segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

O NATAL COMEÇA AGORA

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Acordei de manhãzinha com o Sol no meu beiral,

por entre a agitação de um sono profundo,

sonhei que era o incarnado espírito de Natal

que vinha trazer a paz e a concórdia ao mundo,

silenciando as guerras entre o Bem e o Mal,

digladiando religiões com o mesmo fundo,

e um Deus, amor do interesse individual,

em que irmãos se gladiam num submundo,

e filhos tratam os pais com ferocidade brutal;


A madeira dos móveis clicava, estremecia,

a minha gata espreguiçava a pata e o dente,

a minha amada calma e serenamente dormia,

por entre ruídos surdos e silêncio envolvente,

eu pesava tudo, imaginava o que me acontecia,

acredito que a tolerância deve ser transcendente,

e o perdão, sem ter em conta a crença que nos guia,

deixar cair o fanatismo insano e mentiras vigentes,

sermos como somos em verdade e não o que se plagia;


De que vale acender a vela no altar ao padroeiro,

rezar Pais Nossos e Avé Marias a Nosso Senhor,

fazer promessas de beatice em alma de romeiro,

tomar a hóstia, Corpo de Cristo, ministrada pelo prior,

confessar os pecados repetidos à exaustão de boateiro,

bater no peito com a mão, parecendo livre de rancor,

ajoelhando, prometer tudo perante o divino, e justiceiro,

se os buracos da desumanidade são não ter para dar amor

e em vez de partilhar, em soberba, furta como vezeiro.


domingo, 24 de dezembro de 2023

 



A todos os nossos amigos, conhecidos e inimigos desejamos uma mesa cheia de tudo, incluindo amor, saúde e algum conforto financeiro. Aquele enorme abraço que embora virtual até parece apertadinho.

Boas festas.


quarta-feira, 1 de novembro de 2023

HOJE É DIA DE TODOS OS SANTOS




Hoje, 1 de Novembro, “Dia de Finados” é feriado religioso convencionado para homenagear, “visitando” os nossos mortos, mais familiares ou menos chegados, nas campas e mausoléus dos cemitérios.

Reza a história que a prática de enterrar os mortos em cemitérios públicos como a que conhecemos hoje é relativamente recente, com pouco mais de dois séculos. Teria começado com o iluminismo, movimento cultural europeu iniciado no século XVII e seguinte que tinha por finalidade gerar e alterar usos e costumes em vários sectores da sociedade desse tempo, respectivamente políticas, económicas, sociais e judiciais. Os iluministas defendiam a vulgarização do conhecimento, tornando-o geral, para alcançar a razão, cimentando a objectividade no lastro do raciocínio lógico de pensamento crítico individual, em detrimento de uma subjectividade imposta de fora, de cima, pelo absolutismo feudal e pela teologia. Os homens das luzes, tinham em mente, sobretudo acabar com o obscurantismo, criando uma arma filosófica, social e política para combater a concentração de poder exercido pelo Rei ou no domínio do pensamento religioso vigente.

Embora D. Afonso Henriques, o primeiro Rei de Portugal, fosse o construtor dos primeiros cemitérios junto de igrejas em algumas cidades do Condado, espaços térreos que eram reservados a cristãos de renome e de riqueza considerável que pudessem pagar a permanência num local sagrado e as cerimónias religiosas iniciais.

Supostamente, aos indigentes estava reservada a vala comum. Ou seja, por ilacção, os ricos, com as suas almas bem encaminhadas por exéquias e normas de encomenda onde predominava a ostentação e a oração, iam direitinhos para o paraíso. Já quanto aos pobres, doentes e vítimas de pandemias eram queimados colectivamente fora da cidade – as denominadas “queimas de alecrim”. Os vadios sem identidade, os presos, os escravos e outras estirpes menores eram enterrados em poços- os chamados “Monturos”, ou montureiras.

A instauração de cemitérios civis como um serviço público foi decretada em 1835 por Ribeiro Sanches, proibindo o enterro em igrejas ou lugares habitados, com a total oposição do clero a difundir a ideia "de que os poderes públicos estavam a invadir um terreno que pertencia exclusivamente ao âmbito religioso" - Fonte: Jornal Público.


A CREMAÇÃO É O FUTURO?


Nas últimas duas décadas a cremação – técnica funerária que visa reduzir um corpo a cinzas num forno crematório com fogo em altas temperaturas – tem vindo a conquistar um espaço cada vez mais notório. Descrito como uma alternativa que oferece poucos riscos para o ambiente, sem colidir com o ritual de exéquias tradicional, para os pragmáticos (como eu) a diferença reside no desaparecimento imediato do corpo físico, contra uma deterioração progressiva de vários anos em cova ou jazigo.

Para os defensores da prática tradicional, para uns, a cremação, fazendo desaparecer os restos mortais físicos do falecido e reduzidos a uma pequena urna de cinzas que serão espalhadas ao vento, corta, ou menoriza, uma hipotética ligação memorial e assente numa saudade ao defunto.

Para outros, esta prática que envolve a queima é um voltar ao tempo das trevas, à Idade Média, onde o fogo simboliza um castigo, o Inferno, e não um descansar eterno ao que o finado tem direito. Provavelmente, no seu imaginário, esta “destruição” do corpo, constituindo pecado capital, também evitará a reencarnação.

Para outros ainda, a visita ao cemitério, semanalmente, mensalmente, ou anualmente, é um acto racional, objectivo, de “conviver”, ou pelo menos “sentir” próximo, o ente que partiu há pouco ou há muito tempo.

Não há dúvida é que quanto mais forem as idas ao cemitério maiores serão as probabilidades de perpetuar o luto e, com esta vinculação extremada, não conseguir seguir em frente com a sua vida.

Uma coisa é certa, e isto é um postulado histórico provindo da Antiguidade, o tratamento “pós-mortem”, depois da morte, sendo de escolha múltipla e pessoal, assenta essencialmente na generosidade – cedendo o corpo à ciência com Testamento Vital -, e na fé, enquanto axioma sem contestação, ou falência dela. E, por princípio de bom-senso, a fé não se discute, ou se “sente”, e vive-se muito bem com ela, ou não se sentindo o seu espectro transcendental, não se dando por ela, por norma não afecta a felicidade dos descrentes.


 

terça-feira, 31 de outubro de 2023

VELHOS COSTUMES CAÍDOS EM DESUSO: BOLINHOS E BOLINHÓS





Tal como relembra o meu amigo Jorge Oliveira, até mais ou menos duas décadas, mais propriamente nas áreas com maiores manchas de pobreza, como, por exemplo, a zona da Alta, a da Baixa e outros bairros periféricos em torno da cidade, era hábito em Coimbra nesta altura dos Santos os miúdos, isoladamente ou em grupo, acompanhados de uma caixa de sapatos ou com uma abóbora, ambas, recortadas com uma carantonha e com uma vela acesa dentro, tocarem insistentemente às campainhas das portas a solicitarem uma moeda ou uma guloseima aos moradores. Também conhecido por “Pão-por-Deus”, é um ritual antigo baseado no uso de oferecer vinho e bens alimentares aos defuntos.

Dividido entre o hilariante e a encarar esta prática de antanho como uma praxe séria e a respeitar, era um espectáculo cénico de luz e cor pela espevitada lenga-lenga infantil que a troco de um “tostãozinho”, de um pão, de um fruto nos enchia a alma de calor humano, sobretudo, numa quadra sombria e tristonha como é a véspera do “Dia de Todos os Santos”, ou “Dia de Finados”, ou “Dia dos Fiéis Defuntos”.

Seja por a pobreza subitamente ter passado a ser um estigma mais humilhante e acentuando uma diferenciação indesejada, um cancro, mais notado numa sociedade formatada nos usos e costumes e englobada numa Europa aparentemente ricaça, fosse pela “importação” da moda “Halloween”, provinda dos “Staites”, destinada aos adultos e fortemente impulsionada por uma indústria interesseira que não se compadece com manifestações de ternura, que marcaram vidas num tempo que era lento no passar, a verdade é que a tradição dos “Bolinhos e Bolinhós” foi-se perdendo nos anéis da recordação. Hoje, também devido à falta de cobertura pelas televisões e jornais e desinteresse pelas tradições populares, esta prática em Portugal é quase inexistente.

Versos mais usuais:


BOLINHOS E BOLINHÓS

Para mim e para vós,

Para dar aos finados

Que estão mortos e enterrados

À bela, bela cruz

Truz, Truz!


A senhora que está lá dentro

Sentada num banquinho

Faz favor de s'alevantar

Para vir dar um tostãozinho


(Se comparticipam)


Esta casa cheira a broa,

Aqui mora gente boa.

Esta casa cheira a vinho,

Aqui mora um santinho.


(Se não abrem a porta)


Esta casa cheira a alho

Aqui mora um espantalho.

Esta casa cheira a unto

Aqui mora algum defunto



COINCIDÊNCIAS:


Estava eu na minha lucubração (meditação intensa) para escrever esta crónica, eis senão que toca a campainha: “Terrin, terrin, terrin, terrin”…

Fui à porta e deparei-me com duas senhoras, moradoras na aldeia, em Barrô, uma delas ostentando ao peito a caraterística lata da Liga contra o Cancro e um autocolante pronto a ser colado na lapela dos generosos.

Depois de ter contribuído pensei com os meus botões que há coisas do “arco da velha”. Rei morto, Rei posto… Só faltou mesmo a lenga-lenga de substituição:


Bolinhos e Bolinhós,

para a Liga e para Vós,

que hoje estais com saúde,

mas não está a sua avó,

que partiu para a eternidade,

contrariada, doente e tão só,

hoje repousa na tumba,

no descanso do faraó,

à espera de uma flor,

até se transformar em pó,

Dai-nos uma moedinha,

para os doentes, tenhai dó,

não vá a doença marcar-vos

e chegar no Natal, de trenó,

e vossemecê arrependido,

de não ter dado uma moeda,

agora tão combalido,

dava tudo para evitar a queda.


CRÓNICA RELACCIONADA

"A MORTE... NA NOSSA VIDA"

"O DIA DE FINADOS QUE MORREU" (2014)




quarta-feira, 25 de outubro de 2023

UM SOLSIL NA LONGA ESTRADA

 

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Meu querido…”, e, como um caminhante sequioso à vista de um charco de água estagnada, lançou os braços envolvendo o meu pescoço com a força possível de uma mulher de cerca de nove décadas. O seu rosto, lavrado em sulcos, gelhas, pelo arado do tempo, sereno como um campo de seara em flor, abriu-se completamente e, estremecendo, pareceu ter sido tocado por um choque eléctrico. Os seus olhos, como uma salva de prata que há muito não é tocada, iluminaram-se e ganharam um novo brilho. Os cabelos prateados em descanso de hábito aparente, esparramados na sua pequena cabeça como a água do mar estendida sobre a areia branca, de repente, pareceram ganhar nova vida. Os membros superiores, trabalhando em dobrado contra singelo, certamente para compensar a forçada inactividade dos inferiores, perros pela artrose da longevidade, acompanhavam as palavras calmas saídas da sua boca em estranha simbiose entre a tranquilidade e o bem-estar.

Às minhas interrogações de como se sentia na sua “nova casa” respondia com suavidade e manifesta felicidade. “Os funcionários são todos inexcedíveis, simpáticos e prestáveis, sempre prontos a ajudar os mais velhos, até nas tarefas mais simples como o banho, por exemplo. A comida é muito boa. O companheirismo entre utentes é do melhor. Temos várias actividades ao longo da semana para não sofremos de rotina. Estou aqui muito bem. No meu verdadeiro lar, em Várzeas, apesar de lá sentir o calor do meu ninho e onde fui muito feliz, foi lá que nasceram os teus primos e convivi com o meu adorado “Manel”, o teu falecido tio, já não tinha condições para lá continuar, sobretudo, devido às escadas que não me facilitavam o acesso. Apesar de volta e meia ser tomada pela solidão, os teus primos, os meus filhos, visitavam-me muitas vezes. Olha, o Fernando, como já está reformado e tem mais tempo livre que os demais, ia ver-me diariamente. Tenho uns filhos muito bons. Até as minhas noras e os meus netos são uns queridos. Tive muita fortuna na prole que me calhou em sorte.

Que bom teres vindo ver-me, meu sobrinho adorado. Sabes que sempre gostei muito de ti, não sabes?!?

Todos os dias, por duas vezes, de manhã e à noite, em conversa com Deus, peço por ti e pela Ana, a tua companheira, e por todos os que me fazem bem à alma.

As paredes do Lar eram brancas, ou melhor, as paredes da Casa de Acolhimento – porque Lar, verdadeiramente Lar, só há um, o nosso onde cada olhar nas paredes e nos objectos inertes, aparentemente sem expressão, em silêncio mudo, contam toda a narrativa da nossa existência. O branco passou a ser o imaculado, o complemento moral universalmente aceite para quem no fim da história procura a paz para si, aceitando os seus erros na longa estrada, que é a vida.

O epílogo da nossa passagem terrena é, por mais que se evite ser, um acerto de contas com o passado, um expiar de contas entre nós e os outros, um contraste diário, uma análise intempestiva e repetitiva, entre o que fizemos na altura e deveríamos ter feito. O circunstancialismo da época não serve de atenuante para quem, com humildade, questiona a sua imperfeição humana. Para estes, se o tempo voltasse atrás facilmente trocariam o sofrimento mental por mais dores físicas. Felizes daqueles idosos que se aceitam sem pôr em causa os erros do seu passado.

Já lá vão seis meses, a perder de vista, que a minha tia Dorinda trocou a sua casa e a pacatez da aldeia pela estada no Lar Solsil, em Silveiro, Oliveira do Bairro. Todas as semanas, repetidamente, em conversa com a minha mulher, eu relembrava que ainda não tinha ido visitar a minha tia. Não estava em causa somente a obrigação por ser chegado, mas, sim, a devoção, o respeito por alguém que muito gosto.

É certo que não tinha o número de telemóvel dela, mas poderia ter ligado para a instituição e pedido para falar com ela. E não me será difícil adivinhar o quanto, em minutos, teria contribuído para a sua alegria.

E os dias, inexoravelmente, passam a correr. É uma desculpa esfarrapada dizer que não temos tempo – contra mim escrevo. É como se, com a explicação balofa, não quiséssemos admitir pacificamente que pouco ligamos aos mais idosos.

Transpus a entrada do Solsil com ar pesado, de culpa, por não ter desculpa para a falta de comparência mais cedo junto do meu familiar.

Quando saí, cerca de noventa minutos depois, prometendo a mim mesmo que iria ter mais cuidado no futuro, senti-me leve como um passarinho. Tinha dado um passo para a minha redenção.

domingo, 15 de outubro de 2023

BARRÔ: NOTÍCIAS BREVES

 



1 – Na manhã desta última Quinta-feira, 12 do corrente, um grupo de três funcionários da Câmara Municipal de Mealhada liderado por António Pita, engenheiro e chefe de Divisão de Serviços Urbanos, visitaram a zona envolvente da represa, que no verão concentra as águas e serve para regar as hortas e leiras do Barreiro, o nosso celeiro colectivo, e do moinho de levada que há muito jaz inerte e em acentuada degradação.

Segundo algumas perguntas sobre os donos dos terrenos confinantes à ribeira, nas palavras vagas do engenheiro camarário, deu para perceber que a futura praia fluvial naquele local paradisíaco não está esquecida e, porventura, irá mesmo avançar para o ano que se aproxima a passos largos.

Relembramos que este projecto de lazer, de recuperação da zona e construção de infra-estrutura de veraneio consta do programa eleitoral prometido pelo Movimento Independente Mais e Melhor para Barrô, que, comandado por António Jorge Franco, venceu as eleições para a autarquia em Setembro de 2021, em que se comprometia a construir um Parque Infantil e espaço balnear, Pavimentar as vias, Estudo de tráfego e Enquadramento da Fonte e Chafariz. Passados cerca de dois anos de vida a rolar a nossa aldeia ainda não viu nenhum deles começado. Se é certo que Roma e Pavia não se fizeram num ano nem num dia, o povo espera mas não esquece.



2 – Ficou concluído este mês o restauro da capela de São Sebastião, padroeiro de Barrô, sobretudo de pinturas interior, fachada e limpeza da cobertura, a cargo da Junta de Freguesia de Luso. Relembramos que esta promessa constava do programa eleitoral do Partido Socialista encabeçado por Claudemiro Semedo, que ganhou as últimas eleições para a Mesa da Junta de Freguesia de Luso.

Sem se saber por que carga de água ou mensagem messiânica, foram retirados os dois assentos em ferro e madeira que, desde há cerca de vinte anos aquando do último restauro pago por muitos particulares locais, serviam de poiso para descanso popular. Quem vai responder por esta retirada unilateral e furtiva?

Com um lanche no átrio da capela a comemorar o feito onde foram previamente convidados apenas alguns dos crentes, não consta que os habitantes da aldeia, no seu todo, se tornassem mais cristãos, mas, uma coisa é certa, alguns ficaram muito agradecidos e procurarão retribuir o feito – depois de devolvidos os bancos, obviamente.



3 – Realizou-se ontem, Sábado, 14 de Outubro, no Centro Recreativo de Barrô um “Jantar de Talentos” promovido pela Comissão de Festas 2024 da Lameira de São Pedro.

Segundo um folheto distribuído na povoação, a ideia de apresentar um jantar volante, constituído por caldo verde, bifanas, pica-pau, cabidela de leitão, iscas de fígado de leitão, moelas de frango e coração de leitão fatiado e acompanhado por uma “Chuva de Talentos” constituída por Karaoke e actuações de várias bandas e artistas do Concelho, entre eles o jovem Pedro Pimenta e o grupo musical Sinapse The Band, da Lameira de São Pedro.

Como não marcamos presença não podemos adiantar como decorreu o evento, mas presumimos que teria corrido bem para a Comissão de Festas 2024 do lugar da Lameira.

Quem parecia muito contente foi a imagem de São José, outrora comemorado em festa anual em Barrô e com assento de oratório no Largo da Capela. Houve quem jurasse ter ouvido a representação santífica a murmurar: “se o salão se encontra encerrado há vários anos, sem futuro à vista, sem contas apresentadas, sem plano de actividades, sem cobrança de quotas aos associados, e sem saber para que serve, ao menos vai prestando um serviço aos vizinhos.”


4 – Há cerca de duas semanas faleceu Joaquim Soares Ferreira Ruas, um nosso reconhecido cidadão nascido e criado em Barrô.

A notícia, dada na altura certa, por si só não constitui grande celeuma, afinal nascer e morrer é um percurso inevitável de princípio e fim de todos os seres vivos, e mais propriamente dos Humanos.

Mas se escrevermos que o “Jaquim”, como era carinhosamente tratado, foi o 11º finado a partir de 2020 de filhos da nossa terra e contra apenas um bebé nascido na aldeia neste mesmo prazo o caso muda de figura. Ou seja, contra onze falecidos, apenas um nascido.

Se é certo e sabido que o défice demográfico é um problema nacional, quando nos toca mais de perto, pela desertificação forçada, devemos parar para pensar qual vai ser o futuro da nossa descendência.




quarta-feira, 4 de outubro de 2023

MEALHADA: SANTOS DA CASA NÃO FAZEM MILAGRES

 




Quanto ao desempenho profissional na actualidade de

Igor Alves, talentoso compositor musical, executante e

professor da área de secundário e reconhecido pela DGE,

Direção Geral da Educação, podemos encontrá-lo a exercer

o múnus de electricista numa empresa na Pampilhosa. 

É desprestigiante esta troca de profissão? Claro que não,

 pelo contrário, é dignificante e corajoso para quem o faz. 

E quem o afirma é o próprio citando Jorge Palma, 

“enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar...”




Foi noticiado esta semana em vários jornais da região a criação de uma nova escola de música e um coro infanto-juvenil na Mealhada.

Segundo o Jornal da Bairrada, “A notícia foi avançada, ontem, aquando da inauguração da exposição “A música e suas histórias”, promovida pela Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural, em parceria com o Município da Mealhada.

O Dia Mundial da Música foi assinalado, no Cineteatro Messias, com a inauguração da exposição “A música e suas histórias”, promovida pela Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural (…).

Sediada, desde fevereiro, na Mealhada, a Marés d’Entusiasmo – Associação Artística e Cultural pretende criar uma escola de música que venha colmatar a falta de uma escola de ensino artístico especializado da música, no concelho. Com esta oferta educativa, a funcionar já a partir deste mês, todos os que procurem frequentar este tipo de ensino especializado não necessitarão de se deslocar a concelhos limítrofes. O segundo projeto, o coro infantojuvenil, procurará proporcionar vivências musicais e culturais, no âmbito da música coral, a todas as crianças e jovens que desta linguagem queiram usufruir, segundo explicaram os responsáveis da Marés d’Entusiamos”, lê-se num comunicado da Autarquia da Mealhada.

Apresentados como projectos novos, com muita pompa e superlativa absoluta circunstância, em propósito a roçar a indignidade, ninguém referiu que entre 2012 e 2020 laborou a Escola de Música da Mealhada (EMM).

Sob a direcção de Igor Alves, professor de piano e regente, constituída em 2015 como associação sem fins lucrativos e espalhando o ensino da música no Concelho à custa de patrocinadores particulares e públicos, entre estes o executivo então liderado, na altura, por Rui Marqueiro com um apoio anual de cerca de apenas 600.00 € em 2018 e 800 euros em 2020, o projecto viria a ser apanhado pelo tsunami da pandemia.

A partir de Abril de 2020 deixou de haver receita porque, devido ao confinamento, deixou de haver parcerias, instituições protocoladas com a EMM. Em consequência dos cortes impostos, perderia todos os apoios e patrocínios públicos e privados e deixaria Igor Alves num manto de compromissos quase impossível de cumprir.

Sediada na Mealhada, com cerca de noventa alunos de todas as idades, que eram os associados da entidade, incluía também um coro infanto-juvenilcomo um coro juvenil, grupo de cordas, grupo de guitarra clássica, grupo de rock, entre outros, que participaram em quase todos os eventos promovidos pelo município e com várias actuações no Cine Teatro Messias.

Em média, o custo da mensalidade andava na casa dos 47.00 €, por aluno.

Com um leque de nove professores a recibo verde, que auferiam consoante as aulas prestadas, os custos fixos, renda, água, luz, Segurança Social e comunicações e um ordenado mínimo de Igor Alves, giravam à volta de 1,500.00 €.

Em Outubro de 2020 o Mealhadenses que Amam a sua Terra entrevistou o nobel professor e semeador de cultura. Já nessa altura Igor lamentava o desinteresse da autarquia: “Desde que criei o projecto fui sempre pedindo instalações. Nunca foram cedidas. Verdadeiramente nunca senti apoio. O apoio que tinha era a cedência gratuita do Cine-teatro Messias, mas, comparando com as outras que fazem, isso não era nada. Não senti que a EMM fosse discriminada, mas sinto que era pouco valorizada, tendo em conta o espectro cultural no trabalho desenvolvido.”


POR QUÊ ESTE SILÊNCIO ANIQUILADOR DE UM HOMEM DE VALOR?


Como ressalva de interesses, declaro nada me mover contra a Marés d’Entusiasmo. Em busca na Internet, as informações sobre esta empresa são parcas ou nenhumas. Sem Capital Social declarado, sabe-se que foi fundada em Aveiro (e agora radicada na Mealhada).

Quanto ao serviço público desempenhado pela EMM durante oito anos pode ser consultado na sua página do Facebook onde, como campa desprezada de indigente, jaz uma iniciativa que deveria ter sido muito acarinhada pela anterior e actual maioria e não foi. Salvo melhor opinião, quando se desconsidera o valor individual de alguém com provas dadas e se substitui por outro aparentemente sem grande currículo alguma coisa vai mal no reino da mais elementar justiça e melhor futuro.

Quanto ao desempenho profissional na actualidade de Igor Alves, talentoso compositor musical, executante e professor da área de secundário e reconhecido pela DGE, Direção Geral da Educação, podemos encontrá-lo a exercer o múnus de electricista numa empresa da Pampilhosa. É desprestigiante esta troca de profissão? Claro que não, pelo contrário, é dignificante para quem o faz. E quem o afirma é o próprio citando Jorge Palma, “enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar...


CRÓNICA RELACCIONADA

Mealhada: O ensurdecedor silêncio da Escola de Música (2020)

terça-feira, 3 de outubro de 2023

BARRÔ: UM DOS NOSSOS PARTIU PARA A ETERNIDADE

 



Faleceu o Joaquim Soares Ferreira Ruas, de 82 anos, reconhecido cidadão e respeitado morador em Barrô onde viu a luz pela primeira vez e viveu a sua longa vida de trabalho, gerando e desenvolvendo a sua família.

Nasceu em 1940, tempos extremamente difíceis, em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que empobreceram e afectaram toda a Europa e muito particularmente as muitas aldeias pobres portuguesas como Barrô, com a fome a estender o seu longo manto de miséria social – quando ainda entre nós, para espelhar as dificuldades da época, contava o meu pai que uma sardinha era dividida por três. E trago à liça este percurso existencial para mostrar que esta conturbada década de 40, apesar das enormíssimas dificuldades, produziu homens obreiros de barba rija, valentes, confiáveis e de compromisso, deixando um legado incomensurável aos mais novos. Como foi o caso do nosso amigo “Jaquim”, como era carinhosamente tratado pelos demais, entre muitos que já nos deixaram e outros que, apesar da idade, continuam a dar no duro nos campos da nossa aldeia.

Para a sua esposa Maria de Lurdes, para os seus filhos e netos e demais família, em nome dos habitantes de Barrô, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames.

A cargo da Funerária da Carreira, Unipessoal, L.ª, as exéquias terão lugar amanhã, Quarta-feira, pelas 14h30, na Igreja Paroquial de Luso. Finda a cerimónia, o féretro seguirá para o Cemitério local, de Luso Além.

Descansa em paz Joaquim Ruas.



domingo, 10 de setembro de 2023

MEALHADA: RESTAURAÇÃO A CONTA-GOTAS

 




Começo com uma declaração de interesses: já trabalhei na restauração, por conta-própria, cerca de uma dúzia de anos. E ressalvo esta passagem da minha vida para mostrar que, uma vez que desapareceu o serviço militar obrigatório, para qualquer cidadão deveria ser necessário prestar serviço cívico, no mínimo, seis meses a servir pessoas num café ou restaurante. Tal como a tropa, é uma experiência formativa existencial única para, por um lado, ajudar a compreender os comportamentos alheios, por outro, para conter os nossos próprios ímpetos de reclamar por tudo e nada.

Eu e a minha mulher, como já somos idosos (com mais de sessenta e cinco anos), e apesar de auferirmos reformas miseráveis por quase meio-século a trabalhar no duro, conseguimos juntar um pequeno pecúlio que, apesar de alguma capital contenção nos gastos, nos permite, por exemplo, a conseguir almoçar fora todos os Domingos em restaurantes com preços médios, na Mealhada.

Depois desta explicação que de modo nenhum pretende a vaidade ou ostentação, não resisto a contar o que nos aconteceu hoje. Como muitas vezes fazemos, fomos ao “self-service” de uma média-superfície. Com uma cozinha de excelência e uma ementa variada, por cerca de quinze euros cada um, habitualmente, comemos muito bem. Pela grande afluência de vários estratos sociais, baptizei esta catedral pantagruélica de “cozinha económica dos remediados”.

Fomos lá hoje para degustar o bacalhau no forno. Com o palato a dançar de contente, este prato, assim como outros, é qualquer coisa de excepcional.

Chegámos por volta das 12h45. Ou seja, mesmo a abrir o período para almoço. Na nossa frente, em fila, várias pessoas esperavam provar o célebre bacalhau, ou o leitão, que é também uma delícia. Debalde, já não havia nem uma nem outra iguaria. Tal como outras pessoas, viemos embora. Ainda ouvimos um comentário disperso de um desistente: “então, estamos na terra do leitão, e vocês deixam acabar?

Pode esgotar? Lá poder pode, mas, logo no início do repasto, não deve.

Onde é que vamos? E não vamos? Vamos ao habitual, no Luso? Não, vamos experimentar uma coisa nova, sugeri à minha consorte.

Lembrei-me de que, há poucos dias (re)abriu um pequeno restaurante panorâmico com uma vista de tirar o chapéu nas poéticas tardes outonais. Encerrado há vários anos, outrora, com uma outra gerência, tinha uma boa cozinha, gostosa e aprazível.

Entrámos e concluímos que o ambiente interior e a paisagem que se avista continuam na maior e a ser um cartão de visita.

Na sala de jantar, umas quatro mesas estavam ocupadas com pessoas a dar ao dente e em redor umas seis esperavam ser ocupadas. Sentámo-nos e esperámos a nossa vez. Veio o servidor e interrogou sobre o que desejávamos. Respondemos em coro: é para almoçar. Quase em recarga, o mestre-de-sala interrogou: “têm reserva? É que nós só trabalhamos com reservas”, enfatizou.

E concluiu: “para sair só temos hamburger, e umas entradas”.

Já há uns tempos nos tinha acontecido algo parecido com outro restaurante da zona. Quase diariamente bombardeados com publicidade no Facebook, fomos experimentar. Passámos a porta de entrada e conchegámo-nos com os joelhos dobrados debaixo da mesa e aguardámos pelo atendimento. Veio o dono e perguntou: “é para almoçar? Já só temos dobrada. Mais nada”.

Sem pretender meter uma foice em seara alheira, era bom que estes empresários pensassem que a sua falta de aprovisionamento pode levar à destruição de um estabelecimento. Posso falar por mim, não haverá repetição.

Tal como muitos Domingos, em continuação, fomos almoçar ao restaurante “Lourenços”, no Luso. Com a reiterada simpatia do pessoal, perante duas saborosas e magníficas postas de vitela à casa, que já conhecemos muito bem, e um bolo de bolacha de comer e chorar por mais, umas maravilhas que recomendamos.

Pagámos cerca de 40 euros, a meu ver, um preço módico pela qualidade.

E saímos abençoando o final de Verão e ovacionando a vida.


segunda-feira, 4 de setembro de 2023

MEALHADA: O QUE TORNA A “MOÇOILA” TÃO DESEJADA?

 



Durante várias décadas conviveu em concubinato, num descarado “ménage à trois”, entre um velhote alemão chamado Lidl, com cerca de noventa anos, e um rapazola nascido em França no ano de 1969 que dá pelo nome de Intermarché.

Diziam as más-línguas que aceitava esta relação dual e inter-pares por, por um lado, lhe trazer segurança financeira, por outro, carinhos fogosos embrulhados em maneirismo educado e formal. Eram dois em um que se completavam na forma e na substância.

Como amante, “Herr” Lidl nem lhe dava grande trabalho na técnica de acompanhamento. Pela respeitosa existência, na idade da contemplação e da submissão ao devir, apenas queria ver as suas formas voluptuosas ao milímetro e ser ouvido a contar histórias do seu tempo de menino, e nada mais. Já com “monsieur” Intermarché, também conhecido por “Três Mosqueteiros” pelo seu desbragado apetite sexual, como amancebado, levava-a a ver as estrelas num Céu onde o Universo era o limite. Havia gente que proclamava o ano de 1969 como determinante na sua libido sem freio.

Dizem os coscuvilheiros maledicentes, venenosos e invejosos, que a situação pecaminosa só se prolongou no tempo sem grande escândalo devido à grande proteção do edil senhor Rui Marqueiro, durante décadas, a acumular os cargos de Pretor, Censor, Questor e Edil.

Já as boas línguas, aquelas que dão felicidade onde tocam, afirmavam à boca-cheia que o também conhecido como “Conde de Antes”, com o seu aconchego de longo abraço paternal, queria proteger a menina na sua menoridade e evitar a sua violação colectiva e orgiática.

Fosse isto verdade ou mentira, a verdade dos factos é que há cerca de dois anos Marqueiro foi forçado pelo povo a largar a cadeira presidencial e passar o assento para o actual administrador do concelho, senhor António Jorge Franco, mais conhecido por “engenheiro de pontes”, por ser o contemporizador da bandeira branca entre o movimento e a inacção.

Mas há outro detalhe que não é de somenos: a “rapariga” fez 18 anos em 26 de Agosto de 2021. Ou seja, não é pela prerrogativa do novo administrador do burgo ser liberal que os “convites” para namoro e futuro casamento evitam ou dobram os recados por mensagem, postal, email numa roda viva sem parar. É que a “menina” era já de maior idade e, diz-se, o novo gestor do reino nada pode fazer para evitar a sua entrada no novo mundo de perdição.

E quem poderia cortar o desejo de tocar as nuvens de uma “mulher” bela, de maçãs rosadas num rosto angelical, libidinosa e de formas modeladas pelas mãos de um artista da terracota?

Neste 26 de Agosto, último, a jovem cidade fez 20 anos. Sem grandes festejos a dar no olho, a “debutante” que já foi passou a ser cortejada por todos.

Todos a querem possuir. Chovem cartas dos quatros cantos do mundo, de cá e de lá. Há menos de um ano, sem pinta de agradecimento pelos tempos idos de felicidade, largando o amor recebido pelo Lidl e o Intermarché, anda agora embrulhada entre lençóis e aos beijinhos a um “casanova” que dá pelo nome de Pingo Doce.

Um novo apaixonado alemão, “Herr” Aldi, centenário mas ainda para as curvas, está a construir uma enorme mansão junto ao CineTeatro Messias para lhe cair nos braços e nas boas graças do amor.

Ao que parece, um novo candidato vai apresentar-se a sortes e rivalizar com o alemão. De seu nome Continente - Bom Dia anda obcecado para meter as mãos em curvas proibidas e dunas erectas de fazer babar um mastim.

Outro que vai entrar de mansinho, mas com força reivindicativa, na alcova da desejada é o “Mister” Burger King.

O que tornará a cidade da Mealhada tão cobiçada?


MEALHADA: BURGER KING VAI ABRIR NA ZONA E PROCURA COLABORADOR

 

(imagem da Dinheiro Vivo)



Conforme informação da gerência recebida por e-mail, o restaurante Burger King, famoso pela venda de hamburgeres, frango e outros, “na grelha desde 1954”, como reza a publicidade na Internet, vai abrir uma nova unidade na zona da Mealhada.

Segundo o “press release”, comunicação para chamar a atenção para um facto informativo digno de registo, a empresa quer contratar um Gestor de Turno, com contrato inicial a termo certo e possibilidade de estabilizar, para a nova loja.

Se tens habilitações ao nível do 12º ano, forte sentido de organização e outras qualidades que te farão subir na marca, candidata-te.

Informações aqui (clique em cima)


CURIOSIDADES


Burger King, muitas vezes abreviado como BK, é uma rede de restaurantes especializada em fast-food, fundada nos Estados Unidos por James McLamore e David Edgerton, que abriram a primeira unidade em Miami, Flórida.

A empresa começou em 1953 com o nome Insta-Burger King, uma cadeia de restaurantes com sede em Jacksonville. Depois do Insta-Burger King entrar em dificuldades financeiras em 1954, seus dois franqueados localizados em Miami, David Edgerton e James McLamore, compram a empresa e rebatizam-na Burger King.” – retirado da Wikipédia.

Em Agosto de 2022 foi noticiado na imprensa mundial que a Restaurant Brands Iberia (RBI) anunciou a aquisição dos 158 restaurantes Burguer King - 121 em Portugal e 37 em Espanha. Ao todo a empresa vai pagar à Ibersol, a anterior proprietária dos restaurantes de fast-food, 260 milhões de euros e garante, ainda, a integração dos cerca de quatro mil funcionários da cadeia Burguer King, afirma a RBI em comunicado.”, extraído Dinheiro Vivo.


terça-feira, 29 de agosto de 2023

A QUASE REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE MEALHADA (QUE NÃO ACONTECEU)

 



SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO


A última reunião da Câmara Municipal de Mealhada, que deveria ter acontecido ontem, dia 28, pelas 9h00, não chegou a realizar-se por invocação de ilegalidade e abandono da sala por parte de Rui Marqueiro, vereador eleito pelo Partido Socialista no actual mandato e presidente da autarquia entre 2013 e Setembro de 2021, e seguindo-se os colegas de bancada.


ALEGAÇÕES:


Por parte de Rui Marqueiro, antes de abandonar a reunião no Salão Nobre da Câmara Municipal, foi dito que a convocatória, necessária e obrigatória, estava ferida de ilegalidade por o vereador João Morais Calhoa, da bancada socialista, não ter sido citado dentro do prazo legal para o efeito (3 dias).

Afirmou ainda Marqueiro que, se a sessão se realizasse, qualquer munícipe poderia arguir a sua nulidade.

Em resposta, o presidente da Câmara Municipal, António Jorge Franco, começou por pedir desculpa a José Calhoa por não ter sido chamado dentro do prazo a estar presente. Ratificou que, de facto, houve um lapso dos serviços administrativos. O que aconteceu, esclareceu, foi que a convocatória foi dirigida ao vereador Luís Tobim – que estivera presente na última reunião em regime de substituição – quando deveria ter sido enviada ao vereador José Calhoa.

Quando os serviços, pela voz da jurista camarária Dr.ª Cristina, deram pelo erro era já Sexta-feira à tarde (prazo curto de apenas dois dias para cumprimento da legalidade). Logo, foi contactado via telefone o eleito Calhoa a pedir desculpa pela troca de endereços e, alegadamente, este, brincando com a situação, não deu muita importância ao detalhe, enfatizou a Dr.ª Cristina em plena sessão camarária e transmitida via “streaming”.

Aparentemente, dando o dito por não dito, Calhoa abandonou a sessão. Sónia Leite, também eleita pelo PS, seguiria o procedimento e, um e outro, disseram que o faziam em solidariedade com Rui Marqueiro.


ALEGAÇÕES PARTIDÁRIAS


Também no comunicado publicado, ontem, pelo Partido Socialista no Facebook pode ler-se o seguinte:


(…)...

2 - O Vereador José Calhoa enviou um e-mail para o Gabinete da Presidência informando não ter recebido a convocatória dentro do espaço de tempo que a lei determina.

3 - Face a essa tomada de conhecimento, o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Mealhada decidiu manter a reunião na data e hora prevista inicialmente, estando esta ferida de irregularidade na convocatória, pelo que:

Qualquer cidadão, face à ilegalidade da convocatória, facilmente impugnaria a reunião ou até mesmo uma qualquer decisão que viesse a ser tomada.

(…)…”


Na página do Movimento Independente Mais e Melhor na Internet, no Facebook, pode ler-se o seguinte:


(…) …

Houve uma falha no envio de um email, o vereador José Calhoa foi contactado e em momento algum pôs em causa a realização da reunião, mostrando a sua compreensão, mas eis que surge Rui Marqueiro, indignado, em defesa da “vítima” que nunca o foi, “rasga as vestes” e abandona a reunião. Este foi seguido, em solidariedade, pela vítima e pela vereadora Sónia Leite que também precisava preparar a reunião de hoje com os colegas!

(…)…”


ALEGAÇÕES INSTITUCIONAIS CAMARÁRIA


Na página institucional do município mealhadense, no Facebook, pode consultar-se o seguinte extracto:


(…)...


PS abandona reunião da Câmara "por birra política"

Os vereadores socialistas abandonaram, esta manhã, a reunião da Câmara da Mealhada, alegando que a convocatória da mesma foi irregular, na medida em que não foi enviada a um dos seus vereadores, em devido tempo. O presidente da Câmara, António Jorge Franco, lamentou "falta de respeito para com o órgão, os serviços e a população", uma vez que a situação foi corrigida e o vereador contactado, não tendo manifestado qualquer prejuízo em relação à situação.

(…)…”


Salvo melhor opinião, este comunicado oficial exarado na página da autarquia, no Facebook, por estar carregado, eivado, de negatividade e teor partidário, a meu ver, deveria ser reformulado. Na forma como está escrito, não fica bem.


MAS, AFINAL, QUEM TEM RAZÃO?


Antes de responder directamente à questão,como é óbvio, vamos ver o que diz a Lei respeitante, a 75/2013, de 12 de Setembro, nomeadamente no seu artigo 51º:



Artigo 51.º
Convocação ilegal de sessões ou reuniões

A ilegalidade resultante da inobservância das disposições sobre convocação de sessões ou reuniões só se considera sanada quando todos os membros do órgão compareçam e não suscitem oposição à sua realização.”


Ou seja, quer o presidente da Câmara, António Jorge Franco, quer o vereador Rui Marqueiro, ambos, têm razão.


Por outras palavras:


A reunião poderia ter prosseguido desde que “todos os membros do órgão compareçam e não suscitem oposição à sua realização.”

Mas não se verificou a concordância/aceitação por parte de Rui Marqueiro em deixar prosseguir a Reunião invocando a sua ilegalidade. Salienta-se que este eleito estava no seu direito em suscitar a sua não concordância.

Mas, sublinha-se, a Reunião poderia ter prosseguido sem qualquer possibilidade de vir a ser anulada se, porventura, quer Marqueiro, quer João Calhoa, quer Sónia Leite estivessem de acordo em prosseguir.

Assim não aconteceu. E a cada um o que é seu.

Ponto final e parágrafo.


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

A REUNIÃO DA CM DE MEALHADA QUE NÃO CHEGOU A SER: O CASO DO DIA

 




Estava o Marcelo pendurado na parede (salvo seja, como quem diz, em foto institucional) do Salão nobre da Câmara Municipal de Mealhada, com olheiras profundas, olhos semi-cerrados, sem conseguir disfarçar o ar de enfado, certamente a acusar os enormes esforços e canseiras que passou a percorrer as trincheiras da Ucrânia e a aprender a ler e a falar ucraniano em cinco dias, quando o maestro do grupo Coral Sinfónico Mealhadense, António Jorge Franco, levantando a batuta, e dando princípio ao ensaio, proclamou ao coro misto: “Bom dia a todos. Vamos dar início à Reunião da Câmara. Não sei se alguém quer tomar a palavra (…)”.

E Rui Marqueiro, no lugar de “baixo”, com uma voz mais grave, que antecedeu o actual regente na condução da música de câmara, pediu a palavra e disse ter tomado conhecimento de que havia uma irregularidade na convocação do ensaio. Ou seja, um dos seus colegas músicos, no caso, o “tenor” José Calhoa, que, sem precisar, se fizesse jus ao talento recebido à nascença, não recorria com frequência ao uso da técnica de “falsete”, não fora notificado dentro do prazo legal. Por conseguinte, retorquiu o “baixo” Marqueiro que, por esse facto, não continuaria no ensaiamento.

O chefe da banda, António Franco, que por vezes intermedeia entre o “tenor” e o “baixo” com a voz de “barítono” e é o compositor de todas as obras apresentadas à comunidade, pedindo desculpas, enfatizou que se, porventura, alguém se sentisse prejudicado seria o “tenor” José Calhoa, que, recebendo as pautas apenas na última Sexta-feira, não se queixou – e até brincou com a situação, segundo aflorou a senhora jurista Cristina, que assessora o grupo coral.

Quando se pensava que, apesar do abandono da sala do “baixo” Marqueiro, os trabalhos musicais iriam continuar, eis que o “falsete” Calhoa diz que, apesar de dar o dito por não dito, em solidariedade com o camarada também abandonava o teatro e não cantava nem piava.

Como um fogo de ignição causado por gasolina, também a “mezzo soprano” Sónia Leite, que é a voz intermediária entre o “soprano” e o “contralto”, e que na maioria das vezes faz “playback” nas actuações, abandonou o palco em respaldo com os demais.

Com os lugares vazios dos coralistas, mesmo assim com quorum para a orquestra continuar, pediu a palavra Hugo Silva, “baixo”, com tipo de voz grave, bem posicionada e sempre bem afinada, elaborou uma resenha histórica dos falhanços idênticos do último mandato do ex-regente Marqueiro.

Pediu atenção a “soprano”, que é a voz mais aguda e de longo alcance, Filomena Pinheiro. Aludiu a vice que a atitude de largar o lugar institucional “era uma birra, um número”. Pior do que isso era a falta de respeito para um lapso dos serviços; uma falta de respeito para com os técnicos desta Câmara, que, em equipa, durante tantos anos trabalharam.

E desabafou o “baixo” Ricardo Santos. Afirmando que “isto era brincar com quem trabalha”, isto não se fazia.

E estava realizada provavelmente a mais curta reunião camarária que não chegou a ser de sempre. Durou pouco mais de vinte minutos.


E MARCELO PARECEU TAPAR OS OLHOS


Mesmo a terminar a mini-sessão, pareceu-nos ver Marcelo Rebelo de Sousa (em formato institucional pregado na parede como Jesus Cristo) a levar uma das mãos a tapar os olhos.

O que teria acontecido para o mestre de cerimónias em viagens de longo alcance fazer este gesto?

Por termos ficado curiosos e clarificar o procedimento de aparente ocultação, usando os nossos canais pouco credíveis, contactámos e fizemos a seguinte pergunta aos serviços da Presidência da República:


Poderá V. Ex.ª justificar o gesto de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, de tapar os olhos no final da sessão que não aconteceu na Mealhada?


Resposta:


Encarrega-me Sua Ex.ª o Chefe do Estado, Professor, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa de informar que tal movimento de surpresa teve em conta o rápido levantamento da cadeira por parte de Sua Excelência o Regente-mor, Eng.º António Jorge Franco, em direcção à funcionária e, em simbologia, lhe depositou um beijo na nuca.

O Senhor Presidente Professor, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, fazendo analogia com o beijo de Rubiales na boca a uma atleta, e que está a causar um escândalo a nível mundial, temendo o pior, em solilóquio com seus botões, soletrou baixinho: “Ai, Santo Padre Francisco me valha...