a Baixa como um todo, ou uma parte, se considerar a Rua da Sofia.
Disse também que a criação do Bilhete Único, acordado entre a Universidade e a Fundação Bissaya Barreto (com o Portugal dos Pequenitos) pecava por ter olhos curtos. Este protocolo deveria abarcar todas as Igrejas. Fiquei a saber que foi assim implementado por falta de resposta dos interessados. Não gostei foi de ouvir pelo vice-reitor, Filipe Menezes, que antes de eu referir o lado “coxo” do protocolo deveria ter-me informado previamente. Erro crasso seu, meu caro Menezes, o senhor é que tinha e tem obrigação de explicar tudo ponto-por-ponto à comunidade. Para isso, na sua função, é pago.

Também deve fechar a Rua (da Sofia) ao trânsito e abrir lá espaços comerciais novos e modernos?
Os comerciantes passam a vida a queixar-se de os conimbricenses se terem passado para os centros comerciais. Qual foi a razão? Falta de guias turísticos para lhes explicarem as maravilhas da Baixa?

A Rua da Sofia, no meu entendimento, tem bons estabelecimentos, tradicionais e modernos. Quanto a mim, não deve ser encerrada ao trânsito. O que deve é manter apenas um corredor estreito somente para uma fila de trânsito, ascendente ou descendente -sem esquecer os espaços para paragem de transportes colectivos e carga e descarga.
Quanto ao comparar os centros comerciais aos Guias só pode estar a ironizar. Sabe muito bem que o cu não tem nada a ver com as calças. Entre vários factores que empurram os conimbricenses para as grandes superfícies -são tantos que não tenho tempo para explicar-, falo-lhe apenas de um: evolução do comércio, com alteração dos hábitos e costumes. Será de supor que, num eterno retorno, um dia desaparecerão -ou pelo menos terão pouca expressão- e, com diferenças substanciais, tudo voltará a ser como dantes. Quando acontecerá? Dar solução a esta pergunta, é a resposta de um milhão de euros.

quarta-feira, 26 de outubro de 2016

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE... E UMA RESPOSTA




AC deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA ESCANDALOSA VISÃO DESFOCADA E DISTORCIDA DA CI...":


Sr. Luís Fernandes:

O que li, entre manguitos, foram excertos de intervenções seguidos de uma crítica despida de qualquer valor acrescentado à questão em causa.
Fazendo fé neste seu relato, espero, verdadeiramente, que não tenha sido este o contributo que tenha dado ao debate, caso contrário sou obrigado a dizer-lhe que sim, para a próxima, não vá.
Por partes:


A 1ª crítica focou-se no facto de que, ao contrário do que o Sr. Filipe Menezes disse, afinal havia um (pasme-se) um café aberto na Rua da Sofia, num sábado (!) às 18h (!). Fantástico. Foi este o seu argumento para carinhosamente deixar-lhe um manguito. Genial.


MJF, (Maria José Fernandes) G.I. (Guia Intérprete)


Permita-me, o nome da profissão é Guia Intérprete (G.I.) e não guia turística. Guia turístico é um livro.
A sua crítica: "Preferiu enveredar nos clichés habituais: a cidade está suja…”
Já pensou que estando um GI em contacto directo com centenas de turistas as queixas feitas tenham por base as próprias queixas dos turistas?! Será que só a um residente é permitido queixar-se? Não me parece.
Adjectivar de clichés situações reais como a sujidade nas ruas é, mais uma vez, de génio.
Diz o Sr. Luís Fernandes que "enquanto vendedor de um produto (GI), não pode ser tomado de apriorismos nem dizer mal do artigo que vende."
Não estou a ver nenhum GI queixar-se ao turista da sujidade nas ruas. O máximo que pode acontecer é, ao explicar ao turista a história da cidade, disfarçadamente e envergonhadamente, arrumar com o pé uma qualquer garrafa ou saco do lixo presente na rua.
À oradora (MJF): para a próxima vez que um turista se queixe do cheiro nauseabundo que habita nalgumas ruas, diga apenas: “por favor, isso é um cliché.” Não faça é manguito.

P.C. (Paulo Cosme)

Achei curioso não ter feito nenhuma alusão ao comentário do senhor P.C. (Paulo Cosme) relativo às imagens da Rainha Santa.
Existem ou não? Um turista compra uma imagem da Rainha Santa (apenas a Santa Padroeira da cidade) com a facilidade que compra uma peça de cortiça? Não. Mas para o Sr. Luís Fernandes não é um problema. Pelo menos não ao ponto de merecer um manguito.

M.M. (Marli Monteiro)

Oradora (M.M) diz: "Uma grande empresa, que se queria instalar em Coimbra com uma loja, não veio porque encontrou uma cidade suja, porca."
Não se compreende. Será que a empresa não sabe que a sujidade na cidade é um cliché? Faz parte do encanto turístico, lembra a Idade Média, onde a limpeza não abundava. Falta de visão.
"Há ruas na cidade que eu não levo turistas, porque está tudo sujo. Eu vivo numa rua próximo do Hospital. Como é que podemos ganhar dinheiro com os turistas?"
Enquanto residente tem todo o direito em queixar-se. Enquanto guia intérprete não.
"Façam um mapa comercial. Há um certo sentido de repetição (…). São precisas livrarias, lojas de design, degustação de vinhos."
Para o Sr. Luís Fernandes, estas não são ideias válidas. Diversificar, ir ao encontro do turista, isso não. Manguito para estas ideias.

Carina Gomes, Vereadora da Cultura (título aposto pelo editor)

Concordo com a Sra. Vereadora. Em tudo. Nomeadamente na parte em que diz que continua muito por fazer.
Já o Sr. Luís Fernandes discorda da parte em que, de forma cordial e civilizada, esta se despede dos intervenientes com beijos e abraços ao invés de "chapadas" e "pontapés" por terem tido a ousadia de exporem publicamente as suas ideias, claramente não do seu agrado.
Discorda também do facto de a V. ter pedido (e) aos presentes para não falarem mal da cidade nas redes sociais.
Concordo. Em que termos? Tal como um GI (Guia Intérprete) deve vender bem o produto, o cidadão, não obstante o seu dever cívico de reclamar quando necessário, deve fazê-lo, neste caso nas redes sociais, de forma cívica, construtiva e em termos apropriados. Tal como os GI (Guias Intérpretes), as redes sociais também vendem o produto.
Este comentário tem por base o texto publicado neste blogue.
Quero acreditar, que o Sr. Luís Fernandes no debate tenha feito propostas, dado o seu ponto de vista, o que deve ser feito para que a cidade evolua.
Se se limitou a expressar o que este texto espelha: lamento, mas indignados e desesperados já há uns quantos.


******************************


RESPOSTA DO EDITOR

Começo por lhe agradecer, Senhora, o ter comentado, alínea-por-alínea, desta forma tão assertiva. Bem sei que se esforçou por demonstrar que é um homem e que nada tem a ver com o cargo que ocupa. Empenhou-se também em parecer que não esteve lá. Debalde, porque ambos sabemos quem somos, estou em crer. Como deve calcular, preferia que se tivesse identificado. Ficava-lhe bem. Deveria ser seu ponto de honra. Bem sei que estou sempre em desvantagem quando concorro com alguém que se esconde atrás do anonimato. Mas, deixe lá, também não é importante. Em desabafo, permita-me dizer-lhe que em democracia só deveria ser permitido dar voz a quem mostra o rosto. Mas se até a Administração Pública, seguindo o percurso do Estado Novo, dá crédito aos incógnitos quem sou eu para me indignar? Quando a maioria dos (poucos) comentários que recebo no blogue são dissimulados, o que hei-de fazer? Obviamente, lamentando a minha postura na aceitação, comporto-me da mesma forma que as autoridades deste país. Retrocedendo no principio, passei a dar-lhe a mesma importância que qualquer outro identificado. Isto mesmo, quase como ressalva, para entender porque plasmei o seu comentário.
Poderia até limitar-me a publicar a sua argumentação, porque creio que a crónica que escrevi está bem clara, mas tenho por ponto de honra nunca me esquivar a um bom debate de ideias, sobretudo quando é feito com elevação -como é o caso. Por estar certo de que não fui muito claro para si, por isso mesmo, vou responder-lhe tim-tim-por-tim-tim. Não quero que lhe falte nada. Homessa!
Vamos lá, então, à refutação:

A 1ª crítica focou-se no facto de que, ao contrário do que o Sr. Filipe Menezes disse, afinal havia um (pasme-se) um café aberto na Rua da Sofia, num sábado (!) às 18h (!). Fantástico. Foi este o seu argumento para carinhosamente deixar-lhe um manguito. Genial.”

Se quer uma sugestão, desloque-se à Rua da Sofia e fale com os empresários. Acredite, ficará logo a saber a razão de encerrarem quase todos ao Sábado à tarde. Eu sei porquê, mas não lhe quero subtrair o gosto de falar com eles.
Quanto ao manguito que deixei ao senhor Filipe Menezes, e aflora, digo-lhe, foi sobretudo pela prosápia dele em auto-vangloriar-se publicamente sobre o bom trabalho da Universidade em prol do turismo na cidade, a cuja equipa é parte importante. Se fosse assim um tão grande sucesso, a Rua da Sofia teria turistas a visitá-la -e não tem. No mínimo, deveria colocar a hipótese de admitir que a Universidade, enquanto promotora da candidatura à UNESCO, merece o respeito da cidade mas haverá pontos a limar, como, por exemplo, os trajectos viciados entre o Largo da Portagem/Almedina/Universidade e a Rua da Sofia que não recebe turistas por incapacidade das entidades representadas no painel. (Naturalmente que o manguito se mantém).

Permita-me, o nome da profissão é Guia Intérprete (G.I.) e não guia turística. Guia turístico é um livro.
A sua crítica: "Preferiu enveredar nos clichés habituais: a cidade está suja…”
Já pensou que estando um GI em contacto directo com centenas de turistas as queixas feitas tenham por base as próprias queixas dos turistas?! Será que só a um residente é permitido queixar-se? Não me parece.
Adjectivar de clichés situações reais como a sujidade nas ruas é, mais uma vez, de génio.
Diz o Sr. Luís Fernandes que "enquanto vendedor de um produto (GI), não pode ser tomado de apriorismos nem dizer mal do artigo que vende."
Não estou a ver nenhum GI queixar-se ao turista da sujidade nas ruas. O máximo que pode acontecer é, ao explicar ao turista a história da cidade, disfarçadamente e envergonhadamente, arrumar com o pé uma qualquer garrafa ou saco do lixo presente na rua.
À oradora (MJF): para a próxima vez que um turista se queixe do cheiro nauseabundo que habita nalgumas ruas, diga apenas: “por favor, isso é um cliché.” Não faça é manguito”

Se ler com mais atenção, ao longo do texto, verificará que também emprego a expressão Guia Intérprete. Este seu apontamento para desviar a atenção e fazer acreditar que está ligada à actividade não colheu.
Minha senhora, como não entendeu a minha crítica, vou explicar-lhe melhor. O que quis dizer é que aquelas pessoas, ali no painel, ligadas ao turismo, estavam em representação. Logo, não poderiam (nem deveriam) argumentar como se o fizessem como munícipes -e procederam assim. Se estivessem sentados na plateia, como cidadãos, é claro que seria admissível a sua argumentação. Não se pode confundir os papéis, minha senhora, são distintos. Em representação de uma entidade, o “mensageiro”, com poder delegado, está obrigado a manter um pensamento político na linha da estrutura da organização. Ou seja, tem de elevar o pensamento da constatação, formatada pelo que se ouve e lê, passando por cima da crítica legítima de cidadania e apresentando soluções. É isto que uma plateia espera de um grupo de eleição para falar de determinado tema.
Como disse uma pessoa que, ambos, conhecemos bem, “não há cidades perfeitas”. Pelo contrário, há burgos com qualidades e defeitos. Para um Guia Intérprete -repito, Guia Intérprete- é sua função enaltecer as qualidades e omitindo os defeitos -quer que lhe faça um desenho, Senhora? (Mantenho o manguito).

Achei curioso não ter feito nenhuma alusão ao comentário do senhor P.C. (Paulo Cosme)relativo às imagens da Rainha Santa.
Existem ou não? Um turista compra uma imagem da Rainha Santa (apenas a Santa Padroeira da cidade) com a facilidade que compra uma peça de cortiça? Não. Mas para o Sr. Luís Fernandes não é um problema. Pelo menos não ao ponto de merecer um manguito.”

Quantas imagens da Rainha Santa em barro precisa Vossa Mercê? Posso dizer-lhe que há várias lojas (incluindo a minha) que vendem o que o senhor Paulo Cosme procura. Aliás, nem precisa de ir mais longe, as lojas da “cortiça” também vendem. Como lê poucas vezes o meu blogue não sabe, se lesse, veria que escrevo muitas vezes sobre o quase desaparecimento da olaria de Coimbra. (Mantenho o manguito).

Oradora (Marli Monteiro) diz: "Uma grande empresa, que se queria instalar em Coimbra com uma loja, não veio porque encontrou uma cidade suja, porca."
Não se compreende. Será que a empresa não sabe que a sujidade na cidade é um cliché? Faz parte do encanto turístico, lembra a Idade Média, onde a limpeza não abundava. Falta de visão.
"Há ruas na cidade que eu não levo turistas, porque está tudo sujo. Eu vivo numa rua próximo do Hospital. Como é que podemos ganhar dinheiro com os turistas?"
Enquanto residente tem todo o direito em queixar-se. Enquanto guia intérprete não.
"Façam um mapa comercial. Há um certo sentido de repetição (…). São precisas livrarias, lojas de design, degustação de vinhos."
Para o Sr. Luís Fernandes, estas não são ideias válidas. Diversificar, ir ao encontro do turista, isso não. Manguito para estas ideias.”

Minha Senhora, claro que, sobretudo no referente a livrarias, lojas de design, degustação de vinhos, são ideias óptimas. Há um porém: tudo isto foi dito dando a impressão de que, na Baixa, não há lojas destes ramos. Acontece que, felizmente, em qualquer destas áreas referidas há alguns e bons estabelecimentos. Não vale a pena continuar. Como sabe, porque ouviu, isto foi dito num cenário de desastre e completa ignorância, como se não conhecesse a cidade. (Mantenho o manguito).

Carina Gomes, Vereadora da Cultura (título aposto pelo editor)

Concordo com a Sra. Vereadora. Em tudo. Nomeadamente na parte em que diz que continua muito por fazer.
Já o Sr. Luís Fernandes discorda da parte em que, de forma cordial e civilizada, esta se despede dos intervenientes com beijos e abraços ao invés de "chapadas" e "pontapés" por terem tido a ousadia de exporem publicamente as suas ideias, claramente não do seu agrado.
Discorda também do facto de a V. ter pedido (e) aos presentes para não falarem mal da cidade nas redes sociais.
Concordo. Em que termos? Tal como um GI (Guia Intérprete) deve vender bem o produto, o cidadão, não obstante o seu dever cívico de reclamar quando necessário, deve fazê-lo, neste caso nas redes sociais, de forma cívica, construtiva e em termos apropriados. Tal como os GI (Guias Intérpretes), as redes sociais também vendem o produto.
Este comentário tem por base o texto publicado neste blogue.
Quero acreditar, que o Sr. Luís Fernandes no debate tenha feito propostas, dado o seu ponto de vista, o que deve ser feito para que a cidade evolua.
Se se limitou a expressar o que este texto espelha: lamento, mas indignados e desesperados já há uns quantos.

Não há muito a dizer sobre este capítulo a não ser a sua repetida menção de que eu deveria ter feito propostas. Sabe muito bem que o ambiente foi mesmo “comezinho”. Para a próxima, se houver para mim -mas sou eu que decido, não é vossemecê, conforme me recomenda-, o painel em representação passa para a plateia. Bem-haja. (Não lhe deixo nenhum manguito).

terça-feira, 25 de outubro de 2016

ESTÃO A MATAR A FEIRA DE VELHARIAS (2)






No último Sábado, quarto do mês, realizou-se a tradicional Feira de Velharias na Praça do Comércio.
As previsões do Instituto Português do Mar e da Atmosfera eram devastadoras, terríficas, para a Zona Centro: só faltava mesmo espalhar que iriam chover picaretas e ocorreriam trovoadas, com relâmpagos à mistura, entre Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, e António Costa, Primeiro-ministro. Fosse por este alarmismo todo ou não, a verdade é que poucos vendedores de velharias ousaram romper o pessimismo do instituto que mais parece uma associação de economistas a tentar acertar em previsões económicas e que erra mais do que acerta. Embora com Céu acinzentado a prometer água a rodos, praticamente pouco choveu. Resultado disto tudo, apesar do tempo meio-seco, cerca das 15h00 pouco mais havia do que uma dúzia de vendedores num recinto consignado à feira com demasiados automóveis estacionados. Se é certo que alguns deles pertenciam aos profissionais da venda, muitos outros estavam puramente parados num local impróprio. Um comerciante estabelecido com loja na antiga praça até se deu ao desplante de entrar no seu bom carro e estacionar no meio dos vendedores, provocando algum descontentamento, sobretudo por, àquela hora do dia, naquele local frequentado por milhares de pessoas, não haver um agente da PSP ou da Polícia Municipal, ou, como deveria ser obrigatório até ao encerramento, um elemento responsável pelo evento criado em 22 de Junho de 1991.

A FEIRA A ENCOLHER A OLHOS VISTOS

Por altura do virar do milénio, tinha a praça apenas uma esplanada, seriam cerca de uma centena de vendedores que ali tinham assento. Esta feira a par da de Aveiro eram as melhores da zona centro. Com uma diferença abissal entre as duas cidades, enquanto Aveiro mudou de um terreiro para o interior do centro histórico, dividindo os expositores pelas ruas estreitas, praça do peixe e Rossio, e obrigando a um pagamento de inscrição anual na ordem dos 100.00 euros -e espalhando publicidade à sua realização nas estradas da cidade, com setas indicativas-, Coimbra continuou como sempre esteve. Isto é, como feira-franca, sem pagamento de inscrição, sempre no mesmo local, e sem qualquer publicidade ao evento.
Na altura, lembro-me muito bem de falar com alguns vendedores do Porto que deixaram de vir a Coimbra por o espaço ser muito disputado e ser demasiado exíguo para a montagem dos seus expositores.
O tempo foi passando, chegou a crise, sobretudo a de 2008, e naturalmente os candidatos a vendedores foram escasseando, com muitos deles a desistirem da actividade, e passaram a ser cada vez menos. Por outro lado, com a feira a pedir uma vassouradaremodelação, nos últimos anos, as casas de hotelaria na Praça do Comércio foram crescendo e passaram de uma para cinco (hoje). Ou seja, em frente aos seus estabelecimentos passou a haver cinco esplanadas. Como é óbvio, para aumentar o número de cadeiras e mesas, inevitavelmente, diminuiu a área destinada a vendedores. Na actualidade, creio, serão cerca de três dezenas com poiso garantido. Este ano a Câmara Municipal de Coimbra passou a onerar brutalmente o espaço, até aqui gratuito, para esplanadas. Por silogismo, poderemos pensar que a edilidade está mais interessada em manter a ocupação dos cafés do que os vendedores de antiguidades e velharias. Saliento que não estou contra, aliás é legítimo e bom para o turismo, o que entendo é que ambos devem ser apoiados e conviverem harmoniosamente nesta parte baixa da cidade.
Ora, o que estamos a constatar é que o certame está a minguar mês-após-mês. Se não se fizer alguma coisa, o mais certo é desaparecer e ficar apenas a Feira sem Regras, em Santa Clara.
Soluções? Já ando há anos a falar do mesmo e não vou agora repetir. Escrevo somente que é preciso descentralizar e alargar, por exemplo, em elipse, pelas ruas estreitas e abarcando as ruas largas até ao Largo da Portagem -ou, para dar nova vida, se calhar, no Terreiro da Erva -conforme deu ideia o Daniel, um leitor do blogue e em comentário. Já se sabe que, a haver troca para este espaço, irá gerar forte contestação por parte dos vendedores -pelo menos no princípio. A ideia de a transferir para o Parque Manuel Braga, a meu ver, é uma má escolha.

O QUE DIZEM OS VENDEDORES SOBRE O ACTUAL ESTADO DA FEIRA?

Por que me foi chamada a atenção por dois vendedores, sobre o que está acontecer, tratei de ouvir os seus queixumes. O primeiro, o Moreira, um meu velho conhecido da cidade, disse o seguinte: “A feira, devido ao aumento exponencial das explanadas, está a encolher a olhos vistos. Por este andar, vai desaparecer. Tenho saudades de outros tempos quando mal nos podíamos mexer neste espaço reduzido quando, provavelmente, éramos mais de uma centena aqui a vender -e todos fazíamos negócio. Hoje, mais que certo, não chegaremos a trinta e vendemos pouco. É verdade que estamos em crise, mas este facto não explica tudo. Vendo aqui há muitos anos. Se assim continuar neste declarado abandono, deixo de vir. Até parece que, intencionalmente, querem matar esta feira e fazer crescer a de Santa Clara.“
Outro vendedor, meu amigo também e que pediu o anonimato, natural de Aveiro, e que conheço há décadas, desabafou assim: “Querem arrumar a feira deste espaço para ir para o parque da cidade. Se o fizerem, é para acabar de vez com isto. Lá não se vende nada. Se isto acontecer nunca mais cá ponho os pés. Acaba-se de vez no Natal”.


TEXTOS RELACIONADOS

"Umas imagens fora de contexto"
"A Feira de Velharias precisa de uma mexida"
"Um comentário que veio mesmo a calhar"
"A Feira de Velharias"
"A Loja de Antiguidades"
"A sociedade da oferta"
"Vender a alma em tempo de crise"
"Assim vai a cultura em Portugal"
"O sono profundo do vendedor"
"Uma entrevista"

"Monsieur Velhustro"
"Miséria, um quadro recorrente"

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

POLÍTICA EDUCATIVA LOCAL EM REDE - QUE CAMINHOS?

"PASTELARIA BRIOSA ASSOCIA-SE À LATADA"



A nossa associada pastelaria Briosa solicitou a divulgação  junto dos associados e comerciantes da Baixa de Coimbra de uma iniciativa de carácter social que a Pastelaria Briosa está a levar a cabo.

"Anexámos noticia do Diário de Coimbra que noticiou esta iniciativa, que teve como mote a "Lata Social" e que lançámos no âmbito da Latada 2016.
Contámos com a excelente criatividade dos pequenos estudantes do 2º Jardim Escola João de Deus, para quem vai um sincero agradecimento, que decoraram as latas da Pastelaria Briosa e que estão expostas na nossa montra alusiva à Latada.
O que nos propomos agora é vender as latas por um valor simbólico e o dinheiro reverterá para a Casa da Infância Doutor Elísio de Moura.
Nesta iniciativa que designamos por "De crianças para crianças by Pastelaria Briosa" gostaríamos de envolver a Baixa de Coimbra a fim de mostrar, com pequenos gestos, que também a  Baixa de Coimbra se  sensibiliza e dinamiza em torno da responsabilidade social.
Enviámos em anexo fotos de cada uma das latas que se encontrarão expostas na nossa montra ainda durante a próxima semana, que se encontram numeradas de 1 a 10, para que possam via e mail ou via telefone (933210576) lançar as Vossas ofertas e licitações.
O valor de partida para cada lata será de 5.00€.
Agradecemos a maior divulgação possível e aguardamos pela generosidade de todos!


Com os melhores cumprimentos,
A Gerência da Pastelaria Briosa
"


APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
Rua João de Ruão, 12 Arnado Business Center, piso 1, sala 3
3 000-229 Coimbra
Tel. 239 842 164  Fax. 239 840 242 Tel. 914872418
apbcoimbra@gmail.com

www.baixadecoimbra.com

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Daniel deixou um novo comentário na sua mensagem "ESTÃO A MATAR A FEIRA DE VELHARIAS":

Podiam começar a realizar a Feira das Velharias no Terreiro da Erva. Largo renovado, muito espaço, mesmo com as esplanadas dos restaurantes, e sem estacionamento. Têm que agir antes que a Feira comece a definhar, senão depois vai ser muito difícil fazê-la renascer.  

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...




Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA ESCANDALOSA VISÃO DESFOCADA E DISTORCIDA DA CI...":

Senhor Luís Fernandes:
Não entendi bem a sua indignação. Eu acho que as suas reclamações deveriam dirigir-se em primeiro lugar aos seus colegas, os tais que nem compareceram, e à Câmara Municipal. Porque toda a gente sabe que o turista se concentra sobretudo no eixo Visconde da Luz - Ferreira Borges, onde os grandes potentados comerciais são mesmo as lojas da cortiça e dos paninhos com galos de Barcelos. Não devemos conhecer a mesma Baixa. Andamos há dezenas de anos à espera da revitalização e a única coisa que eu vi até agora concluído foi o arranjo do Terreiro da Erva. Também é muito fácil mandar os outros investir. A ser assim, eu nem poderia abrir a boca. Tenho pena que pense assim, até porque, como sabe, a sua loja é das poucas coisas interessantes da baixinha. O resto, com poucas excepções, são montras que já nem numa aldeia se mostram. Mas isto tudo deve ser culpa dos guias turísticos.
 

domingo, 23 de outubro de 2016

UMA ESCANDALOSA VISÃO DESFOCADA E DISTORCIDA DA CIDADE POR QUEM TEM OBRIGAÇÃO DE A VER BEM





Promovida pela APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, e CMC, Câmara Municipal de Coimbra, realizou-se ontem, no auditório da Escola da Noite, no Teatro da Cerca de São Bernardo, a conferência seguida de debate sobre o lema “A visão do Guia Interprete para uma Cidade Património da Humanidade". O painel era constituído por representantes das entidades que são responsáveis pelo turismo na cidade. Ou seja, são estas organizações que respondem perante os cidadãos -operadores comerciais e outros privados- pela forma como “vendem” a cidade ao visitante e detém o poder de, no caso não desempenharem bem a sua função, alterar o situacionismo e fazerem melhor.
Logo a abrir, no púlpito estavam sentados Vitor Marques, em representação da APBC, Paulo Cosme, secretário-geral do SNATTI, Sindicato Nacional da Actividade Turística, Tradutores, Intérpretes e Guias Turísticos, Maria José Fernandes, guia turística, Luís Filipe Menezes, vice-reitor da Universidade de Coimbra, Marli Monteiro, Turismo Centro de Portugal, e Carina Gomes, vereadora da Cultura e em representação da Câmara Municipal de Coimbra.

UMA DECLARAÇÃO PRÉVIA EM JUIZO DE VALOR

O que assisti ontem no espaço da Escola da Noite foi demasiado mau para conseguir admitir ser verdade. O que vi foram tecnocratas -para não lhes chamar pior- cheios de apriorismos, pré-conceitos, sobre a cidade, desconhecimento total sobre o que se passa em Coimbra. E, para meu desespero -que deixei bem sublinhado na sala-, são estas pessoas representantes de organismos que trabalham todos os dias com turistas e mostram a cidade a quem nos visita (deveriam mostrar). Uma nulidade de agentes, velhos mais idosos do que eu -como lhes chamei cara-a-cara. Se a APBC, na pessoa do seu presidente Vitor Marques, e a Câmara Municipal de Coimbra, na pessoa da vereadora Carina Gomes, não fossem apenas e só instituições políticas -não no interesse da polis mas na vantagem pessoal e partidária- tinham obrigação de, no mínimo, pedir às agremiações a que pertencem estes personagens estranhos a sua demissão imediata nestas funções de representação.
Embora, na primeira parte, gostasse do desempenho da vereadora, para o final acabou a juntar-se à restante molhe disfuncional. Enquanto anfitriões, quer Carina Gomes, a vereadora, quer Vitor Marques, da APBC, tinham obrigação ética e moral de repudiar com veemência as asneiras, o desconhecimento e os insultos à Lusa Atenas que foram verberados naquele auditório. Mas não, como deputados na Assembleia da República, que no fim de uma contenda vão beber uns copos, preferiram engolir o enxovalho.
Não admira, portanto, que o turismo na cidade vá continuar “viciado”. Não me causa surpresa que tudo vá continuar igual, nomeadamente o triângulo Largo da Portagem/Almedina/Universidade e a Rua da Sofia sem turistas -mas os comerciantes e hoteleiros desta antiga rua da sabedoria têm o que merecem. Ontem, neste importantíssimo debate estiveram presentes uma dúzia de pessoas ligadas à hotelaria, cafés, hotéis e alojamento local -nem um da Rua da Sofia- e quatro comerciantes. Repito, uma dúzia de hoteleiros e quatro comerciantes. No total na sala estiveram cerca de quarenta pessoas, a maioria estudantes de turismo e guias e o restante era constituído por jornalistas.
Na parte que me toca deixo já um veredicto: quase certo, foi a última vez que participo numa fantochada deste género. Irrito-me facilmente com a hipocrisia generalizada e não estou para perder tempo com gente, sem auto-estima, que se deixa ultrajar em nome de interesses mesquinhos, que se alheia e não participa, que não defende o que é seu. Para mim, chega! É isto que querem para a cidade? Que faça bom proveito a todos -aos comerciantes, aos hoteleiros que não compareceram, às entidades que ali estiveram (mal) representadas.
Para melhor aferir o que disseram as seis “almas” perdidas vou transcrever o essencial dos seus discursos anedóticos. Peço paciência para lerem. Se possível, repitam a leitura. Esta crónica pretende ser um documento para os vindouros, uma prova irrefutável de que estamos no ponto nem de retorno nem de avanço, no limbo existencial, por que poucos se importam com o que está acontecer. A maioria prefere mandar desabafos nas redes sociais do que dizer cara-a-cara o que estes incompetentes merecem ouvir.

E ABRE-SE O PANO

Pelas 18h10 -com apenas dez minutos de tolerância depois da hora-, enquanto anfitrião, Vitor Marques, levantando-se da mesa, apresentou e agradeceu a vinda dos ilustres convidados.
Seguidamente tomou a palavra Filipe Menezes, vice reitor da Universidade de Coimbra.
Vamos ouvir Filipe Menezes: “É muito importante para todos nós conhecer a cidade. Vim a pé e tentei tomar um café pouco antes das 18h00 na Rua da Sofia: estava tudo fechado. É preciso receber bem as pessoas e saber contar bem a história da cidade. Os comerciantes podem ter uma loja cheia de coisas e o turista não gostar de nada. Nunca sabemos o que o turista quer. O comerciante deve saber o que o turista quer. Em 2013 tivemos 190 mil turistas a visitar a Universidade. Em 2016 vamos ter 450 mil visitantes. Isto é o resultado de ter uma equipa que se dedica ao turismo.”

Juízo crítico desta intervenção:
O senhor vice-reitor, ao ser juiz em causa própria -isto é, auto-elogiando o seu desempenho- está a dar um mau contributo para o que é necessário alterar. Por outro lado, embarcando no facilitismo, está a ser incorrecto na apreciação global da Rua da Sofia. É isto que entende por contar bem a história da cidade? À hora a que passou, o Penta, café e pastelaria, estava aberto. Quando questionado por mim, para esta inverdade, disse que era uma forma de apresentar o problema. Estranha forma, digo eu. Realmente, é mais fácil passar a culpa para os outros. (Deixo-lhe aqui, senhor Menezes, um manguito!)

OUTRA PALESTRANTE

Seguidamente usou da palavra Maria José Fernandes, guia turística. Vamos ouvir a Maria José: “A cidade não vive só da Universidade. Estamos a lidar com visitantes de uma faixa etária muito alta. Nós sabemos que a Biblioteca (Joanina) está muito limitada ao número de pessoas. Estamos a ser despejados na zona do Astória (Hotel). Somos advertidos pela polícia para fluir o trânsito. Queremos tentar deixar o local de paragem do Astória mas não é possível. Tento ir ver as Repúblicas (de estudantes). As Ruas da Matemática e de São Salvador e outras não estão em boas condições. A calçada não está em boa condição. Também as Escadas de Quebra Costas estão com os degraus cada vez mais gastos. O problema do estacionamento junto da Sé Velha (da catedral). O problema dos bares; é vidros no chão, é o cheiro a urina. Na Baixa consegue-se apreciar a louça de Coimbra. Mas depois só vemos lojas da cortiça (a vender). Quer-se uma coisa diferente, um lençol de linho, e não há. Falta criatividade ao comércio. A má condição dos prédios. Por que não criar alojamento para os estudantes? Por que não criar casas de habitação para jovens? Em Aveiro vemos o trabalho de Vhils, na arte urbana.”

Juízo crítico desta oradora:
Mais uma vez, pelas suas palavras, se mostra que esta senhora, guia turístico, conhece mal a cidade e não sabe o que está acontecer. Há muito que a Baixa está com alojamento para estudantes. Por outro lado, sejamos justos, agora, estão a ser desenvolvidas políticas para restaurar e desenvolver a habitação a custos controlados. Preferiu enveredar nos clichés habituais: a cidade está suja, as ruas estão com a calçada em mau estado, o estacionamento é caótico. Que um residente diga isto, admite-se -aliás é trabalho de cidadania levantar os problemas no seu bairro- já um guia, enquanto vendedor de um produto, não pode ser tomado de apriorismos nem dizer mal do artigo que vende. Uma lástima, o discurso desta senhora. (Deixo-lhe também, senhora guia turística, um manguito).

OUTRO ARGUENTE

Puxou o micro o senhor Paulo Cosme, secretário-geral do Sindicato de Guias e Intérpretes. Vamos ouvir: “Os turistas estão em Coimbra duas noites. Têm medo de andar à noite. Coimbra tem falta de espaços de diversão. Antigamente havia os restaurantes Dom Pedro e das Piscinas. Este ano até encerrou um restaurante na Baixa. E só isto! Logicamente que gosto muito de Coimbra. Gosto de ir a um local todos os dias -por exemplo, tomar um café- e que o senhor(a) me cumprimente. Gosto de vir a Coimbra e entrar no Café Santa Cruz -e aponta para Vitor Marques. Acho que ainda se está num processo de melhoramento. Não se deve repetir tudo (o que tem sucesso). Se eu quiser comprar uma imagem da Rainha Santa? Não encontro! Só encontro artigos “made in China”.

Juízo crítico desta dissertação:
Mais uma vez se constata que este senhor não sabe o que diz. Sendo secretário-geral de uma instituição, deveria primar pela verdade. E o melhor é vir cá -disse-lhe isto, aliás fiz o mesmo a todos. Sem conhecimento de uma área que se pretende ser valorizada e que justifica o seu próprio ganha-pão -acho que não, deve ser antes a função sindical-, como é que se pode conceber uma ignorância disfuncional desta envergadura? O índice de criminalidade na cidade, felizmente, -que o digam as polícias- é extremamente baixo. Não encerrou nenhum restaurante na Baixa este ano -quando questionado por mim, não respondeu. Coimbra não tem falta de espaços de diversão. Só um anedota pode afirmar uma aberração destas. (Deixo-lhe também um manguito, senhor Cosmo).

OUTRA ORADORA

Puxou da palavra a senhora Marli Monteiro, em representação da Turismo Centro Portugal. Faça o favor de falar, dona Marli: “O que me fez vir foi o enorme respeito pela Universidade. É de lhe bater palmas pelo bom serviço que se faz em Coimbra pelo turismo. Gostaria de ver uma plateia cheia. Estou farta de ouvir sempre os mesmos clichés. Em 1983 a cidade tinha poucos hotéis. Estava entregue a gente que só tinha a lembrança dos restaurantes Dom Pedro e Piscinas. O mundo Mudou. Há muitas empresas “low-cost” a trabalhar para o turismo. O meu trabalho é de produção externa. Eu tenho de ter uma Baixa da cidade preocupada com a limpeza, e sobretudo a Câmara Municipal. Há ruas na cidade que eu não levo turistas, porque está tudo sujo. Eu vivo (habito) numa rua próximo do Hospital (endereço substituído para não localizar). Como é que podemos ganhar dinheiro com os turistas? Não faço compras na Baixa. Também não faço nos centro comerciais. É tudo igual! Tudo do mesmo! Onde está o comércio da cidade? Onde fazem compras as pessoas da cidade? Façam um mapa comercial. Há um certo sentido de repetição. Não há paciência para tanta monotonia, para tanta cortiça. Preciso de gente privada que tome conta da cidade. Não tenho paciência para ouvir falar do xixi. No comércio o que é preciso é que ele seja modernizado. É preciso diferenciar. São precisas livrarias, lojas de design, degustação de vinhos. Uma grande empresa, que se queria instalar em Coimbra com uma loja, não veio porque encontrou uma cidade suja, porca. O Café Santa Cruz é um café histórico. É preciso o agir da CMC. Agora temos uma cidade cheia de hotéis. A Uber chegou! A cidade de Coimbra não é só Universidade! É preciso limpar os caixotes do lixo e limpar a cidade. Porque é que os turistas não compram aqui? Porque estritamente não encontram cá o que procuram.”

Juízo crítico desta oração de estupidez

Utilizando as suas próprias palavras, não há paciência humana para ouvir tantos disparates. Num universo de cerca de cinco centenas de operadores, na Baixa e na Alta, há pouco mais do que uma dúzia de comerciantes dedicados a este tipo de negócio. É uma falácia a recorrência a esta frase-feita. Perguntei-lhe onde, afinal, fazia as suas compras. Se não as fazia na Baixa nem nos centros comerciais, onde ia? Não me respondeu. Convidei-a também a abrir uma loja de comércio na Baixa. Com tanta sabedoria acumulada, inevitavelmente, está fadada ao sucesso! (Para esta senhora também um enorme manguito)

E FALOU A VEREADORA

Tem a palavra a senhora vereadora da autarquia: “Duas ou três notas breves. Eu compro na Baixa. A cidade está longe de ser perfeita. Há muito para fazer, mas está muito melhor do que há uns anos. Todos os dias temos vindo a constatar melhorias no espaço público -veja-se o Terreiro da Erva. Eu não tenho esta visão trágica da cidade, embora tenhamos muito para fazer.”

Nota crítica desta intervenção:
Aqui, nesta sua primeira intervenção, gostei -e disso, ali, lhe dei conta. Perante tanta mediocridade esplanada naquela mesa, salvou-se a sua argumentação. Já no encerramento do debate, a meu ver, deixou muito a desejar. Enquanto anfitriã, deveria ter protestado publicamente contra as asneiras proferidas pelo painel. Não o fez, preferindo os beijinhos e abraços, e foi pena.
Foi pena também, no remate final, ter-se dirigido ao público, em apelo, e ter pedido que todos os munícipes não partilhem nas redes sociais -na página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial) e outras- uma visão negativa da cidade. Disse mesmo: “não digam mal da cidade nas redes sociais!”. Bem sei que, enquanto “profissional” política, lhe dava jeito, senhora vereadora. Mas temos pena! Contrariamente ao que pensa, o que é preciso é que, em nome da cidadania activa, o colectivo, no seu todo individual, participe na gestão da sua cidade e obrigue as instituições, como a sua, a intervir com eficácia para melhorar o que está mal. Há porém um pormenor, que não é de somenos: sejamos justos na apreciação. Atribua-se a cada um o que é seu. Elogie-se quando é preciso e o contrário também.


TEXTOS RELACCIONADOS

"Um vulcão chamado Baixa"
"Um turismo embrulhado em teias"
"Um turismo que sofre de raquitismo"
"A maestrina turística"
"Um turismo viciado"
"Coimbra vista por um casal de brasileiros"
"Baixa: uma oportunidade perdida"
"Baixa: a noite tem muitos lugares vazios"
"Editorial: aguentar a Baixa como?"