sábado, 28 de fevereiro de 2009

ABERRAÇÕES E HIPOCRISIAS DO TIO SAM

(ESTE APODO VAI PARA OS HIPÓCRITAS USA E OS SEUS ACÓLITOS NO RECTÂNGULO)


Os jornais diários nacionais de ontem e hoje, em grande destaque, afloram o facto de, segundo um relatório elaborado pelo Departamento de Estado dos EUA, as forças policiais portuguesas violarem os Direitos Humanos.
Citando o jornal Correio da Manhã, “Além de eventuais abusos da polícia portuguesa, o documento critica ainda as más condições das prisões, a violência sobre mulheres e crianças e também o tráfico de mão-de-obra de mulheres”.
Em face deste estranho comunicado, vindo de quem vem, logo uma certa esquerda, que há mais de trinta anos anda de costas voltadas para as polícias e nunca conseguiu ultrapassar o “complexo da farda”, rejubilando pelo facto, tratou logo de destilar veneno contra as forças da ordem.
Falar de coerência para esta gente será o mesmo que tentar impor o casamento civil homossexual à Igreja Católica. Não creio que nacionalismos exacerbados sejam a solução para alguma coisa, no entanto, um pouco de defesa da nossa dignidade enquanto nação precisa-se e nunca fez mal a ninguém.
Como pode uma potência imperialista como os Estados Unidos da América, em que, fazendo tábua rasa dos direitos humanos, leva a julgamento crianças a partir dos dez anos de idade. Que mantém em vários Estados a pena de morte como pena capital, para além da prisão perpétua. Onde a violência policial, a segregação e a discriminação de pretos, brancos (mexicanos), outras cores, e nacionalidades, são tratados abaixo de cão. Que mantém, ainda em funcionamento, na prisão de Guantánamo, ilha de Cuba, encarcerados políticos sem culpa formada, cujas condições dos presos mantidos no campo foram motivo de indignação internacional por parte de organizações humanitárias internacionais, vir com mensagens doutrinárias para quem, nem ao de leve, toca as atrocidades praticadas por aquela potência mundial.
É por isso, ou não –pelo colocar-se de cócoras e pelo aval corroborado de alguns pseudo-ultra defensores nacionais de direitos humanos- que, hoje, as polícias, nomeadamente a PSP, perderam toda a sua identidade. De uma força de segurança nacional passou a uma caricatura de polícia. Também não admira, perante o “ámen” destes defensores dos pobres delinquentes ultrajados, que assim procedam. Se eu fosse polícia faria exactamente igual.
Só gostava de saber se estas pessoas tão lestas a colocarem-se ao lado dos hipócritas forem assaltadas, violentadas ou agredidas, depois disso, continuarão a achar que as polícias exorbitam as suas competências.
É por estas e por outras que o país, a nível de segurança interna, está como está.

UM APELO RECEBIDO DO BLOGUE DENÚNCIA COIMBRÃ



Denúncia Coimbrã
Vamos todos ajudar o Fernando

Uma doença degenerativa atirou para uma cadeira de rodas Fernando Simões. Hoje com 34 anos, ex-empregado de hotelaria (trabalhou em Coimbra diversos anos), depende do seu pai – único companheiro familiar. Fernando vê a única possibilidade de recuperação em Cuba, onde existe possibilidade de cura. Sem apoios institucionais que lhe possam valer e com um mísero subsídio de € 350, Fernando vê-se na iminência de se tornar eternamente dependente e nunca melhorar as suas condições de vida.
Os tratamentos necessários em Cuba custam cerca de € 3500, mais viagens, mais despesas de estadia e alimentação (para ele e seu pai). Fernando, e o seu único familiar, não têm esse dinheiro. Ora, cabe a todos ajudar.
Nunca esqueça: se não se chamar Fernando, amanhã também não terá esse nome. No entanto, poderá ser atirado para uma cadeira de rodas com fatalidade idêntica, tal como o Fernando. Não gostaria de ser ajudado se tivesse nas mesmas condições? Então ajude agora: Deposite o que puder na conta do Fernando Simões 00453110416643917310 (NIB).
Para qualquer esclarecimento poderá contactar o Fernando 96 7913801.
(TEXTO RECEBIDO POR E-MAIL DO BLOGUE DENÚNCIA COIMBRÃ)

AUGUSTO LUSO: UM PINTOR DE COIMBRA




(DUAS OBRAS SAÍDAS DA CRIAÇÃO DE AUGUSTO LUSO)

Certamente, muitos de vós, há uns tempos atrás, já o viram a pintar nas ruas da Calçada. Refiro-me a um artista plástico de seu nome de baptismo José Martha Aragão. No meio das pinceladas, entre o abstracto e o impressionista, é simplesmente conhecido como o Augusto Luso. É assim que assina as suas obras.
Falar do Augusto Luso não é fácil para mim. Começarei pelas coisas boas: é um bom homem. Educado, de trato simples, nota-se a sua elevada cultura. Filho de gente com tradição em Coimbra, frequentou as melhores escolas, como por exemplo o Liceu Camões, em Lisboa. Licenciou-se em Direito, em 1972, na Faculdade Clássica de Lisboa. Exerceu durante 12 anos. Abandonou a jurisprudência, a arte do bom e do equitativo, em 1985. Andou por Viena (Áustria), pintou em Monteparnasse (França), onde frequentou os velhos cafés da capital parisiense.
Voltou a Coimbra, onde não foi feliz com o amor. Por vezes, vá-se lá saber porquê, a vida é madrasta. Como Karma imanente, colado ao corpo como alma, que não se escolheu como companhia, por vezes, sem que se queira, somos empurrados para o abismo. Seja por que tenhamos de pagar erros de outros antepassados ou não, a verdade, é que o destino, como se fosse injusto e nos quisesse permanentemente pregar partidas, abre-se-nos à frente como única alternativa possível.
Aos 63 anos de idade, Augusto Luso, o mestre das artes plásticas, das pinceladas multicolores da vida, que faz o que quer da criação artística, como troca-tintas da vida, não consegue acertar nos carris do futuro. Mas o Augusto é um homem de fé, e, por entre dois dedos de conversa, lá vem: “se Deus quiser, tudo vai correr bem. O Criador, na sua omnipotência, vela por mim. Ele sabe que eu, para além de me esforçar, sou um homem bom”.

HOJE FOI DIA DE FEIRA DAS VELHARIAS






Como se sabe, ao 4º sábado de cada mês, em Coimbra, na velha Praça do comércio, realiza-se mensalmente a feira de Velharias.
Hoje, como o tempo estava convidativo, apesar das promessas de chuva e frio para a tarde, a verdade é que esta alegoria esteve bastante concorrida. Apesar da crise não há quem resista a uma peça antiga dos seus tempos de criança, que a faça rejuvenescer e voltar a trás. Ninguém resiste à memória. Adquirir uma pequena peça que nos faça viajar no tempo é como temperar a nossa agitada vida com sal.
Normalmente, as velharias estão para o homem como a religião. Há medida que envelhecemos, e sentimos a vida a encurtar, viramo-nos cada vez mais para as memórias de outros tempos, que nos façam reviver, e para o transcendente. Agarramo-nos a eles como náufrago a um rolo de madeira em pleno alto-mar.
Em relação às velharias e ao brique-à-braque, é extraordinária a mística e a devoção envolvente. Já tive pessoas a chorar ao pé de mim perante uma memória que os marcou na infância.
A nossa vida, algumas vezes cheia de tudo, é complementada com estes pequenos nadas. Só quem já sentiu ser invadido por esta carga memorial do tempo, entende bem daquilo que escrevo aqui.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A ÚLTIMA TREMOCEIRA




A Dona Adelaide, para quem frequenta a Baixa, é uma cara demais conhecida de todos nós. No tempo da castanha assada, há anos e anos que é normal vê-la na Praça 8 de Maio com um carro em forma de triciclo. “Este ano já não assei castanhas, não prestavam para nada. Além disso, tive um princípio de trombose” -um AVC, acidente vascular cerebral- e fiquei meia apanhada desta perna", diz-me a senhora Adelaide apontando a perna dorida. As rugas, bem vincadas no rosto, como o algodão, não enganam: esta mulher passou muito para chegar aos nossos dias. Apesar disso, do alto dos seus 85 anos, está muito bem, tendo em conta a sua longevidade.
Encontrei-a sentada no lancil que acompanha a rampa no início da Rua Visconde da Luz. Há vários meses que, pela comodidade, montou ali a sua banca de venda de tremoços, amendoins, pevides e pistáchios. “Mas eu sempre vendi tremoços”, alerta-me, não vá eu confundi-la apenas como vendedeira de castanhas. “Há 60 anos que ando aqui a vender na Baixa. Sempre fui muito pobre, sabe, menino? O meu marido foi sacristão da Igreja de São Tiago, anos e anos que nem lembro. Ganhava muito pouco. Infelizmente, Deus levou-mo há dez anos. Faz-me muita falta!"
Quando lhe pergunto se o que vende ali vai dando para viver, responde: “mal, muito mal. Vende-se muito pouco. Está tudo muito caro. Nos pistáchios ganho apenas vinte cêntimos”.
E a reforma?, interrogo, “ai, menino, mal dá para os medicamentos. Coitado de quem é velho… e só no mundo”, responde por palavras espaçadas, como se as arrancasse do fundo da alma.
E como é que carrega estas coisas, estando doente da perna, interrogo, “olhe, menino, é a minha vizinha que me vem pôr aqui as coisas para eu poder vender”. Ai é? –fico admirado. Ainda bem para si, felizmente que ainda há gente boa. “Boa? Qual boa, qual carapuça! Pago-lhe para ela me trazer aqui as coisas”.

O ARTISTA DE HOJE...NA BAIXA




Quem passou à hora do almoço na Rua Visconde da Luz, certamente não lhe passou despercebido e notou este artista do Saxofone. Um bom instrumentista. Gostei de o ouvir. Como ia com pressa não deu para trocar umas impressões. Não sei se será português. Intuo que não será, mas um dia destes falarei com ele e, então, ponho tudo em pratos limpos. Ou melhor, ponho a música toda a limpo.

O "ZÉ MANEL DOS OSSOS"

(No andar superior comemos na companhia de Augusto Hilário da Costa Alves -O grande precursor da canção de Coimbra, "Hilário", simplesmente como ficou conhecido, embora também se diga que se chamava Lázaro Augusto, andou por Coimbra por volta de 1890, onde frequentou o curso de medicina, vindo a morrer antes de o terminar)





Agora que a Câmara Municipal acordou para o valor patrimonial e turístico das populares casas de “copo e bucha”, criando a “Rota das Tabernas”, dando, finalmente, ouvidos a um historiador e grande amante do património gastronómico e cultural, Paulino Mota Tavares, há uma casa, na Baixa, que é conhecida no mundo inteiro: O “Zé Manel dos ossos”.
Situada no Beco do Forno, por detrás do Hotel Astória e paralelo ao Banco de Portugal, este estabelecimento com mais de cinco décadas se falasse teria milhentas histórias para contar. Mas o interessante é que o seu fundador, o Zé Manel, atento às limitações naturais desta casa de cultura, de uma forma “sui generis”, tratou de que o registo de quem lá passou ficasse marcado em centenas e centenas de mensagens em papel de toalha coladas nas paredes do andar superior. Têm várias camadas sobrepostas, entre poesia e prosa, ou simplesmente pela simples “laracha”, umas em cima das outras.
Há dias estive lá a jantar –a comida é uma maravilha, diga-se a propósito. Enquanto esperava pelo repasto li frases com décadas. O empregado de mesa, sempre solícito e bem disposto, às minhas observações, juntava umas pitadas de humor. Ainda lhe perguntei se nunca tinham pensado em transferir todo aquele arrazoado de expressões escritas para um livro. Seria muito interessante e, quanto a mim, viria enriquecer ainda mais aquele “museu” pantagruélico. Não me deu grande saída. Lá foi dizendo que “o senhor “Zé Manel”, pela idade, já não está à frente da casa. Além disso, as camadas sobrepostas, umas sobre as outras, são tantas que ao retirar as de cima destruiria as do fundo”. Tem lógica, mas, mesmo assim, lá lhe fui dizendo que valeria a pena tentar. Estou certo que depois de eu sair, o simpático empregado, nunca mais pensou no assunto.
Se o leitor passou por aqui, por Coimbra, e quiser matar saudades da boa comida do “Zé Manel”, faça uma visita a esta casa. Acredite que não ficará a perder. Para além do seu “ex libris”, os deliciosos ossos, tem também um delicioso bacalhau. Venha cá, à Baixa, a esta casa e verá que não o enganei.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

UMAS IMAGENS PARA ADIVINHAR





Estas imagens que vos deixo são de uma das casas mais castiças da Baixa de Coimbra. Este imenso rol de papéis que se avistam nas paredes contém mensagens ao longo dos últimos cinquenta anos. Por aqui já passou meio Portugal, desde presidentes a primeiros-ministros.
Para já não lhe vou dizer nem onde fica nem de que se trata. Conto-lhe tudo amanhã.

O MUSEU DO CHAPÉU AO LADO


(SE ATENTAR BEM, VERÁ O ROSTO DO VELHO BRAGA, POR ENTRE CHAPÉUS, NESTA FOTO)







 Muitos de nós, estou certo, já passámos milhentas vezes em frente ao “Bragas, Lª” e, se calhar, nem ligámos muito. Poucos saberão que esta “casa-museu” -no bom sentido do termo, isto, é na projecção da ancestralidade-, situada na Rua Visconde da Luz, em Coimbra, tem mais de oitenta anos de existência e, segundo tudo indica, felizmente, está ali para as curvas. 
Transpor as portas deste estabelecimento, por analogia, será o mesmo que entrar numa máquina do tempo que nos transporta ao início do século XX. As suas paredes aconchegantes e “forradas” com mobiliário “arte noveaux” em bege, a condizer com o tecto de madeira, atesta o fino gosto dos “loucos anos” de 1920 e a moda vinda de Paris.
O “Bragas, Lª” foi uma das casas mais chiques de Coimbra, naquele tempo em que usar chapéu, para além de ser um imperativo de “status”, era também uma cultura imposta pelo hábito e pelo tempo. Toda a cabeça, masculina ou feminina, que se prezasse tinha de andar coberta –o contrário seria considerado sacrilégio. Era uma espécie de gravata dos tempos modernos. Como tudo nesta vida, os costumes são dinâmicos e naturalmente que o chapéu, com o passar dos anos, foi sendo posto de lado. Acompanhando esta tendência do uso, as muitas casas de abrigos para as cabeças existentes na cidade, aos poucos, foram morrendo, ou, pela necessidade de sobrevivência, se foram adaptando aos novos tempos. A maioria claudicou e passou para o pronto-a-vestir.
Hoje na cidade existem apenas duas casas especializadas em chapéus e ambas na Baixa. Uma na Rua Ferreira Borges, de que falarei um dia destes, e outra, então e como é óbvio, esta de que escrevo em título.
Vou contar pequenos excertos da sua longa vida comercial.
Este deslumbrante remanso comercial continua na mesma família desde há quatro décadas. À frente do estabelecimento está o Luís Braga, de cerca de quarenta e poucos anos. Lá atrás, como vigilante de um velho castelo, a espreitar por entre as ameias -que neste caso concreto são espaços por entre rimas de chapéus e caixas de camisas- está o velho Braga, octogenário, com oitenta e oito anos, o pai do Luís. Fala pouco para quem entra no seu domínio. Estou certo que também não precisa. O seu alimento físico e espiritual é o estar ali, no seu território, a ver entrar e sair pessoas. Dá para notar que este estabelecimento, apesar de encantador de sonho das mil e uma noites, comercialmente não está nem melhor nem pior do que os outros que se modernizaram e que, na prossecução de um negócio melhor, investiram milhares de euros em decoração moderna. A maioria, indo na cantiga de paladinos pregadores da modernização absolutista, substituiu velhos balcões, estantes e mobiliário de madeira por reluzentes alumínios. Ao fazerem essa troca, para além de se endividarem financeiramente, perderam a sua identidade de décadas.
Não sei o que pensará o velho Braga desta queda abrupta do comércio, mas não será difícil de adivinhar o que vai na sua cabeça. Aquela casa é a extensão da sua alma, é todo o seu mundo. De boas recordações do passado, de um presente que gostaria de apagar mas até já nem lhe causa dano e um futuro carregado de nuvens negras. Não é preciso ser presciente para pressentir que o velho mercador, como timoneiro de navio, vai morrer agarrado ao leme do seu imaginário transatlântico.
Quando pergunto ao filho, Luís Braga, como vai o negócio, responde-me: “olhe, vamos como os outros. Presentemente, já não temos empregados, portanto estou só” -considerando que o velho pai é apenas uma boa e indispensável companhia. “Vamo-nos aguentando porque as despesas são poucas. Não pagamos renda (o prédio é nosso) e só assim nos é permitido aguentar e estar aqui. Continuamos a apostar em chapéus de qualidade. Esta loja é a projecção de toda a vida do meu pai”, remata o prossecutor da obra comercial do velho Braga. Antes de o referir, com ênfase, já eu tinha calculado.
Convido-o, leitor, venha daí. Entre neste estabelecimento, e, como eu, saia de alma cheia. Que bom seria se estes “monumentos” de antanho se mantivessem em actividade diária no seio das nossas cidades.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

O ERRO DE COUBERT




Gustave Courbet (1819-1877) foi um pintor anarquista. Seguidor da escola realista, onde a verdade transparece numa observação impressa em pinceladas precisas de um impressionismo invulgar.
A “Origem do Mundo”, pintada em 1866, é talvez a sua maior obra identificativa com o movimento realista. Esta obra provocadora, segundo reza a história, já nessa altura foi perseguida e ostracizada por uma burguesia hipócrita e defensora de uma moral inexistente.
Como se sabe, a PSP de Braga, no domingo, apreendeu numa feira de saldos de livros vários exemplares de “Pornocracia”, de Catherine Breillat, editado em Portugal pela Teorema. Apesar de entretanto devolvidos, o acto discricionário desta polícia está a indignar juristas e intelectuais do rectângulo. Consideram, para além da profunda ignorância deste corpo de polícia, nomeadamente entre outros, “um atentado à liberdade de expressão”.
Se juntarmos o auto de apreensão da juíza de Torres Vedras, em que também o que esteve na sua origem foi, depois de uma participação de um cidadão, uns nus femininos, começamos a entender a procissão que ainda agora vai no adro. Como se sabe, também aqui a meritíssima voltou atrás.
Voltando à indignação de juristas e intelectuais, consideram estes que o que está na origem de tais actos apreensivos é a “ignorância e uma falha monumental no campo da cultura”.
Para mim o que me surpreende não é tanto esta ignorância das polícias e do poder judicial –todos somos ignorantes- mas sim uma nova classe de zelotas que, num excesso de zelo, devagar, devagarinho, vão impondo, tal como em meados do século XIX, uma nova moral, fundada na hipocrisia, na mentira da falsa virtude pública.
E, quando chamo zelotas –poderiam chamar-lhes jacobinos- refiro-me a certos cidadãos comuns. Estas pessoas, cuja vida sexual deve ser um tremendo aborrecimento, mandam a sua frustração para cima de quem pensa de modo diferente. Coubert, com o seu feitio satírico, na tumba, deve estar a rir-se a “bandeiras despregadas”.
É uma tristeza, para a sociedade contemporânea, que se diz moderna, continuar a agir da mesma forma igual a um século atrás.
É um anacronismo continuarmos (alguns) a fugir das questões sexuais –imagens, ou mesmo a própria discussão do tema- como o diabo da cruz. O sexo, para além das questões filosóficas, é o acto mais encantador que pode ligar dois entes –homo ou hetero. Se assim é porque este esconder a questão, embrulhando-a em papel de veludo com cheirinho a moral podre?
Passados mais de três décadas da queda do “Ancien regime”, tudo indica que falar de sexo será cada vez mais tabu.
Volte a olhar esta preciosíssima obra que retrato em cima. Diga lá: como é que podem haver pessoas que não gostem duma imagem destas? Não apetece beijá-la?
Quem se queixa e considera ser atentado ao pudor é ignorante? Não. É simplesmente estúpido.

O QUEIRÓS, HOJE, ANDOU ENTRE NÓS



Francisco Queirós, o anunciado candidato do PCP à Câmara Municipal de Coimbra, hoje, durante a manhã, andou na Baixa a entregar uns panfletos e a visitar os estabelecimentos comerciais. Tudo até estaria bem, não fosse o caso de trazer um séquito de jornalistas atrás, que mais parecia o Presidente da República. Está bem que estamos a meses das eleições mas, quanto a mim, para começar, bem poderia fazer esta volta particularmente dando-se a conhecer aos comerciantes.
Por acaso, porque lhe calhei em sorte, visitou-me também. Como não poderia deixar de ser, disse-lhe o que pensava da sua candidatura. Achei graça porque comecei a falar com ele e não me tinha apercebido do magote de jornalistas que estavam atrás dele a tomar notas.
Quanto ao panfleto que me entregou, com o título “COIMBRA –Defender o Comércio Tradicional”, confesso, não diz nada de novo. Para além de eleitoralista, é uma missiva onde o “déjà vu” é uma constante, como comida requentada, onde as frases são mais batidas do que a bigorna do Zé Plácido.
Com vários subtítulos “Basta de injustiças –O PCP propõe: Outra política de Crédito. A seguir vêm então discriminadas as premissas reivindicativas: “Investimento Público –Elemento estruturante no combate à recessão económica; Apoiar o Comércio Tradicional –Salvaguardar o aparelho produtivo nacional e defender o emprego; Dar Vida ao Centro –Dinamizar o centro histórico, salvaguardar o comércio tradicional”.
Neste último item, “Combater a liberalização dos horários do comércio; Defender serviços públicos como factor de desenvolvimento; Promover políticas de atracção de população para os centros históricos”.
Terminava a mensagem propagandística com o slogan: “SIM É POSSÍVEL…Uma vida melhor!...Mais força ao PCP”.
Sinceramente, analisando esta mensagem, esperava muito mais do Partido Comunista Português. Mesmo antes de a ler, tal como disse ao candidato e reputado professor Francisco Queirós a Baixa precisa de mais pragmatismo, mais acção, e menos conversa. Os políticos só se lembram desta zona velha em tempo de campanha eleitoral. Se forem eleitos nunca mais falam dos seus imensos problemas e das dificuldades de quem aqui habita e trabalha. Se ficarem na oposição, porque não foram eleitos, utilizam o centro histórico como arma de arremesso contra o executivo eleito.
Para mim, localmente, o que contam são as pessoas, independentemente do partido que representam ou a ideologia que defendem. E, a ser assim, gostava de ver estes pequenos partidos com uma mensagem clara e diferente do que todos -grandes e pequenas organizações políticas- apregoam.

MAIS UMA MONTRA PR'Ó "GALHEIRO"




Há pouco mais de uma semana a Perfumaria Balvera, na Rua Eduardo Coelho, na Baixa, mais precisamente na noite de domingo dia 15, pelas 21,30, foi assaltada. Quem o fez, rebentou com o vidro da montra e roubou vários artigos de perfumaria no valor aproximado de cerca de 300 euros.
Esta noite, como que a provar que o ladrão volta sempre ao local do crime, mais uma vez esta perfumaria teve outra tentativa de assalto. Outro vidro da montra testemunha que, provavelmente, algo fez desistir o reincidente “estilhaçador” de vidros. Como se sabe, infelizmente, à noite, a zona histórica não têm pessoas. Atendendo a esta premissa, só um gato ou um cão poderia ter assustado o ladrão. Perante este (in)feliz acaso já há comerciantes a pensarem trazer todos os cães da redondezas para aqui. Além de mais, ao que parece, o canil Municipal está repleto de animais. Ora, para além de ser uma obra de misericórdia para os caninos –evitando o seu abate- poderiam servir de guarda aos estabelecimentos, já que com a polícia, PSP e Municipal, não se pode contar.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

ENFIAR OU TIRAR A MÁSCARA?



Amanhã é terça-feira, dia de Carnaval,
não sei se tire ou afivele outra máscara,
ando tão mascarado que já não sei quem sou,
dizem-me ser natural, já ninguém leva a mal,
que o tempo longo da mentira a isso nos habituou;
Mas, às vezes, até me esforço, palavra, de verdade,
tento ser sério, dizer o que penso, sem aldrabar,
afinal é uma premissa da nossa liberdade,
não acreditam em mim, dizem que estou a brincar,
lá volto eu à falsidade dentro da legitimidade;
Olho à volta, vejo todos mascarados,
uns de bons pais, chefes de família, sorridentes,
outros de bons professores sem serem examinados,
vejo polícias, juízes, ministros e até presidentes,
todos são felizes nos papéis desempenhados;
Tiro a máscara ou mantenho a usual?
Se remover esta, logicamente, vai-me doer,
está colada à pele, de certeza que me faz mal,
fico outro, no espelho, não me vou reconhecer,
vou parecer um marinheiro perdido no areal;
E se eu enfiasse uma máscara de capitalista?
Enchia o peito de ar, não ligava à burguesia,
andava de bom carro, perdia este ar miserabilista,
comprava um avião, um barco e ia à maresia,
deixava de contar cêntimos como um contabilista;
E se eu escolhesse uma máscara de poeta sonhador?
Escreveria coisas bonitas, rimas que ninguém escreveu,
cantaria aos sete ventos a minha poesia como trovador,
gentes iam recitar os meus versos, mesmo quem nunca leu,
em qualquer parte do mundo, seria a chave do amor;
E o que é que eu faço à máscara que me faz feliz?
É certo que às vezes me decepciona, e sofro de solidão,
como consciência, faz-me pagar por erros que nunca fiz,
em arrependimento, de dor, faz sangrar o meu coração,
vou mas é ficar com esta, foi esta que sempre quis.

REGRESSOU A ÉDITH PIAF DA CALÇADA

(ESTA É A IMAGEM DA DIVA PARISIENSE)


(AQUI A PATRÍCIA, HOJE, EM PLENA PERFORMANCE, NA BAIXA)

Já aqui falei da Patrícia. Esta instrumentista de concertina, de raro talento, que por amor à música, abandonou o curso de Psicologia, costuma presentear os nossos ouvidos com acordes celestiais, como se viessem de um mundo de paz, feito à medida de todos nós, onde as pessoas se encaram como iguais, sem ter em conta a cor, o credo ou a ideologia. Onde não há inveja, maldade, onde não importa o estatuto e o lugar que ocupam na sociedade, o que conta é o valor pessoa. Ali, nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz, a música tocada pelos seus exímios dedos, saída, como milagre, do pequeno instrumento de fole, faz a ponte entre o mundo que temos e vivemos e o idealizado no sonho de um dia termos um mundo melhor. E a música é, sem dúvida, a língua mais “falada” do planeta.
A Patrícia, como andorinha que hiberna, esteve um tempo ausente do nosso convívio. Tenho a certeza que os transeuntes diários daquelas artérias sentiram a sua falta. Esta doce rapariga é já um ícone da Baixa.
“Felizmente tive muito trabalho na música e não pude vir durante estes quase dois meses. Gosto muito de tocar na rua. As pessoas são muito generosas e olham para mim como uma artista e não como alguém que anda “por aqui”. É muito gratificante sentir que sou desejada”, referiu-me a minha baptizada como “Édith Piaf da Calçada”, pelas extremas semelhanças com a cantora parisiense e reconhecida internacionalmente pelo seu talento.
Quando passar pela Patrícia, pare um pouco e deixe-se envolver pelos sons melódicos e de paz interior que ela transmite. Se lhe for possível ajude com o que puder, uma nota ou moeda. Não esqueça que ao dar está a contribuir para que esta (ou outros) artista continue a encantar as nossas ruas. Não confunda esta ajuda com o óbolo que dá a um mendigo. Embora este gesto, em legítima liberdade de cada um, possa ser questionável, porque, muitas vezes, podemos estar a contribuir para o seu aumento, nada tem nada a ver com o que se dá a um músico ou outro qualquer artista que encontramos numa rua qualquer da nossa cidade. Estes artistas, marginais no sentido de não alinhados no sistema tradicional, com o seu trabalho público –pouco reconhecido, diga-se a propósito-, permitem a democratização das artes, no acesso facilitado a um público heterogéneo. Se assim não fosse, num país em que as artes são um filho bastardo, muitas pessoas nunca tomariam contacto directo com uma miscelânea artística, dividida entre o erudito e o popular. Como se pensa, infelizmente, que tudo o que é grátis não presta, é neste aforismo falacioso que, porque se mostram na rua, logo serão renegados pelo meio artístico, e não têm valor. Nada de mais enganoso. Há muitos artistas que tocam na rua pelo gosto. Pelo contacto pessoal das pessoas. A Patrícia é uma delas.

MAIS UMA CASA QUE ENCERROU




Já se sabe, e está farto de ser repetido, um pouco levianamente, por quem tem responsabilidades acrescidas no comércio, as empresas são como as pessoas: nascem, crescem, atingem o pico máximo, decrescem e morrem. Neste ciclo de vida ou de morte, desta vez, calhou em sorte, ou em azar, um estabelecimento de pronto-a-vestir, o FABIO LUCCI, na Avenida Fernão de Magalhães, ali em frente à escola de São Bartolomeu, que encerrou há dias.
Mais uma que se vai. É mais uma luminária que se apaga no universo comercial. O problema é que, de candeeiro em candeeiro, o firmamento comercial vai ficando cada vez mais escuro e pobre.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

UM COMENTÁRIO RECEBIDO (SOBRE A POLÍCIA MUNICIPAL)




= l u i s = deixou um novo comentário na sua mensagem "POLÍCIA MUNICIPAL: MÁQUINAS COM FARDA":

Esses senhores e senhoras da Polícia Municipal de Coimbra não têm qualquer respeito pelos cidadãos e com as suas atitudes insolentes contrariam toda a sua razão de ser. As acções deles (diga-se "passar multas", pois pouco ou nada se vê fazerem a não ser multar...) parecem sempre depender dos seus estados de humor, da meteorologia, de como a farda lhes está a assentar naquele determinado momento e também da "simpatia" ou não que têm por este ou aquele cidadão em particular... Pela minha experiência pessoal, através do contacto directo com diferentes agendes, chego à conclusão de que existem muitos "pinheiros doentes" na PM. Não é possível comunicar com esses senhores. O mal vem de cima, como se costuma dizer, o que neste caso também se aplica, pois também não se consegue comunicação por parte dos superiores. Quando se aborda um Polícia Municipal por algum motivo, não falam, limitam-se a soltar frases pré-gravadas, parecem autênticos "autómatos multadores" programados apenas e só para passar multas. (Repito, falo pela minha experiência pessoal) É urgente uma verdadeira Polícia Municipal, que se preocupe de facto com os cidadãos, a todos os níveis, em todas as áreas.

POLÍCIA MUNICIPAL: MÁQUINAS COM FARDA



Hoje, pelas 9,30, parei a minha viatura junto à Loja do Cidadão para descarregar um móvel. Como avistei dois agentes da Polícia Municipal (PM)–um masculino e outro feminino-, enquanto me lhes dirigia, pedi se me davam apenas cinco minutos para levar o móvel ao estabelecimento, que dista cerca de menos de 100 metros daquele local, enquanto a minha filha ficava no carro.
“Não senhor, aqui ninguém pode parar”, argumentaram os dois agentes municipais quase em coro. Fiquei profundamente irritado perante tal prepotência indisfarçada e avancei com a viatura cerca de dez metros para retirar com o “rabo entre pernas”, como sói dizer-se. É então que me apercebo que, no local de proibição de paragem, estavam estacionadas seis viaturas.
Parei à frente e, correndo todas as viaturas uma por uma verifiquei que nenhuma tinha a respectiva multa de contravenção. Novamente, interpelei os agentes interrogando do motivo daquelas viaturas, estando em local de proibição, não serem multadas. Respondeu o agente: “estas não são porque já cá estavam!”
Enquanto argumentava que os seus modos de agir entravam no âmbito do abuso de direito, eram discriminatórios e lesivos de equidade procedimental, estacionou uma carrinha dos “CTT EXPRESSO”, descarregou calmamente sem que os agentes os inquirissem. A seguir estacionou uma carrinha de caixa-aberta da Câmara Municipal e a mesma coisa. Depois, mais dois ligeiros estacionaram. Ou seja, perante estas anomalias contraventoras, os dois agentes fizeram vista grossa. Como me considerei aviltado e maltratado, reclamando desta displicência e negligência profissional, invoquei a sua identidade e de que iria recorrer superiormente –a senhora agente não tinha identificação à vista conforme está obrigada por lei. O agente, duma forma arrogante, diz: “dê-me os documentos da viatura, vou multá-lo, o senhor não pode estar ali parado”. Entreguei-lhe os documentos e interroguei-o se haveria alguma forma de falar com ele e, ao mesmo tempo, retirar a viatura. Não respondeu, enquanto tomava notas. Em seguida, calmamente, começou então a multar as viaturas prevaricadoras.
Dirigi-me ao Quartel da PM, à Avenida Sá da Bandeira, e no Livro de Reclamações lavrei o meu protesto.
É evidente que dois pinheiros doentes com Nemátodo não generalizam endemicamente toda a floresta das Pináceas. Porém, desde que esta polícia municipal foi criada em 2003, são demasiadas as queixas de vários cidadãos conimbricenses contra a prepotência destes agentes. Parecem que nasceram para matar, como quem diz para multar.
Não é a primeira vez que me refiro à discricionariedade desta força civil. Já o escrevi várias vezes neste blogue e até no Diário de Coimbra. Se acedermos ao portal desta polícia refere umas frases muito engraçadas (sem graça, pela falta de substância): “A missão da Polícia Municipal de Coimbra é ajudar os munícipes a viver e a conviver melhor no concelho. Este serviço da Câmara Municipal de Coimbra permitirá melhorar os padrões de convivência cívica e a protecção dos cidadãos”.
Quem teria sido o autor desta mensagem de apresentação? Certamente esqueceu-se de dar formação cívica em conformidade aos agentes da PM.
Já agora uma pergunta de retórica: quais os actos sociais em que se pode notar a ajuda desta polícia aos cidadãos de Coimbra?
Como diz o povo, de boas intenções de protecção e ajuda ao próximo está o inferno cheio.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O ÚLTIMO PREGOEIRO DA SORTE

(O CAUTELEIRO CARLOS GOMES NUNES)

  Poderemos dizer que a alma das cidades, o seu animus, o espírito que, para além de as tornar diferentes entre si, as mantém vivas no dia-a-dia de quem a habita e “consome”, e sobretudo na memória dos que partem, reside nos seus vários diversificados patrimónios locais. É o arquitectónico –no caso de Coimbra, as românicas Igrejas de Santa Cruz e Sé Velha, entre outros, por exemplo-, é o património natural –a Lapa dos Esteios, a Mata Nacional do Choupal-, o património industrial –que deveria manter em actividade uma pequena fábrica com máquinas da revolução industrial, uma tipografia, com as suas máquinas de impressão em offset-, o património artístico –por exemplo, tentar preservar uma das poucas fábricas de olaria que restam neste ramo tão identificativo da cidade-, o património comercial – que deveria preservar os velhos cafés de tertúlia, as suas tascas típicas e castiças; pelo menos uma mercearia antiga; uma loja de ferragens; uma loja de tecidos a metro, a meu ver mantendo todas estas casas em funcionamento. Estou convencido que, se houvesse interesse por parte da autarquia seria possível, através de incentivos fiscais, mantê-las em actividade, pelo menos uma de cada ramo.
Para além destes patrimónios materiais existem outros que vão desaparecendo sem que ninguém se importe. Refiro-me a pessoas. Podemos chamar-lhes património pessoal das cidades. Lembro, por exemplo, o vendedor de "banha da cobra", que ainda nos anos de 1980 haviam vários a trabalhar na Praça do Comércio. Relembremos por momentos o som da flauta do amolador de tesouras. Quem não se lembra, até há uma dezena de anos da vendedeira de camarão “da costa”, com a sua canastra, que, vindo da Figueira da Foz, vendia aqui nas ruas estreitas? Seria difícil às autarquias reconstituir este património pessoal? Penso que não, desde que houvesse vontade. Através dos vários grupos de teatro era perfeitamente possível teatralizar muitas destas profissões desaparecidas.
E lembrei-me de escrever sobre os vários patrimónios citadinos, enquanto enriquecimento da vida pública, porque hoje encontrei, penso que talvez, o último e único vendedor de lotarias, vulgarmente conhecido como cauteleiro. Ainda há poucos anos eram vários vendedores. Os seus pregões bem ritmados ecoavam pela cidade: “quem quer a taluda?! É a sorte grande! Anda amanhã à roda! É a última, é a última! Quem quer ser milionário?!”
Encontrei à hora do almoço o Carlos Gomes Nunes a sair da Casa da Sorte, onde, momentos antes, se fora abastecer. É um simpático homem que, como caminheiro de São Tiago, percorre a Baixa a tentar vender a sorte a quem acreditar nela. O Carlos não é pregoeiro no sentido lato, porque, provavelmente em criança, devido a uma doença do foro neurológico –poderia ter sido a poliomielite- arrasta o corpo e a voz, quase se tornando difícil entendê-lo. Mas, quando falamos com ele, é curioso, tem um ar de felicidade que transparece, como se bem lá do fundo da sua alma viesse um sorriso encantador de criança.
Se a maioria de nós, mesmo em grande esforço, de vez em quando lhe comprasse uma cautela, o Carlos continuaria a enriquecer as ruas da nossa cidade. Estas pessoas “típicas” desaparecem devido ao nosso autismo e desinteresse em ajudar. Não tenham dúvidas, todos temos responsabilidade no desaparecimento de todos os patrimónios colectivos que enunciei.
É através da nossa intervenção cívica –nem que seja pela presença- que poderemos evitar o genocídio cultural que atravessa a nossa sociedade hodierna.
Uma coisa todos poderemos contar, se não nos envolvermos activamente na defesa do que é nosso por direito, ninguém espere que o poder político o faça. Este poder político, tendo uma responsabilidade acrescida na “felicidade interna bruta”, parece, contrariamente ao seu objecto social, ser o nosso maior inimigo. Parece que, ao querer retirar-nos estes pequenos nadas, tornando-nos insensíveis, provocando a angústia e a infelicidade, pode assim reinar mais à vontade. Estranha forma de gerir a “res pública”, não acha?

O ENCANTADOR DE SÃO TIAGO




Quem hoje à hora do almoço passou nas ruas da calçada, junto à Igreja de São Tiago, foi surpreendido por uns sons melódicos celestiais saídos da flauta transversal deste homem. Se pensarmos num local paradisíaco a fazer lembrar o céu e associarmos música encantada saída de anjos Serafins, este músico poderia constituir perfeitamente o paradigma.
Neste tempo de tristeza, em que tudo parece ruir à nossa volta, em que a esperança parece evaporar-se no éter da economia, ouvir música assim executada é um bálsamo para a nossa alma. Venham mais músicos para a cidade! Alegre-se as ruas, ruelas e becos da cidade triste. Porém, não esqueça da pequena contribuição monetária. Estes profissionais pouco reconhecidos pela classe, sendo marginais à sua maneira, não vivem do ar. Se gostamos mesmo de os ouvir, para continuarem na cidade, implica que dentro das nossas dificuldades sejamos generosos. Uma pequena moeda de cada um de nós pode ser a solução para que nos continuem a animar e a alegrar e, por momentos, nos façam esquecer aquela preocupação que nos mantém enrugada a fronte.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MAIS UMA LOJA QUE SE APAGA




Tinha 25 anos de existência, estava na pujança da vida, como sói dizer-se. Um cancro fatal, uma espécie de peste pneumónica dos anos de 1920 que, sem dó nem piedade, arrasa tudo o que mexe e, ao que parece, segundo os entendidos não se sabe como combater esta maleita destrutiva, decretou a morte da CoimbraMáquinas, Lª, que durante anos e anos esteve implantada na Rua Simões de Castro.
Chegou a ter 14 empregados e actualmente tinha cinco. Há dias encerrou.
Para os menos desligados destas coisas, pensa-se, é mais um que desaparece e outro para o seu lugar virá. O problema é que o seu substituto pode não desempenhar as funções daquela casa de máquinas. Para além de vender máquinas industriais, para jardim e tudo o que poderia fazer a delícia de qualquer amador habilidoso, tinha uma qualidade que tornava esta casa importante: reparava todo o tipo de máquinas electro-mecânicas.
Só iremos sentir a sua falta quando o nosso corta-relva avariar. Nessa altura, você verá a dificuldade em encontrar alguém que faça a sua reparação. Nessa altura sentirá a falta da CoimbraMáquinas e outras casas do género que, aos poucos, têm desaparecido. Vivemos no tempo do usar e deitar fora. Lavoisier perdeu a razão do seu princípio, quando defendia que nada desaparece tudo se transforma. Nesta regra do grande mestre havia um princípio utilitário imanente. Tudo se transformava em algo proactivo, mesmo a própria sedimentação que se diluía na natureza. Hoje, basta olhar em redor, neste obsessivo “usar e deitar fora”, o princípio utilitário desaparece e dá origem a toneladas de lixo ambiental que conspurca o meio ambiente em que estamos inseridos.
Quando interrogo um dos empregados a razão desta morte anunciada agora, responde: “que se há-de fazer? As grandes superfícies rebentaram com este tipo de loja. Hoje compra-se muito barato, vindo o artigo da China. Amanhã avaria, compra-se outro e põe-se o anterior fora. Além disso, como é que podemos competir com eles? Eles têm estacionamento à borla, aqui não. Repare, olhe ali –apontou o dedo para uma agente da PSP que estava meia recolhida, como se estivesse à espera de alguém que pisasse o risco- isto é todos os dias. Ninguém pode parar um minuto que seja para descarregar uma máquina. Se o fizer tem logo a polícia em cima. Por incrível que pareça, a polícia é o maior contribuinte para o encerramento da nossa casa. E, comparando com outras que não têm lugares de estacionamento, este caso é caricato, nós temos aqui (como vê) muitos lugares para parar. O problema é a caça à multa. Não há nada a fazer com este tipo de comportamento. Morre o elo mais fraco”.
Quando lhe pergunto como encarou a situação, responde: “o patrão mandou fazer o balanço, teve uma reunião com todos os cinco empregados e, com sinceridade, expôs a situação. Nós entendemos. Quem é que não entendia? Nós temos olhos na cara. Víamos o que estava a acontecer dia-após-dia. Estamos todos no desemprego…que remédio?!”

4º ASSALTO EM 8 MESES



Em muitos anos de actividade, o primeiro assalto, durante a noite foi em Junho do ano passado. O segundo foi na noite de 26 de Novembro. Com um paralelepípedo, mais uma vez quebraram a montra e levaram um TV plasma, vulgarmente conhecido por L-CD.
O senhor Américo Costa, Sócio da IRTEL, um estabelecimento de electrodomésticos, com sede na Rua Dr. Manuel Rodrigues, dos poucos que restam e vão resistindo na Baixa, forçadamente já se começou a habituar aos assaltos. Ainda que a dor de impotência seja enorme, faz das tripas coração para conseguir sorrir. Sim, porque a sua alegria deve ser muito pouca. No dia 30 de Janeiro, último, mais uma vez, durante a noite, rebentaram com a montra e levaram vários electrodomésticos. Como se o número ímpar desse azar, no dia 9 de Fevereiro último, mais uma vez partiram a montra com uma chave de rodas, calmamente entraram, escolheram à vontade uns L-CDs e outros artigos. Ainda revolveram umas gavetas e levaram cerca de 150 euros. O prejuízo total destes dois últimos assaltos, contabilizando os estragos nos vários electrodomésticos de gama branca, ascenderam a cerca de 5000 euros.
O proprietário da IRTEL, nos últimos meses, chegou a dormir dentro do estabelecimento. “Olhe que parece que é azar. Durante tantos anos, em que isto estava velho, nunca fui assaltado. No ano passado remodelámos tudo, dando um aspecto moderno à loja, pois, a partir daí, é esta desgraça”, refere o senhor Américo Costa, com algum conformismo no rosto.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

MAIS UMA DIRECÇÃO REGIONAL QUE SE VAI

("POMBA BRANCA, POMBA BRANCA, JÁ NÃO SEI DO TEU VOAR...")


Segundo a estação Rádio Clube de Coimbra, a Direcção Regional de Economia, com sede em Coimbra, vai deslocalizar-se, até ao fim do mês, para a cidade de Aveiro. Segundo as declarações de uma funcionária representativa dos trabalhadores àquela Rádio, “os funcionários receberam comunicações lacónicas para a partir do próximo mês se apresentarem ao trabalho em Aveiro”.

EM DEFESA DO TODO DA MATA DO CHOUPAL

(FOTO DO DIÁRIO AS BEIRAS)



Naturalmente, ontem, juntamente com a família, estivemos a dar as mãos no cordão humano em defesa do choupal. Digo “naturalmente” porque subscrevemos a petição online. Seria de supor que, se “assinaram" a petição cerca de cinco milhares de pessoas, ontem, seguindo a mesma linha de pensamento, deveriam ter estado muito mais do que as cerca de 1300 ou 1500, conforme o noticiado em cada um dos diários da cidade.
No nosso optimismo “coimbrinha” desabafamos assim: “vá lá, vá lá! Para uma cidade que, socialmente, dorme sem pesos na consciência e apaticamente sem se (re)ver, nem foi nada mau”. Podemos inferir assim, mas, em boa verdade, as pessoas que se importam com a mata foram poucas e não bateu a “gota com a perdigota”. Isto, obviamente, sem demérito, antes pelo contrário, para o Luís Sousa, O Jorge Paiva e o Bloco de esquerda, nas pessoas do Serafim Duarte e de Catarina Martins, que se envolveram activamente na defesa do nosso património natural comum.
Quem lá esteve ontem, deu para verificar in loco o estado lastimável de toda a Mata do Choupal. Não só a pouca limpeza, como as árvores a precisarem de serem podadas, bem como o mau estado dos carreiros pedonais. Talvez fosse altura de se começar a exigir do ICN, Instituto da Conservação da Natureza, que, mesmo para além deste protesto, trate condignamente as árvores centenárias que vão resistindo à loucura e cegueira dos homens. Há muito que esta mata é uma ilha abandonada na esteira da cidade. Basta atentar nos acessos. Alguém entende que para aceder ao seu paradisíaco espaço se tenha de atravessar uma via com bastante movimento de tráfego automóvel?
Apesar de tudo, e em jeito de balanço, se por um lado Coimbra é uma terra esquisita, fria e insensível na defesa do colectivo comum, por outro, diga-se em jeito de contentamento, tem pessoas de causas, como é o caso do Luís Sousa. Embora nem sempre esteja de acordo com os seus pontos de vista, ainda bem, neste marasmo endémico, que temos pessoas como ele.
Logo, no Café Santa Cruz, pelas 21,30, vamos todos encontrarmo-nos a debater o resultado da manifestação de ontem.

FLAGRANTES DO COMÉRCIO REAL



ESTE ESTABELECIMENTO FOI ATÉ HÁ CERCA DE UM ANO UMA LOJA DE FERRAGENS NA RUA DA SOFIA, EM COIMBRA. DURANTE CERCA DE OITO DÉCADAS O "AUGUSTO NEVES" DEU CARTAS COMO FERRAGEIRO. AO QUE PARECE, SEGUNDO SE CONSTA, EM TESTAMENTO, DEIXOU O ESTABELECIMENTO À MESERICÓRDIA DE PENELA. NÃO SE SABE SE ESTA INSTITUIÇÃO SOCIAL, DEPOIS DE ARRENDAR O ESPAÇO PARA UM PRONTO-A-VESTIR CHINÊS, TEIMA EM MANTER O TOLDO DO FERRAGEIRO EM HOMENAGEM AO ALTRUÍSMO DO SEU FUNDADOR OU, PELO CONTRÁRIO, PELO DESLEIXO, ESPERA VIR A FIGURAR NO GUINNESS WORLD RECORDS.

VANDALISMO?


(ESTAS IMAGENS FORAM RECOLHIDAS HOJE)

Há cerca de uma semana a Livraria Castelo, na Rua da Sofia, apareceu com o vidro da montra partido. Eram cerca da 01horas da manhã, quando o alarme tocou. Segundo as declarações de uma funcionária, “tudo indica que foi apenas para provocar danos, uma vez que o vidro estava quebrado no canto superior direito”. Dentro do estabelecimento, a testemunhar o acto, uma pequena pedra, certamente arrancada da calçada, causadora de um prejuízo de cerca de 1000 euros. Continuando a citar a funcionária, “o que é incrível é que o nosso estabelecimento está a menos de cem metros da esquadra e estas coisas acontecem com o maior à vontade. O que quererá esta gente, ao praticar a destruição como se fosse um acto normal da vida?”
Claro que não dei resposta. Também não sei, nem sequer entendo o que leva alguém a destruir por malvadez algo que sendo de propriedade particular, enquanto contribuinte da paisagem urbana, é também de fundo público que pertence a todos nós.

MAIS UMA LOJA ARROMBADA




Ontem, domingo, cerca das 21,30 horas –repito 21,30 da noite- a Perfumaria Balvera, com frente para a Rua Eduardo Coelho e Rua Velha foi assaltada. “Os trabalhadores do comércio” partiram a montra, ao que parece calmamente, e, sem grandes pressas, retiraram todo o recheio da montra constituído por artigos de perfumaria.
Segundo a responsável da perfumaria, a Dona Lena, exceptuando os estragos no vidro, o valor dos artigos furtados andará à volta de cerca de 300 euros.
Há pouco o tempo a Lena manifestava-me alguma apreensão acerca do futuro deste estabelecimento “bem cheiroso” na antiga Rua dos Sapateiros. Segundo a senhora, o proprietário estava cada vez mais descontente com o movimento em queda, fruto de uma cada vez maior desertificação da Baixa. Agora, para piorar, com este revés, não se sabe o que vai acontecer.
Já muito escrevi sobre a insegurança, mas uma coisa é certa, quem faz estes pequenos roubos é ralé que roda calmamente, durante o dia, pela zona histórica. Quem rouba estes artigos, notoriamente, sabe antecipadamente onde colocá-los a troco de meia dúzia de euros para a “dose”. Toda a gente sabe que é a chamada criminalidade de base que provoca estes estragos. Mas o modo como é encarada é simplesmente preocupante. Devagar, devagarinho, vão rebentando com os pequenos comércios tão necessários nestas zonas velhas.
Em conversas que tive com alguns agentes da PSP, facilmente se intui para onde vão. Ora, assim sendo, porque não actua aquela força de segurança da ordem civil?
Não será difícil de ver que o escoamento destes produtos é feito de grosso modo nas feiras que decorrem no país. O que se espera para actuar, separando o trigo do joio, isto é, acabando com “vendedores” que, mais não sendo do que traficantes, estão a rebentar com as actividades económicas legalmente constituídas e, que num esforço tremendo, se vêem em “palpos de aranha” para conseguir resistir.
Isto não pode continuar. É uma situação tão absurda que parece incrível como é que o governo não põe mãos, de uma vez por todas, nesta infamante situação.
Estará o governo à espera que os comerciantes formem milícias populares para proteger o que é seu? Sabe-se muito bem nas consequências que tais iniciativas podem descambar, ou seja, apanhar o justo pelo pecador. Por isso mesmo a lei o proíbe. Mas, esta displicência, este deixa-correr, este desleixo e despreocupação com os bens alheios começa a raiar o incompreensível.