terça-feira, 31 de outubro de 2017

DE COIMBRA UMA MÃO PARA PORTUGAL. E PARA A BAIXA, NÃO VAI NADA?






Estamos a 31 de Outubro, num outono vermelho sem igual. A dois meses da passagem de Ano Novo, com o Inverno a bater à porta levemente, as temperaturas teimam em subir além dos vinte e cinco graus célsius e a chuva, como a pedir orações e promessas ao santo patrono, continua a fazer um manguito.
A Baixa de Coimbra, depois de uma temporada turística que só teria sido positiva para a hotelaria, habitualmente num ambiente de modorra pachorrenta, talvez por ser véspera de todos-os-santos e as crianças, vestidas de negro, alunos de muitos colégios na cidade, andarem a cantar os “bolinhos e bolinhós”, hoje, pelo ruído dos cantares infantis, esteve tomada de uma atmosfera diferente. Para além disso, a Praça 8 de Maio, normalmente entreposto de circulação de cidadãos em trânsito de várias nacionalidades, também esteve hoje, desde as 10h00, tomada pela RTP. A televisão pública, sobre o mote do programa “Operação Renascer Portugal”, que, através de donativos por chamada telefónica para o 760 10 60 10, visa auxiliar as vítimas dos incêndios, esteve a transmitir em directo da praça de Santa Cruz até às 18h00. Mais logo, a partir das 22h00, o espectáculo de beneficência a favor das vítimas de centenas de ignições que devastaram Portugal no último 15 de Outubro, que se vai realizar no grande auditório do Convento de São Francisco também será transmitido em directo e passível de mais contribuições por parte do público anónimo.
Se o propósito é perfeitamente compreensível e o seu objectivo louvável neste “Coimbra uma mão para Portugal”, a Baixa, como bela adormecida à espera do beijo do seu príncipe que a há-de acordar para os prazeres mundanos, parece alheia ao grande evento que está acontecer no seu seio. Se o fluxo de transeuntes nas ruas largas, que vão da Praça onde o Conquistador repousa no mais sereno sono dos justos até ao Largo da Portagem, parece conferir uma moldura humana própria de uma cidade média, já o movimento de pessoas nas ruas estreitas é escasso, diminuto, e composto por passantes pouco “ortodoxos” onde a conflitualidade parece rebentar a todo o momento: sem-abrigo e pessoal de rostos duros e avermelhados pelos vapores etílicos.
Nos últimos tempos, escrevendo sem recurso a dados estatísticos oficiais, tudo indica que o Centro Histórico está a ser cada vez mais um porto de abrigo para gente sem eira nem beira. A sensação que nos percorre é que, se tomarmos alguma atenção, estamos a regredir para 2011/2012, tempos de negra memória. A mostrar uma face humana que não se erradicou de facto, os cenários de tragédia anunciada são apopléticos, de deixar cair o queixo, revelam bem como a Baixa precisa também, com muita urgência, de uma mão de Portugal para a tirar do abismo em que se encontra.
Se for necessário mostrar um caso concreto, a cerca de trinta metros da festa televisiva hoje transmitida para todo o país e para o mundo esteve uma imagem desoladora que deveria envergonhar o presidente da Câmara. No antigo prédio da desaparecida Sapataria Elegante, encerrada em 2011, que, abandonado, com vidros partidos, mostra bem o cuidado das entidades camarárias em resolver um assunto que, sobretudo, pela situação geográfica já deveria ter sido encaminhado para um final mais feliz. Estamos a falar da via turística mais importante da cidade.


MAS, AFINAL, O QUE É ISTO?

Se não há explicação para a destruição que percorreu Portugal desde Junho até Outubro, como é que se pode compreender que na entrada recolhida do prédio da Sapataria Elegante, aos olhos de todos, hoje, dia de abraço solidário em transmissão televisiva para o mundo, numa imagem que vale por mil palavras, uns cartões e um cobertor, numa espécie de projecção para os “Miseráveis”, de Vitor Hugo, retratados em livro em 1862, parece indicar que o mundo, afinal, não pula nem avança como se faz crer aos menos atentos.
Porta-com-porta, ao lado desta ruína paisagística está uma loja de modas, a Abilini. E se fosse consigo? Alguém consegue posicionar-se no lugar do proprietário deste reputado estabelecimento?


A BAIXA CONTINUA... NUM PROCESSO LENTO DE ALTERAÇÃO

Passado um mês da campanha eleitoral, em que a reabilitação da Baixa foi tema de todos os debates, pouco se ouve, nada se sabe sobre a recuperação desta grande área monumental. No escuro da noite, tal como abrem e surgem como cogumelos ao raiar da aurora, as lojas comerciais desaparecem sem um grito de socorro. Embora continuem a abrir comércios, tal como sido o caminho desde há cerca de cinco anos para cá, a hotelaria está a tomar conta do bairro e, no lugar de espaços comerciais, estão a nascer bons empreendimentos hoteleiros.
Os profissionais ligados ao comércio tradicional, mirando o futuro com apreensão, vão tentando virar-se como podem para outras áreas mais lucrativas -como fez a cantora Ana Leão, que actuou hoje em directo da antiga praça de Sansão. Depois de muitos anos a atender ao balcão na Baixa virou-se para o estrelato e, felizmente e com muito agrado nosso, está a alcançar o merecido sucesso.
As ruas mais estreitas e tão típicas continuam a ser olhadas por parte da autarquia como uma espécie de filho de um deus menor. O lixo continua a amontoar-se durante o dia, os automóveis tomaram conta de cantos e recantos disponíveis. A paisagem, decrépita e desconsolada, prenhe de montras sujas e forradas a papel meio descolado, prossegue um caminho de abandono até ao desastre final.
Os comerciantes que por cá continuam a lutar para manterem os seus estabelecimentos de portas abertas, falando com eles, são claros a mostrar o desânimo que invadiu a sua alma.
E se a RTP, de Coimbra para o Mundo, fizesse por cá um trabalho sobre o estado em que se encontra a Baixa? Será que os políticos recentemente eleitos para a edilidade, tão acutilantes na campanha eleitoral a denunciar e a apresentarem soluções em cima do joelho e agora já adormecidos, iriam acordar da sonolência de que foram tomados?

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

CONVENTO DE SÃO FRANCISCO: ACESSO RESERVADO AOS MAIS LESTOS?

(Foto do Campeão das Províncias)




No próximo dia 31, terça-feira, pelas 21h30, no grande auditório do Convento São Francisco, em Coimbra, vai realizar-se o espectáculo de solidariedade “É preciso acreditar”, cuja receita reverte a favor das vítimas dos incêndios de Outubro.
A cinco dias do evento, a lotação já se encontra esgotada. Quando, em Junho, houve uma iniciativa do género e no mesmo local a favor das vítimas de Pedrógão todos os bilhetes de ingresso voaram rapidamente. Provavelmente, mais de meia-população de Coimbra, interessada em participar, teria ficado a ver navios.
A pergunta é assim: se já havia um antecedente de que estas acções de solidariedade depressa enchem o auditório do Convento de São Francisco, que é de pouco mais de 1000 lugares -contrariamente aos 500 anteriormente indicados, fui informado há pouco de que é este o número-, estando as condições atmosféricas de favor, porque não se planeou agora este para o Estádio Municipal Cidade de Coimbra?
O valor maior desta iniciativa é fazer a maior verba possível a favor das vítimas ou é publicitar o recém-inaugurado centro cultural de Coimbra?
Responda quem souber.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

EDITORIAL: PARA QUE SERVIU E SERVE A APBC? (2)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Como escrevi no anterior apontamento, em 2006 nasceu oficialmente a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC). Os estatutos desta entidade foram elaborados na ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra -hoje desaparecida por insolvência.
Como afirmei, na génese deste nascimento da APBC, que ocorreu no seio da ACIC, por parte das sucessivas direcções da extinta gloriosa agremiação comercial e industrial esteve sempre uma intenção bem vincada de manter um domínio e um controle, plasmados  num permanente cordão umbilical, sem nunca perder o comando territorial sobre a agência.
Então qual foi a forma engendrada para manter a APBC sob a sua égide? Precisamente através de um instrumento que, se o tempo económico decorresse sempre igual, asseguraria a sua supervisão: os Estatutos. Mas como? Através de uma cláusula blindada.

(A blindagem de uma cláusula estatutária, entre outros, é exercida através de um exacerbado número de votos atribuídos a um pequeno grupo fundador. Na essência, visa assegurar um, ainda que legal, abusivo direito de uma parte (chamemos-lhe associados-fundadores) e condicionar ou limitar a acção da outra (chamemos-lhe associados não-fundadores). Pode ser de tal modo gravoso para os associados não-fundadores que, pela sua pouco expressiva representatividade em votos, ficam restringidos à mera condição de espectadores, sem intervenção no processo de dinâmica natural e necessária. Com maiorias, absoluta e qualificada, sempre asseguradas pelas partes maioritárias, são retirados completamente os intrínsecos poderes de decisão aos associados com menos poderio, incluindo a fiscalização dos actos administrativos, que nunca deveria ser permitido, até à possibilidade de extinção -a não ser por insolvência. Ou seja, como os Estatutos ficam petrificados e imutáveis, por impossibilidade de impugnação, qualquer resolução, por mais estapafúrdia que seja, fica sempre sujeita à vontade e ao critério de um ou poucos mais sócios-fundadores.)

Mas a Natureza é matreira e, volta que não volta, troca as voltas ao mais graduado estratega. Em extrapolação, é de supor que o jurista que “cozinhou” estes Estatutos estaria a pensar que, nesta altura, a ACIC estaria em condições financeiras para participar com a parte de leão em contribuições para o Fundo Associativo, o que seria proporcionalmente remível em votos e lhe daria um controle sem contestação.
Acontece que neste ano de 2006 a vestusta e reputada associação comercial começava a atravessar sérias dificuldades de tesouraria. Foi por esses dias que a sua sede, na Avenida Sá da Bandeira, foi hipotecada em garantia de um empréstimo de 500 mil euros à Caixa Geral de Depósitos. As suspeitas de que a sua gestão, até aí, era tudo menos clara perpassava na boca de algumas pessoas. Em 2007 foi feita uma denúncia na Polícia Judiciária. Seria arquivada pelo Ministério Público com o seguinte teor: (…) a alguns contratos de fornecimento de equipamentos prestados à ACIC, não foram muito favoráveis à associação (alguns vieram mesmo a ser resolvidos com recurso a acções judiciais). No entanto, e na sequência dos dados apurados pelos elementos da actual direcção, estes contratos apenas foram mal negociados, não existiu qualquer intenção de benefício ilegítimo em detrimento da associação”. “Assim, o mais que se apurou foi a existência de contratos que poderão ter acarretado prejuízos para a ACIC, nada tendo resultado, em termos indiciários (...)
Por conseguinte, pressupõe-se, seria por este motivo que a contribuição maior para o Fundo Associativo passaria para a Câmara Municipal de Coimbra e, por inerência, lhe viria a dar a maioria de votos.

A NORMA DE BETÃO ARMADO

Para melhor se perceber, começo por transcrever dois artigos dos Estatutos da APBC que servem de suporte à cláusula, a tal considerada blindada:

Artigo Quinto
(Associados)
2. São associados fundadores todos aqueles que outorgaram a escritura de constituição da Agência.

Artigo décimo-terceiro
(Proveitos e Fundo Associativo)
    1. Constituem receitas da Agência as comparticipações dos associados, os subsídios e os honorários por serviços prestados em benefício dos associados e terceiros.
    2. O Fundo Associativo é constituído pelas contribuições iniciais e pelas jóias, a pagar pelos associados, no acto da sua inscrição ou em conformidade com o que estiver estatuído no regulamento interno, bem como doações e legados.

E então a Cláusula blindada que cerceia totalmente a intervenção dos associados não fundadores:

Artigo Vigésimo Oitavo
(Deliberações)
    1. As deliberações da Assembleia Geral são tomadas por maioria absoluta de votos dos associados presentes, cabendo um voto a cada cinquenta euros de contribuições para o Fundo Associativo.

ENTÃO... É SÓ FAZER AS CONTAS

Ficou escrito na anterior crónica que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) subscreveu o Fundo Associativo com 20 mil euros. Se dividirmos esta verba por 50 euros, a autarquia tem direito a 400 votos. Relembro que os outros signatários do Fundo Associativo são: a Caixa Geral de Depósitos, com uma tranche de, creio,  10 mil euros, o que dá 200 votos; a ACIC com uma verba de 10 mil euros, creio, tinha 200 votos; a Associação do Centro dos Industriais de Panificação com, creio, 5 mil euros, tem 100 votos. As Juntas de Freguesia de São Bartolomeu e Santa Cruz, salvo erro, entraram também no Fundo Associativo com 1000 euros cada, o que dá uma atribuição de 40 votos. O total dos votos dos participantes do Fundo Associativo é de 940 votos.
Actualmente a APBC tem cerca de 70 associados, que de grosso modo corresponderá ao mesmo número: 70 votos -o pico máximo de associados que se atingiu noutros tempos foi de 180.
Então, facilmente se chega à conclusão por que razão, por exemplo, nunca houve listas candidatas a eleições -qualquer propositura seria sempre chumbada. Também é certo que, porque não interessava, nunca se procurou abrir a porta a outras dinâmicas. Os órgãos sociais da APBC, desde a sua fundação, em 2006, e até agora foram sempre nomeados pela CMC.
Há uma questão importante: neste processo sempre reinou a ignorância, sobretudo por parte dos associados não-fundadores. Quantos já leram alguma vez os Estatutos?
(Artigo em continuação)


TEXTOS SUGERIDOS

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

terça-feira, 24 de outubro de 2017

DOIS COMENTÁRIOS RECEBIDOS E UMA RESPOSTA DADA...





Estas duas críticas foram escritas no Facebook acerca da crónica que escrevi sobre “Empresário morre subitamente na Rua Paço do Conde”



Antes demais as minhas condolências à familia, quem conhecia o Sr Manuel sabia bem que não era pessoa para desacatos era uma pessoa pacata ,simples e muito amigo do seu amigo .Quanto ao outro entreveniente da história quem sou eu para julgar quem quer que seja mas esse Sr de educação não tem nenhuma quem quer que passe naquela rua não ouve este português tão correcto que está escrito nesta reportagem um vocabulário aprumado para desculpar o quer que seja. Enfim esperamos que seja feita justiça. Note-se que este desentendimento não tem nada a ver com o negócio não vão querer comparar um estabelecimento a outro por favor.
Liliana Oliveira

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Pois... "animosidade" "sovou" "palavras pouco corteses" "condoído", parece-me mais vocabulário do Sr Quintans”
Raquel Faria

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RESPOSTA DO EDITOR


Liliana Oliveira e Raquel Faria começo com uma primeira ressalva: para que saibam, conhecia relativamente bem o senhor Manuel Gonçalves, o mesmo não se passa com o senhor José Neto, o empresário que abriu agora o café, que nunca o tinha visto mais magro.
Segunda ressalva, fui falar pessoalmente com o senhor Neto e o que está no texto foi dito por ele, excepto o arranjo de português -que é meu. Para explicar melhor, ao falar com ele, à medida que ele se expressava, eu fazia perguntas com as palavras empregues na crónica.
Já experimentaram ir falar com o senhor Neto e perguntar-lhe se o que está escrito no texto foi, ou não, dito por ele? Como são vizinhas, aposto que são capazes de fazer isso!
Bem sei que para vocês o ideal era que eu passasse por cima das suas declarações e me baseasse no meu conhecimento de longos anos com o senhor Gonçalves. Acontece que o meu modo de proceder não é assim. A minha obrigação é ser sério e imparcial. Não sou juiz, e se o fosse teria o máximo de cuidado a julgar. Qualquer um de nós, humano, a qualquer momento e tendo em conta a circunstância, pode revelar-se um completo desconhecido. Somos seres incompletos e de reações imprevisíveis. Habitualmente, antes de escrever, pelo menos uma notícia de grande responsabilidade, falo sempre com os intervenientes, a menos que tal tarefa se torne de todo impossível.
Ainda digo mais, falei com várias pessoas vizinhas. Cada uma contava uma história à sua maneira. Quando lhe perguntava se podia nomear o seu nome, respondiam imediatamente: “nem pensar!
Mais ainda, sobre o homem que foi sovado vi a sua barriga completamente castanha. Perguntei-lhe se poderia nomear o seu nome, disse que não, por isso não o reporto no texto, até porque não assisti a nada.
Agora, para terminar, como vocês, sub-repticiamente, dão a entender que alegadamente fui parcial, convido-as a escrever aqui a vossa versão, a verdadeira segundo o que julgam, do que aconteceu. Não basta acusar alguém de ser dependente. Para o provar é preciso mostrar o que está mal. Fico eu à espera e todos quantos nos lêem.


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Raquel deixou um novo comentário na sua mensagem "DOIS COMENTÁRIOS RECEBIDOS E UMA RESPOSTA DADA...":

Quando ao meu comentário acho que o Sr ainda não percebeu...infelizmente, não quero saber que versões existem desta história que terminou com tamanha dor para esta família, o meu comentário surgiu no sentido de não concordar com o seu arranjo de português no relato de uma das partes intervenientes... para mim o vocabulário diz muito sobre o perfil e a educação de uma pessoa. Como deve compreender e aceitar eu tenho direito de dar a minha opinião, e é apenas isso uma opinião e como jornalista deve aceitar qualquer tipo de críticas sejam elas positivas ou negativas. Como ressalva Sr Quintans não percebo o porquê d colocar aqui no blog cópia do meu comentário e do comentário da Liliana, porque não fez a publicação no face??Será porque o blog tem menos visibilidade? Eis a dúvida ... 

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

EMPRESÁRIO MORREU SUBITAMENTE NA RUA PAÇO DO CONDE





Cerca das 10h00 de ontem, na Rua Paço do Conde, no meio de uma altercação, faleceu subitamente o proprietário do restaurante Retiro do Conde. Manuel Gonçalves, de cerca de 60 anos, natural da zona de Cantanhede, explorava a conhecida casa de comidas há cerca de meia-dúzia de anos. Embora contido, era um empresário muito respeitador e respeitado por todos em redor, nestas ruas estreitas. Pelo que julgo saber, teria estado emigrado na Venezuela à volta de 30 anos.
Por detrás deste desfecho trágico, ao que parece, a originar toda uma quezília está a abertura de um novo estabelecimento em frente ao Retiro do Conde.
Em meu nome pessoal, em nome da Baixa comercial de Coimbra, se posso escrever assim, nesta hora de profundo sofrimento, os nossos mais sentidos pêsames à família enlutada.

MAS, AFINAL O QUE ACONTECEU?

As versões são mais que muitas a circularem nestes becos e ruelas. Como não consegui encontrar uma única testemunha de facto, que merecesse crédito, fui falar com um dos intervenientes desta história que acabou mal para uma das partes. Sem tomar partido, mesmo correndo o risco de estar a ser injusto, uma vez que só é ouvida uma das partes, mesmo assim, ouso plasmar o que ouvi. Vou dar voz a José Neto, dono do café snack-bar Neto, há uma semana em funcionamento no Centro Histórico:

Sou natural de São Miguel, Açores, e estive emigrado nos Estados Unidos. Gosto muito de Coimbra e foi por isso mesmo que decidi estabelecer-me, aqui, com um pequeno estabelecimento de hotelaria.
Abri precisamente há uma semana. Sem saber a razão, logo no início senti uma certa animosidade por parte do meu colega de profissão. Logo no primeiro dia, mais precisamente na segunda-feira passada, estava um cliente meu encostado à sua parede e debaixo do seu toldo. Sem nada o fazer prever, o meu vizinho veio cá fora e, como se estivesse a abrir o pano de proteção, deixou cair o ferro em cima da cabeça do meu cliente. A seguir, numa aparente explosão de raiva, pegou no ferro e sovou o rapaz na zona da barriga. Embora achasse injusto, vi aquilo, não gostei, mas, para não gerar ali um conflito logo no meu primeiro dia, não disse nada. Eu só quero viver em paz. Tenho o meu negócio, só peço que me deixem trabalhar. Fiz de conta que não se tinha passado nada. Dava os bons dias ao casal, mas só a senhora me respondia. Eu nunca troquei uma palavra com ele.
Ontem, Domingo, seriam 9h30, vi dois agentes da PSP transporem a porta do restaurante Retiro do Conde. Passada cerca de meia-hora, saíram de lá e entraram na porta em frente, ou seja, no meu café. Eu estava dentro do balcão e tinha um cliente, a beber, encostado ao balcão. Os dois agentes entraram e dirigiram-se-me a perguntar se eu sabia de alguém que tivesse ameaçado o meu vizinho. Eu disse que não sabia de nada. Foi então que o rapaz disse: “fui eu!”. Os polícias identificaram-no, fizeram as perguntas que acharam por bem, e saíram. Logo que viraram costas, o homem veio cá fora e, à porta do restaurante Retiro do Conde, teria dito palavras pouco corteses para o meu confinante. Como estava cá na minha vida não tomei atenção ao que foi dito. Só sei que, de repente, vi a senhora do restaurante com duas facas, uma em cada mão, pronta para fazer justiça. Da sua casa veio um seu cliente que a agarrou. Veio o seu marido e dizia: “corta-lhe o pescoço que digo que fui eu!”
Os dois agentes da PSP, que já estavam ligeiramente afastados mas que teriam ouvido a algazarra, voltaram para trás e tentaram moderar o conflito. Foi então que subitamente o meu concorrente caiu para trás e se ficou. Veio a ambulância, foi feita reanimação no local mas, infelizmente, nada se pode fazer. Acredite, estou consternado com isto. Palavra de honra! Eu vim apenas para trabalhar, não vim para causar mal a quem quer que fosse. A morte fez das suas, esta é mesmo a verdade. Os meus sinceros sentimentos à família. Gostava que soubessem que estou condoído com tudo o que aconteceu.”

SINAIS...

Sem pretender ser juiz e aberto a outro exame de interpretação, como disse em cima as versões são mais que muitas e ao sabor de cada freguês, tudo indica que estamos perante um caso de concorrência mal aceite que descamba em desgraça.
Já há muito tempo que escrevo sobre um oculto e silencioso ambiente de miséria humana que paulatinamente vai corroendo as almas dos que estão cá estabelecidos e dos que vêm de novo: o medo do futuro. A ansiedade e a depressão, manifestadas numa preocupação constante e implantada, geram uma tensão e são suportadas por ansiolíticos e outros meios mais fáceis e à mão de semear. Os que por cá lutam há muito tempo, diariamente, tentando resistir, vêem-se em palpos de aranha para aguentar este continuado e depauperado ciclo económico. Por outro lado, sem que ninguém lhes possa levar a mal, os que vêm de novo, num direito legítimo que lhes assiste, tentam fazer a sua vida. Uns e outros têm razão: se, por um lado, a oferta é desmesurada, por outro, a procura não chega para todos. Esta é a causa da inquietação que reina pela zona.
Soluções? Não há! A não ser esperar que a economia real melhor, mas de facto. Não a economia que o Governo tanto apregoa, de um enorme crescimento, mas que não se sente no comércio e outras actividades, como a indústria hoteleira.
Sem pretender dar conselhos, devemos praticar um respeito intrínseco por todos quantos lutam para terem uma vida melhor. Por outro lado, não esquecer que só temos mesmo uma vida e, para todos, a cada minuto que passa, cada vez mais curta. Não vale a pena guerrearmos por detalhes. A todo o momento poderemos fazer parte do pó.
Vale a pena pensar nisto?

POST SCRIPTUM

O corpo de Manuel Gonçalves encontra-se em Câmara Ardente na capela de São Mateus, em Cantanhede, a partir das 14h00 de hoje, terça-feira, 24 de Outubro. Pelas 16h30 realizar-se-ão as cerimónias fúnebres, seguindo depois para o Crematório de Taveiro onde, pelas 18h00, se fará a cremação.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

EDITORIAL: PARA QUE SERVIU E SERVE A APBC? (1)

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Para dar resposta à pergunta em título e se compreender melhor, vou escrever uma série de artigos sobre a história da Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra (APBC).
Teria sido, mais ou menos, em 2000 quando, por iniciativa da direcção da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, presidida por Horácio Pina Prata, se discutiu na mesa da direcção-geral o anteprojecto de criar uma entidade de intervenção específica para a Baixa. Isto é, ligada por cordão umbilical à centenária associação -agora desaparecida por insolvência-, mas independente versus dependente na acção. Quando escrevo “independente-dependente” quero dizer que seria um órgão institucional aparentemente apartado da ACIC mas ligado por fios condutores entre si. Esta ideia, se não me engano, como implicava a participação da Câmara Municipal de Coimbra (CMC) no capital social, chegou a ser apresentada por Pina Prata ao então executivo camarário de Manuel Machado que não a considerou procedente. Machado, entrementes, logo a seguir perdeu as eleições.
Em 2001, na edilidade, caiu então da cadeira Manuel Machado e subiu ao poder Carlos Encarnação como presidente. Pina Prata ficaria como vice de Encarnação e ao mesmo tempo presidente da ACIC.
Mais tarde, creio que em 2002, realizou-se uma assembleia-geral de associados para discutir vários pontos de ordem na ACIC e do público presente surgiu uma voz a defender o nascimento de uma entidade especificamente para dinamizar a Baixa. Tratava-se de Paulo Ramos, representante da Românica, um reputado estabelecimento de brinquedos com sede na Rua Adelino Veiga -hoje já encerrado.
O conceito, que tinha germinado dois anos antes, é então retomado, assim como a comparticipação de Ramos no projecto, e Pina Prata chama a si a aprovação do plano na autarquia. Convidou várias pessoas para liderar o “Condomínio Comercial da Baixa de Coimbra” -era assim que se chamava no início- mas só Armindo Gaspar, comerciante e dono da perfumaria Pétala -hoje encerrada-, aceitou o encargo. 
Com a ACIC a controlar os cordelinhos, a ideia inicial deste programa era englobar como parceiros as juntas de freguesia da área -São Bartolomeu, Santa Cruz- e outras associações culturais da zona -como a “Centrum Corvo”, liderada por António Cerveira. Por dificuldades financeiras em realizar o Fundo Associativo (Capital Social), acabaria por se optar por outras entidades.
Entretanto com Paulo Ramos nos órgãos directivos da recém-criada entidade de dinamização comercial e juntamente com Armindo Gaspar, o primeiro entra em choque com o segundo e Ramos abandona o projecto em rota de colisão.
Em 2005, após forte contestação dos comerciantes, Pina Prata abdica a presidência da ACIC para Paulo Canha -falecido em 2013-, então até aí, à época, presidente do Sector industrial, e Armindo Gaspar fica, ex aequo, como presidente do Sector Comercial e, ao mesmo tempo, presidente do “Condomínio Comercial da Baixa de Coimbra”.
Ainda em 2004, a “Portaria número 188/2004, de 26 de Fevereiro”, aprovou o Regulamento de Execução do Sistema de Incentivos a Projectos de Urbanismo Comercial (URBCOM) em que prevê, na alínea d) do n.º 1 do artigo 3.º, as unidades de acompanhamento e coordenação (UAC) como entidades beneficiárias dos apoios financeiros previstos no presente Regulamento.
Estas UAC’s, Unidades de Acompanhamento e Coordenação, visavam o acesso aos apoios previstos no âmbito do URBCOM, com vista ao acompanhamento e gestão do projecto de urbanismo comercial da área de intervenção.
Os beneficiários obrigatoriamente deveriam obedecer a certos trâmites: “A Unidade de Acompanhamento e Coordenação, que deve revestir a forma jurídica de uma associação privada sem fins lucrativos. Esta deverá ter, obrigatoriamente, a participação da Estrutura Associativa e da Câmara Municipal, dada a sua qualidade de promotores globais.
Em 2006, oficialmente exarada em escritura pública de constituição, surgiu a Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra com novos Estatutos, e com Armindo Gaspar como timoneiro. Os subscritores do denominado Fundo Associativo (Capital Social) eram a Câmara Municipal de Coimbra, que entrou, creio, com 40 mil euros; a Caixa Geral de Depósitos, com uma tranche de, creio, 10 mil euros; a ACIC com uma verba de 10 mil euros, creio; a Associação do Centro dos Industriais de Panificação com 5 mil euros, creio. As juntas de freguesia de São Bartolomeu e Santa Cruz, salvo erro, entraram também no Fundo Associativo com 1000 euros cada.
Numa espécie de tiro saído pela culatra, serão estes mesmos Estatutos, elaborados na ACIC com uma intenção deliberada de controle absoluto, com normas blindadas que virão a constituir um imbróglio jurídico e, se não forem alterados a curto tempo, estarão na base da morte anunciada da APBC a médio prazo.


quinta-feira, 19 de outubro de 2017

EDITORIAL: BAIXA, AFINAL, O QUE PRECISAS TU?

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Os jornais diários de ontem, Diário de Coimbra (DC) e Diário as Beiras (DB), em primeira página, faziam referência à reunião de terça-feira promovida pela APBC, Agência de Promoção da Baixa de Coimbra, entre comerciantes e em que estiveram presentes dezena e meia de interessados.
Na sua liberdade editorial cada um salientava o que considerava mais paradoxal. O DB chamava a atenção para “Som exterior no Natal só com comerciantes a pagar metade” - “A Agência de Promoção da Baixa pede ajuda para financiar animação natalícia”. Prosseguindo o desenvolvimento da notícia no DB, “Sem a comparticipação directa dos comerciantes não haverá sonorização das ruas da Baixa de Coimbra durante o Natal. O orçamento para a animação no período natalício vai forçosamente descer, em relação ao ano passado, em detrimento de outros projectos estruturais, como a criação de novas empresas culturais e criativas. O presidente da APBC, Vitor Marques, chamou os comerciantes para lhe prestar contas e orçamento para as actividades da sempre aguardada quadra natalícia. Enquanto, em 2016, foram gastos cerca de 19 mil euros, este ano há apenas disponível cerca de 7.000, assegurado pela APBC. (…) “Como tivemos de fazer opções, deixámos de fora a sonorização das ruas, que tem um custo de 4.300 euros, e que propomos repartir pelos comerciantes”. Sem essa comparticipação dos comerciantes, “não haverá sonorização, porque a APBC não se vai endividar”, garante Vitor Marques. A Agência recebeu um financiamento da Câmara Municipal de Coimbra de 35 mil euros para 2017, sendo que “cerca de 26 mil estão executados até à data, à média de uma actividade por mês”.

20 NOVAS EMPRESAS CULTURAIS E CRIATIVAS

Continuando a citar o DB, “O “projecto do ano” para 2018 chama-se “Indústrias culturais como alavanca do território” e tem “como objectivo final a criação de 20 novas empresas no centro histórico dentro deste sector”. Com uma comparticipação de 85 por cento, o projecto custa 300 mil euros, o que quer dizer que a APBC tem de encontrar “cerca de 45.000 euros para este projecto, que a direcção entende que é estrutural para a Baixa. (...)”

PARAR PARA RESPIRAR

Comecemos por elencar o “Artigo Terceiro” -Objecto” do Regulamento da APBC:

1- A Agência tem como objecto social a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum;
2- Para a prossecução do seu objecto social a Agência propõe-se realizar, entre outras, as seguintes actividades:

a) Realizar e gerir um plano de marketing e comunicação;
b) Promover e publicitar o conjunto comercial;
c) Definição dos horários dos estabelecimentos;
d) Promover a uniformização da época de campanha comerciais;
e) Garantir a animação da baixa;
f) Fazer estudos de mercado e estudar os hábitos de compra;
g) Editar um boletim informativo;
h) Instalar postos de informação aos consumidores.

INTERVALO PARA PERGUNTAS

Depois de em cima consultarmos o objecto social da APBC, isto é, o seu propósito, a finalidade da sua sua acção, surgem questões:
Pergunta: Terá a APBC vocação para desenvolver o conceito de incubadora de empresas na Baixa?
Resposta: Salvo melhor opinião, não tem. Lendo o ponto 1 verifica-se que o seu âmbito é “a promoção e modernização da zona da baixa de Coimbra, visando a requalificação daquela zona e o desenvolvimento da gestão unitária e integrada de serviços de interesse comum”.
(Requalificar: “conjunto de atividades que visam melhorar uma zona pública a nível urbanístico, ambiental, paisagístico, etc.; revitalização”)
(Desenvolvimento da gestão unitária e integrada: “Desenvolvimento de uma administração visando o (mais baixo) custo unitário (ao conjunto de custos, fixos e variáveis) e integrada (combinação de partes ou etapas que funcionam de forma completa) de serviços de interesse comum.”
E se dúvidas houver sobre a interpretação da sua acção vejamos as alíneas a) b) c) d) e) f) g) h). Todas elas remetem para a prossecução e desenvolvimento da actividade comercial na Baixa, incluindo a animação.

Mas imaginemos que, com outra leitura mais avalizada, até podia mesmo explorar o conceito de incubação de empresas:
Pergunta: É legítimo a direcção de uma entidade que visa a promoção de um sector de actividade afirmar que ““Como tivemos de fazer opções, deixámos de fora a sonorização das ruas, que tem um custo de 4.300 euros, e que propomos repartir pelos comerciantes”. Sem essa comparticipação dos comerciantes, “não haverá sonorização, porque a APBC não se vai endividar”.
Constatação: A APBC não se vai endividar por 4.300 euros para animar as ruas.
Constatação: Vão ser gastos 300 mil euros na incubação de empresas. Esta verba total está assegurada em 85 por cento -255.000 euros- por financiamento europeu. Faltam 45.000 euros. Onde se vão buscar? Para os obter a APBC não precisa de se endividar?
Pergunta tola: Será que a verba que falta não virá directamente dos cofres do município? Em 24 de Julho de 2017 -Deliberação n.º 3076/2017 (Processo 27313)- foi aprovado um subsídio de 55.000 euros para a APBC. 
Pergunta tola: A APBC não está a ser utilizada para um serviço que caberá por inteiro à Câmara Municipal?
Pergunta tola: Com esta prestação servilista, canalizando forças e verbas indevidamente, não estará a prejudicar as suas dezenas de associados e toda a Baixa no seu conjunto?
Pergunta tola: É legítimo estar a financiar pequenas empresas “startups” quando a maioria de operadores comerciais está de corda ao pescoço, afogado em dívidas?

Haveria muito mais perguntas mas, para não ser demasiado longo, fico por aqui.
Valerá a pena pensar nisto?

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

AI, SENHOR! QUE SORTE A NOSSA!

(Imagem da ZAP aeiou)

Governo de Passos investigado por suspeitas de corrupção no projecto do TGV”

ACABARAM AS TRÉGUAS POLÍTICAS ENTRE MARCELO E COSTA

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Foto de Mais Estado? Não Obrigado.
(Imagens da Web)





Com o discurso, ontem, do Presidente da República, ficou provado que Marcelo Rebelo de Sousa é um “animal” político que sabe muito bem quando deve saltar fora de um alinhamento que o pode arrastar para a lama. Se, por um lado, é certo que procura a salvação individual e não ser chamuscado pelo fogo, por outro, ficou sublinhado que não quer ocupar o lugar para parecer “corta fitas” ou fazedor de fretes ao Governo, como se chegou a temer. Ficou claro, bem claro, que Marcelo quer o seu espaço de intervenção bem definido e bem separado da esfera do executivo liderado por António Costa. Marcelo, ao içar a bandeira de alerta geral para a classe política e pedido de intervenção da Assembleia da República, de dedo em riste, disse sem dizer que os partidos que apoiam o Governo não estiveram bem nesta questão dos incêndios que assolou Portugal e, quando deveriam exigir responsabilidades, calaram perante as tragédias de Junho e de Outubro por calculismo político. Foi devido ao “ralhete” do Presidente que António Costa demitiu -ou forçou a sua demissão- a Ministra da Administração Interna. Tal como Passos fez com Relvas no passado, Costa perdeu tempo e muito capital político ao querer levar até ao impossível a solidariedade camarada.
Ontem foi o corte entre o “antes” e o “depois” de Marcelo. De aqui em diante nada vai ser igual. Tudo indica que, com o aviso à navegação, a trégua institucional entre o Governo e a Presidência da República acabou. Ficou claríssimo que Marcelo, se as condições meteorológicas se agravarem, é “muito menino” para repetir um traço da história recente quando Sampaio demitiu Santana Lopes, alegadamente por incompetência e por não ter sido eleito, e abriu caminho à eleição de José Socrates, em 2005.
Num eterno retorno, tudo parece indicar que ou Costa se alinha, dando ouvidos à direita, representada por Cristas, ou temos o caldo entornado.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

AMANHÃ HÁ DEBATE SOBRE A BAIXA...




Caro Colega,

A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra, à semelhança do ano passado, vem agendar um encontro de comerciantes para apresentar algumas propostas e ouvir as  sugestões para melhorar a actividade comercial na Baixa de Coimbra , entre elas a época natalícia.
Este encontro terá lugar no Salão Brazil no próximo dia 17 de Outubro (terça-feira), pelas 19h30.
Solicitamos que caso estejam interessados em participar nos informem até ao próximo dia 16 de Outubro de 2017, por telefone (239 842 164), telemóvel (914872418), ou por email (apbcoimbra@gmail.com).
A V/colaboração é fundamental, atenciosamente,
O Presidente da Direcção da APBC
Vítor Marques”

--
APBC - Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra
Rua João de Ruão, 12 Arnado Business Center, piso 1, sala 3
3 000-229 Coimbra
Tel. 239 842 164  Fax. 239 840 242 Tel. 914872418
apbcoimbra@gmail.com
www.facebook.com/baixadecoimbra/
www.baixadecoimbra.com

NO APROVEITAR SE ACUMULA O GANHO...


TUDO IGUAL COMO DANTES...

Foto de 1001 Receitas Fáceis.
(Imagem furtadita da Web)

EDITORIAL: AS MESAS DE VOTO ENTREGUES A QUEM?

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(Imagem da Web)




Ficámos a saber que, após recontagem dos votos por uma Assembleia de Apuramento Geral, foram “detectadas muitas irregularidades nas eleições”, in Diário de Coimbra da última sexta-feira, 13 do corrente.
Prosseguindo a notícia do periódico, “Do apuramento geral de votos, já concluído, resulta desde já a redução de deputados socialistas na Assembleia Municipal de Coimbra – passa dos 13 eleitos directos para 12- e a entrada de mais um da CDU, que fica com seis elementos (quatro eleitos directos e dois autarcas). Mas outras consequências podem advir, tendo em conta que a Assembleia de Apuramento Geral, presidida pela juíza Paula Cristina Pereira, detectou várias irregularidades, que vão constar de acta e denunciadas junto de entidades com competência contra-ordenacional e, se caso disso, criminal.
Sobre este assunto, o movimento Cidadãos por Coimbra (CpC) manifestou repúdio contra este processo, pelos vistos, viciado -e com toda a razão, até porque foi esta agremiação que, pedindo a recontagem de votos, desencadeou a descoberta de manigâncias que, em nome do bom senso, da cidadania e da dignidade dos eleitores, não se admitem nem podem continuar a verificar-se. Em nota de imprensa, alertou o CpC para situações de “desleixo e incompetência”.
Segundo o jornal Campeão das Províncias, “Em 16,50 por cento das 139 mesas do referido acto no concelho de Coimbra foram validados e atribuídos a uma das listas concorrentes votos reconhecidamente nulos, assinala CpC, fazendo notar que, “felizmente, não houve qualquer padrão de favorecimento a uma das forças políticas”.
Neste contexto, Cidadãos por Coimbra lastima que a lei não permita à Assembleia de Apuramento Geral proceder à anulação de tais boletins.”

TUDO IGUAL, COMO DANTES

No início da década de 1990, quando a prestação às mesas era considerado um serviço cívico, como quem diz não remunerado, fui nomeado algumas vezes delegado à mesa. Depois deste desempenho começar a ser pago não mais fui solicitado para estas funções. Ao referir esta mudança de procedimento não quero dizer que tivesse ficado ressabiado. Nada disso. Quero dizer é que a mudança, porventura, pelos resultados obtidos e verificados agora, não teria sido bem sucedida.
Lembro-me também na altura de ter sido nomeado sem qualquer preparação prévia -e esta percepção era extensível aos colegas de mesa. Sempre que surgia um problema de maior, para o resolver, era com recurso a um pequeno livro editado pela Comissão Nacional de Eleições ou pela unanimidade de todos os delegados.
Pelo vistos, passados mais de vinte anos, o processo de nomeação para as mesas continua igual, isto é, sem preparação prévia de todos os escrutinadores. Quero dizer com isto que, nas alegadas falcatruas detectadas, pode estar sobretudo a omissão por desconhecimento e o amadorismo de quem está a supervisionar esta acção de tão grande responsabilidade. É engraçado que os agentes políticos, na generalidade, apenas se preocupam com a abstenção e, durante a campanha eleitoral até à exaustão, apelam ao cidadão para votar. Ou seja, preocupam-se com o acto efectivo e pouco com a logística. Como diria um amigo meu: “é à portuguesa! É cultural e ninguém leva a mal!”
De tal modo parece ser assim que até a lei eleitoral, ao não contemplar a anulação dos votos irregulares após o sufrágio, lhe dá cobertura. Dá para perceber que o legislador está cada vez mais focado no resultado final e cada vez menos atormentado com os meios como são conseguidos. Por outras palavras, se é que alguma vez as eleições tiveram as características da consciencialidade, da espontaneidade, e da liberdade, dá para ver que -numa espécie de vou ali descarregar o caderno eleitoral e volto já- o que conta mesmo é o eleitor lançar o voto numa urna e nada mais. O que vier a seguir já entra num campo obscuro que pouco importa analisar.

sábado, 14 de outubro de 2017

FALECEU O JOÃO MONTEIRO (DA JOANINHA)

Foto de Ana Monteiro.
(Foto retirada abusivamente da sua página do Facebook)




Durante décadas, até Setembro de 2008, o João Manuel Morais Monteiro foi nosso companheiro diário a percorrer estas pedras milenares. Vencido por doença incurável, deixou-nos ontem aos 66 anos de idade. Morreu desta vida existencial, mas a sua memória ficará para sempre ligada à Baixa, ao seu comércio, ao seu desenvolvimento social e económico.
Com a loja de brinquedos Joaninha, em frente à Câmara Municipal de Coimbra, durante muitos e largos anos, sendo um comerciante garboso e de brio, contribuiu para que muitas crianças, através de brincadeiras, pudessem sonhar e evoluir intelectualmente. Foi neste grande estabelecimento que adquiri muitos dos divertimentos para os meus filhos e conheci o Monteiro. Certamente, quem faz o favor de ler o que escrevo, teria sido lá também que tantas vezes teria comprado imensos passatempos para os seus miúdos e descendentes.
Mas foi em 1998 que vim a conhecer mais profundamente o João. Juntamente com outros colegas comerciantes, fizemos parte de uma direcção da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra, e então, sim, vim a conviver mais e, tornando-nos amigos, a reconhecer melhor o Monteiro. 
Homem de profundas convicções ideológicas, que acreditava na justiça e que a política era missão séria para quem a praticava como múnus em direcção ao bem comum, acabou por se tornar uma vítima dessa (in)justiça e, com esse acto de distrate,  um céptico e profundamente descrente com o futuro do nosso país. Resultado de jogadas eleitorais em torno do Metro Ligeiro de Superfície e também de opções erradas por si tomadas, infelizmente a vida comercial não lhe correu bem e a mágoa desse falhanço, porventura, tê-lo-á acompanhado até ao último suspiro. Se o João Monteiro, agora finado, já acertou contas, outros, aqueles que, em lugares de poder, na altura, ajudaram ao seu afundanço, inevitavelmente, pagarão também pelos seus erros. Ninguém pense que se livra do julgamento natural. A Natureza não perdoa, corramos para onde quer que seja, não estaremos livres do seu braço justiceiro.
O corpo do saudoso extinto encontra-se em câmara ardente na capela funerária da Igreja de São José. O funeral será amanhã, Domingo, pelas 12h00.
À família enlutada, nesta hora de intenso sofrimento, em meu nome, em nome da Baixa, se posso escrever assim, os nossos mais sentidos pêsames. Até sempre João! Descansa em paz!

ENCERROU UM CAFÉ NO MEU BAIRRO




Escrevi este texto em 2013. Ainda que seja feio a
auto-citação, decidi voltar a postar a crónica dos
tempos passados mas tão presente na actualidade.


Há cerca de vinte anos encerrou a primeira mercearia no meu bairro. Eu não me importei com isso. Para além de não ser merceeiro, em boa verdade eu julgava haver demasiadas vendas do género. E mais, de vez em quando o senhor Mendes, o tendeiro, até embirrava comigo quando lhe pedia um quilo de açúcar fiado. Isto para mais de já estar farto daqueles móveis antigos e sempre acompanhados daquele cheiro intenso a bacalhau. A seguir foi a loja de ferragens do Ganilho, do Augusto Neves e outras. Também não quis saber. De certo modo até me senti vingado. Os filhos da mãe abusavam no preço do quilo dos pregos e, para mim, eram antipáticos. Não me importei. Afinal até havia outras lojas de ferro cá na zona. Depois foi o supermercado Colmeia que eu frequentava, ali na rua principal. Não me deu grande abalo. Aliás, até interiormente fiquei contente, os gajos carregavam à bruta no custo da fruta. Outros seguiram o fenéreo. E depois? Tivesse eu dinheiro, que não faltava onde o gastar e pequenos mercados para fazer compras.
Passado um tempo, na rua dos bazares, uns a seguir aos outros, começaram a fechar todos os estabelecimentos de brinquedos. Sei lá, o Bazar do Porto, de Lisboa, de Coimbra. Foi tudo à vida. E que me importava isso a mim? Ora, ora! Era certo que lá comprei quase todos os divertimentos para os meus filhos mas agora eles já estavam crescidos. Aqueles museus interactivos de brincadeira infantil não faziam falta nenhuma, e não me importei.
O velho café, aquele das tertúlias, o Arcádia, encerrou e passou para um pronto-a-vestir. Não deixei de dormir por causa disso. Eu nem lá ia! Até digo mais, com o seu desaparecimento até fiquei aliviado. Nunca fui à bola com os tipos que o frequentavam. Tinham a mania da superioridade. Até pareço estar a vê-los: erectos, pêra e barbicha, grandes bigodaças e pêlo na benta. Sempre me irritou aquela maneira altiva dos doutores. Já antes tinham fechado os cafés Internacional, a Brasileira, a Central e outros ainda. Eu tinha alguma coisa com isso? O tempo foi passando e reparei que o quiosque onde comprava o jornal diariamente encerrou. Não dei grande importância ao assunto. Sinceramente até andava a pensar em deixar de comprar periódicos. Para que ando eu a encher o cu aos tipos da imprensa que, em pagamento de martírio, estão sempre a bombardear-me com más notícias? Além de mais, se esta tabacaria fechou havia outras certamente. Aquilo não me causou dores na carapinha
Soube depois que claudicou a mais importante livraria cá do burgo, a Atlântida. Não sei bem, mas creio que já durava há uma catrafada de décadas. Não me importei nada. Raramente compro um livro! Para quê? São caríssimos! E depois é cada tijolo que até me apetece mandá-los à cabeça da minha sogra. Cerrou portas aquela e outras que foram na fila? Não liguei patavina. Não me faziam falta nenhuma. Há sempre outras e outras ainda que, depois da morte desta, nascerão. Fechou o estabelecimento de artigos decorativos o Neves & Companhia, na rua de cima. Eu nem perdi um segundo a pensar nisso. Depois foram atrás a Crislex, o Saul Morgado e a Casa Bonjardim. Não me faziam falta nenhuma. Havia comércio a mais! Eu queria lá saber disso?! Até era bom para os que ficavam. Começaram a desaparecer as casas de artigos eléctricos cá do bairro e eu comecei a ter alguma dificuldade em encontrar um componente para o meu computador. Mas também não me causou engulho. Em qualquer altura pego no meu popó e vou comprar ao centro comercial mais próximo.
Reparei que começaram progressivamente a encerrar todas as casas de música, que vendiam discos e cd’s. Não quis saber. Eu até fazia uns download’s gratuitos na Internet. Que tinha eu a ver com isso?
Esta semana encerrou o meu café, aquele onde ia beber a bica todos os dias. Era lá que ia comer e saborear o meu bolinho ao lanche e ler o jornal à borliú. Era o café da rua estreita, não sei se conheciam este pequeno estabelecimento... Se calhar não! Quase de certeza de que não! Foi então que comecei a ficar preocupado. De repente, constatei que não tenho mais nenhum bar com aquelas condições familiares na minha zona. Mas agora é tarde para começar a ralar-me. O proprietário já lá vai e nem quer que lhe falem da sua (má) experiência na hotelaria.
Será que ainda vou a tempo de evitar que encerrem outras casas comerciais cá no meu bairro? Sim, o melhor é começar já. É que lembrei-me agora: eu também sou comerciante e provavelmente irei a seguir.