segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

UMA VOZ NA ESCURIDÃO







O relógio marca 20 horas. É sábado. Talvez pela aragem e proximidade do rio Mondego, faz frio junto à Estação de Coimbra-B. Acompanhado da minha mulher, parei o meu carro debaixo do IC2, junto ao restaurante “O Telheiro”. Um homem ainda novo, de bom aspecto, vestido com simplicidade mas limpo, ao ver que vou arrumar, faz-me gestos com o braço. Há um lugar lá no canto mais recuado.
Quando saí da viatura, reparei então melhor no rosto e no carisma do arrumador. Boa-noite, repliquei e ele correspondeu à saudação. Então por aqui? O senhor não tem aspecto de arrumador tradicional, provoquei. “Pois não”, respondeu. "Nunca pensei ter que recorrer a esta vida para viver. Estou sem trabalho. No último ano tenho feito o que aparece. Mas, neste momento e já há semanas, estou sem nada para fazer. Não estou a receber do desemprego. A fome aperta e as saudades de um cafezinho. O senhor sabe lá o que é não ter cinquenta cêntimos? Tive mesmo que pôr os pés ao caminho e colocar-me aqui a arrumar…é noite, pode ser que ninguém veja. Mas tenho muita vergonha” –notei que os seus olhos ficaram meio alagados de comoção. “Eu faço qualquer coisa que apareça, já trabalhei em serviços de gás, jardinagem, construção civil, qualquer coisa. O senhor não sabe de qualquer trabalho para mim?”

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