terça-feira, 31 de março de 2015

FALECEU O NEVES, DAS AZEITEIRAS



Foi sepultado hoje, no cemitério de Chelo, Penacova, o nosso colega Manuel Aguiar Neves. O Neves, com 70 anos de idade e pessoa muito estimada na Baixa da cidade, esteve estabelecido, durante muitos anos, com uma taberna e casa de pasto na Rua das Azeiteiras. Era pai do Jorge Neves, meu amigo e grande defensor da Baixa da cidade. Sei que foi bem cuidado pelo Jorge e tudo foi feito para lhe prolongar a vida. Infelizmente estava escrito nas estrelas que o seu caminho tinha chegado ao fim. E quando assim é, por mais que se corra, nada se pode fazer.
Para o Jorge Neves e restante família, em nome da Baixa –se posso escrever assim- as nossas sentidas condolências. Um grande abraço de solidariedade nesta hora de sofrimento e pesar.

"BOAS IDEIAS SÃO PARA AVANÇAR"


UM VELHO PASSEIA SOZINHO


COIMBRA CIDADE MADRASTA PARA FEIRAS

(Imagem da Web)



Pelo Diário as Beiras de hoje, em título no interior, ficamos a saber que a “Autarquia recusa subsídio à Feira Popular”. Continuamos a ler e “O presidente da Câmara de Coimbra recusou ontem o requerimento dos vereadores do PSD para que fosse atribuído um subsídio para a Feira Popular, que tem lugar, habitualmente, por ocasião das Festas da Cidade. Manuel Machado disse que a proposta para atribuição de subsídios à União de Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas, que realiza o certame, “não tem fundamento.”
Salienta-se, e também é referido no jornal, que a Feira Popular vai ter isenção de taxas de funcionamento no valor atribuído de 9672,00 euros.
Comecemos pelo argumento de Manuel Machado, presidente da edilidade conimbricense, de que a “atribuição de subsídios à União de Freguesias, que realiza o certame, não tem fundamento”. Ora bem, a meu ver, na forma Machado tem razão. As juntas de freguesias agregadas têm verbas atribuídas pela autarquia e, por isso mesmo, em princípio, não fará sentido haver uma segunda cabimentação já que gera um precedente extensível a outras. Acontece que só na forma tem fundamento. Na substância Machado perde completamente a razão. A Feira Popular, pelo ambiente de memória que nos transporta para a infância, pela grandeza –são 17 dias de animação- e pelo historial de importância para a cidade, é diferente de um qualquer outro evento –só encontro analogia com a romaria do Espírito Santo, embora em menor grau já que dura uma semana. Por isso mesmo, em nome dos cidadãos e pela responsabilidade que lhe cabe em manter esta alegoria, o executivo tem obrigação de fazer tudo para a manter. Não há dinheiro para ser patrocinada? Mas há um ano atrás foram atribuídos 52 mil euros para organizar um torneio de futebol juvenil em honra de um desaparecido ex-vereador do Partido Socialista.
Esta atitude em negar subsídio, para além da aselhice política, cheira a esturro. O que ressalta e dá impressão é que a Feira Popular é o “leit motiv” para a guerra partidária –já que José Simão, presidente da Junta de Santa Clara e  agora agregada em união, concorre pelo do PSD. Curiosamente, saliento que mesmo no tempo da Coligação por Coimbra, sobretudo com a falecida Empresa Municipal de Turismo de Coimbra, já havia problemas. Dizia-se que a extinta empresa municipal queria “roubar” a organização a Simão.
Uma coisa é certa, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC), quer seja com este presidente quer com os anteriores, não faz nada para manter eventos que estão gravados na nossa memória e constituem a alma da cidade –basta lembrar a CIC, Feira Industrial e Comercial de Coimbra, que precisamente por ser da responsabilidade da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, houve sempre uma guerra surda e silenciosa de protagonismo entre as duas entidades. O resultado final, num esticar de corda de tudo ou nada entre a ACIC e a CMC, sabemos no que deu: acabou a engrandecer a de Cantanhede. Não será de estranhar que, mais ano menos ano, a Feira Popular tenha o mesmo destino.
Dá a impressão que somos uma cidade de galos e de poleiros. Para além disso, parece que temos uma aversão generalizada a tudo o que seja velho. Mas isso não importa nada! O que interessa mesmo, porque é a grande moda nacional, é criar novas ideias de negócio.








segunda-feira, 30 de março de 2015

EDITORIAL: VENHAM A MIM TODOS OS REINOS



Na edição desta semana do Campeão das Províncias escrevo uma crónica sobre o escândalo das comissões praticadas por alguns guias turísticos para levarem os grupos de excursionistas a comprarem em lojas de artesanato, entre os Largos da Portagem e da Sé Velha e passando pelas Escadas de Quebra-Costas. Alegadamente, a comissão praticada é de 20 por cento sobre as vendas e pago em dinheiro vivo e por debaixo da mesa. Por que os ofendidos na concorrência desleal continuem a calar e as entidades competentes, talvez com o argumento de que o vício ofende apenas a ética e se trata de um contrato entre particulares, fechem os olhos, a situação arrasta-se há vários anos numa vergonha inqualificável.
Promovida pela ADDAC, Associação de Defesa e Desenvolvimento da Alta de Coimbra, e por três comerciantes, neste último Sábado, realizou-se uma feira de artesanato urbano para tentar reanimar a zona do Arco de Almedina. Segundo declarações de um dos promotores, um dos lojistas implantados, para além de, no dia, se opor à fixação de uma banca à sua porta argumentou que não quer a feira e que ia fazer tudo para que certames futuros não se efectuem. Este é o modelo de alguns comerciantes que estão entre nós. Se pudessem até retiravam o ar que respiramos só para eles. Falar-lhes que o Sol quando nasce é para todos é pura perda de tempo. É triste, não é?

BOM DIA, PESSOAL...

sábado, 28 de março de 2015

UM IDEIA GIRA, MAS...



Era meio-dia deste Sábado quando o meu amigo, acompanhado do neto, me entrou pela porta e atirou de supetão: “então vim eu com o meu neto para comprar arrufadas e lhe mostrar como, até há cerca de meio-século, era feita a sua venda aqui na Baixa através do pregão e com os tabuleiros de madeira à cabeça das mulheres e afinal não há nada? Isto é publicidade enganosa!”
De facto, passado um quarto de hora depois do meio-dia já não havia animação na Praça 8 de Maio e conforme o anunciado nos jornais, nomeadamente n’O Despertar: “Os doces e apetecíveis aromas prometem voltar a seduzir quem passar amanhã (Sábado) pela Praça 8 de Maio, antigo Largo do Sansão. Tal como manda a tradição, no sábado da Aleluia, o Grupo Etnográfico da Região de Coimbra (GERC) realiza mais uma Festa da Arrufada, trazendo para a rua centenas de atrativos, fofos e apetitosos bolos. Entre as 9h00 e as 13h00, a praça vai encher-se de vendedeiras que vão colocar os seus tabuleiros em linha e vão apregoar o seu produto. Tal como acontecia no passado, o grupo pretende recriar todo o ambiente festivo associado a esta tradição, onde o burburinho do público quase que abafava os pregões das vendedeiras atarefadas.”
Falei com um operador da zona. Com a minha anuência de não o identificar -perante o tão meu conhecido “não diga que fui eu que disse”-, aceitou falar e declarou o seguinte: Estiveram aí umas cinco bancas, mais ou menos até às 11h00, com pessoas a vender arrufadas. Mas, pareceu-me, traziam poucas –iam adquiri-las a uma carrinha que estava aí estacionada. Este doce tradicional não chegou para as encomendas. Não ouvi nenhum pregão. Até gostava de ter ouvido. Seria uma óptima ideia se fosse mais explorada”. Sei que andou uma vendedeira –pelo menos uma foi vista-, e o seu pregão ecoou pelos beirais.
Prossegue o meu depoente, “esta Praça 8 de Maio está feita numa bandalheira. Olhe ali o espelho de água –está com imensos papéis a boiar. Há gente a atirar os detritos lá para dentro de propósito. Para além disso, por exemplo, a tuna que actuou às 11h00 –Tuna do Instituto Superior De Contabilidade e Administração- coincidiu com a missa na igreja. É uma falta de respeito. Embora não saiba o motivo, creio que o pároco até veio cá fora para colocar alguma ordem. Esta manhã, aqui no antigo Largo de Sansão, o que até poderia ser uma iniciativa muito engraçada foi uma coisa muito triste. Muito pobrezinha!”

ALGUMAS “ILHAS” ESTIVERAM ANIMADAS DURANTE A TARDE

Neste quarto Sábado do mês, por isso mesmo, realizou-se, na Praça do Comércio, a Feira de Velharias. Para além deste certame, nas Escadas do Quebra-Costas havia também uma interessante feira de artesanato urbano. Foi uma organização de alguns lojistas e da ADDAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra, e, futuramente, vai praticar-se sempre no primeiro Sábado de cada mês –esta produção de hoje foi uma excepção para não coincidir com a Páscoa. Durante a tarde, cerca das 15h00, qualquer um destes eventos estava bem concorrido com público e era notório um ambiente de festa.
No Dia Mundial da Juventude, com espectáculo promovido em parceria entre o Café Santa Cruz e a Câmara Municipal de Coimbra, os gaiteiros “Roncos e Curiscos” exibiam a sua música junto ao vetusto café e juntavam alguma assistência na Praça 8 de Maio e ruas largas. Nas artérias estreitas, com bastantes lojas abertas nesta tarde solarenga, não se passava nada. Nem a festa cá chegou, nem o público veio atrás dos foguetes. Mais uma vez venho bater no ferro frio. Nos dias festivos é preciso ligar estas ilhas. No caso de hoje, Praça 8 de Maio, Praça do Comércio e Escadas do Quebra-Costas. E como é que se fazia a ponte? Bastava descentralizar a Feira de Velharias da antiga Praça Velha e, fazendo um círculo, estendê-la pelas ruas estreitas e largas –como se faz em Aveiro. Por seu lado a feira de artesanato do Quebra-Costas descia até à Rua Ferreira Borges. Qual é a consequência deste isolamento? É que cada um, no seu canto, tenta safar-se. Se estivessem todos ligados, para além de desenvolver toda a Baixa e convidar mais lojas comerciais a estarem abertas ao Sábado de tarde, o público de um seria o mesmo do outro. Assim não. Parece que estamos todos de costas voltadas.
No caso das Escadas de Quebra-Costas o que se espera para “derrubar” a psicológica fronteira existente no Arco de Almedina e considerar esta zona –até ao cimo e junto ao Largo da Sé Velha e até ao antigo Governo Civil- como fazendo parte integrante da Baixa? Até parece que estamos na Idade Média e a cidade continua dividida. Ridículo, digo eu!








NÃO SE ESQUEÇA DE DAR MAIS UMA, LOGO...

BOM DIA, PESSOAL...

sexta-feira, 27 de março de 2015

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO", deixo também as crónicas "DONA ROSA É UMA ALEGRIA DAR-LHE OS PARABÉNS"; "FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA"; "ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS; e "O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA COSTAS"



A FORÇA SÉNIOR COMO MOTOR TURÍSTICO

Na semana passada, quinta e sexta-feira, quatro dezenas de séniores, entre os sessenta e os oitenta anos, alunos da Universidade Sénior de Évora, estiveram na cidade a convite da Aposenior, Universidade da Terceira idade, de Coimbra, e no âmbito do Roteiro Monástico. Salienta-se que estas duas instituições fazem parte da RUTIS, Rede de Universidades Séniores, com 254 entidades e com um universo de 36 mil associados estudantes.
Diogo Teixeira dias, anfitrião em representação da Aposenior, foi o cicerone que, para além de levar os turistas aos vários estabelecimentos comerciais associados do Roteiro Monástico, mostrou aos visitantes toda a monumentalidade e recantos pitorescos da urbe mondeguina. Enfatiza Diogo, “com este projeto tentamos captar o turismo sénior para a cidade e contribuir para a sua economia. Vão permanecer dois dias por cá. É uma promoção para tentar fixar os turistas em Coimbra. Levamo-los a vários pontos importantes e, naturalmente, com vários passeios pela Baixa comercial, entrando nas lojas associadas e usufruindo de descontos, e mostramos o seu bulício e a sua vivência quotidiana.”
Com um suculento almoço servido no Restaurante O Cantinho dos Reis, os convivas mostravam satisfação. Joana Benjamim, de 79 anos de idade, vinda de Évora, estava contente pela viagem a Coimbra. “Estes passeios são muito importantes para os mais idosos como eu. Faz-me sair da rotina do dia-a-a-dia. Na cidade do Templo de Diana frequento aulas de informática. O saber não ocupa lugar, nem tem idade”, conclui. Ao lado, Rui Gusmão, técnico superior no Ministério da Educação já aposentado, e Filomena Coelho, professora reformada de matemática, marido e mulher, vindos de Viana do Alentejo, estão muito satisfeitos com a vinda à cidade dos estudantes. “Esta visita é muito importante e o roteiro está muito bem organizado. Embora já cá tivéssemos vindo e algumas vezes visitássemos as partes mais importantes, desta vez ficámos com uma visão mais pormenorizada e a conhecer melhor a sua história. É uma boa iniciativa e, pela forma como nos recebeu, estamos muito agradecidos à Aposenior. Por ano fazemos duas ou três viagens temáticas como esta.”

AS MULHERES EM MAIORIA

Nas quatro dezenas de turistas, dois terços eram mulheres. Como é que se explica? Que os homens morrem mais cedo e, portanto, são menos já sabemos, mas será esta a explicação? Responde Maria de Jesus Florindo, a jovem e bonita presidente da Universidade Sénior de Évora: “As mulheres são mais participativas. Temos cerca de 240 alunos e oitenta por cento são mulheres. Desde 2006 que cooperamos com programas europeus de intercâmbio entre vários países. Uma das vantagens é a mobilidade. Os nossos alunos pagam 22 euros por mês e podem inscrever-se em três disciplinas. Os passeios são à parte. Estamos a comemorar o nosso décimo aniversário dentro de pouco tempo.”
Ainda acerca das mulheres estarem a bater os homens aos pontos, refere Antonieta Guerreiro, “Dou apoio voluntário aos doentes oncológicos no Hospital de Évora e, no grupo, somos 40 mulheres e um homem. Nós temos uma maior sensibilidade para as causas sociais”, rematou.
José Tacão, outro excursionista, meteu-se na conversa e atirou: “dou aulas de Shikung –ginástica e terapia- na Universidade Sénior de Évora. 99 por cento dos meus alunos são mulheres.”
Estão de parabéns a Universidade Sénior de Évora e a Aposenior de Coimbra. Pelos seus esforços, no desempenho social em prol dos mais velhos, Coimbra deve estar agradecida. Lembro que estão a decorrer as inscrições para aulas de teatro, informática e sessões para “treino da memória” na Aposenior, no Convento de Santa Clara-a-Nova.


DONA ROSA É UM PRAZER DAR-LHE PARABÉNS

O último dia 20 foi de festa na Rua Sargento Mor. E o caso não era para menos, Rosa Azevedo Neto comemorava 95 anos. Se todos os confinantes sabiam que Rosa é um encanto de pessoa, que basta olhar o seu rosto para se gostar, o que não adivinhavam é que a simpática vizinha canta fado como poucas. Pois se não sabiam ficaram a saber. A sua voz bem timbrada, acompanhada à viola, ecoou pelos becos circundantes e os muitos amigos ovacionaram com convicção a aniversariante. Com a lágrima no canto do olho, a criadora de flores de seda para vestidos de cerimónia agradeceu a gentileza de tão boa gente. Seguiu-se o apagar de velas e mais uma vez as palmas atravessaram o espaço sideral da amizade.
Em nome da Baixa, se posso referir assim, muitos parabéns dona Rosa. É um gosto enorme contar consigo.


FALECEU A ÚLTIMA PLISSADEIRA

Nos idos anos de 1970, apesar de cinquentenária, Lucília Dias Fernandes era uma estampa de mulher. Na Rua Corpo de Deus, número 3A, era conhecida por “Cilinha”, a “plissadeira” –a arte de plissar é uma técnica de fazer dobras, franzir, preguear o tecido fino de uma saia para, como um leque que se abre, a tornar mais rodada de uma forma ondulante. Ainda hoje se pratica, porém, deixou de ser um trabalho manual e passou a produto fabril.
A “Cilinha”, numa época em que tudo era recuperado e nada se perdia, apanhava as malhas caídas nas meias de vidro de senhora. Mas, verdadeiramente, o seu forte era o plissamento de saias e aventais brancos –no tempo em que este adorno feminino era imprescindível no uso de uniforme das criadas, agora, numa versão diferente, denominadas de empregadas domésticas.
Segundo uma vizinha que a conheceu bem e pediu o anonimato, “era uma mulher muito vistosa para qualquer olhar masculino. Era muito bonita. Ela trabalhou sempre muito até poder e manteve-se sempre na sua casa humilde onde passou a vida. O seu único filho, o Paulo, está com a família no Canadá mas, para além da “Cilinha” ter ido lá muitas ocasiões, ele vinha visitá-la periodicamente. Sei que ele tentou, nos últimos anos, que ela fosse para um lar e fosse mais acompanhada mas a familiar recusou sempre –ela era muito personalizada, “mandona” e muito senhora do seu nariz. O Paulo, perante a teimosia da mãe, nunca pode fazer grande coisa. Fez o que pode. Até que há cerca de uma semana ele veio e encontrou-a num estado deplorável. Foi então que ela foi internada e lá morreu esta semana.”
Ao Paulo Dias Coelho, esposa e filhos e restante família, em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas condolências.


ENCERRA UM DOS ÚLTIMOS RETRATISTAS

Estabelecido há cerca de três dezenas de anos na Rua Martins de Carvalho, um dos mais conceituados fotógrafos da cidade, Rui de Almeida vai encerrar o seu estúdio no fim do mês, na antiga Rua das Figueirinhas.
Nasceu em 1937 e cedo, quase de cueiros, começou a amar a arte de retratar. Com 13 anos foi trabalhar para a Focus, na Rua Ferreira Borges -esta, felizmente, ainda em laboração. Com 16 anos, em 1953, transferiu-se para a Casa Ilda, do grande mestre, Varela Pécurto, no Largo da Portagem. No princípio da década de 1970 foi abrir a secção de fotografia na Bruma, na Rua Adelino Veiga – foi lá que o conheci pela primeira vez. A título de curiosidade, foi neste estabelecimento que, em 1976, comprei o meu primeiro frigorífico e televisão, a preto e branco, a prestações.
No seu laboratório da Rua Martins de Carvalho, em 30 anos fez de tudo na fotografia. Foi colaborador de vários jornais desportivos e de notícias, retratou casamentos, batizados, festas académicas e ganhou vários prémios em salões de arte fotográfica.
Apesar dos seus 78 anos, Rui Almeida sente-se cheio de força e vai continuar a trabalhar na fotografia. Esta arte fará sempre parte da sua vida e acompanhá-lo-á até ao resto dos seus dias. É a sua segunda alma. Sente algum desconforto por ser obrigado a claudicar mas a morte desta arte, como se conheceu ao longo de mais de um século, era inevitável. “A informática deu cabo da fotografia”, enfatiza com a voz embargada pela dor de quem se sente empurrado para a desistência.
Como se em solidariedade com este reputado fotógrafo, a Rua Martins de Carvalho parece nublada, sem alento e sem brilho, e cada vez mais abandonada. A Baixa, neste cai este agora, cai outro amanhã, vai ficando cada vez mais empobrecida. Quanto aos fotógrafos nesta zona tradicional de antanho já se contam por menos dos dedos de uma mão. Para eles, que corajosamente continuam a resistir, e para o senhor Rui Almeida uma enorme salva de palmas.


O ARTESANATO VAI REGRESSAR AO QUEBRA-COSTAS

Amanhã, dia 28, o artesanato urbano vai regressar às Escadas Quebra-Costas. Salienta-se que esta data será de exceção já que no futuro este certame será sempre realizado no primeiro sábado de cada mês.
Entre as 10 e as 19h00, naquele corredor histórico, que liga a Baixa à Alta e percorrido diariamente por centenas de turistas nacionais e estrangeiros, vamos poder apreciar artesanato urbano, gastronomia e vestuário. É uma organização de três lojistas, Miguel Lima, do Bar Quebra-Costas, Graça Carvalho, do Ólifante Shop, e Andreia Morato, do Portugal In Alta, e da ADAC, Associação para o Desenvolvimento e Defesa da Alta de Coimbra.
Segundo Andreia, “ao recriarmos novamente este evento –já que, embora em moldes diferentes, existiu até há cerca de dois anos- o propósito é, por um lado, dinamizar esta zona e, por outro, gerar uma oportunidade para que novos artistas tenham possibilidade de expor as suas criações. O que vai ser comercializado nesta feira terá de ter qualidade artística e sobretudo ser original. Não pretendemos fazer concorrência a ninguém e muito menos copiar iniciativas já existentes. Aproveito para convidar os leitores. Apareçam que vão gostar!”




















VISITAS GUIADAS COM COMISSÃO





Em Janeiro de 2011 escrevi sobre este mesmo assunto e enviei para conhecimento às entidades competentes. Nenhuma delas me ligou ou respondeu. Quero dizer, portanto, que estou a chover no molhado. Mas, levando a ousadia ao cúmulo de me auto-classificar e salvo melhor opinião, numa bipolaridade existencial, quem escreve será sempre um pessimista -realista, de pés assentes no chão- e com os olhos num optimismo moderado, mas sem descurar o romantismo e o encantamento das estrelas. É uma espécie de em cima/em baixo –acredita em tudo, não acredita em nada-, um cai/ levanta. Tudo por que se, por um lado, desvaloriza, perdoa, porque entende a natureza humana –no sentido de que sabe e apreende que somos todos incompletos e o errar faz parte da nossa essência-, por outro, nunca perde a fé nesta mesma humanidade, já que a imprevisibilidade, como que a compensar, complementa todo o lado negro e selvagem que existe dentro de nós e, a qualquer momento, sem que nada o faça pressagiar, repentinamente, as coisas mudam.
Há quatro anos entrei numa loja de artesanato de um amigo, na zona do Largo da Sé Velha, e, com ar pungido, lamentava-se o meu conhecido sobre o escândalo das comissões “exigidas” por alguns –sublinho alguns- guias turísticos aos donos das lojas para levarem os turistas que acompanhavam aos seus estabelecimentos. Nessa altura, dizia-me ele, que se por acaso algum “tresmalhado” entrasse e estivesse prestes a comprar o guia chegava a ir chamá-lo dentro do estabelecimento e convencia-o a ir a outro congénere.
Esta semana fui visitar outro amigo que abriu a sua loja há cerca de um ano na mesma zona. E, sem que na conversação houvesse intenção, veio à baila o mesmo assunto. Quanto a mim, o problema continua por que os comerciantes do ramo alegadamente lesados não dão a cara. Neste caso a mesma coisa, vou apresentar o seu depoimento sob anonimato. Achei muito curiosa esta conversa. O meu amigo chega a apresentar uma solução muito interessante, dirigida à Câmara Municipal, para que a rota viciada, seja alterada. Vou então transcrever as suas declarações.
O que está a acontecer com alguns guias turísticos é um verdadeiro escândalo! Saliento que este suborno não é extensível a todos mas apenas a alguns. Como em todas as profissões também aqui há gente com dignidade. Disse-me um guia meu conhecido que as comissões cobradas, em “cash”, em dinheiro vivo, sobre o total das vendas são de 20 por cento. Isto é um esbulho! É a máfia em toda a sua imponência, nas nossas barbas e com a nossa permissão.
Os turistas vêm em rebanho e o pastor (o guia) encaminha-os para as casas com quem tem contrato. Já me tem sucedido ver um grupo na minha montra e o guia a apontar para os meus produtos e adereços e quando um deles vai para entrar ele chama-o. Ainda há poucos dias aconteceu. Parou um grupo, viram a montra e a guia -era uma mulher- apontando cá para dentro, esteve a mostrar os bens que comercializo e a explicar os meus adornos decorativos e desandaram, com a timoneira a “arrastá-los” para onde lhe convinha, Isto, porque a minha loja não faz parte do seu roteiro concebido anteriormente e de acordo com a sua execrável forma de ser. Passado um bocado entrou a guia cheia de pressa. Veio comprar-me um artigo e a bater-se ao desconto. Isso é que era bom! Até porque, com as margens de lucro que pratico, se alguma vez me “vendesse”, nunca poderia dar vinte por cento de comissão a essa gentalha indigna, que abandalha a sua profissão e desgraça quem trabalha honestamente. Eu já vi um responsável de grupo a empurrar os excursionistas para uma loja. Não alinho nestes jogos miseráveis de bastidores. A maioria dos guias turísticos procede assim. Levam os turistas para as lojas que lhes pagam por debaixo da mesa. É uma indecência! Infelizmente, tenho de confessar, não tenho grande esperança que esta situação alguma vez seja alterada. Não há interesse na mudança porque, se for modificada, é um corte no ordenado do guia.“

É PRECISO TROCAR AS VOLTAS AO MONSTRO

“Você já pensou porque é que não há lojas de artesanato na Rua Visconde da Luz, Praça 8 de Maio e Rua da Sofia –esta que até foi declarada, pela Unesco, como Património Mundial- e está tudo concentrado entre a Rua Ferreira Borges, Arco de Almedina, Escadas de Quebra Costas e Largo da Sé Velha? Eu explico! Porque os autocarros param todos no Largo da Portagem e os turistas, como carneiros, são ali despejados de qualquer maneira e feitio e encaminhados para os repetidos roteiros: Rua Ferreira Borges, Arco de Almedina, Escadas de Quebra Costas, Largo da Sé Velha, Universidade e voltam pelo mesmo caminho.
Já reparou que poucos são os grupos que passam do Arco da Barbacã e vão até à Igreja de Santa Cruz? Então para a frente, em direcção à Rua da Sofia, é um milagre.
Se houver vontade política camarária, é muito fácil de trocar as voltas ao monstro. Basta consignar o espaço de estacionamento em frente ao Mercado Municipal D. Pedro V para os autocarros turísticos e, para além de o próprio mercado passar a ser visita obrigatória, toda a Rua da Sofia e congéneres passa a fazer parte de um novo itinerário. Mas isto não é claro como a água? É preciso fazer um desenho?”



BOM DIA, PESSOAL...

quinta-feira, 26 de março de 2015

BAIXA: A NOITE TEM MUITOS LUGARES VAZIOS





É terça-feira, faltam poucos minutos para as vinte e duas badaladas na velha Cabra, na torre da Universidade de Coimbra. O tempo está ameno. Acabei de deixar para trás o Café Santa Cruz onde bebi um chá. Desde uma hora antes que este mítico estabelecimento se manteve todo para mim. Entro na Rua Visconde da Luz e sou envolvido pelo silêncio incomodativo da falta de pessoas. De repente ouço uma voz masculina a cantarolar. Olho para trás, é um homem embriagado que num equilíbrio precário, como cana no canavial empurrada pelo vento, ora vai para um lado, ora vai para o outro. Continuo a olhar para a frente e entro na Rua Ferreira Borges. Embora ao longe aviste um ou outro transeunte em passo rápido, como se quisesse fugir da penumbra envolvente que gera insegurança, tal como a vizinha artéria está praticamente vazia. Os primeiros cafés estão fechados e A Brasileira, há poucos anos restaurado como café, pastelaria e restaurante de memória, ainda com as luzes acesas, já está em limpezas e já não recebe clientes. No Largo da Portagem todos os cafés estão fechados. Desço as Escadas do Gato e dou com um grupo de estudantes com capa e batina sentado nos degraus, em frente ao restaurante Aeminium. Rodo a cabeça para o interior desta catedral pantagruélica e verifico que, em paradoxo com os anteriores estabelecimentos de hotelaria, tem a sala cheia de estudantes. Atravesso a Rua Sargento Mor e, para além das suas casas hoteleiras já estarem fechadas, não se vê vivalma. Entro na Praça do Comércio. A Taberninha já está de portas cerradas, no café e restaurante Praça Velha estão a amarrar as cadeiras e mesas da esplanada e só o café do Luís, junto às Escadas de São Tiago, resiste com quatro pessoas sentadas nas cadeiras da esplanada. Faço um desvio para a Rua Adelino Veiga e passo ao lado do restaurante Paço do Conde que, apesar de ter ainda dentro algumas pessoas, já tem o portão principal de acesso no trinco. Dou a volta pela Rua da Gala e só um gato parece dar por mim. Corto para a Rua da Louça e o café do Fernando tem três clientes. Encaminho os meus passos para o Largo do Poço. Depois de dar de caras com o bêbado que encontrara antes na rua de cima na entrada da Rua Eduardo Coelho, sigo para a Rua do Corvo e igualmente esvaziada de movimento de pessoas. Vou visitar o novo Be Scobar que, aproveitando muito bem o mobiliário de uma antiga loja de tecidos a metro, abriu portas há menos de uma semana. Lá dentro, por entre cartazes e luzes indirectas a fazer ressaltar o ambiente retro, um casal de estrangeiros encosta a barriga ao balcão. Do lado de dentro está o Miguel Matias, um dos sócios, e outra pessoa. Tiro uma foto e comento com o Matias que, apesar de ainda ser cedo e a noite ser uma criança, a Baixa está despovoada. Responde o Miguel que só às quintas e sextas se nota alguma actividade de clientela. Vou espreitar o bar Be Poetry, ao lado e também pertença da mesma sociedade. Lá dentro quatro pessoas parecem conversar com um copo à frente.

COMO É QUE SE PODE DAR A VOLTA A ISTO?

Já escrevi tantos textos a descrever este cenário de solidão urbana nocturna que até poderia pegar num qualquer anterior e evitava de me estar a maçar. Mas alguma coisa terá de se fazer para reanimar esta área velha. Estou sempre a fazer perguntas a mim próprio. Por que é que apesar de todos os intervenientes, sobretudo os empresários, termos noção que esta zona histórica está a bater no chão ninguém faz nada? Nos últimos anos a situação comercial tem vindo a piorar cada vez mais e, numa apatia continuada, parece que, como maldição divina, todos aceitamos pacificamente o veredito. É como se, progressivamente, sempre a descer e sem força anímica para inverter a situação, nos fôssemos habituando às cores negras do abismo. Por que, volto a bater na mesma tecla, o estranho é que, apesar de algumas lojas encerrarem –particularmente as mais antigas- os negócios novos mais virados para o dia, com uma fé incomensurável no futuro, continuam a fazer investimentos e a emergir a toda a força nesta zona de antanho. Ora esta movimentação de aparente dinamismo comercial gera uma ideia errada da realidade. Em metáfora, é como se convivêssemos diariamente com um velhote e víssemos que, para nossa inveja, ele anda sempre atrelado com várias mulheres novas e boas. Até ao dia em que somos bombardeados com a notícia da sua morte repentina devido à ingestão massiva de Viagra. Por tanto martelar sobre isto, confesso, já me considero uma espécie de anjo negro da desgraça e, apesar de não conseguir, tento lutar contra a minha vontade.

MAS FAZER O QUÊ?

Se pela desertificação diurna do Centro Histórico, a nível local e ao estado caótico a que isto chegou, pouco se pode fazer – a não ser distribuir melhor o turismo internacional por toda a Baixa e não continuar a usar o mesmo trajecto viciado-, resta-nos acreditar que o próximo governo que vier liberte mais a economia e deixe de sobrecarregar brutalmente as famílias com impostos.
Já com o esvaziamento da noite creio que é um assunto que diz respeito a todos quantos aqui desenvolvem as suas profissões e, em busca de soluções, deveria ser discutido por todos, comerciantes, industriais de hotelaria e autarquia. Ou seja, deveria o presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado, chamar a si a responsabilidade de liderar este processo de revitalização e convocar para o Salão Nobre todos os operadores para debater esta questão com frontalidade. Num contrato social de compromisso, cara-a-cara, mostrando vontade de meter as mãos na massa, deveria dizer o óbvio: ou todos dão um pouco de esforço e ganham esta batalha ou, a continuar neste deixa correr, todos vamos perder tudo nesta guerra.

ANIMAÇÃO TODOS OS DIAS À NOITE?

Sobre o lema “Páscoa em Coimbra”, segundo o “Campeão das Províncias”, até 4 de Abril a Câmara Municipal agendou cerca de 30 iniciativas culturais, turísticas e desportivas. Desde um ciclo de concertos de música vocal e instrumental, percursos turísticos, muitos eventos desportivos, actividades para crianças, acções literárias e gastronómicas (programa completo em www.cm-coimbra.pt ou www.turismodecoimbra.pt). São vários os espectáculos que serão mostrados na rua. Ora, se por esta diligência a edilidade está de parabéns –embora sejam pontuais, visando as épocas da Páscoa e de Verão-, dá para ver que, provavelmente, a  reanimação da noite na Baixa passará por aqui, por acções similares mas diariamente.

UMA IMAGEM, POR ACASO...




Olhemos esta imagem. Há qualquer coisa nela que nos remete para a angústia. Se atentarmos,  o aperto vai crescendo tanto quanto mais insistirmos na revisão da fotografia e o seu enquadramento. Talvez seja o facto de o homem que se resguarda atrás da banca ter 76 anos e, resultado de um Estado Social que é profundamente assimétrico, ser obrigado a trabalhar para conseguir comer.
Já escrevi sobe o Raul Simões Cacho, com banca assente na Rua da Sofia. Chamei-lhe o “plastificador” e contei um pouco da sua história de vida. Leia aqui.

UMA MONTRA NA ESCURIDÃO




A fazer lembrar outros tempos, ontem à noite, chamou-me a atenção esta belíssima montra de luz e cor. Agora viradas para o silêncio de uma rua deserta. No caso, “Catarina Pires, Fardas, uniformes e pijamas”, na Rua do Corvo.

A APBC MUITO BEM REPRESENTADA



Início da "Caça ao Tesouro", iniciativa da APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, no passado Sábado, junto ao Café Santa Cruz.

BOM DIA, PESSOAL...

LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...




Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "A BAIXA RECUSA MORRER" e "CAFÉ SANTA CRUZ, A NOSSA JÓIA RELUZENTE".




A BAIXA RECUSA MORRER

Durante os três meses deste ano, e até ao final deste corrente março, na Baixa, entre as lojas comerciais que já encerraram e as que vão seguir o mesmo exemplo perfaz cinco estabelecimentos –para análise, duas de roupas; uma perfumaria; uma de artigos decorativos e outra de fotografia.
Entre as que já estão abertas ao público, desde o início do ano, e as que até ao dia 31 vão dar à luz serão 11 –também para estudo, duas de estética e manicura; uma de arte e restauros; uma de produtos alimentares endógenos; três lojas de roupas; um restaurante; uma taberna; uma de artigos alimentares gourmet e um bar. Em abril dará à luz uma galeria de arte e artigos antigos.
Por aqui, pela grande diferença entre as empresas que claudicam e as que nascem, com número positivo elevado para estas últimas, dá para ver que a zona histórica, apesar da grande crise económica, continua em atividade frenética e, num processo de regeneração contínuo, parece um gigante a estrebuchar que, mesmo sendo polvilhado por venenos, se nega a morrer.
Como já escrevi aqui e sujeito à discussão, tento mostrar que tem de haver uma explicação para os deuses terem ensandecido e colocarem os princípios económicos em causa. Começamos pela constatação: por um lado, a procura de bens duradouros e perecíveis continua rarefeita. Por outro, a oferta é cada vez mais desmedida e naturalmente leva ao embaratecimento e provoca a estagnação, conducente à deflação, da economia nacional.
Sendo assim, estamos, portanto, em contraciclo económico. Pela lógica, mandaria o bom senso que não se continuasse a bater na oferta de produtos, sobretudo em áreas já esgotadas, e na abertura de mais negócios iguais aos existentes e já em número excedentário.
Ora o que se comprova? Que continuam a abrir estabelecimentos, mais do mesmo e maioritariamente feito por pessoas sem experiência, que, para além de entupir a oferta e afetar a diversidade, provocam a sua própria desgraça e o empobrecimento de quem está implantado –pode até parecer que sou a favor de “numeros clausus”, limitar o acesso. Nada disso. Acho que todos têm o direito de escolherem livremente o ingresso num qualquer curso ou profissão desde que preencham os requisitos mínimos. Se assim não fosse a concorrência –e a evolução humana- estaria ferida de morte. Quero dizer, por conseguinte, que alguma coisa terá de se fazer para alertar estes novos investidores, tantos destes recorrendo a empréstimos familiares. O que se fez até agora é sempre através da recomendação de amigos, porém, como tenho apreendido, quem vem de novo chega cego e não ouve ninguém. Para eles, com todo o respeito que merecem e lhes assiste, a nossa mais profunda reverência e admiração pela sua coragem.
Antes de especular sobre o que se poderá fazer, embora já tivesse escrito sobre este assunto na semana passada, vamos questionar: por que razão, mesmo com resultados negativos, continua o comércio a gerar desmesurados apetites? Pela necessidade de trabalhar honradamente e para ganhar a vida, já que os outros sectores económicos, primário e secundário, não respondem aos anseios de quem precisa de meios para sobreviver.
Sobre soluções milagrosas, pelo menos na atual conjuntura, é evidente que não as há. Contudo, se o acesso ao trabalho é um direito legítimo e constitucional, e se os que o procuram merecem o reconhecimento social porque se negam a viver à sombra dos subsídios do Estado, temos todos, os que estão e os que vem de novo, obrigação de pugnar por condições mínimas de continuidade para estes novos negócios. Por que a razão neste cair um agora, levanta-se outro amanhã reside essencialmente no esbulho de impostos em que as famílias e as empresas estão sujeitas.
E a Câmara Municipal de Coimbra, o poder local, não pode fazer mais? Tem de ser capaz de fazer melhor. Apesar de ter um Gabinete de Apoio ao Investidor e as regras plasmadas serem objetivas, para além da promoção e da dinamização que se adivinha, o trabalho de sapa, oculto em gabinete, não se vê. É preciso pôr as mãos na massa, vir para a rua, e, sem ter que ser a solução, mostrar que está no mesmo lado do problema, apoiando, desonerando posturas, e dar a cara. É preciso não esquecer que, pelo seu esforço heróico, são estes investidores a força centrifugadora que está a contribuir para revitalizar a Baixa.


CAFÉ SANTA CRUZ, A NOSSA JÓIA RELUZENTE

As vinte e duas badaladas na torre da Igreja de Santa Cruz imaginavam-se. Já há muito que o seu badalejar desapareceu da rotina de uma cidade antiga que também vive dos ruídos e deixou de contribuir para um acompanhamento sonoro de nostalgia.
A sala do velho café, que já foi muita coisa desde armazém até capela, com o mesmo nome da igreja ao lado onde repousam os primeiros Reis de Portugal, estava parcialmente cheia e o público presente, constituído por turistas nacionais e estrangeiros, esperava para ver o que iria acontecer. Ao fundo, onde há mais de um século teria sido a zona do altar, uma mesa com microfones prontos e um projetor espetava na parede a imagem de um mosaico, onde estava escrito “50 cafés históricos de España y Portugal”, respirava-se espectativa.
Vitor Marques, um dos jovens sócios do mítico espaço de recordação e de encantamento da Baixa, abriu a cerimónia. “Estamos aqui para apresentar em Coimbra o livro sobre os cinquenta cafés mais importantes de Portugal e Espanha. Foi uma ideia engraçada. O livro foi apresentado em Santiago de Compostela, em Dezembro. Estive lá no lançamento e convidei os nossos amigos espanhóis para fazer o mesmo em Coimbra, já que o Café Santa Cruz faz parte deste roteiro de cafés com memória. Estivemos hoje na Escola de Hotelaria onde foi realizado um “workshop” sobre o café de saco e depois, durante a tarde, mostrei-lhes espaços emblemáticos da cidade como, por exemplo, na Alta, o Museu Machado de Castro, a Biblioteca Joanina e a Universidade. Na Baixa, visitámos também a Torre de Almedina, a Rua da Sofia e outras desta zona. Tivemos o apoio da Câmara Municipal de Coimbra, da Universidade de Coimbra, do Museu Machado de Castro e Escola de Hotelaria. Estou muito agradecido a todas estas entidades pelo apoio manifestado.
Ao lado do anfitrião e mandatário do vetusto estabelecimento hoteleiro estava sentado o autor do livro, Fernando Franjo, que tomou a palavra. Começou por referir o gosto que sentia por estar em Coimbra e, sobretudo, na magnífica catedral de cafetaria e de uma riqueza patrimonial incomensurável e a seguir tratou de mostrar como produzir um café de saco de qualidade ímpar. “O café de saco é como a máquina do tempo. Hoje, sem lhe tomar o gosto, vivemos tudo muito rápido na vida e deixamos passar as coisas boas. Os cafés históricos são marcas de um tempo de bonomia, de conversa e de acalmia interior”, referiu. Depois das devidas explicações como fazer um bom café, passo-a-passo, –a lembrar o tempo da nossa avó- foi dado a provar  o Arábica Robusta e sendo servido a todos os presentes.
Mais uma vez Vitor Marques tomou a palavra e chamou à colação George Steiner –poeta e filósofo da cultura ocidental. Citando o escritor europeu e lendo passagens da sua literatura a defender que a “Europa é feita de cafetaria, dos cafés” que marcaram gerações. É preciso preservar estes lugares para o futuro, como o Café Santa Cruz, enquanto recintos de uma riqueza patrimonial ímpar. “É um património que é de todos, e todos devem participar”. Anunciou ainda Marques que tinha sido apresentado um projeto à Fundação EDP e à Revista Visão sob o mote “Que ideias podemos ter para melhorar o nosso Bairro?” e com a Rota dos Cafés a ideia foi aprovada. Por isso mesmo, “consultem comunidade.edp.pt e votem na nossa iniciativa”, apelou ao público presente.

O QUE TRATA O LIVRO?

Com excelentes fotografias em papel especial é contada a história de cada um dos 50 cafés escolhidos pelo autor. De Espanha, através de imagens, são mostrados 39 estabelecimentos e de Portugal 11. De Lisboa são cinco, respetivamente, Café A Brasileira, Café Nicola, Café Martinho da Arcada, Confeitaria A Nacional e Pastéis de Belém. Do Porto são três os eleitos: Café Magestic, Café Guarany e Café Ancora d’Ouro. De Braga mereceram fazer parte do livro dois: Café A Brasileira e Café Vianna. Coimbra apenas tem um espaço representado: o Café Santa Cruz. Como apontamento de somenos lamenta-se o facto de todo o livro, incluindo os referentes portugueses, estar escrito na língua de Cervantes.

E DO OUTRO LADO DA FRONTEIRA É IGUAL?

Na fase de perguntas à mesa por parte da assistência, alguém interrogou Fernando Franjo, espanhol e autor da brochura, para saber se em Espanha, tal como em Portugal, os poderes públicos se mantinham alheados desta enorme riqueza patrimonial e turística, mormente, tendo um instrumento de preservação como a classificação de imóveis e bens culturais de relevante Interesse Municipal? Respondeu Franjo que lá, tal como cá, o poder local não tem sensibilidade para a importância histórica destes espaços.

E ONDE ESTAVAM OS APOIANTES?

Quem faz o favor de me ler já deveria ter visto que tento ser os olhos do leitor, uma espécie de consciência crítica. Sem cair num negativismo endémico e viciado, com honestidade e na minha subjetividade, tento exaltar o que entendo por bom para todos e criticar o que entendo menos positivo para a coletividade. Apreendo que nesta cerimónia de apresentação e declaração de um lugar que faz parte de nós e nos honra a sua continuidade, pelo menos, deveria ter marcado presença um vereador da Câmara Municipal de Coimbra. Pelo mais, cada um dos apoiantes do projeto, nomeadamente da Universidade, da Escola de Hotelaria e do Museu Machado de Castro, poderia muito bem ter mandado um representante para assistir ao lançamento. Ou não? Bom, convenhamos, às tantas poderiam não terem sido convidados para o efeito. É verdade mas, pelo conhecimento prévio e tendo em conta que se tratava de um ato político, estas entidades, enquanto pólos dinamizadores da cidade, e do seu turismo, deveriam aparecer para mostrar que estão atentas –e quiçá preocupadas- e, no mínimo, para demonstrar aos munícipes e empresários que querem mais o cara-a-cara, na envolvência direta, e menos o despachar de secretaria.
Se calhar, com o veneno que, para alguns, me caracteriza, não faz sentido esta minha reportação. Ou fará?






quarta-feira, 25 de março de 2015

BOM DIA, PESSOAL....

O "POPEYE" FOI "ENCARCERADO"



O António Simões da Silva, conhecido por “Tónio Bombeiro” e apelidado de “Popeye” foi internado num lar ali para os lados do Areeiro, segundo dois seus grandes amigos, o Jorge Martins, do Quiosque Espírito Santo, na Praça 8 de Maio, e Olímpio Ribeiro, proprietário da barbearia Santa Isabel, na Rua Direita, e cognominado de “Engenheiro”.
OTónio” é um daqueles figurantes carismáticos que pululam na Baixa. Pessoas como ele são uma espécie de flores silvestres que nascem e vivem numa área habitacional. Pela forma desligada, na diferença, em consequência da sua leve demência imprimem uma marca inconfundível e, talvez sem o notarem, são amados pela colectividade. Contudo, e aqui reside a ambiguidade, enquanto deambulam pelos becos e ruelas das cidades parecem ser ignorados. Quando se ausentam do meio habitacional, ou por velhice, doença ou morte, todos parecem sentir a sua falta e mostram espasmos de dor pelo seu desaparecimento. Já constatei este procedimento social várias vezes aquando do sumiço de outros “cromos” que nos deixaram na última década.
Por conseguinte já se entende a preocupação do Jorge Martins ao pedir-me que escrevesse sobre o “encarceramento” do “Tónio Bombeiro”. “Tens de escrever sobre isto. A administração do lar onde está internado o “Popeye” tem de ser sensibilizada para o deixar vir à Baixa de vez em quando. Se assim não acontecer, ele vai morrer rapidamente. Sempre aqui viveu. Aqui é o seu mundo.”
Olímpio Ribeiro, o “engenheiro, vai mais longe, “Até entendo a decisão tomada pelo primo –pessoa responsável pela sua administração, creio. Ele fez bem em retirá-lo para uma instituição onde cuidem dele. Ele sozinho não estava bem e, além disso, às vezes, bebia de mais. Mas o “Tónio” faz falta à malta! É uma figura típica e carismática. Ele fazia recados para toda a gente desta rua. O “Tónio” é super-sério. Espero bem que o deixem vir de vez em quando à Baixa. Ainda só foi há dias e já sentimos a sua falta.”


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