sábado, 30 de abril de 2011

A NOVA SEDE DO PCP VISTA PELO "OLHO DE LINCE"



 Estava eu ontem, “descansadinho da silva”, a tirar uns “bonecos” aos putos, todos “encartolados”, que passavam em fila a imitar o Cortejo da Queima das Fitas nas ruas da calçada. Mentalmente ia pensando se estaria certo vestir estas crianças com fatos de adulto. Não sei muito bem se me conseguirão entender –se até eu tenho dificuldade-, mas o que quero dizer é que tenho saudades de ver uma criança vestida simplesmente como tal, com calções e até com joelhos esmurrados. E saberão os amigos quando é que o consigo? Façam o favor de não rir na minha cara, caso contrário não escrevo mais. Homessa!? Pois é… é exactamente nos mais pobres. Tentem comparar uma criança humilde com uma remediada e ambas a brincar. Não têm semelhanças. É como se o maltrapilho se esquecesse da sua condição miserável e a felicidade, em toda a sua pujança, se reflectisse naquele rosto.
Estava eu então nesta grande viagem através do pensamento quando me senti a abanar todo. Eu seja ceguinho se não pensei, “queres ver que fui abalroado?”. Mas não, felizmente para mim, era só o Carlitos “popó” a tentar acordar-me da minha letargia. Meio titubeante, lá me foi dizendo: “vaa….iii fa… llaar… com o chee…fe imedia…taaa…mente!”. E lá fui eu a correr para sede do blogue Questões Nacionais.
-Bom dia, chefe. Mandou chamar-me?
Disse isto assim numa voz melosa, a ver se o gajo se chega com algum. Não é por nada mas já lá vai mais de um ano que não vejo um simples nota de vinte… pelo menos vindo do mastronço. O que me vale são as minhas correspondências com os jornais internacionais.
Se não fosse o amor da minha vida, a Rosete “Sempre em Cima”, há muito que tinha mandado este filho da mãe para o outro lado. Mas que querem? Não é verdade que os homens são como os barcos? Todos têm sempre de ter uma âncora?! O que mais me chateia é que não levo nada dali. É como se andasse a correr atrás do vento e a tentar abraçá-lo…
-B’tarde…
É muito estúpido tal gajo. É sempre a mesma coisa. Até parece que quer poupar nas sílabas. Assim poupasse o animal nas prendas que dá à minha Rosete. Já se entende a razão de eu não receber ordenado há mais de um ano… e da minha musa nem um simples beijo.
-O chefe mandou chamar-me? –Voltei a repetir.
-Claro. Não foi ter consigo o nosso mensageiro oficial, o Carlitos “popó”?
Disse isto assim, como se estivesse a mastigar as palavras. Ai, Senhor, o que isto me irrita…
-Então diga?!
-Preciso que amanhã, às 11h00, esteja na Rua Adelino Veiga, para fazer a reportagem da inauguração da nova sede do Partido Comunista Português. Vai lá estar o secretário-geral, o camarada Jerónimo…
-“O camarada Jerónimo”? Não me diga que o chefe agora também virou vermelho? Mas você não é de todos?
-Olhe lá, que maneiras são essas de falar? Você está farto de saber que jornalista não tem partido… que mania a sua de me azucrinar a cabeça?!
-O chefe desculpe, pelas mamas da Rosete, que o senhor tão bem conhece, que não queria ofender…
Está bem. Passemos à frente, que essa sua conversa não me enche barriga…
-Ai os comunas vão sair da Rua da Sofia?
-É óbvio. Se vão mudar de sede?! Parece que compraram o edifício…
-Como? Compraram o prédio? Ó chefe, mas isso é uma grande “cacha”. Pode ser que agora, sendo proprietários aqui na cidade, comecem a entender melhor os senhorios e não olhem para eles como modelos do “grande capital”. Não se esqueça que o “Chico” Queirós, para além de ser comunista, é o vereador do pelouro da habitação…
-Ó “Olho de Lince”, faça-me um favor, deixe-se de merdas, pode ser?! Poupe-me, alma de Deus!
-Ó Chefe, não se irrite. Está bem, pronto. Amanhã estou lá! Já agora não tem p’ra aí uma notita de vinte? Estou mesmo nas lonas. Até precisava de comprar uma roupita…
-tome lá 5 euros que chega muito bem. Aliás, para ir para junto dos comunistas nem precisa de ir bem vestido. Antes pelo contrário.
Por acaso o caramelo até tinha razão. Nem me devia preocupar com a “farpela”. De certeza que o Jerónimo viria de fato-macaco, de serralheiro, vestido. Ai, de certeza absoluta. Não estou a ver o camarada vestido de fato numa inauguração de uma nova sede. Mas eu sei lá!
E, hoje de manhã, lá pus as alpercatas ao caminho. Enquanto percorria os cerca de 150 metros entre a Igreja de Santa Cruz ia pensando nas razões que estariam por detrás desta mudança. Ora bem, a Rua da Sofia… Sofia…deusa da sabedoria… mãe de Deus…Espírito Santo…pois, realmente, vendo bem a coisa, os comunistas no seu pragmatismo e racionalidade não têm nada a ver com aquela artéria. Já com a Rua Adelino Veiga, poeta popular, trabalhador… está visto porque é que trocaram.
Eram cerca de 11h00 quando cheguei ao prédio das desaparecidas Modas Veiga –pelo menos deste local, que, felizmente, o Francisco Veiga continua na Rua Eduardo Coelho. Ai de mim de são fizesse esta rectificação. 
O pequeno largo, onde há cerca de três décadas existiu o “Texas Bar” estava repleto de gente. Sobretudo mulheres todas aperaltadas e já um bocadito entradotas nos “entas”. Entende-se porquê, estavam todas à espera do camarada Jerónimo.

Estava lá o pessoal todo do partido, o António Moreira, da União dos Sindicatos de Coimbra; o Mário Nogueira, que parecia um turista, com a carteira a tiracolo e os óculos de sol pendurados na camisa –reparei que estava um bocadito tristonho, suponho que foi por causa do chumbo do Tribunal Constitucional à avaliação dos professores;

 estava lá o Manuel Rocha e a sua lindérrima esposa –desculpem lá este aparte, jornalista não deveria ter olhos para ninguém em especial, mas que querem? É muito bonita a esposa do cabeça de lista da CDU por Coimbra, pronto!; 


estava lá o “camarada” –salvo seja, é claro- Barbosa de Melo, presidente da Câmara Municipal, sempre de braços cruzados, em posição de defesa; estava lá a “Mizé” Azevedo, a vice-presidente da autarquia; 

Estava o Francisco Queirós, o vereador da Habitação da Câmara Municipal; estava lá o “Spider Man”, o maior entertainer conimbricense além fronteiras de todos os tempos, com um blusão vermelho que até parecia a bandeira do partido. Foi então que eu vi as frases estampadas: “Ibiza Fuck In Island”. Por acaso não percebo nada de inglês, mas, mentalmente, pensei cá com os meus botões que a mensagem, falando na Islândia, não deveria ter nada de especial. Sei lá, imaginemos que, por exemplo, dizia o seguinte, “Ibiza Fuck In PCP”, isso já deveria ser chato, não sei, penso eu; 

lá estava o Quirino, como que a representar os comerciantes. Sim, porque dos homens do comércio estavam lá poucos, sei lá, não fosse alguém confundi-los.
Enquanto não chegava o camarada Jerónimo, que nestas coisas de inaugurações é como os casamentos, tal como a noiva, o corta-fitas é sempre o último a chegar, fui dar uma volta ao interior do edifício, foi então que dei de caras com aquele anjo de cabelo ruivo-avermelhado. Ai “Jasus”, Nosso Senhor! Perante aquela imagem de Virgem Santíssima até esqueci a minha Rosete: era a Rita Costa, funcionária do partido.

Desci as escadas e estava já o terreiro completo de pessoas. As velhotas estavam com um estranho frenesim no corpo. O que teriam? Ainda tentei interrogar uma, mas qual quê? Só tinham olhos para o cabo da rua, a ver se avistavam o seu galã. 

Palavra de honra, tive de me afastar de tanta voluptuosidade e fui em direcção à Estação Nova. Foi então que vi um tipo de cara de enterro e com fato preto. Pensei cá para mim, “queres ver que morreu alguém? Este fulano deve ser funcionário da Servilusa!”

 E segui atrás dele, foi então que vi todo aquele maralhal de velhas a correr para o fulano. Mas o que é isto, meu Deus?! Foi então que dei uma bruta chapada na minha fronte. Vejam bem, era o camarada Jerónimo e eu não reconhecera. Cá na minha inocência pensei que o secretário-geral fosse vestido de vermelho, ou vá lá, assim de fato azul-oceano… agora de preto?!

E começou os preparativos para o discurso do líder. Ouviu-se um “trovão”, quer dizer, parecia mas não era. Foi simplesmente o Rui Damasceno que foi ler um poema. Com aquele seu vozeirão assustou os pombos todos e até a menina Ernestina, que mora num andar mais abaixo, veio à janela toda com ar de assarapantada. É que ela deitou-se tarde, esteve a fazer serão até quase o sol raiar. O seu “Jocas” vem sempre à sexta-feira para pagar a semanada.

E veio o tão esperado discurso de Jerónimo de Sousa. A dona Ermelinda compôs o rosto, remexeu o pescoço, ergueu o punho e gritou: “PCP…PCP…PCP!”
Começou Jerónimo, “Camaradas, amigos, simpatizantes, hoje, após 90 anos, em Coimbra inauguramos uma nova sede. É nossa. Comprámo-la e graças ao muito trabalho desinteressado de camaradas estamos aqui na Baixa, contribuindo para lhe dar vida, para receber todos os pequenos empresários, pequenos comerciantes e todos aqueles que precisem de nós na cidade de Coimbra. Quando se diz que os políticos são todos iguais, nós somos diferentes. Este novo Centro de Trabalho do PCP está aberto a todos.”

E mais uma vez se ouviu uma grande gritaria: “PCP… PCP… PCP!”


O VÍDEO DO DIA...

PERANTE O ALHEAMENTO GERAL, 3 MÚSICOS TEIMAM...



 É um sábado, à hora do almoço, igual a tantos outros na Baixa. A tarde está cinzenta. Parece ameaçar chuva. As lojas comerciais estão quase todas encerradas. Contam-se pelos dedos das mãos..., e dos pés, os logistas que estão abertos e teimam em fazer o contrário dos seus colegas. Sim, porque isto é mesmo teimosia. Se a maioria encerra, certamente, estará de ver que a razão pende para o seu lado. Mas estes poucos que remam contra a maré, se calhar, lá terão as suas razões. Serão talvez, em metáfora, uns cruzados em terra de serracenos, sei lá! Pode ser que um dia consigam converter os infiéis.
Na Praça 8 de Maio, em frente à Câmara Municipal, está uma exposição de carros da década de 1960. Poucas pessoas estão interessadas nas máquinas que marcam a história do automobilismo mundial. 
Andando um pouco mais para  a frente, junto à Igreja de Santa Cruz, um grupo de músicos espanhóis tenta por todos os meios, incluindo a sonoridade dos seus instrumentos, chamar a atenção dos poucos transeuntes que passam. Afinal serão estes passantes a razão de eles também teimarem em mostrar as suas composições. De vez em quando, raramente, lá cai uma moeda. Mesmo assim continuam a pisar as cordas sem falta de ânimo.
Mais à frente está o Luigi a tocar viola. É italiano e chegou hoje à Lusatenas. Não conhece nada da cidade dos estudantes. Interroga-me se todos os comerciantes da Baixa serão como uma senhora que vende flores mais acima. É que, segundo as palavras de Luigi, praticamente ela enxutou-o à "má fila". Como se ele fosse uma coisa qualquer. Lá o tento tranquilizar que a grande maioria de comerciantes não são assim. Pelo contrário acarinham os músicos de rua, pois sabem que estes artistas desenvolvem um profundo trabalho social. Luigi pareceu ficar mais descansado. Não sabe quanto tempo vai ficar em Coimbra. "São caras as casas para arrendamento, aqui na cidade? E podemos estar a tocar aqui na rua, sem a Polícia Municipal (PM) vir aborrecer?". Lá lhe vou dizendo que é preciso tirar uma licença na autarquia. Mas, adianto, que nos últimos anos a PM passou a ser muito mais sensível com quem mostra a sua arte na rua -afinal, se as pessoas estão na rua é mesmo por não poderem pagar um espaço físico. Não é lógico? Se bem que a autarquia de Coimbra ainda terá muito que melhorar a sua relação com quem, a troco de uma moeda, se esforça por alegrar as artérias da cidade. 
Segundo sei, para se tocar nas ruas da calçada, a mensalidade de segunda a sexta-feira é de 15 euros. Se incluir os fins-de-semana passa a ser de 50 euros. Sei também que o preço para as ruelas da Baixinha já é muito mais acessível: custa cerca de 35 euros para todo o mês e incluindo o fim-de-semana. Sei também que os músicos desempregados, desde que apresentem comprovativo, e depois de requerem isenção, ficam libertos do pagamento.
Mais à frente, junto ao Largo da Portagem, o Luís Bartolessi com o seu saxofone alegra quem passa e, com os seus sons melodiosos, tenta assediar São Pedro para que não decida mandar chover tão cedo.
Ao longo das ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz -talvez solidários com os comerciantes encerrados- não se vislumbra nenhum músico nacional e que habitualmente se vê durante a semana. Hoje, sábado, dia 30 de Abril, estas ruas estão por conta da internacionalização. Mas isso será de admirar? Não será a música o vento de sons que não conhece fronteiras e chega a todo o lado, incluindo a Coreia do Norte?

E O GRANDE HOTEL DO LUSO AQUI TÃO PERTO


UMA MINI-QUEIMA DAS FITAS NA BAIXA (4)



 Perante o mar de gente que ontem à tarde ocupava literalmente toda a Praça 8 de Maio e a passagem estreita em frente ao Café Santa Cruz, o condutor deste autocarro, porque não teria sido avisado, não sabia o que haveria de fazer. Comentava com um colega, "ó pá, eu ia para trás, mas é a mesma coisa. Está tudo cheio de gente! O melhor mesmo é esperar!"
Deu para perceber que não teria sido informado da realização do mini-cortejo dos pequenitos e organizado pela Comissão Central da Queima das Fitas. Escrevo este apontamento, não para dar ferroada apenas, mas no sentido de alertar que, por parte da autarquia, é preciso planear estes eventos com mais profissionalismo.
Quem esteve muito bem foi São Pedro, que apesar de ter prometido chuva durante toda a tarde, só se desmanchou todo em cântaros de água e trovões por volta das 16h00 e assim permitiu que os miúdos encantassem os graúdos. Parabéns  a todas as escolas presentes, à Comissão da Queima e, já agora também ao São Pedro. Embora me pareça que ele não visite este blogue, fica o recado.


UMA MINI-QUEIMA DAS FITAS NA BAIXA (3)


UMA MINI-QUEIMA DAS FITAS NA BAIXA (2)


UMA MINI-QUEIMA DAS FITAS NA BAIXA (1)


UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA RECOMENDAÇÃO OPORTUNA": 


 Deixem-se de demagogias. Não é pelo facto de as grandes superfícies fecharem ou estarem menos tempo abertas que me vai levar a fazer compras no Centro Histórico!
A ser assim e se necessitar de comprar algo, espero que reabram as grandes superfícies pois deslocar-me à Baixa nunca, (sobretudo) com o mau aspecto que tudo aparenta e a insegurança gerada pela indigência, mendicidade, prostituição e toxicodependência.
Se querem reanimar e trazer gente ao Centro Histórico comecem por limpar o mesmo dos indigentes que se centram no Bota Abaixo, Terreiro da Erva e Rua da Sota.
Acho piada aquelas que defendem a vinda dos consumidores a esta zona antiga, mas ao mesmo tempo querem impedir o estacionamento na Praça do Comércio! 


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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "UMA RECOMENDAÇÃO OPORTUNA": 


 ESSA DO ESTACIONAMENTO NA PRAÇA DO COMÉRCIO É MESMO PARA RIR.
O COMENTÁRIO É MESMO DE PESSOA QUE CONFUNDE A ESTRADA DA BEIRA COM A BEIRA DA ESTRADA. FRANCAMENTE SE QUER COMPRAR NAS GRANDES CENTROS COMERCIAIS, FAÇA FAVOR. NINGUÉM O IMPEDE. AGORA VIR ARGUMENTAR COM QUESTÕES MARGINAIS, NÃO ME PARECE DE BOM-TOM.
SABE, NAS GRANDES SUPERFICIES TAMBÉM EXISTEM PROBLEMAS DE SEGURANÇA E MENDICIDADE. 

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE...)

(FOTO DE LEONARDO BRAGA PINHEIRO)


Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "NÃO SE IMPORTE QUE A SUA VEZ CHEGARÁ!": 


 Caro amigo, tal como partilhei no meu último comentário, lá teremos de ter um estômago de ferro para digerir tanto erro. Enfim, também participo das dores e também aqui na nossa pacata aldeia de S.Frutuoso já estão a acontecer casos assim...
Será que teremos de irremediavelmente ir viver debaixo da ponte? 

sexta-feira, 29 de abril de 2011

NÃO SE IMPORTE QUE A SUA VEZ CHEGARÁ!

(IMAGEM DA WEB)


  Há cerca de um mês um casal meu amigo perdeu a casa a favor do banco por falta de pagamento. Um deles ficou desempregado e, progressivamente, a situação foi-se avolumando até ao desfecho final.
Esta semana, a filha de uma amiga minha, também por falta de pagamento, aqui na cidade de Coimbra, entregou o andar que ocupava ali para os lados do Vale das Flores. Como se fosse pouco, a minha amiga, mãe da usufrutuária do crédito bancário, é avalista da filha. Mais ainda, como o valor patrimonial dos prédios desceu muito mais do que se diz, tudo indica que mesmo depois de vender a casa em hasta pública pelo banco o seu valor não irá cobrir o valor em dívida. Resultado: duas gerações vão ficar afectadas e em muito maus lençóis.
Penso que, talvez por desconhecimento, nenhum de nós tem bem noção do que está acontecer de Norte a Sul do país. Diariamente, como pedras vindas do céu, estão a cair nas famílias portuguesas tragédias que poucos se darão conta.
Estou em crer que perante uma notícia que lemos num qualquer jornal de uma execução de hipoteca o primeiro pensamento que nos ocorre será: “pois, não calcularam os riscos. Às tantas até compraram casa, carro e barco de recreio. Depois, é claro, tinha de acontecer isto!”. Ou seja, culpamo-los pela sua irresponsabilidade, ao terem assumido créditos que, em caso de uma qualquer infelicidade, não poderiam cumprir. E, rapidamente, este assunto fica encerrado na nossa mente. É como se, no fundo, estivéssemos a maldizer estas vítimas. Nenhum de nós se lembra que a qualquer momento poderá chegar a nossa vez. Quando vejo estas ocorrências, imediatamente, vem-me à mente o extraordinário poema de Martin Niemöller, escrito em 1933.
O que estranho é que, aparentemente, ninguém dá conta que a espada de Dâmocles paulatinamente vai caindo nas cabeças dos nossos vizinhos e, aos poucos, aproxima-se do nosso pescoço.
Quem tem voz para se fazer ouvir, preocupa-se apenas com a alteração do sistema político, sabendo nós que, por este andar e preocupados como andamos, lá queremos saber do que virá aí para as próximas eleições. Fala-se e escreve-se muito mas com frases perdidas no vazio do éter. Não é que não estejam certas, lá isso estão, mas são uma espécie de ramagem, não são o nuclear das coisas. São o acessório em detrimento do essencial. Só para exemplificar, vou mostrar o tipo de discurso que se houve e lê demasiadamente. Ontem, no Jornal Público, escrevia Mário Nogueira, líder da Fenprof, “Exigem-se ainda mais sacrifícios a quem há muito os suporta; diz-se que vive acima das suas possibilidades quem, muitas vezes, pouca possibilidade teve de viver; acusam-se os que discordando de soluções negativas, recusam compromissos com elas…”. (…) “Com a crise dos países ganham muitos, desde logo os especuladores financeiros, os bancos e as entidades que, alegadamente, ajudam as nações em dificuldades.”
Hoje, no Jornal de Notícias (JN), Vítor Bento, economista, presidente da SIBS, Conselheiro de Estado, e sei mais lá o quê, diz que “Por acreditar que só reconhecendo as nossas fraquezas é que podemos alavancar as nossas capacidades”. Continuando a citar o JN, “Foi com críticas em todas as direcções –aos políticos que não resistem às “sereias tentadoras do laxismo, do imediatismo e do facilitismo”, a uma parte da elite económica” que se torna muitas vezes conivente com as ilusões propagandeadas pelos políticos” e aos intelectuais, “em geral bem intencionados”, que influenciam a opinião pública mas que têm “um enorme desconhecimento das coisas práticas da vida e da economia”.
Penso que deu para mostrar o quanto estes dois senhores falam bem, aparentemente com grande fundamentação, mas na prática, no essencial daquilo que preocupa verdadeiramente os portugueses que todos os dias sofrem atentados por parte dos bancos, não dizem nada. Os seus discursos são simplesmente políticos, filosóficos e mais do mesmo e que estamos todos fartos de ouvir todos os dias.
Claro que se eles pregam, certamente, será porque terão fiéis que os escutam. E na omissão, no alheamento das coisas, não estão sós. Apesar desta razia financeira que está a acontecer na sociedade portuguesa, a colectividade nesta longa caminhada mortífera, limita-se a olhar para o horizonte, mas esquece as pessoas que, como tordos, vão caindo ao longo desta vereda de escolhos pontiagudos. De uma forma egoísta estamos a ignorá-los e a abandoná-los à sua sorte, olvidando que a sua sina presente será a nossa ventura amanhã e, do mesmo modo, será o laço onde nos enforcaremos também.
É urgente um pedido de ajuda, um grito de socorro social, um plano de recuperação para quem está a largar coercivamente as suas casas e tudo aquilo que ganhou numa vida de trabalho. Será certo que nem todos poderão manter os seus bens, mas não poderemos ignorar que há cidadãos a perderem os seus lares por escassos milhares de euros.
Estará certo do ponto de vista da justiça estas pessoas estarem a arcar sozinhas com as consequências? Onde está a responsabilidade solidária dos bancos? Não foi a banca que aliciou –sem aspas- todos a contraírem créditos para adquirirem produtos “tóxicos”, supérfluos, ou mesmo bens que deveriam saber à partida que estavam hipervalorizados? Há muito tempo que os bancos deixaram de ser instituições de desenvolvimento social, para serem simplesmente agiotas e usurários no pior que a frase possa conter. E aqui é que bate: se os bancos vendem dinheiro e estabeleceram contratos de crédito assentes na bilateral boa fé exigível em todos os acordos, e agora, se constata que essa avaliação patrimonial está viciada, por que razão ainda nenhum advogado levou nenhum caso até ao Tribunal Constitucional, com base, quer no vício de simulação, quer na alteração de circunstâncias fácticas –plasmado no Código Civil, art.º 437-, quer na violação do direito constitucional de igualdade? Se já houve dois advogados de Coimbra que intentaram acções contra o Governo –um por discordar da “ponte" sobre o feriado e outro sobre o retirar verbas aos ordenados dos funcionários públicos-, por qual a razão de, pelo menos até agora, nenhum ter intentado demandas contra a selvajaria que os bancos estão a perpetrar contra cidadãos indefesos?
O que estamos a assistir diariamente é uma violência consentida por todos. Estas casas de crédito, com a nossa anuência, venderam-nos os venenos para nos suicidarmos, a seguir os caixões e enterram-nos a todos, um a um. E isto tudo dentro da lei.
Ora, a meu ver, que não percebo grande coisa de direito, é fácil de vislumbrar que estamos todos a ser espoliados de uma forma gananciosa e vil. É preciso colocar um travão neste enriquecimento sem causa com base em contratos feridos na boa-fé.
Não se pode admitir que estes “salteadores de estrada” nos levem a casa, a burra e a carroça, os anéis, a vida em muitos casos, e até a própria alma.
Em nome do respeito pelo próximo, em nome pelo nosso futuro que começa agora, não podemos continuar neste ostracismo perante a desgraça do nosso vizinho.
Seja lá quem for que saia vencedor destas próximas eleições é preciso exigir um plano de pagamento prolongado, ou renegociação das dívidas particulares. Não podemos alhear-nos do que se está a passar mesmo à frente dos nossos olhos. É imperioso um programa de salvação Nacional. Ninguém fala disto. Todos estão apenas preocupados com as medidas do FMI, Fundo Monetário Internacional. E as necessidades básicas do cidadão, o seu constitucional e legítimo bem-estar, onde fica?
É preciso denunciar este atentado social. Nesta omissão, estamos todos a ser coniventes. Como moscas numa vidraça à procura de uma saída, andamos todos preocupados e perdidos com a dívida global do país e esquecemos os nossos problemas individuais.

O VÍDEO DO DIA...

COMPORTAMENTOS QUE NINGUÉM ENTENDE

(IMAGEM DA WEB)



  Segundo o Sapo Notícias, “O Tribunal Constitucional (TC) declarou hoje a inconstitucionalidade da revogação da avaliação do desempenho dos professores”, e aprovada pela oposição parlamentar, na Assembleia da República, contra a bancada do PS e do deputado do PSD Pacheco Pereira.
Certamente a maioria dos cidadãos não tomará conta do que significa este chumbo do TC sobre a actividade parlamentar.
Em minha opinião, perante uma declaração destas, que, mesmo para os leigos na matéria era óbvia, todos os deputados da oposição, mesmo com a dissolução do hemiciclo, deveriam ser obrigados, durante uma semana e na rua, a usar umas orelhas de burro como se usava nos anos de 1960 na então escola primária.
Até pode dar vontade de rir, mas o caso é demasiadamente sério para levar a brincar. Se não vejamos: não serão os ex-deputados, do centro à esquerda, maioritariamente licenciados em direito e alguns doutorados em Direito Constitucional?
Como é que se pode entender que profissionais da política e jurisprudentes de fama nacional possam cometer asneiras destas? Não seria óbvio que o parlamento, enquanto órgão fiscalizador da actividade executiva, estava a entrar no âmbito do Governo? Imaginemos que, no limite, o Presidente da República não tinha pedido a Fiscalização Preventiva?! O que aconteceria no futuro, tendo em conta o precedente?! O Governo, dentro das suas limitadas competências constitucionais, legislava e o Parlamento a seguir revogava? Será assim que a oposição de ontem, que amanhã será governo, entenderá a responsabilidade que lhe cabe por inerência?
É evidente que não tenho conhecimento do despacho do TC a consubstanciar a invocação de nulidade –nem sou jurista-, mas, tenho a certeza, estamos perante um escândalo nacional que vem mostrar o quanto até agora, estes parlamentares para lamentar, primam pela eficácia legislativa. Para além disso, somos livres de pensar que por detrás desta tentativa de revogação na Assembleia esteve um calculismo mesquinho, onde o interesse partidário e eleitoralista se sobrepôs ao interesse nacional. Nada que já não estejamos habituados. Enfim!
Aos poucos, vai-se entendendo o estado caótico em que se encontra o lodaçal de leis e o estado  laxista em que se encontra a justiça.
 Só para exemplificar, o Jornal de Notícias (JN) de hoje escreve que um indivíduo abasteceu a sua carrinha com combustível no valor de 90 euros e fugiu sem pagar. Chamada a GNR, esta perseguiu-o durante cerca de 150 quilómetros. Ao sentir-se perseguido o infractor entrou em contramão em Grândola e colocou em risco outros automobilistas. Para além disso, ao longo da viagem, foi arremessando objectos contra a patrulha. Depois de várias outras patrulhas lhe terem barrado o caminho acabou detido. Ao ser vistoriado o seu veículo, foram encontradas duas armas brancas. Para além disso este condutor é suspeito de conduzir sob o efeito de estupefacientes. Presente ao Ministério Público, este decidiu a sua libertação, sob termo de identidade e residência, “não o mandando para julgamento sumário nem para interrogatório judicial”, segundo a edição em papel do JN. Em pensamento acessório, reflictamos o quanto teria ficado ao erário público esta perseguição?
Ainda no mesmo jornal de hoje, “Por não comparecer no Tribunal da Feira, onde deveria depor como testemunha, um homem, residente em Travanca, acabou detido e preso numa cela. Vai ainda pagar uma multa superior a 200 euros”, transcrito do JN.




quinta-feira, 28 de abril de 2011

UMA RECOMENDAÇÃO OPORTUNA

(FOTO DO JORNAL AS BEIRAS)




  Ontem na Assembleia Municipal o presidente da freguesia de São Bartolomeu, Carlos Clemente, no seu uso exclusivo de competências, pediu a palavra ao presidente deste hemiciclo Manuel Porto.
Clemente, edil de uma das duas freguesias da Baixa, questionou o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Barbosa de Melo, acerca a posição da autarquia sobre o licenciamento das grandes superfícies na abertura ao domingo todo o dia. A seguir, segundo declarações de Clemente, foi então que a bancada da CDU propôs uma votação de recomendação ao executivo. Conforme se pode ler no Diário de Coimbra, a moção foi aprovada. Sublinho que esta posição da Assembleia Municipal é apenas uma recomendação à Coligação eleita. Este órgão de fiscalização não detém poder executivo. No entanto, volto a sublinhar, esta posição, enquanto meio de influência, é muito importante.
Clemente ao erguer-se em defesa do Centro Histórico falou também das bocas-de-incêndio que estão inoperacionais na Rua Visconde da Luz e que não deitaram água no dia do fogo naquela rua e há cerca de duas semanas. Falou ainda da vergonha que sente ser as grandes áreas comerciais terem estado abertas no passado dia de Páscoa e agora no próximo dia 1 de Maio, Dia Internacional do Trabalhador. Também aqui foi apoiado pela bancada comunista por Isabel Melo, deputada municipal da CDU.
Ressalvo que, segundo o Jornal de Notícias, a “Câmara Municipal de Braga mandou encerrar hipermercados no 1º de Maio.
Um bom trabalho de Clemente e também de toda a Assembleia Municipal. Ao tomarem esta decisão, acima de tudo, mostram que estão preocupados com a sobrevivência do comércio tradicional.
Também não posso deixar de frisar que o trabalho de Sérgio Reis, ao promover o debate no hotel Oslo no passado dia 16, enquanto meio de intervenção de publicidade pública sobre este assunto, a meu ver, já está a gerar frutos. Toda a acção gera reacção. Ao darmos simplesmente um chuto numa bola, sem o sentirmos, estamos a desencadear uma série de consequências em cadeia.

NOVO BISPO EM COIMBRA - FUMO BRANCO NO PLANALTO



  Segundo o jornal Campeão das Províncias, "O Papa Bento XVI nomeou (hoje) como novo bispo de Coimbra o padre Virgílio do Nascimento Antunes, de 49 anos, reitor do Santuário de Nossa Senhora de Fátima.
Tudo indica que nesta nomeação houve duas derrotas... como quem diz. Uma do Diário de Coimbra, que há cerca de 15 dias anunciava que o futuro sucessor de D. Albino Cleto, actual Bispo da Diocese de Coimbra, seria, provavelmente, o padre engenheiro José Rafael do Espírito Santo, vigário regional em Portugal da Prelatura pessoal do Opus Dei. O segundo vencido, no meu modo de escrever, teria sido o Opus Dei, que vendo a escolha do Papa recair sobre o padre Virgílio em detrimento de um seu discípulo, certamente não teria ficado lá muito contente... não sei, digo eu, sei lá!
Cá por mim -que sou agnóstico-, venha quem vier e desde que venha por bem, será bem-vindo... graças a Deus. Já que a escolha recaiu sobre o padre Virgílio Antunes, pois senhor futuro Bispo de Coimbra, sem falsa humildade, curvo-me à sua nova propositura. Claro que espero sinceramente que esteja aberto ao diálogo com os hereges (como eu). Isto é, admita que, dentro de um materialismo necessário e equilibrado, é  preciso envolver as igrejas do Centro Histórico na revitalização da Baixa, como por exemplo a Igreja de Santa Cruz. 
Através de um protocolo entre a Diocese e a Câmara Municipal de Coimbra é urgente que esta catedral que por acaso, só mesmo por acaso, até é Panteão Nacional esteja aberta diariamente e ininterruptamente ao turismo, pelo menos, até às 19 horas.