(Imagem de arquivo)
Na
passada Terça-feira, 18 do corrente, à noite, com organização da
APBC, Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, realizou-se um
debate entre José Manuel Silva (JMS), presidente da Câmara
Municipal de Coimbra, e os comerciantes, no antigo Salão Brazil.
Cheios
de expectativas, os operadores comerciais em estado de aflição,
olhando-o como o homem providencial, durante cerca de 2h30,
salvaguardando uma discutível proposta inovadora, o encontro
decorreu dentro do espírito de problemas versus soluções iguais
aos anteriores 20 anos, como quem diz, dentro de queixumes e falinhas
mansas. Isto é, o tempo foi passado a discutir temas como o
“estacionamento”, “higiene”, “segurança”,
“iluminação”, “desertificação”.
Talqualmente
como no período entre 2007/2008, em que aconteceu uma vaga de assaltos sem precedentes contra o património na Zona Histórica,
também não faltou a recorrência a mais câmaras de
video-vigilância para suprir a falta de meios operacionais e
ineficácia da Polícia de Segurança Pública.
Apesar
do melaço que envolveu a conferência, ficou bem patente que a
seguir à recessão agravada e não ultrapassada entre 2001/2015 a
Baixa, actualmente, está a viver uma depressão profunda e severa
com consequências imprevisíveis para quem aqui ganha o seu pão. E
que, sem um verdadeiro Plano Marshall, com injecção de capital,
sobretudo, na recuperação de edificado municipal destinado à
habitação com preços médios, não se curará sozinha.
Curiosamente, para além deste plano prometido em campanha eleitoral
só ter sido aflorado ao de leve, não foram referidos os dinheiros
que vêm aí através da “bazuca” Europeia e nosso PRR,
Programa de Recuperação e Resiliência.
No
fim da conversa, tal como em outros encontros já vistos, a maioria,
depois de despejar o que trazia entalado na alma, bateu palmas e
saiu contente. “A recuperação da Baixa está em marcha”,
diria JMS.
Em
especulação, poderíamos afirmar que presenciámos uma catarse
colectiva, libertação de sentimentos ou emoções reprimidas, que
conduz a uma sensação de alívio ou pacificação.
Correspondendo
ao apelo de proactividade pedido pela presidente da APBC, Assunção
Ataíde, nos dias subsequentes, também como é hábito, não
faltaram parangonas nos jornais locais, assim: “PREVÊ-SE UMA NOVA
ERA NA BAIXA DE COIMBRA”.
Notoriamente,
e lamentavelmente, falta massa crítica na cidade.
UMA
DISCUTÍVEL PROPOSTA INOVADORA
Ao
ser aflorado pelo público o tema da toxico-dependência e a
localização de algumas estruturas de apoio que, segundo a sua
óptica, concorrem para a proliferação de mais viciados na zona da
Baixa, em concordância, respondeu JMS que já tinha encetado
conversações com a direcção da Associação das Cozinhas
Económicas Rainha Santa Isabel, mais vulgarmente conhecida por
“Cozinha Económica”, para a possibilidade desta
estrutura, tal como a “Casa dos Pobres”, ser transferida
para São Martinho do Bispo. Assim como deixou no ar que concordava
com a mudança do Centro Porta Amiga de Coimbra/AMI e Cáritas
Diocesana, estruturas de apoio aos dependentes de drogas, com sede na
proximidade do Terreiro da Erva.
COZINHA
ECONÓMICA
Vamos
começar por traçar um pequeno retrato da “Cozinha Económica”.
Esta instituição, com quase 100 anos de existência, foi fundada em
1933. Para além da sua crónica dificuldade em se manter solvável,
que levou no ano passado a várias iniciativas de inter-ajuda, em
servir diariamente centenas de refeições a uma população
carenciada com histórico de tóxico-dependência, desemprego,
precariedade social, pobreza envergonhada, famílias sem rendimentos,
presta assistência também aos mais idosos, quer em Centro de Dia,
quer em Apoio Domiciliário. Para além disso, presta também apoio
psicológico através do telefone, proporcionado por um grupo de
especialistas da psico.
A
Baixa, sem esta notável instituição com toda a benemérita vontade
do seu pessoal a tentar todos os dias mitigar a fome a quem precisa,
numa contribuição para erradicação da pobreza, seria,
provavelmente, um território muito parecido com imagens do Sudão.
(Não
escrevo por escrever, conheço relativamente bem esta imprescindível
entidade)
CENTRO
PORTA AMIGA DE COIMBRA/AMI
Com
mais de vinte anos a auxiliar e a contribuir para o bem social comum
em Coimbra, na Rua Direita, esta instituição – fundada em 1984 -
de apoio a pessoas em dificuldade, situação de isolamento/exclusão
social, em estreita ligação com a “Cozinha Económica”
presta serviços a vários níveis, quer materialmente, na
distribuição de alimentação, roupas, artigos escolares, produtos
de higiene, quer a nível psicológico. Faz também formação
profissional para desempregados e outros carenciados em ocupação de
tempos livres. Assim como dar assistência a mulheres vulneráveis.
Presta também serviços de lavandaria, apoio jurídico, apoio
social, formação, informação e sensibilização, distribuição
da Revista Cais.
(Não
escrevo de cor. Conheço assim assim os bons serviços e a
importância que detém para a erradicação da pobreza na Baixa de
Coimbra)
CÁRITAS
DIOCESANA
A
Cáritas Diocesana, com várias estruturas de apoio na cidade de Coimbra, tem duas valências no coração da Baixa, uma na Rua
Direita, o Centro Comunitário de Inserção, e outra no Terreiro da
Erva, o Centro de Equipa Reduz – este centro exerce um serviço
notável de apoio à prostituição e à toxico-dependência, na sinalização e
encaminhamento dos necessitados para a terapia, atendimento, tratamento e
cura.
(Conheço
mal, mas reconheço a sua importante valia no endémico estado da
Baixa)
RESUMO
FINAL
Pelo
que fica descrito, sem favor, em analogia, estas instituições são
as placas tectónicas que suportam o fundo baixo da cidade, o lado
negro da sociedade, como é a pobreza e a adição. Mexer nestas
infraestruturas em constante desequilíbrio societário pode conduzir
a um desastre incomensurável. Com um aumento de assaltos pelo
previsível estado de necessidade destas pessoas, pode ser pior a
emenda que o soneto.
Em
vez de as ostracizar, e de os chutar para canto como se fossem um
impecilho, o que seria lógico era propor que, quanto antes, estas
entidades fossem agraciadas com a medalha de ouro da cidade.
Espero
sinceramente que JMS, talvez para mostrar trabalho político e querer
parecer diferente dos seus antecessores, arrepie caminho enquanto é
tempo. Mudanças no Centro Histórico, Alta e Baixa, claro que sim!
Mexer nestes suportes societários, claro que não!
Quanto
aos drogados, enquanto parte disfuncional de uma colectividade, não
podendo varrê-los para o vizinho do lado, temos de arranjar soluções
de recurso, terapêuticas e penais, mesmo que, pela inovação,
choquem alguns cidadãos bons chefes de família. É preciso incluir
e não excluir.
Não
me posso alongar mais, mas, pelo pilar fundamental que é a segurança
de pessoas e bens, aos tribunais também lhe cabem fazer parte da
solução. É necessário tratar com maior severidade os
toxico-dependentes e deixar cair parte das atenuantes, sobretudo para
assaltos à mão armada e arrombamento. Com a sua constante
libertação, quando não são detidos em flagrante delito, incentiva
ao crime. No mínimo, é preciso reencaminhar os infractores para
centros de recuperação. Se o Código Penal não responde com
sanções que tranquilizem a comunidade, o Governo ou a Assembleia da
República que o alterem. E quanto antes. Por muito que se lamente a
recorrência desta criminalidade rasteira, não se pode continuar a
alimentar esta desresponsabilização social.