sábado, 29 de setembro de 2018

EDITORIAL: O MELHOR QUE EXISTE ENTRE NÓS SÃO AS PESSOAS






Em duas visitas de cortesia e companheirismo a dois conhecidos de longa data com idade de 90 anos, esta semana estive em duas situações que me tocaram profundamente. Ainda que parecidas e  de efeitos completamente antagónicos, com um resultado completamente diferenciado para os intervenientes, redundam em lição.
Um deles, ainda a locomover-se razoavelmente e perfeitamente lúcido, encontrei-o muito bem acomodado num andar de luxo ali para os lados de Celas. Segundo as suas palavras, os seus filhos, no tocante a apoio domiciliário, não deixam que nada lhe falte. Se eu não soubesse e não conhecesse bem o seu feitio e forma de estar na sua longa vida, nos seus lados peculiares, azedo, severo com os outros, egoísta, intolerante, poderia ser levado a pensar que o meu amigo estaria muito feliz. Num caso completamente anómalo, basta eu relembrar que, num longo casamento de mais de 60 anos, entre ele a sua esposa ainda viva, não existe qualquer convivência há cerca de trinta e cinco anos. Para complementar um quadro de existencialismo, o meu amigo é ateu.
Algumas vezes com as lágrimas a caírem pelo rosto marcado pelo tempo, o meu chegado de longa data, enquanto desenrolava o novelo de algumas histórias, que eu já conhecia, mostrava estar profundamente infeliz, diria até, eminentemente deprimido. Ao longo de uma hora, várias vezes repetiu: “estou sozinho, não tenho alguém que seja, da minha idade ou mais novo, para conversar. Não falo com ninguém! Os meus passatempos são a leitura e ver televisão. Como não saio de casa, deixei de conversar consigo, com a “doutorazinha” da farmácia, com o dono da livraria onde comprava livros. Não preciso nada de bens materiais, preciso é de humanidade, de relações humanas, de uma simples conversa como esta que estou a ter consigo. Nunca pensei em chegar a esta altura da minha existência e encontrar-me tão só!
Outro caso, foi o que contei ontem aqui, o aniversário de Cândido Carvalho, comerciante da Baixa, fundador da Loja das Meias em Coimbra. Ainda com boa agilidade física e mental, o profissional de balcão e empresário está para as curvas e contracurvas que o futuro o presentear.
No oposto ao que narro em cima, na introdução, encontrei o senhor Carvalho rodeado de quatro amigos com idades próximas a comemorar os seus 90 anos num ambiente de completa alegria e muita satisfação por estar vivo.
Para melhor percepcionarmos as diferenças, vou descrever um pouco do que conheço do comerciante da Baixa. Relembro, há uns anos, por volta de 2010, Vitália Ferreira, uma septuagenária, a viver da sua parca reforma, moradora na Rua Padre António Vieira, encetou uma guerra contra o barulho ensurdecedor de um bar nos jardins da Associação Académica. A determinado ponto, numa entrevista a um jornal diário, não medindo bem as palavras, acabou condenada por difamação em cerca de 1500 euros. Sem dinheiro para cumprir a obrigação, acabou arrestada. Um amigo dela, condoído com a sua situação, convidou-me para, na sua rua - uma vez que a luta era de todos os vizinhos -, fazermos um peditório. Com extrema dificuldade fizemos a campanha de angariação de fundos e conseguimos menos de metade da verba pretendida. Para além disso, na parte que me tocava, escrevi e publicitei um apelo. Ora é aqui que o senhor Carvalho se distingue da maioria. Por sua iniciativa, veio ter comigo para me entregar uma nota de 50 euros. Declinei receber, mas prometi mandar à sua loja a dona Vitália, a quem o benemérito doou o prometido.
Ontem, durante o pouco tempo que permaneci à conversa no restaurante, deu para me aperceber da recorrência constante ao bem-fazer, à amizade, que é o sangue que deve irrigar as veias do relacionamento humano, à preocupação em ajudar quem precisa, à partilha. Naquele encontro os princípios da Igreja Católica Romana foram marcantes para pressentir a fé viva do meu amigo Carvalho.
Para mim, um pobre pecador, que me considero agnóstico, que, não sendo bafejado com a luz e a virtude de acreditar no transcendente, tento aprender todos os dias com quadros sociais que se me deparam, dá para pensar se o apoio espiritual na velhice, o reconforto da religião não será um suporte para o peso enorme dos anos. Por outro lado, o dar, o dar-se, o estar disponível para os outros, num tempo em que  sobra tempo mas parece não termos tempo para quem quer que seja, não será o tónico anímico que nos fortalece a alma?
Como uma lição existencial sobre o individualismo, só recebe quem dá. A natureza, ou Deus para quem acreditar, não facilita e parece atribuir a cada um apenas o que deu ao longo da sua vida em que se relacionou com outros. E a felicidade, enquanto sensação de bem-estar e contentamento, entre quem nos circunda, é o conjunto das duas premissas.
Perante este enorme “milagre” que é a vida humana, se estivermos dispostos a isso, todos os dias aprendemos.
Valerá a pena pensar nisto?

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

BOM DIA, PESSOAL...

BAIXA: O SENHOR CARVALHO COMEMOROU MAIS UM ANIVERSÁRIO






Cândido Carvalho, o precursor da Loja das Meias em Coimbra, comemorou recentemente 90 anos. Para celebrar a efeméride, hoje, juntou os seus quatro amigos de sempre no restaurante Dom Pedro, na Avenida Navarro e, elevando as taças de cristal ao alto, todos fizeram tchim tchim.
Na mesa do aniversariante, ao seu lado, podia ver-se César Pegado, jogador de rugby, professor e ex-funcionário da Fundação Inatel, agora com 76 anos; no cabeçalho, de rosto calmo e sorridente, estava o João Fernandes, agora com 89 anos, que foi delegado do Inatel durante 30 anos e uma presença sempre disponível na entreajuda à cultura em Coimbra; ao lado estava o José da Costa, com 87 anos, o rosto identificativo da mais antiga ourivesaria na cidade, a Ourivesaria Costa na Rua Ferreira Borges; ao lado deste, com fisionomia um pouco mais séria, estava o Manuel Mendes, agora com 87 anos, reconhecido e estimado comerciante na Praça do Comércio com vários estabelecimentos comerciais com o mesmo nome.
Sem grandes formalidades, nem discurso previamente escrito, o parabendista, na sua calma habitual que tão bem lhe reconheço, um pouco emocionado lá foi adiantando que o melhor que se sente diariamente e se leva desta vida é a amizade. Vindo de África, chegou a Coimbra em 1958, então com 32 anos de idade. Foi na Rua Ferreira Borges, onde estão as suas lojas de moda, que conheceu estes seus grandes quatro amigos. “Sou uma pessoa com muita sorte! Quantas pessoas com 90 anos se podem gabar de terem a seu lado, praticamente a conviverem diariamente, quatro dedicados companheiros?


UM NAIPE DE EXCELÊNCIA


Quando nos nossos dias assistimos ao desaparecimento da loja de tradição, em Coimbra temos a sorte de ainda contar com alguns estabelecimentos com mais de meio-século e, curiosamente, ainda com os seus fundadores de boa saúde e a darem uma mãozinha no negócio, nem que seja para matarem o bichinho que os corrói.
Comecemos pela Loja das Meias, 60 anos de actividade comercial, e com Cândido Carvalho a comemorar 90 anos.
Na mesma rua e quase em frente está a Ourivesaria Costa, 81 anos de desempenho no sector de ourivesaria, e José da Costa com 87 anos.
Na Praça do Comércio estão os estabelecimentos da família Mendes, com cerca de 80 anos, e com Manuel Mendes prestes a comemorar os 88 anos.
Na Rua Visconde da Luz encontramos a loja dos Bragas, L.ª, com 90 anos de existência, e com o velho Braga a apagar as 94 velas em Junho último. O senhor Braga, com esta vetusta idade e ainda a trabalhar na sua loja, faz dele o mais idoso comerciante ainda em actividade na Baixa de Coimbra.
Em frente, e ainda na mesma Visconde da Luz, sem poder ignorar, damos de caras com a Casa dos Enxovais, a laborar desde 1965, portanto com 53 anos. De boa saúde e a conduzir o barco está o timoneiro José Marques, que comemorou há dias 80 anos de vida.
Num tempo de genocídio ultraliberal, em que a história comercial parece não contar nada na narrativa das urbes, quantas cidades médias como Coimbra se podem orgulhar de contar no seu seio com respeitosos embaixadores mercantis como estes?
Já agora, pergunto eu assim a perder de vista ao leitor, a Câmara Municipal de Coimbra não teria obrigação de, através de uma pequena cerimónia solene, homenagear estes homens? Lá ter tinha… mas como não fazem parte dos filiados nos partidos de poder, lamenta-se muito, muito mesmo, mas não há tempo, não há lugar, e muito menos verba para os condecorar com a simples Medalha da Cidade como merecem.

BAIXA: ENCERRA A ÚLTIMA SAPATARIA NA ANTIGA RUA DOS SAPATEIROS







No próximo Domingo, ao cair a folha do calendário deste mês de Setembro e início de Outono, duas lojas na Rua Eduardo Coelho encerram e fazem a despedida do nosso meio comercial. Pertencentes a Fátima Santos, uma nossa colega com cerca de trinta e cinco anos de vivência comercial na conhecida via estreita da Baixa de Coimbra, fecha o Tico & Teco, um bonito espaço dedicado a artigos de criança, e o Hush Puppies, um franchisado de sapatos em marca exclusiva. Como curiosidade, desaparece a última sapataria nesta popular ruela conhecida por rua dos sapateiros, actividade que deu nome até por volta de 1900 quando as artérias da parte baixa da cidade estavam divididas e eram conhecidas pelos ramos de artífices que davam corpo às corporações.
Nesta última Terça-feira, na Rua Paço do Conde, encerrou a casa conhecida por Tecidos Paço do Conde, que se dedicava à venda de atoalhados e artigos diversos.
Desde Janeiro, com mais estes, o número de encerramentos comerciais na Baixa sobe para 26.


MAS NO CAIR DA FOLHA TAMBÉM SE ERGUEM OUTRAS


No início deste Outubro duas lojas encerradas há mais de seis meses vão reabrir com outras actividades. A primeira, na Rua Eduardo Coelho, no espaço da desaparecida TLX, alegadamente, vai ser ocupado com roupas com preço único de 12 euros. A segunda na Rua das Padeiras, a loja outrora ocupada pela florista Orquídea Silvestre -que se transferiu um pouco mais para cima, para o Largo da Freiria- vai ser ornamentada com artigos decorativos mais direccionados ao turista. O novo adquirente, alegadamente, é um nosso colega que já detém outros dois estabelecimentos no mesmo ramo e na zona.

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "PARTIDO SOCIALISTA: UMA GUERRA IMINENTE ENTRE LISB...":


Eu ia comentar este post mas as emoções, a revolta, a surpresa e o espanto que a leitura do seu post me está a provocar não me aconselha a escrever o que quer que seja!
Por várias razões, desde o poder ser mal-educado até o ser um pouco injusto!
Mas será verdade que o dinheiro dos meus impostos, por sinal pagos com imenso esforço, anda a ser utilizado para pagar
(pre)bendas de polidores de esquinas e afins?! Mas eu trabalho tantas horas, vejo-me aflito para pagar a minha renda, luz, água, etc, e gente que não contribui em nada para a sociedade, para o bem comum? E como castigo tem de pagar menos de «mil paus», 5 euros de renda? Bem feito! Queriam renda de graça? Com a CMC não! Tem de pagar 5 euritos. Tomem lá!
Um abraço, Luís. 

PARTIDO SOCIALISTA: UMA GUERRA IMINENTE ENTRE LISBOA E COIMBRA




Conforme a página das deliberações publicada hoje na imprensa,
a Câmara Municipal de Coimbra, mais uma vez e reiteradamente,
atribuiu dois T2, um situado no Bairro Municipal da Conchada, por
4.29 euros e outro, no Bairro da Rosa por 4.90 euros.
Repito: 4.29 e 4.90 euros! Quantos portugueses poderão pagar esta
exorbitante importância por uma renda de casa?”


Segundo informações do nosso correspondente na capital, Arnaldo "ver p'ra além da opacidade", está em vias de estalar um grande conflito institucional entre Helena Roseta, deputada eleita pelo PS e presidente da Assembleia Municipal na Câmara de Lisboa, e Manuel Machado, correlegionário no mesmo partido, presidente em exercício, ex aequo, na Associação Nacional de Municípios Portugueses e na Câmara Municipal de Coimbra. Tudo indica que a popular arquitecta, defensora nacional da aplicação do constitucional direito à habitação para os pobrezinhos, vá levar o assunto à Assembleia da República através do grupo parlamentar do seu partido.
Em palavras mais do que necessárias, conta-se o “quid pro quo”, como quem diz, tomar uma coisa por outra. Vamos então explicar de forma simples para que todos possam compreender a grande embrulhada – mais uma – em que o nosso regedor Machado está metido. O caso é gravíssimo, e a ex-filiada no partido de Sá Carneiro, nas voltas que o mundo dá, está carregada de contentores de razão.
Antes de meter a mão na coisa, como sói dizer-se, vamos só lembrar que Roseta, a mãe de todas as mães para uma casinha oferecida aos mais desprotegidos, invocando o artigo 65º da Constituição da República Portuguesa defende o direito a todos terem uma habitação. Na sua óptica de grande revolucionária marxista, a democracia de regime solidário divide-se em dois grupos: papalvos e aproveitadores.
Os primeiros, os papalvos, são todos aqueles portugueses que votando sempre nos mesmos do rotativismo ou fazendo parte do absentismo, sendo patrões ou assalariados, compraram as suas habitações a crédito e, durante cerca de trinta anos, estão amarrados à obrigação. Criando riqueza para desenvolverem o país, trabalhando noite e dia por verem os seus rendimentos diminuírem assustadoramente, denegando viverem à sombra do Estado, são premiados com escalões de IRS elevadíssimos. 
Os segundos, os aproveitadores (ou espertalhões), são todos aqueles que, passando os dias sentados em esplanadas e a polir esquinas, já que trabalho para eles é o demónio em forma de esforço, transpiram a estopinhas para verem chegar o cheque da Segurança Social a meio do mês. Vivem pendurados no sistema e à custa dos que pagam impostos. Esta classe, desprotegida e apadrinhada por Helena Roseta e alguns bloquistas, são assim os usufrutuários de um amplo direito fundamental que, pelo simples facto de nascerem portugueses, sem moverem uma palha, o Estado deve satisfazer as suas necessidades básicas.
Antes de prosseguir, era bom transcrever o tal artigo 65º da Constituição da República Portuguesa:

1. Todos têm direito, para si e para a sua família, a uma habitação de dimensão adequada, em condições de higiene e conforto e que preserve a intimidade pessoal e a privacidade familiar.
2. Para assegurar o direito à habitação, incumbe ao Estado:
a) Programar e executar uma política de habitação inserida em planos de reordenamento geral do território e apoiada em planos de urbanização que garantam a existência de uma rede adequada de transportes e de equipamento social;
b) Incentivar e apoiar as iniciativas das comunidades locais e das populações tendentes a resolver os respectivos problemas habitacionais e fomentar a autoconstrução e a criação de cooperativas de habitação;
c) Estimular a construção privada, com subordinação aos interesses gerais.
3. O Estado adoptará uma política tendente a estabelecer um sistema de renda compatível com o rendimento familiar e de acesso à habitação própria.
4. O Estado e as autarquias locais exercerão efectivo controlo do parque imobiliário, procederão à necessária nacionalização ou municipalização dos solos urbanos e definirão o respectivo direito de utilização.


Lendo o artigo constitucional não se apreende em qualquer alínea que o Estado deve dar habitação - em dação, isto é, atribuir ao credor uma coisa devida por dívida - conforme defendeu Helena Roseta no programa Prós e Contras da RTP nesta última Segunda-feira, pois não? 
Para tudo ficar ao jeito da arquitecta, é urgente o acordo entre os maiores partidos para uma revisão da grande blia dos direitos -e obrigações só para alguns.


MAS, AFINAL, TANTA CONVERSA…



A razão de Helena Roseta ter ficado furiosa com a edilidade conimbricense prende-se com ao facto de, ao arrepio das suas ideias socialistas-marxistas, conforme a página das deliberações publicada hoje na imprensa local, a Câmara Municipal de Coimbra, mais uma vez e reiteradamente, atribuiu dois T2, um situado no Bairro Municipal da Conchada, por 4.29 euros e outro, no Bairro da Rosa por 4.90 euros. Repito: 4.29 e 4.90 euros! Quantos portugueses poderão pagar esta exorbitante importância por uma renda de casa?
Segundo o nosso correspondente, a presidente da Assembleia Municipal de Lisboa está muito apreensiva com estes valores elevadíssimos praticados por Coimbra. Ao que parece, estas importâncias fora de contexto facilmente podem cair no campo especulativo. Será que estes contemplados munícipes, em face do seu rendimento familiar, vão conseguir pagar? Parece interrogar Helena Roseta.

BAIXA: MAIS UM PONTO PARA RECORDISTA







Aparentemente sem grande esforço, o Luís Cortês, um músico de rua invisual e deficiente físico, o nosso mais famoso recordista do Guinness World Records, o popular registo mundial de recordes, conseguiu mais um ponto, que consiste em curto espaço de tempo deixar roubar o órgão, o instrumento que lhe permite angariar umas moedas para contribuir para o seu sustento, e logo a seguir receber outro novo. Já é conhecido pelo cognome do "Homem do cartaz ao peito".
Para os não crentes, isto poderá ser a prova que Deus existe e não dorme em serviço na protecção dos mais desmazelados. Segundo Cortês, “há dias, estava eu com o cartaz ao peito, ouvi um casal a falar italiano em frente a mim. Acho que moram na Rua do Corvo. Estiveram nisto mais de quinze minutos. Passado este tempo disseram que me iam comprar um órgão. E apareceram aqui com ele. Estou muito contente, senhor Luís!

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA


AAC vende cerveja barata para festas onde tudo é permitido!”







REFLEXÃO: OS INCONSCIENTES DO PRESENTE, OS (IR)RESPONSÁVEIS DO FUTURO



A Abertura Solene das Aulas na Universidade de Coimbra aconteceu no passado 19 de Setembro, precisamente há uma semana.
Tal como em anos anteriores por esta altura, a Baixa, sobretudo à noite, fica super-povoada com manchas negras constituídas por estudantes de capa e batina a praxarem os caloiros.
Como se sabe, a praxe académica é um ritual que tem por objecto integrar os alunos que vêm de novo para uma uma escola, colégio e universidade nos seus hábitos e costumes, em rotinas consideradas proactivas. No seu espírito de instituição secular, ainda que de uma juventude irrequieta, prevalece a inter-ajuda, o encaminhamento, o desfazer de dúvidas, o desonerar o novato de ser obrigado a bater com a cabeça para aprender os caminhos que outros mais velhos já percorreram.
Não tenho uma opinião radical sobre a praxe praticada entre académicos. Isto é, num maniqueísmo de escolha mútua, se deve acabar ou continuar. Acho que a decisão cabe por inteiro aos intervenientes, a não ser que a praxística saia do âmbito corporativo, particular, e invada a esfera pública. Acontece que os métodos, quer pela imposição dos veteranos, quer pela aceitação dos caloiros, por ambas as classes, com muito álcool à mistura e tocando muitas vezes a humilhação dos mais novos, a destruição animalesca e o desrespeito pela coisa pública e os impropérios vociferados em altos gritos, levam a colectividade a intervir. Ora, sabemos por experiência, quando a comunidade se mete, porque o descontrolo e o descalabro são demasiado evidentes, numa mistura de vários sentimentos depreciativos, fá-lo sempre num radicalismo absolutista do “acabe-se com isto!
Então pergunta-se: para evitar o estado caótico, repetido ao logo do ano, a que chegaram as festas dos estudantes, não há entidades directamente interessadas que deveriam influenciar e manobrar para evitarem certos excessos? No caso, a Universidade de Coimbra, o Instituto Politécnico de Coimbra, a Escola Superior Agrária, as associações de estudantes, nomeadamente a Associação Académica de Coimbra, a Câmara Municipal de Coimbra, a Polícia de Segurança Pública, esta que, na maioria dos casos, olha para o exagero dos alunos à luz de um paternalismo que gera impunidade e só faz mal, estas entidades não têm obrigação de ter mão dura sobre alguns arruaceiros?


O FIGURÃO DESMAZELADO




Sem grande margem de erro, o Luís Cortês é o figurão mais conhecido na Baixa de Coimbra. O seu palco de desempenho artístico divide-se entre a Praça 8 de Maio e o Largo do Poço. Com apenas cinco por cento de visão, vê mais e entende os humanos do que os ditos cujos com total perspectiva. Com um só braço toca órgão muito melhor, acima, acima, que grandes teclistas famosos e de renome mundial. Com uma só boca, e se estiver com um grãozinho na asa, canta melhor que uma revoada de rouxinóis.
Para além disso, e num campo pouco conhecido muito para lá da sua áurea de figura típica, é o conimbricense a quem mais vezes furtaram o instrumento – o órgão, obviamente. É de tal maneira a repetição que, no Centro Histórico, já é conhecido pelo “Homem do cartaz ao peito”.
Como recordista absoluto, são muitas as queixas na PSP contra desconhecidos. De tal modo é assim que, alegadamente, corre o risco de não lhe aceitarem mais participações. É de prever que o Guinness World Records, o popular registo mundial de recordes, sem que o Cortês precise de concorrer, lhe atribua o ceptro do maior bacoco a ser roubado.
A semana passada, mais uma vez, voltou a ostentar o cartaz ao peito.


ORÇAMENTO PARTICIPATIVO

(Foto do Notícias de Coimbra)


Gostava de lembrar que, até ao fim deste Setembro, está decorrer a votação do Orçamento Participativo promovido pela União das Freguesias de Coimbra. Esta participação é reservada aos fregueses das juntas agregadas da Sé Nova, Almedina, São Bartolomeu e Santa Cruz. Para além disso a escolha é pessoal, isto é, o inscrito numa destas autarquias tem de se deslocar a qualquer uma das sedes – o horário pode consultar aqui (clique em cima).
Não precisa dizer, bem sei que você só vai à sua junta de freguesia uma vez de quatro em quatro anos e a última -tomara eu que fosse – foi há escassos dez meses. Mas deixe lá, faça lá isso pela colectividade. Não interessa em quem vai votar, o que importa é que, como bom cidadão, se inteire dos projectos a concurso e vote naquele que melhor corresponder às suas expectativas. Não é pedir muito, pois não?


ALOJAMENTO LOCAL EM FRANCA EXPANSÃO




O alojamento local na Rua Adelino Veiga, no espaço das montras do prédio da desaparecida Românica, agora conhecido como Hotel Estrela, regista índices de ocupação nunca vistos. É engraçado que, na linha de que "atrás de mim outro virá e nunca melhor", na porta ao lado funcionou o "Sol da meia-noite".
Segundo um comerciante vizinho da popular unidade hoteleira, que me convidou a registar o momento relaxado em que um hóspede hoje se refastelava sobre o Sol outonal, “apesar de nos queixarmos continuadamente, estamos muito contentes por ninguém se importar com os elevados rácios de hospedagem. Você já viu o que seria desta rua sem turismo? É certo que é um turismo pé-descalço, que em cumprimento de promessa de não fazer nenhum vai em direcção do seu santo padroeiro, e que pratica o jejum quando necessário, mas, como diria a outra, isso também não importa nada!
Assim, a acolher tantos visitantes sem olhar à sua cor de pele, ao cabedal que cobre os pés, e se são trabalhadores ou malandros, não nos podem acusar de discriminação! É ou não é? E só por este facto já ganhamos muito!

Mas não pense que não vou deixar uma farpa à Turismo Centro Portugal. Se é certo que as refeições de almoço e jantar estão asseguradas no Terreiro de Mendonça, é indecente que não sirvam pequeno-almoço a estes peregrinos do “Caminho do faz-nenhum!

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

AINDA O AEROPORTO VAI NO QUEIRÓ E JÁ FEZ UM VÍTIMA

(Foto do Notícias de Coimbra)




Seja por cativações do Governo ou outra forma de não investimento no sector público, a segurança nos aeroportos está cada vez mais em causa.
Segundo o jornal online Notícias de Coimbra, o previsível talvez nunca mais que certo aeroporto Internacional de Coimbra, que ainda não passou nem passará do papel, fez hoje a primeira vítima.
Não foi possível saber o estado de recuperação da padecente, mas, tendo em conta que é uma mulher de armas e de boa base imunológica, acreditamos e fazemos votos para que as melhoras sejam rápidas.

Vereadora Madalena Abreu em estado de choque por causa do “aeroporto” de Coimbra!”

ALOJAMENTO LOCAL EM FRANCA EXPANSÃO





O alojamento local na Rua Adelino Veiga, no espaço das montras do prédio da desaparecida Românica, agora conhecido como Hotel Estrela, regista índices de ocupação nunca vistos. É engraçado que, na linha de que "atrás de mim outro virá e nunca melhor", na porta ao lado funcionou o "Sol da meia-noite".
Segundo um comerciante vizinho da popular unidade hoteleira, que me convidou a registar o momento relaxado em que um hóspede hoje se refastelava sobre o Sol outonal, “apesar de nos queixarmos continuadamente, estamos muito contentes por ninguém se importar com os elevados rácios de hospedagem. Você já viu o que seria desta rua sem turismo? É certo que é um turismo pé-descalço, que em cumprimento de promessa de não fazer nenhum vai em direcção do seu santo padroeiro, e que pratica o jejum quando necessário, mas, como diria a outra, isso também não importa nada!
Assim, a acolher tantos visitantes sem olhar à sua cor de pele, ao cabedal que cobre os pés, e se são trabalhadores ou malandros, não nos podem acusar de discriminação! É ou não é? E só por este facto já ganhamos muito!
Mas não pense que não vou deixar uma farpa à Turismo Centro Portugal. Se é certo que as refeições de almoço e jantar estão asseguradas no Terreiro de Mendonça, é indecente que não sirvam pequeno-almoço a estes peregrinos do “Caminho do faz-nenhum!”

UM COMENTÁRIO RECEBIDO E UMA RESPOSTA...






Deve pensar que é a última bolacha do pacote, se o incomoda, exija condições, não critique. Agora se o racismo lhe está a subir à pele, já é feio da sua parte.






RESPOSTA DO EDITOR


Começo por lhe agradecer o comentário. Agradeço-lhe também que não contamine a discussão, manipulando o seu objecto, com frases como “agora se o racismo lhe está a subir à pele, já é feio da sua parte.
Relembro-lhe que a venda ambulante, em Coimbra, não é apenas composta por vendedores de etnia cigana, há pessoas (ou houve, porque a maioria desistiu) de várias origens.
Como ressalva, gostava de lhe dizer que, contrariamente ao que parece aflorar, estamos do mesmo lado da barricada, ou seja, escrevendo por mim, procuramos uma solução digna para um problema que exige respeitabilidade para um sector que precisa urgentemente de ser disciplinado com regras. O deixa-andar, num incomodativo deixa-correr por parte de quem manda, é querer provocar o conflito e a guerra entre os estabelecidos e os precários. Uns e outros, sem qualquer supremacia, merecem respeito.
Continuando, no referente à sua expressão “se o incomoda, exija condições, não critique”, claro que me incomoda ver o estado deprimente a que chegaram os espaços dedicados à venda ambulante (fixa). Por isso mesmo, perante várias alterações do Regulamento do sector que redundam sempre em faz-de-conta, em operações de cosmética, em mentiras indecentes, tenho vindo a denunciar a forma despudorada como se faz pouco de quem tenta ganhar a vida honestamente, a quem chamo os vendedores da esperança perdida. O objectivo desta não-acção é, claramente, o extermínio de uma profissão que sempre foi e deve continuar a ser respeitada.
Há cerca de vinte anos que escrevo sobre o procedimento do poder político local eleito para com os vendedores ambulantes. Perante a apatia de entidades responsáveis, este tratamento indecoroso transforma a urbe em cidade do ridículo. E você? O que tem feito para alterar a situação? Tem feito alguma coisa? Ou a sua rebelião assenta só na premissa do racismo?
Fundei o blogue em 2007 e, como pode ler aqui, mais aqui, ali, e mais ali, e outra vez ali, e mais ali, e ali, e ainda aqui, e outra vez aqui, as minhas crónicas, na direcção de ser justo, vão sempre no sentido de se atribuir a cada um o que é de justiça. Claro que a um direito corresponde sempre uma obrigação. Quero dizer que quem vende na rua deve ser tratado com equidade,com regras iguais, sem falso paternalismo que não é mais do que uma discriminação disfarçada e aviltante.
Por parte dos executivos camarários, desde o início de 1970 e com maior acutilância no final do milénio, perseguem uma metodologia assente no “chutar” as pessoas de um lado para o outro como se fossem coisas – no último meio século, num raio de cinquenta metros no Bota-abaixo, junto à Loja do Cidadão, já mudaram os vendedores ciganos três vezes. É um processo que se alicerça no ostracismo, na exclusão, na indiferença que fere, no previsível cansaço dos operadores. Basta lembrar que na Praça do Comércio, no início de 2000, eram cerca de uma dúzia de pessoas. Hoje, só dois vendedores se mantêm em actividade.
Para derrota destes políticos da treta – e é um elogio sincero, não sendo a primeira vez que o manifesto – com os vendedores ciganos nunca conseguiram levar à sua rendição.
Para terminar, se permite a opinião, já que escreve bem e sabe expressar o que lhe vai na alma, junte a sua voz à minha e, juntos através da escrita, “pressionemos” o actual executivo para, concedendo espaços dignos e com direitos e obrigações, dar nobreza a quem comercializa na rua.





Miguel deixou um novo comentário na sua mensagem "COIMBRA, CAPITAL DA VENDA AMBULANTE COM ARTE, SEGU...":


Deixe lá a carta do racismo, essa já não cola em parte nenhuma e limite-se a agradecer os benefícios que os contribuintes dão a muitos "espertalhões" da sua etnia.

Cumprimentos

sábado, 22 de setembro de 2018

SOLIDARIEDADE PARA COM O POVO ANGOLANO

COIMBRA, CAPITAL DA VENDA AMBULANTE COM ARTE, SEGUNDA NOMEAÇÃO À VISTA






Segundo uma fonte muito anónima, na próxima semana o Executivo Municipal de Coimbra vai debater a possibilidade de candidatar a Venda Ambulante, à UNESCO, como Património Imaterial da Humanidade.
Segundo o meu interlocutor, “acredite, isto é mesmo para avançar! Depois do fiasco que deu, e está dar, o prometido aeroporto internacional para Antanhol, e com os Encontros Mágicos a terminarem, Manuel Machado já não tem mais coelhos para retirar da cartola. Por isso tudo, isto agora é mesmo a sério!
Se a proposta for aprovada na próxima reunião, e deve ser porque, para além de ser unânime a posição dos vereadores de todas as bancadas parlamentares, Francisco Queirós, o representante da CDU, apoia a medida. Por conseguinte, a nomeação será facilmente reconhecida por Paris, sede da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
Repare, não é apenas a venda de artigos que conta, é a arte que ressalta do acto em si mesmo. São cerca de cinquenta anos de história, em que os executivos da cidade, por forte resistência de uma minoria, se demitiram de criar soluções. Felizmente que não o fizeram! Por isso mesmo esta actividade comercial conserva a pureza original. Resistissem assim os comerciantes, ditos tradicionais, e não teríamos assistido à destruição da loja antiga, identitária de um tempo histórico mercantil.
E mais: Coimbra deve ser a única cidade no mundo que chama Venda Ambulante a um desempenho sempre no mesmo lugar, firme e hirto, como diria o Alexandrino. 
E mais ainda: cujo executivo, nos últimos vinte anos, já fez aprovar três regulamentos específicos para tudo ficar na mesma. Isto é muita obra para uma cidade de mediana dimensão! Concorda ou não comigo? Se não estiver de acordo é porque faz parte da oposição, essa massa abstracta de maioria silenciosa, cuja maior edificação que se conhece é colocar o “pau na roda”!
Você já viu bem o Largo da Maracha, junto à Loja do Cidadão, com os toldos estendidos e presos por cordéis? E aquele lixo espalhado, todos os dias, por ali? Não me diga que aquela expressão popular não toca a sua sensibilidade? Não? Você nunca me enganou: percebe tanto de arte como eu de marés!

BOM DIA, PESSOAL...

PAÍS GOVERNADO POR GESTORES DA TRETA

Resultado de imagem para pedrógão
(Imagem da Web)




Ontem visionei a peça de Ana Leal, jornalista da TVI, que passou no “Jornal das 8”, sobre os incêndios de Outubro do ano passado e cuja reconstrução de casas feita por ajuste directo, um ano depois, está próxima do zero.
Com famílias inteiras alojadas em roulotes e protegidos por chapas de zinco e plásticos a interrogarem que espécie de Portugal é este, onde há dinheiro para tudo menos para o essencial, deixou-me uma profunda tristeza com as lágrimas, por várias vezes, a balançarem entre o cai e não cai.
Sobre a reportagem da TVI, se por um lado nos faz acreditar no importantíssimo papel que a imprensa livre, escrita, visionada e radiofónica, desempenha, por outro mostra a nu o caciquismo, a insensibilidade, o deixa-correr de alguns técnicos decisores e presidentes de autarquias perante o dramatismo do sofrimento e a miséria ocasionada por desastres naturais. Como é que esta gente, que foi eleita para representar e defender os munícipes do seu concelho, consegue dormir descansada? Enquanto não se varrer de vez esta gentalha o país continuará na mesma linha de subdesenvolvimento endémico.
Mais: perante a regionalização tão apregoada por tantos e a descentralização de competências que está em marcha pelo Governo, o que é que podemos esperar?
Muitos parabéns à TVI, um grande agradecimento a Ana Leal pela coragem que, nas suas peças, continua a presentear-nos. Em nome dos que mais precisam, um enorme bem-haja!