quarta-feira, 24 de abril de 2024

LUSO: ONTEM, HOUVE ASSEMBLEIA DE FREGUESIA

 




Pouco passava das 19h00 quando Edmundo Duarte, presidente da Assembleia de Freguesia, deu início aos temas agendados na Ordem de Trabalho. E, naturalmente, começou por dar voz aos fregueses - que, por acaso, era só um: eu.

Levava na bagagem três assuntos, em forma interrogativa: dois referentes à povoação de Barrô e outro relativo à Vila de Luso.


* A primeira questão dizia respeito ao cumprimento da promessa eleitoral para as autárquicas de 2021 feita pelo Partido Socialista, em que, no seu programa, se comprometia

à “Criação de lazer, com valências ao nível de recreio infantil”, em Barrô, e, até agora, nada feito.

Por Claudemiro Semedo, Presidente da Junta de Freguesia, foi dito que, “há cerca de um ano, tinha conversado com António Jorge, Presidente da Câmara Municipal de Mealhada, e que ficou acordado que aquando da realização das futuras obras da praia fluvial junto ao velho moinho de água se trataria desse assunto, já que, ambas, eram complementares”.


* A segunda pergunta interrogava para quando o reposição dos dois assentos, encostados à frontaria da capela de São Sebastião - que serviram nas últimas duas décadas, sobretudo, para os mais idosos, em silêncio, conversarem com o patrono, pedindo perdão pelos pecados-, retirados em Setembro do ano passado aquando da pintura da ermida promovida pela Junta de Freguesia, para cumprimento de uma promessa eleitoral nas últimas autárquicas. É que em Dezembro, na última Assembleia de Freguesia do ano transacto, Claudemiro afirmou estar para breve. A demora, disse o autarca na altura, devia-se ao facto de estarem a ser requalificados no ferro e na madeira.

Foi então que o eleito em defesa da freguesia, puxando de um trunfo forte em jogada de mestre, me arrumou dizendo: “Os dois bancos já lá estão. Foram colocados ontem. Foram substituídos por dois exemplares novos, já que não se conseguiu soldar o ferro” – presumidamente fundido.

E, de facto, foram repostos e ficam lá muito bem. Até São Sebastião, que andava ensimesmado e neurótico pela solidão, ficou contente.


* A terceira interpelação foi a constatação de que, na Avenida Emídio Navarro, faltava um tripé com visor e imagens de Luso antigo. Foi roubado? Foi retirado pela Junta?

Pelo presidente foi afirmado que o tripé em ferro foi vandalizado. Não se sabendo se a intenção era ser surripiado.


E ENTRETANTO…


Quase a terminar a sessão, um dos vogais, salvo erro em regime de substituição, defendendo em tese que, na actual conjuntura de desinvestimento nas Termas pela empresa holandesa detentora da marca Heineken e proprietária das infra-estruturas turísticas lusenses, dificilmente a Vila da água cristalina (vi)veria melhores dias, no futuro que começa hoje.

Foi feita uma citação de que no actual marasmo “o problema são as pessoas”. Queria dizer que certas obras importantes e estruturais para o Luso, no tempo do ex-presidente Rui Marqueiro, não foram feitas por que uma minoria levantou imensos obstáculos à construção. Quase sempre, esta minoria, que escreve e utiliza as redes, é confundida por maioria. É por esta minoria, do contra, que as coisas nunca avançam.

E rematou implicitamente com algum desdém: “esta gente que escreve, nunca fez nada pela sua terra. Nem uma festa é capaz de fazer”.

Confesso, fiquei com as orelhas a arder. Se a mensagem não era para mim, seria para alguns como eu.

No final, em contraditório, ainda balancei em ter com ele uma conversa, mas declinei a intenção.

Se falasse, ter-lhe-ia dito que o excelente seria haver muitos cidadãos a escrever sobre os problemas da sua terra…

Se falasse, dir-lhe-ia que quem escreve “pro bono” – sobretudo com honestidade, equidade, neutralidade, desligado de interesses partidários e unicamente focado no desenvolvimento local – exerce um “metier” que, para além de ser um direito consignado na Constituição da República Portuguesa, só lhe traz aborrecimentos…

Se falasse, lembrá-lo-ia que a escrita interventiva, sendo em forma de opinião, comentário, críticas positivada ou negativa, é uma das formas de democracia participativa...

Se falasse, recordar-lhe-ia que quem escreve, visando a alteração do injusto para o justo, não procurando recompensa, o faz porque gosta de intervir na sociedade…

Se o encarasse, far-lhe-ia crer o quanto o escrever é o “respirar” para quem o faz. É uma necessidade básica. Ainda que incompreendido pelos mais chegados, por mais que tente fugir, dificilmente consegue evitar. A escrita, para estas pessoas, funciona como uma catarse, um encontro emocional consigo mesmo...

Se trocasse ideias com este vogal, dir-lhe-ia que, maioritariamente, quem explana ideias no papel raramente dá um grande político- recordemos o emérito Vasco Pulido Valente.

Mas, como em tudo, há excepções: lembremos Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro britânico durante a Segunda Grande Guerra, excelente escritor de vários livros e laureado com o prémio Nobel em 1953…

Se tivesse tido uma amena cavaqueira com o cavalheiro, ter-lhe-ia dito que, se aspira a outros voos na política autárquica, não demonstre desprezo por quem escreve chamando atenção para, por vezes coisas diminutas, isto e mais aquilo. Lembre-se que é esta minoria que, materializando o seu pensamento com ideias e planos visionários, vai servir de motor para a sua eleição.


sexta-feira, 19 de abril de 2024

LUSO: NO PRÓXIMO 23 DE ABRIL TEREMOS MAIS UMA ASSEMBLEIA DE FREGUESIA

 





Com vários pontos inscritos na Ordem de Trabalho – entre eles a doação de um prédio no Salgueiral . No próximo dia 23, terça-feira, pelas 19h00, na sede, vai realizar-se mais uma Assembleia de Freguesia.


UMA NOTA DE LAMENTO


É de lastimar que o Edital divulgado na página do site oficial deste município esteja truncado, isto é, não permite fazer a colagem.

Na última Assembleia, em dezembro de 2023, no tempo atribuído ao público, lamentei que a publicidade às sessões não tenham uma intenção maior. Referi nomeadamente que o conhecimento das reuniões fosse feito previamente anunciado na página do Facebook – o que não tem acontecido.

Acrescentei ainda que os editais colocados na parede da Capela de Barrô, relativamente a sessões anteriores, passada a validade, fossem retirados, para permitir visionar a olho solto que vai acontecer uma nova reunião de fregueses.

Como não são retirados atempadamente e são colados uns em cima dos outros ninguém se apercebe do futuro evento.

Custará muito fazer um pouco mais para chamar fregueses à discussão dos problemas das suas terras?


terça-feira, 2 de abril de 2024

BARRÔ: AFINAL, A SUPOSTA CRUZ EM OURO ERA EM LATÃO

 





Planava eu, hoje pelo romper da aurora, serenamente no meu quarto ciclo de sono profundo quando a campainha do portão de entrada retiniu com insistência. Ou melhor, o toque era de raiva, uma fúria ressacada de alguém que precisava de despejar o saco das frustrações.

O relógio da capela do adro ensaiava os primeiros toques a lembrar que o ditado “vale mais quem Deus ajuda do que quem muito madruga” é falso.

Com um olho aberto e outro meio fechado, enfiando à pressa o primeiro robe que me veio à mão, corri para as escadas para acudir aquela aflição.

Era a dona Miquelina, a esposa do L. A., Laurindo Abrenúncio, sobre quem, ontem, contei a história da suposta cruz, em ouro, encontrada por ele na ribeira, junto ao Moinho Velho.

Bastou-me um olhar de relance, mesmo a meio-olho, pelo rosto contraído, para verificar que se adivinhavam ciclones e arruadas de chuva.

Antes de chegar próximo dela, guardando uma pequena distância de segurança, ensaiei o melhor sorriso e uma frase simpática de boas-vindas:

- Bom dia, dona Miquelina, bons olhos a vejam. Passou uma boa quadra da Páscoa?

-Deixe-se de lamechises, que eu não estou para brincadeiras. Está a ouvir, sua amostra de jornalista de caserna?

Respirei fundo. Estava em vias de uma discussão turbulenta. Optei pela ignorância. Fiz-me de sonso.

- Não estou a perceber, aconteceu alguma coisa de grave, que eu não saiba?

- Não sabe, o quê? Seu troca-tintas de uma figa… - respondeu em interrogação com brutalidade e simulando uma investida.

Não sabe o que escreveu ontem? Não adivinhou que, por ser o Dia das Mentiras do primeiro de Abril, era uma patacoada?

Respirei outra vez, enchendo o peito de ar, soerguendo a cabeça, e preparei-me para o pior.

E fui aparando os golpes com argumentação de xaxa.

- Vai desculpar, dona “Miquinhas” – utilizei o diminutivo intencionalmente para ver se adocicava a lábia turbulenta da mulher -, mas foi o Laurindo, o seu marido, que me contou tudo. Até gravei. Quer ouvir?

- Não quero ouvir nada. Ponto final. O meu homem é um tonto. E quem manda lá em casa sou eu. Está a ouvir sua besta?

Engoli em seco. O melhor era mesmo desvalorizar as expressões. Se fosse demasiado lisonjeiro, e, por exemplo, lhe oferecesse uma flor de um dos vasos que calcorreiam as escadas, poderia ser acusado de assédio. Se fosse demasiado agressivo, sei lá, ainda poderia ser acusado de violência "rual" – uma derivada da doméstica, mas perpetrada na via pública.

Uma mulher, hoje, tem mais poder territorial que o Papa Francisco. Basta o ser para fazer encolher o parecer do mais afoito dos homens.

Prossegui, tentando ganhar tempo com a calma que tanto me caracteriza:

- está a exagerar, dona Miquinhas…

- Pois, isso é que não estou, seu troglodita… E não me trate por “Miquinhas”. Isto é só para os meus amigos...

Intervalei com uma pergunta de retórica:

- Mas, afinal, o que a incomoda? Ainda não percebi…

-Ai não?!? Ai não?

Então, não sabe que a cruz, colocada junto ao moinho por uns engraçadinhos, era de latão? Alguém precisava de saber acerca disso?

Para além disso, ninguém precisa de saber o que se passa em minha casa. Entende, seu escritor de meia-tijela?

Ainda ensaiei uma última questão:

- E como é que está o Laurindo?

- Uma lástima… Com uma depressão, que nem a graça de todos os santos lhe valem. Como que acha que ele estará?

-Compreendo – rematei sem convicção.

- Não compreende nada. E muito menos a vergonha que ele está a passar.

Já se tinha convertido à Religião Católica, e mais, já se tinha inscrito como Juiz da Igreja Paroquial de Luso. E agora, assim, nada…

Já estava a ver o meu Laurindo com a opa vermelha vestida e a pegar no estandarte… Ai que saudade…

Quem paga o meu desapontamento?


segunda-feira, 1 de abril de 2024

BARRÔ: ENCONTRADO IMPORTANTE ACHADO ARQUEOLÓGICO


    



Foi no maior segredo para que a notícia não desse à luz. De tal maneira o assunto sigiloso foi tratado com pinças cirúrgicas que nem a carpideira nomeada do lugar soube de nada.

L. A. - que, como é óbvio, não podemos identificar mais do que as iniciais – acompanhado do seu inseparável detector de metais, no seu passatempo favorito, passeava alegremente na semana passada o seu instrumento à espera de um “bip, bip”.

Há muitos anos que a sorte não lhe sorri. O que apanha é o costume: recobertos por uns escassos palmos de terra, é encontrar cavilhas e pregos de ferro e até alguns cornos de boi ornamentados com tiras de prata, o que o levou a concluir que, mais que certo, os Vikings, ancestral povo escandinavo, não teriam sido somente excelentes navegadores dos oceanos, mas também teriam chegado à aldeia através da Ribeira do Salgueiral, leito de água há séculos provavelmente navegável que atravessa a terra fértil da povoação. Porventura, a ser assim, os nórdicos teriam desembarcado no cais e actual represa do moinho velho.

L. A. sem nunca desistir da sua intuição, já percorreu a zona de Barrô de lés-a-lés. Já esburacou a terra barrenta da Terra Nova e Gândara, outrora grandes jazidas da excelente argila que deu nome ao povoado, e que serviu de matéria-prima às duas desaparecidas fábricas de telha e tijolo, situadas no alto do Coito, na fronteira que divide Barrô e Vila Nova de Monsarros. Já andou pela Lapa-do-sino, paredes meias com terras opostas a Várzeas. Já calcorreou as leiras do Ribeiro, e até já chegou a Vale da Fé, passando pelo Vale da Formiga.

Nesta última semana, que, por acaso, até era Semana Santa, conta o próprio, o nosso pesquisador de metais raros, a remoer um tédio desgraçado, acompanhado da sua “mais que tudo”, com a “Marilu, a gata que se tornou bebé no doce-lar, no regaço, estava confortavelmente instalado na poltrona da sala a ver o programa da Júlia, na SIC, sobre a imperfeição dos homens. Foi então que, vá lá saber-se o porquê, sem nada que o fizesse prever, a mulher, “puxando a culatra” atrás da metralhadora verbal, deu em disparar contra o nosso herói. Respigava ela que o marido era um inútil, que já há vários anos não lhe oferecia flores, que nunca ajudava nos trabalhos de casa, que só tinha olhos para o detector de metais. E blá, blá, blá.

De tal modo foi o tiroteio que o nosso pobre homem se sentiu ferido na alma e no coração – que palpitava tanto, que até parecia ir dar-lhe um enfarte fatal, daqueles que amandam uma pessoa para o condomínio fechado de Vale da Ribeira.

L. A. não é crente, admite e tolera a fé dos semelhantes, mas acha que as religiões são uma balela intelectual, das mais bem orquestradas da Antiguidade até aos nossos dias. Mas isso é um problema de cada um, pensa para si em silêncio camoniano.

Atingido pela injustiça, como um autómato, subiu ao sótão, afagou o cabo da máquina prospectora de antiguidades e, em segundos que pareceram minutos, numa espécie de catarse, uma revisão mental de sentimentos, deu uma volta de 360 graus à sua vida simples e pacata. Num ápice, deu por si a apelar ao Criador que o ajudasse a encontrar o achado da sua vida. E que o catapultasse para o mar da riqueza e o retirasse de uma vida de modorra. Há décadas que sonhava que conduzia um Mercedes, para cima e para baixo, na rua principal do lugar. E que os vizinhos, cheios de inveja, com os olhos esbugalhados, assomavam à janelas num trejeito de rejeição.

Sem saber como lá chegou, calçado de botas de cano alto em borracha, estava no leito do rio, que, com um caudal significante, corria em direcção ao mar com aparente alegria, junto ao velho moinho movido a água.

Era um dia dos cinzentos e com chuva de molha-tolos e outros esgaziados. Mas, como milagre divino, as nuvens negras fizeram uma grande clareira azul e o Sol, como por indicação do Mestre, deu em brilhar como num Agosto soalheiro.

Sem explicação plausível, na margem descoberta do lado direito da ribeira, a máquina, sonora perante um metal, deu em fazer um chinfrim dos diabos. Era mais barulhenta que a sirene dos Bombeiros Voluntários da Mealhada.

Mas o que é isto? Queres ver que, depois da minha mulher a chatear, só me faltava esta?

Mas a descobridora de sonhos, quebradora de silêncios, insistia, insistia, e não deixava de fazer barulho.

Foi então que, como um raio de luz atingisse a sua frágil mioleira, o homem começou a pesar a mentira e a verdade. E se aquilo fosse uma epifania? E se ali andasse a “mãozinha invisível” do Criador?

Como um tolo, ou possuído pelo demónio, deu em escavar com as mãos no sítio exacto de onde provinha o som da glória.

Passou uma hora, passaram duas. O buraco cada vez mais fundo. Os dedos cheios de sangue, a fazer lembrar as chagas de Cristo. E da descoberta nem sinais. Mas L. A. não era dos que desistem à primeira contrariedade. E, olhando o céu em sinal de ajuda metafísica, continuou.

Foi então que aos oitenta e três centímetros e duas décimas um objecto reluzente começou a sobressair das entranhas da terra.

Era uma cruz em ouro. Antiga. Muito antiga.

Segundo o meu depoente, “o objecto foi entregue ao senhor padre da Paróquia, que já o enviou para ser avaliado em Lisboa”. E acrescenta, “tudo indica ser do tempo de Constantino, o primeiro imperador romano a converter-se ao cristianismo. Provavelmente, é mesmo a primeira cruz feita em ouro”.

E enfatiza: “quem diria que até os Romanos andaram por Barrô?