terça-feira, 26 de janeiro de 2010

AS CAMPANHAS SOLIDÁRIAS






Segundo o JN, “A Assembleia Legislativa da Madeira aprovou, por unanimidade, a atribuição do salário de um dia de trabalho dos deputados às vítimas do sismo do Haiti. A proposta, apresentada pelo deputado da CDU-M, Leonel Nunes, representará uma ajuda de cerca de 3.600 euros.”
Com todo o respeito pelas vítimas da ilha do país das Caraíbas, mas embirro com esta forma panfletária de solidariedade. Fico irritado com a mimética de carneirada que estas campanhas solidárias atingem. No dia-a-dia, eu vejo, as pessoas passam ao lado de casos de que têm conhecimento e nada fazem para ajudar. Não movem uma simples palha. Quando se trata destes apelos lançados pelos “media”, particularmente a televisão, tudo responde massivamente.
Sabe-se, hoje, que a sociedade não se move pelas causas, mas sim pelos “cata-ventos” que as indicam e pelo poder difusor destes meios –nomeadamente o “status” de importância societária- em mobilizar as massas utilizando a mensagem como pano de fundo. Ou seja, a meu ver, o que impele os indivíduos nestas campanhas de ajuda é o mimetismo, a imitação, pura e simples, e tocadas pelos subscritores, cujo apelido, ou entidade, for mais sonante no meio em que se insere mais bem sucedida será.
Metaforicamente, e partindo de um exemplo de Hannah Arendt (1906-1975), a sociedade é um grande teatro. No palco, a actuar para as massas, estão aqueles que pelo estatuto ou pelo que fazem profissionalmente são reconhecidos como condutores do pensamento. Ou seja, são estes “artistas” que, através do seu desempenho –podendo até ser medíocre- indicam aos espectadores, em baixo na plateia, o caminho a seguir. É deste espaço público, deste palco, por princípio injusto e discriminador, gerando grandes convulsões no seu seio, e provocando barreiras de acesso de modo a que só alguns a ele tenham entrada, que saem os tão apregoados direitos de igualdade.
Porque se repararmos, basta dar uma volta no universo da Internet, nas imensas petições a favor de tudo e mais alguma coisa, veremos que muitas destas não passam das dezenas de assinaturas. E, atente-se, nalguns casos são de assuntos bem prementes. O que falhou? O estatuto dos proponentes e o meio de divulgação.
Por exemplo, sendo mais específico, a maratona televisiva “telethon Hope for Haiti Now, animada por mais de 100 artistas dos Estados Unidos, Inglaterra e outras partes do mundo, angariou mais de 40 milhões de euros. Não fosse o envolvimento dos vários artistas conseguiriam este montante?
Voltando ao caso da Madeira, quanto a mim, não é pelo facto de ter sido proposto por um deputado do Partido Comunista, mas esta proposta aprovada por unanimidade cheira a PREC, Processo Revolucionário em Curso. Lembro-me perfeitamente de ter trabalhado um dia e dar no que deu nos idos anos de 1974.

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