sexta-feira, 30 de setembro de 2022

ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA MEALHADA: O CASO DA NOITE

 



Era e devia ser uma sessão pacífica, ou não se estivesse sobre a protecção divina de todos os santos ali ao lado na Igreja Matriz. E se mais argumentos não houvesse, basta dizer que era a primeira reunião depois de férias, onde o bronzeado deveria ser a constância e menos a musculatura de agressividade. Mas, se as coisas dessem para o torto, também é certo que o posto da GNR dista menos de uma centena de metros.

A verdade é que, vá lá saber-se a razão, mesmo sem estarmos em presença física nesta última Quarta-feira no Cine-Teatro Messias, quem visionava a realização da Assembleia Municipal através de “streaming” pressentia no ar, ou melhor, no éter, uma certa tensão entre todos os presentes.

As razões poderiam ser várias e alegadas por vários deputados, desde a evocada falta de tratamento dos espaços verdes; a falta do provedor do município; a falta de professores na Mealhada; o custo de vida aumenta e o povo não aguenta; o abastecimento de água potável à Mealhada.

Ora, sejamos francos, são razões de mais para manter uma certa acalmia e, naturalmente, poderem irritar até o mais Franco de sobrenome, o presidente da autarquia António Jorge Franco.

E foi mesmo o que aconteceu, Franco “passou-se dos carretos” ao dirigir-se a João Cidra Duarte, presidente da Junta de Freguesia de Barcouço, sem filtro, afirmar de viva voz: “ o senhor João Cidra é mentiroso.

Como se sabe, é da boa ética republicana nunca chamar alguém de mentiroso. Para o apodo não ferir a alma do visado, é costume dizer “o senhor faltou à verdade: o senhor não contou os factos com clareza e veracidade”. Mas nunca, nunca mesmo se deve chamar mentiroso a alguém assim com esta destreza mental.

É certo que por três vezes o nosso prefeito – nesta altura menos perfeito – pediu desculpas ao visado, mas o mal estava feito. Por acaso, saliente-se, João Cidra mostrou-se calmo e, mesmo defendendo a honra ferida, manteve-se no seu lugar. Isto também, deu para ver, porque tinha o “rabo entalado” e, por momentos, pareceu que o nosso pretor urbano ia denunciar aos sete ventos de andarilho que Cidra, contra o que parecia, usava capachinho. Mas o incidente aparentemente ficou serenado.

É claro, sem querer ser especulativo nem espalhador de temor infundado, convém que António Franco se, nos próximos tempos, pretender ir a Barcouço o melhor mesmo é preparar-se para o pior. No mínimo, pode ser classificado como “persona non grata”.

Mas, também é verdade, pode ser que a coisa dê em nada, ou não fosse a actividade política o paradigma do parecer uma montanha e ser um grão de areia.

Quanto à inusitada saída do nosso maior representante no concelho, estou em condições de afirmar que, por detrás daquele irascível comportamento, algo incompreensível, estavam razões de foro pessoal, daquelas preocupações que só quem sofre sente e merecem a nossa solidariedade.

Portanto, presidente, nós eleitores perdoamos metade e o senhor João Cidra outra metade. Dêem lá um abraço e resolvam as questiúnculas com urgência, porque a vida está a passar depressa demais.


ASSEMBLEIA MUNICIPAL DA MEALHADA: O ESTRANHO CASO DO BALDIO REGISTADO DUAS VEZES

 




Numa Assembleia Municipal cheia de casos e casinhos e que, desde as 20h30 de Quarta-feira, hora do início da sessão, se prolongou até às 2h20 da madrugada de Quinta-feira, vou começar pelo primeiro despoletado por Carlos Pimenta, deputado eleito pelo Movimento Independente Mais e Melhor.

Em quatro assuntos, dois históricos e outros dois prospectivos, salientamos um, aquele que, calibrando por baixo, nos suscitou alguma perplexidade.

Interrogou Pimenta o Presidente da Câmara Municipal:

(…) Baldios da Serra do Bussaco (…), junto às Carvalheiras, são propriedade de quem?

Pelo que julgo saber, foi realizada uma escritura de usucapião em 2020. (…) O município tem ou não um registo de propriedade desses baldios?


Respondeu António Jorge Franco:


Sobre os Baldios da Serra do Bussaco – já foi falado com a Junta de Freguesia de Luso. Existem duas matrizes nas Finanças, uma de 1964, em nome da Câmara Municipal da Mealhada (CMM), e uma de, salvo erro, 2019 em nome dos compartes (os participantes num quinhão). (…) a verdade é que tem dois registos… um em nome da Junta de freguesia, aliás, em nome dos compartes, e outro da CMM. Houve (…) aqui uma situação que não se pode manter. Um deles terá de ser anulado.

O senhor presidente da junta sabe do problema, eu sei do problema e não pode existir. É verdade, senhor deputado, não pode haver um terreno com dois artigos. Eu recordo o grande amigo Serra (Homero Serra, ex-presidente da junta de freguesia de Luso, já falecido), numa visita que fizemos lá aos caminhos, que disse: “isto é vosso. Tratem disso. Isto é vosso!”.

Mas pronto, está em resolução. Os serviços estão a tratar disso. Temos que rapidamente resolver.”


Salvo melhor opinião, este estranho caso, denunciado pelo deputado Carlos Pimenta, não ficou devidamente clarificado.


- Quem levou os compartes a realizarem a escritura de usucapião?

- Para que serviu o (novo) título de propriedade?

- Com que objectivo?


Uma vez que foi referida a Junta de Freguesia de Luso, entendemos por bem contactar o seu presidente Claudemiro Semedo para nos dar uma explicação que nos permitisse compreender melhor o problema.

Até à hora em que escrevemos ainda não recebemos resposta. Assim que a recebermos – se recebermos, já que o autarca não é obrigado a tal gentileza – prometemos publicá-la logo no espaço que se segue.


RESPOSTA EXARADA POR CLAUDEMIRO SEMEDO, PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE LUSO


Sobre o Baldio do Buçaco - Zona Luso


Relativamente ao assunto que foi levantado na última assembleia municipal 28 de Setembro de 2022 sobre a existência de dois registos matriciais para o mesmo terreno (do baldio do Buçaco - Zona Luso) a explicação, que já foi amplamente debatida e clarificada em reuniões entre o executivo da Junta de Freguesia de Luso e o executivo da Câmara municipal da Mealhada, a explicação é simples.


A Junta de Freguesia de Luso, sendo a entidade gestora do Baldio do Buçaco - Zona Luso por delegação de competências da deliberada em assembleia de compartes, foi contactada por uma empresa no sentido de ser avaliada, e eventualmente, autorizada, a colocação de uma antena de medição de comunicações da ANACOM na área que pertence ao Baldio do Buçaco - Zona Luso.


A questão foi apresentada pela Junta de Freguesia em Assembleia de Compartes, tendo este órgão deliberado pela aceitação da proposta da empresa que, para além das contrapartidas financeiras que apresentou, também inclui nessas contrapartidas o tratamento de toda a burocracia necessária para inscrição matricial do baldio a favor da Comunidade Local do Baldio do Buçaco - Zona Luso, algo que é obrigatório e que durante muitas décadas nunca havia sido concretizado pelos anteriores responsáveis deste Baldio.


A empresa contratou uma advogada do concelho da Mealhada que, pelo que transmitiu à Junta de Freguesia, teria consultado a Câmara Municipal e que não lhe havia sido informada a existência de qualquer registo a favor Câmara para o terreno do Baldio do Buçaco - Zona Luso.


Com esta informação, a empresa, tal como tinha prometido, tratou de proceder ao registo do baldio a favor da Comunidade Local do Baldio do Buçaco - Zona Luso, tal como determina a legislação em vigor.


Mais recentemente numa incursão pelos caminhos da serra do Buçaco, em 27 de Janeiro de 2022, o senhor presidente da Câmara Municipal da Mealhada, referiu ter conhecimento de um registo realizado a favor daquela autarquia, de uns terrenos na serra do Buçaco com a área de 150ha e uma casa florestal.


Facultado o documento matricial à Junta de Freguesia de Luso, verificou-se que o registo datava de 1964, data anterior à legislação que promoveu a devolução dos terrenos baldios aos compartes, de acordo com o quadro legal estabelecido pelos Decreto-Lei nº39/76 e nº40/76.


De facto, aparecera agora o registo que a advogada da empresa que procedeu ao registo matricial do baldio a favor da Comunidade Local, procurou e afirma que nunca lhe foi facultado.


Face à existência deste documento, deveria ter promovida a manutenção do artigo em causa devendo apenas ser feita a alteração da titularidade do mesmo, deixando de estar a favor da Câmara Municipal da Mealhada e passando a figurar como seus "proprietários" a Comunidade Local do Baldio do Buçaco - Zona Luso.


Ao que parece, tal não ocorreu pelo já referido desconhecimento da existência deste registo mas, a Junta de Freguesia de Luso, como entidade gestora do Baldio, depois de se perceber deste facto, contactou a advogada da empresa que, por sua vez, contactou os serviços jurídicos da Câmara Municipal para ser resolvido este assunto, até porque, face à legislação supra referida, a Câmara Municipal, desde 1976 deixou de ter qualquer legitimidade sobre o terreno em causa e sobre as construções nele existentes (casa de guarda dos serviços florestais, hoje do ICNF, I.P.).


Os contactos entre o Sr. Presidente da Junta de Freguesia de Luso e o Sr., Presidente da Câmara Municipal da Mealhada foram sempre no sentido de esclarecer este assunto de forma clara e transparente, reconhecendo-se a necessidade de alterar o registo a favor da Comunidade Local do Baldio do Buçaco, ação que está em curso.




quinta-feira, 29 de setembro de 2022

MEALHADA: ABRIU O PINGO DOCE

 






Abriu hoje portas a nova loja Pingo Doce, uma média-superfície com cerca de 2000 metros quadrados de área, no lado contrário da estrada Nacional 1 e junto à Escola Secundária da Mealhada.


UM COPO MEIO CHEIO PARA UNS, PARA OUTROS…


Diz o povo que quando uns deitam foguetes, outros olharão o Céu com alguma preocupação. Naturalmente, não sabemos o que se passa na cabeça de outros operadores comerciais, mas poderemos sempre especular que deverão encarar esta inauguração com alguma inquietação. E nem falamos da pequena loja de comércio tradicional, como se sabe, há muito que estas minúsculas unidades já deixaram de contar para o campeonato local.

Mas o consumidor, que somos todos, pouco se importa com os que caem. No seu egoísmo peculiar, quantos mais espaços houver para poder passear o carrinho ao fim-de-semana melhor. Quantas mais marcas se implantarem na Mealhada, numa oferta que pode ser desmesurada, maior será o prazer de cá viver.

É certo, e temos de o confessar, por um lado, o equilíbrio entre estes dois pratos da balança, oferta, procura, é muito difícil de estabelecer, por outro, para além de haver poucas possibilidades de suster uma força capitalista desta dimensão por parte do poder político local, para além de todos sermos contribuintes líquidos e efectivos, pouco há a fazer.

O argumento até aqui, já um bocado estafado, é sempre o mesmo: trazem emprego para o concelho. Mas podemos interrogar se, com a alegada falta de mão-de-obra, não há trabalhadores o melhor mesmo é mudar de “slogan”.

Por conseguinte, valha-nos o pensamento de esperança de que os bens alimentares fiquem mais baratos – nem que seja só nos dias de inauguração -, se pouco ou nada há a fazer, siga a marcha.


terça-feira, 27 de setembro de 2022

ENTREVISTA A RUI MARQUEIRO, EX-PRESIDENTE DA CM DE MEALHADA

 





Passado um ano, depois de ter perdido as eleições para a Câmara Municipal e após ter permanecido dois mandatos consecutivos à frente do executivo concelhio, 2013-2021, e muitos mais no pretérito século, está na altura de, em jeito de balanço, fazer umas perguntas ao actual líder da oposição.

Rui Manuel Leal Marqueiro, natural de Ermesinde, concelho de Valongo e distrito do Porto, de 70 anos, conhece os corredores camarários como poucos. Como independente do Partido Socialista (PS), em 1979 foi eleito presidente da Assembleia Municipal de Mealhada.

Em 1981 aderiu ao PS. Em 1983, concorreu e ganhou novamente a mesa da Assembleia. Em 1985 foi eleito, ex-aequo, para a Assembleia Municipal e membro da freguesia de Antes.

Em 1989 foi eleito presidente da Câmara Municipal; foi reeleito em 1993 e em 1997.

Goste-se ou não de Marqueiro, um valor ninguém lhe pode negar: a sua coragem. Poucos com a sua idade e experiência empírica tomariam a decisão de ocupar o correspondente lugar na oposição – e daí, confesso, a minha profunda admiração.

É no desempenho da função política que podemos avaliar o pior do comportamento humano: se o eleito está em cima, por ter poder de execução, é hipocritamente elogiado e idolatrado; se está em baixo, sem autoridade, é, sem pejo, vaiado e desprezado por muitos que, até aí, lhe beijavam as mãos.

A pensar que me mandava dar uma volta ao bilhar grande, lancei-lhe, mais uma vez, o desafio de me responder a uma série de questões políticas e algumas que até podem tocar a pessoalidade. É a segunda vez que, perante o meu atrevimento, não nega fogo. Começo por lhe agradecer a gentileza.

Sem mais demoras, contraditando perguntas de âmbito geral, vamos ouvir Rui Marqueiro.


Meallhadenses que Amam a sua Terra (MAST): A dez dias das eleições para a Comissão Política Concelhia e do Secretariado Concelhio da Secção da Mealhada do PS temos apenas uma candidatura conhecida, a de José Calhoa.

O seu tardar em pronunciar-se, num aparente recolhimento de guerreiro, velho, cansado e desanimado, que depois de regressado de uma longa batalha esforçada mas perdida, perante a indiferença do povo, significa que, numa espécie de bofetada sem mão, devolvendo o que tem recebido nos últimos tempos, mandando-os bugiar, está a ponderar não se recandidatar?

Ou que está a criar um tabu, uma onda de força impactante, e que no último momento, surgindo de espada em riste, leva todos e tudo à frente?


Rui Marqueiro (RM): Que eu saiba, só haverá a candidatura do meu camarada e Amigo José Calhoa.

Entendi que eu não deveria apresentar uma candidatura.

Não é a primeira vez que o faço.

Nesta última passagem pela Câmara Municipal de Mealhada (CMM), a minha camarada e Amiga Arminda Martins foi Presidente da Concelhia; na primeira passagem pela CMM  foi Presidente da Concelhia o saudoso camarada e Amigo o Prof. António Gonçalves.

Não há tabu, nem desinteresse, nem os meus camaradas estão indiferentes comigo, ou eu com eles.



MAST: No desempenho de líder da oposição, ao longo de um ano, pelas suas manifestações perceptíveis de desânimo e descontentamento nas reuniões camarárias em relação aos seus correlegionários, dá para apreender que é um homem descontente, solitário e desapontado. Sente que está a ser injustiçado pelo aparelho do partido?


RM: Não. Não estou desapontado, ou descontente, bem pelo contrário. Estou a gostar da experiência, que é nova para mim. Já fui oposição na Assembleia Municipal, na Assembleia de Freguesia de Antes. Na CMM é a primeira vez. Há sempre que aproveitar a possibilidade de vivenciarmos novas experiências na Vida.


MAST: Reunião após reunião, e já foram muitas durante o ano que passou, tenho notado que o espírito hilariante, mordaz e maledicente do Marqueiro dos primeiros tempos está a dar lugar a um novo actor político mais dramático, mais cordato e menos hostil. É o cansaço inerente à função a manifestar-se, ou um comportamento estudado e deliberado para não cansar os eleitores?


RM: Nunca fui maledicente. Procuro nunca me trair. Aprovo o que achar bem, reprovo o que achar mal. Sou sarcástico com a falta de verdade, e implacável com manobras de proteção de interesses de duvidosa legalidade administrativa ou penal e aí recorrerei às autoridades competentes em razão da matéria em causa; nunca com o manto cobarde do anonimato como no ultimo mandato fizeram comigo, com os meus colegas, e alguns funcionários da CMM.

Tudo aquilo que, no meu entender, tiver de ser comunicado a qualquer autoridade leva o meu nome e cargo.

Quanto aos eleitores, cada qual que pense pela sua cabeça e oxalá não se deixem intoxicar pela muita propaganda viperina e paga que por aí anda.



MAST: Naturalmente, pretendendo atingir a sua imagem pública, corre no interstício da má-língua que o político Rui Marqueiro está riquíssimo, com depósitos em contas “offshore”.

Há uns meses, mais concretamente em Julho, em articulação com outras matérias em discussão com outro vereador no executivo, o senhor afirmou: Eu tenho uma mágoa na vida: fui acusado de ser desonesto. (…) Eu tenho uma vida de impoluto; a minha fortuna resume-se a cento e tal mil euros. Pode ver a declaração no tribunal.”

Afinal, em que ficamos? É rico, remediado, ou pobre?


RM: O Rui Marqueiro nunca teve, não tem, nem nunca terá qualquer património fora do seu País. Desafio quem quer que seja a provar o contrário.

Ser pobre, remediado ou rico depende do patamar que se considerar.

Ter património de 1000000, um milhão de euros é ser rico? Então não sou rico.

Ter património de 500000, quinhentos mil euros, meio-milhão  de euros é ser rico? Então não sou rico.

Vivo com dignidade, após 44 anos de trabalho. Agora estou aposentado com uma pensão resultante destes anos de trabalho, sem beneficio de nenhuma espécie.

Para todos aqueles que andaram, andam e, pelos vistos, continuarão a andar a difamar, mentir, e invejar a minha pessoa dedico-lhes uma quadra do grande poeta Aleixo para perceberem o quanto os desprezo


Sei que pareço um ladrão

Mas há outros que eu conheço

Que sem parecerem o que são

São aquilo que eu pareço



MAST: O Mercado Municipal, uma obra emblemática de quase três milhões, adjudicada no seu mandato, e que presumivelmente pretendia ser o ícone, a obra de regime em que deveria ser lembrado para a posteridade o político Rui Marqueiro, está a dar “água pela barba” aos novos ocupantes da cadeira presidencial. Se fosse hoje, tendo em conta a crise dos mercados tradicionais e a “invasão” de novas médias-superfícies comerciais na cidade, faria uma obra de tamanha volumetria e considerada por muitos como megalómana?


RM: A verdadeira história do mercado municipal de Mealhada será em breve contada por mim numa reunião da CMM.

Hoje faria exactamente o mesmo. E não vou ser complacente com tanta falta de verdade e incompetência.



MAST: Imagine que está prestes a exalar o último suspiro – longe vá o agoiro que, juro, não lhe desejo mal algum -, vai mandar chamar Hugo Alves Silva, o vereador da “catalinária”, como o classifica amiúde, e aparentemente “inimigos de estimação, e rogar-lhe um pedido de perdão recíproco pelas demandas em tribunal por difamação? (bem sei que não é religioso, mas, pelo sim, pelo não, convém levar a consciência em paz para a última viagem)


RM: Não falo sobre o sr. Hugo Silva. A justiça dos seres humanos que se ocupe dele. Não tenho medo da Morte, porque acredito que é o fim de todos os sofrimentos e nada mais há para além dela.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

DESCULPE, POSSO FAZER UMAS PERGUNTAS?

 




A secção do PSD/Mealhada, a Concelhia, conforme divulgação na sua página do Facebook, realizou na Sexta-feira, 25 do corrente, no Salão Nobre do Quartel dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, uma assembleia com dois pontos em discussão:

- Informações

- Análise da situação política


Passados dois dias, nada se sabe do que lá se passou, quer através de jornais locais, nacionais, ou outro meio informativo como, por exemplo, a própria página do PSD.

Os partidos, na sua organização, são cofres fechados para a sociedade? São torres de vidro transparente que se vê e, através da especulação, se tenta adivinhar, mas não se ouve o que lá se passa? Ou são simplesmente uma ideia esfumada de transversal participação política adiada? Mais ou menos um projecto de que se faz muito sem fazer nada?

Não será por isto que várias páginas no Facebook de âmbito concelhio, como se a política partidária fosse um perigoso vírus pandémico, ostentam nos seus Códigos de Conduta a proibição e não aceitam publicações de índole política?

Os partidos políticos, sobretudo os do denominado “arco do poder”, deveriam ou não contribuir, através da transparência, para a divulgação do que se faz por cá para tentar envolver e interessar os munícipes?

Qualquer semelhança com o procedimento secreto da Maçonaria é pura coincidência? Ou não?

Ou a ignorância e o desinteresse que perpassa de freguesia a freguesia é um valor maior?



sábado, 24 de setembro de 2022

QUADROS SINÓPTICOS: O EXCURSIONISTA





Há mistérios que, por casos e acasos ao longo da vida, pela racionalidade custam a compreender. Claro que se estivesse entre nós poderíamos sempre recorrer a Sigmund Freud, neurologista e psiquiatra austríaco, o pai da psicanálise. Acontece que já nos deixou há cerca de oito décadas e não é possível ter a sua presença. É certo que deixou doutrina, e o que não faltam aí são seguidores do seu saber, mas não é a mesma coisa.

Lembro-me do senhor Ricardino desde os meus tempos escolares, quando frequentei a escola primária, nos primeiros anos da década de 1960 - incluindo o seu nome e a sua imagem fisionómica. Desenvolto no andar, altura média, rosto comprido, “abicado”, onde uns olhos pequeninos, perscrutadores pareciam dois focos de luz na noite escura.

O senhor Ricardino, na altura com trinta e “picos” anos, era proprietário de um pequeno café a cerca de pouco mais de uma centena de metros e na margem da estrada nacional.

Em 1966 parti para Coimbra para trabalhar, onde assentei arraiais e passei os vários anéis do tempo que marcaram para sempre a minha vida.

Durante anos e mais anos até me esquecer de quantos, nunca mais vi o aqui citado dono do antigo café situado à beira da estrada.


I


Bem acompanhado com a minha mulher, há volta de três anos, num eterno retorno às origens, só explicável pela necessidade inconsciente de se voltar ao ponto de onde se partiu um dia em busca de um mundo melhor.

Estávamos em pleno crescimento da pandemia. Começámos a frequentar uma média-superfície na cidade sede-concelhia que vendia comida para fora, em “take-away”.

Sempre que íamos às compras, comecei a ver mesmo ao meu lado um velhote de cabelos brancos, rosto alongado tapado com uma máscara anti-pandémica. Logo ao primeiro olhar, apesar dele estar mascarado por necessidade, um pensamento bateu forte: é o senhor Ricardino! Engraçado, parece que, apesar do enorme peso dos anos e do cabelo totalmente branco, está igual.

Por momentos, apeteceu-me tocar-lhe no ombro e dar-me a conhecer, mas, naqueles pensamentos reflexivos sem explicação e que nos tolhem a vontade, contraí-me por várias vezes. Por um lado, e se ele não se lembrasse de mim? Por outro, por que raio havia eu de ir incomodar o homem?!?

Tendo em conta a sua, para mim, presumível longa idade, era dotado de grande desenvoltura. Ou fosse pelos dois aparelhos nos ouvidos, talvez do século passado, ou pelas calças de “terylene” de vinco à proa e que foram encurtando com o tempo, pensei para comigo que o homem deveria ter mais de oitenta anos de idade.


III


Há uns tempos, pouco mais de dois meses, na Estação Nova, em Coimbra, caminhávamos ao longo da gare, quando de repente fiquei frente-a-frente com o senhor Ricardino – estava acompanhado de uma neta. Eu olhei para ele, ele olhou para mim e levantou levemente o braço como se, hesitando, fosse cumprimentar-me. Eu, embora sentindo o mesmo embaraço, atirei: “conhece-me? Ou não? Da minha parte, já não lhe falo há mais de cinquenta anos, mas aposto consigo que sei o seu nome”.

Ricardino, naquele encontro fortuito, respondendo pela circunstância, lá foi adiantando: “nham… nham”… parece-me que o conheço, sim, mas não sei de onde…

Dando-nos a um reconhecimento de ocasião, de que aldeia vizinha era eu nascido e criado, fiquei a saber que naquele preciso dia comemorava a bonita idade de 95 anos. E, confraternizando, trocámos um forte abraço – como se este gesto significasse também uma espécie de acto de contrição por eu não o ter interpelado mais cedo.


IV


Para cerca de quatro centenas de quilómetros de distância, fomos de férias para longe da nossa aldeia para um empreendimento turístico onde havia mais de uma centena de veraneantes. Quando transpusemos a porta da sala de restaurante a primeira pessoa que vimos foi… o senhor Ricardino, muito bem sentado e a degustar a refeição.

Mal lhe coloquei o braço por cima dos ombros e já ele estava a interrogar: “outra vez? Estás cá também? Andas a seguir-me?” - e abriu uma forte gargalhada.

Enquanto durou o nosso almoço de casal o tema de conversa foi a segurança do nosso vizinho Ricardino. Inevitavelmente, a sobremesa foi a preocupação em indagar como é que um homem de 95 anos estava sozinho a quase quinhentos quilómetros de casa.

Contou-nos, tinha ido de excursão e, tranquilizando-nos, estava muito bem acompanhado – pudemos constatar isso mesmo durante vários dias por parte da técnica de turismo.

Se quase sempre tinha passeios em redor da cidade durante a manhã, à hora do repasto, depois do almoço lá estava ele pronto para irmos beber o café – ou melhor, o seu descafeinado cheio por que o café não o deixava dormir, enfatizava.

À noite a mesma coisa. Ora nos acompanhava para vermos juntos os espectáculos musicais, ora ia connosco dar uma volta curta até ao planalto onde se visionavam as luzes da cidade.

Quando caminhávamos devagar para não o cansar, numa passada forte e cadenciada, ia sempre à nossa frente. Volta e meia interrogava: “não me digam que estão cansados?!? E aqui o velho sou eu…

Outras vezes, deliberadamente, afastava-se uns metros e lá ouvíamos: “pum, pum… pum, pum”. E lá vinha a explicação: “tive de me afastar, desculpem, mas os meus intestinos pregam-me uma partida...

Os seus esquecimentos eram uma constante. Estava a contar uma história dos seus tempos de rapaz; como por lapso de magia o cordão de ligação apagava-se e lá vinha a interrogação: “onde é que eu ia?

Sou muito feliz! Faço o que eu quero. No meu dinheiro e na minha vontade ninguém manda…

Gostava muito de cá andar mais meia-dúzia de anos… mas não sei não...”

Devido ao ouvir mal, tínhamos de falar muito alto e junto a uma das suas orelhas. O tema principal das suas conversas foi sempre o tempo que começava a encurtar. “quero ver se ainda cá venho outra vez, ao menos, mais duas vezes… Vocês vêm para o ano?


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quinta-feira, 22 de setembro de 2022

MEALHADA: AS GRAVAÇÕES NO YOUTUBE DAS REUNIÕES CAMARÁRIAS SÃO UM ÊXITO

 





Foi há cerca de três meses que, devagar, devagarinho, o executivo municipal começou a mostrar, em tempo real, através de “streaming”, via YouTube, as imagens das sessões da Assembleia Municipal e das reuniões de Câmara Municipal de Mealhada.

Por informação de Gil Ferreira, vereador da Cultura, foi dito que as gravações iriam permanecer uma semana no canal para serem visionadas. E assim aconteceu. Passado este tempo experiencial pode concluir-se que a adesão do público às gravações após a sua realização está a ser uma vitória. Apenas para exemplo, esta última, que aconteceu no dia 19 de Setembro teve, até hoje, 335 visualizações – comparando com Coimbra, que começou a transmitir muito mais cedo, há quase um ano, uma reunião no mesmo dia teve 392 visualizações.

Onde quero chegar?

Muito simples: que está na altura de manter para sempre e ao dispor público as gravações.

Um registo de um acto, como se sabe, é um documento precioso, quer para a história contemporânea, quer como prova em litígio judicial.

Vale a pena pensar nisto?


DESCULPE O REPARO, PRESIDENTE…


Como recomendação, tomo a liberdade de lembrar ao senhor presidente António Jorge Franco que, em futuras reuniões camarárias, trave os diálogos cruzados entre vereadores. E nesta dissonância, embora um ou outro seja mais reincidente, não há nenhum vereador que se safe, incluindo o próprio mestre-de-cerimónias.

Trata-se somente de obrigar os assistentes a não interromper o arguente que detém a palavra. Com um pouco mais de atenção por parte de todos os eleitos, quer o desempenho de todos, quer para quem visualiza, a eficácia, a “performance” pode melhorar muito.

Vale a pena pensar nisto?


terça-feira, 20 de setembro de 2022

REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL: RELATO DE UMA SESSÃO ENLUTADA

 



se um dia destes chegar aqui e pedir apoio judiciário,

não se espantem”. Tratei aqui o anterior vencedor do concurso

do bar por “fulano” e, alegadamente, vai mover-me uma acção.

Chamar fulano, sujeito, a alguém não é insulto, justificou.


Seria mais uma sessão igual a outras no Salão Nobre da Câmara Municipal de Mealhada, não fora o ambiente carregado, pesaroso e até fúnebre que se adivinhava no rosto dos presentes – incluindo o busto da República.

O caso não era para menos, era Segunda-feira, dia das exéquias de Isabel II em funeral de Estado. Portugal e mais concretamente a Mealhada perdeu uma grande amiga. Diz-nos uma fonte bem informada do Palácio Buckinghan que a cidade do leitão estava sempre na cabeça da Rainha. Incessantemente, de dez em dez minutos, repetia: “um dia destes tenho de ir ao Pedro dos Leitões acompanhada de Rui Marqueiro, esse defensor da República, mas admirador secreto da Monarquia.

E vejam bem, coitada, sem conseguir realizar o último desejo, morreu tão nova! Quem é que ia adivinhar um desfecho destes a tão breve prazo?

Diz quem sabe, em presunção e na mais completa incerteza, que António Franco, o presidente da autarquia, estava inconsolável no período que antecedeu a abertura da reunião. Acrescenta ainda a minha fonte que o chefe da autarquia repetia sem parar: A Mealhada perdeu uma grande admiradora. E se ao menos eu lá estivesse no velório, juntamente com o Marcelo, ainda vá que não vá?!? No mínimo, deveríamos votar uma moção de pesar a título póstumo aqui na Câmara… Não me perdoo! Não me perdoo!


II


Bateram as nove badaladas no relógio da torre sineira da Igreja Matriz – naturalmente com som compassado, plangente, de choro, onde a tristeza parecia materializada, o que fez com que uma velhinha viesse à janela e, fazendo o sinal da cruz, murmurasse: “ai, valha-me Nosso Senhor! Grande tragédia aconteceu… Queira Deus que não fosse o Papa!?!”

António Franco, compondo a face e colocando uma expressão menos lúgubre, anunciou: “está aberta a sessão. Alguém quer tomar a palavra?

E tomou Gil Ferreira, para agradecer a todos, funcionários e empresa responsável pela organização, o empenho no Festival de Samba, realizado no Parque da Cidade.

E foi uma reunião a meia-haste.

Puxando a brasa à sua sardinha sobre as festas nas Termas, Franco sublinhou: “penso que os comerciantes do Luso sentiram a grande animação deste verão.

III


E entrou-se na Ordem do Dia.

Com Franco a dizer que vai abrir novo concurso para adjudicar o Bar da Alameda. Com uma renda mensal inicial de 350.00 euros – sujeito à melhor oferta -, por um prazo de três anos e renovável por mais cinco de ano a ano, o estabelecimento pode ser de quem o licitar.

Atalhou Marqueiro: “se um dia destes chegar aqui e pedir apoio judiciário, não se espantem”. Tratei aqui o anterior vencedor do concurso do bar por “fulano” e, alegadamente, vai mover-me uma acção. Chamar fulano, sujeito, a alguém não é insulto, justificou. 

E disse ser alheio a comunicados.


IV


Com um atraso em relação à hora regulamentar, intervieram dois residentes no Luso, pais de crianças, acerca do “mau funcionamento” do ATL. “Há 72 crianças para 2 auxiliares”, enfatizaram. Respondeu Franco que estão com dificuldades em contratar. O IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, enviou seis candidatos, mas desistiram, nenhum ficou.

A terminar em tema não inscrito na ordem de trabalhos, foi aflorado o atraso da Piscina Municipal. Foi afirmado por Franco que “a Piscina tem de abrir o mais rápido possível”. Tem vários problemas, desde o projecto da cobertura até ao inexistente plano contra incêndios. Mas vai resolver-se, rematou.


REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL: AFINAL, QUEM É O PAI DA CRIANÇA?

 

(imagem do jornal Bairrada Informação)



A sessão pública, no Período de Antes da Ordem do Dia, até estava a correr muito bem. Fosse por razões pesarosas de índole mundial, ou outra coisa qualquer, o ambiente era sereno e transversal ao Salão Nobre da Câmara Municipal de Mealhada.

Foi então que Gil Ferreira, o vereador responsável pela pasta da Cultura no executivo, virando-se para Rui Marqueiro, líder da oposição, eleito em representação pelo Partido Socialista (PS), inopinadamente, entre o irónico e o contemplativo, atirou: o PS fez um comunicado muito construtivo sobre a abertura das aulas” – o responsável eleito pela maioria referia o comunicado divulgado na página do Facebook do PS/Mealhada, na Internet, que, num discurso dirigido a todos os actores do ano lectivo, alunos, familiares, professores e pessoal não docente, procurava servir de cumprimento.

Retorquiu o visado: “eu não sou autor de nenhum desses comunicados: o Partido Socialista tem uma estrutura dirigente... Cada pessoa do PS pode publicar aquilo que entender. (...) Eu, aliás, cada vez sou mais Rui Marqueiro e menos militante do PS". 

Perante esta estranha resposta, o busto da República, mesmo atrás do “Marquês de Antes”, pareceu ficar agitado e espantado e com perguntas no ar:


- Em teoria, Marqueiro é o presidente da Comissão Política local. Ora, sendo, como pode estar a leste do paraíso sobre o teor do que é divulgado na página?

E se estiver a fazer “bluff”?

- Como se quisesse transmitir que se está a marimbar para a agremiação que o elegeu, correndo sozinho, pouco lhe importa o que venha a acontecer à secção partidária?

Ou, pelo contrário, com inusitada arrogância, pretendia anunciar panfletariamente o seguinte:o PS na Mealhada sou eu. Basta-me levantar um dedo e todos vêm beber à minha mão.”

Não podemos esquecer que as próximas eleições para a Concelhia do partido vão decorrer no próximo dia 7 de Outubro e tem já um candidato anunciado: José Calhoa.

Se Marqueiro não é o pai da criança, quem é?

Quem manda no PS/Mealhada?

Que lhe parece, leitor?


segunda-feira, 19 de setembro de 2022

MEALHADA: CURIOSIDADES DE UMA REUNIÃO A MEIA-HASTE




(imagem do jornal Bairrada informação)





Não fora a cara fechada, granítica, de poucos amigos, da efígie da República no Salão Nobre da Câmara Municipal da Mealhada e estaríamos num dia normal de levantar o lenço em adeus ao Verão e abrir alas para o Outono que avança a passos largos.

Não é preciso ser vidente nem psicólogo de estatuetas para adivinhar a preocupação e as dores de alma do busto da República. Então, pode lá admitir-se três dias de luto pela morte da Monarquia, aliás pela morte da Rainha?

Mal bateram as nove badaladas no campanário da igreja da vila, aliás cidade, em metáfora, o juiz presidente, António Jorge Franco, que estava ali para julgar mais uma audiência, bateu o martelinho e, com grito reduzido, atirou: está aberta a sessão.


I


Tomou a palavra o “advogado” Gil Ferreira em defesa da Cultura no concelho.

Começou por agradecer e elogiar a coragem, o arrojo, na realização no Festival do Samba.


II


Dito pelo próprio, ficou-se a saber que Rui Marqueiro, o procurador do concelho, dá muita importância às “conversas de café”.


III


Foi dito por Franco que está a ser ponderada a instalação de uma estação fotovoltaica no concelho.


IV


Não estive presente na “Gala dos Vencedores” porque foi a uma hora que tive de ir buscar a minha mulher ao emprego. Sai às 19h00. Ela trabalha no Bussaco. É uma justificação pelo facto de não ter estado presente”, dixit Rui Marqueiro.


V


Penso que os comerciantes de Luso sentiram a grande animação deste Verão no Luso”, avocou o Juiz Franco.


VI


Alguns “Aiatolás” das redes sociais sentiam tudo isso na incompetência que se assistiu no período de 2017/2021. (…) mas as dificuldades continuam”, afirmou o Procurador Marqueiro.


VII


O PS fez um comunicado muito construtivo sobre a abertura das aulas”, disse Gil Ferreira.

Ripostou Marqueiro: eu não sou autor de nenhum desses comunicados; cada vez sou mais Rui Marqueiro e menos isso dos comunicados”.


VIII


O programa do Movimento Independente Mais e Melhor preconizava realizar os eventos dentro da cidade. Quanto à forma como decorreram, decorreram muito bem”, afirmou a advogada de defesa do PS, Sónia Leite.


IX


A realização do Festival de Samba não foi organização da Câmara, foi organizado por uma associação”, ressalvou Gil Ferreira.


X


Eu vi um Festival de Samba e não um festival de “copo e bucha”, enfatizou o juiz presidente do colectivo.


(LEIA AMANHÃ O DESENVOLVIMENTO DA REUNIÃO)

QUADROS SINÓPTICOS: O "DANDY"

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Estávamos de férias, eu e a minha mulher, num hotel muito afastado da nossa área habitual de conforto e longe da nossa povoação, onde os ruídos que cortam os silêncios prolongados já fazem parte de nós. Uma aldeia é um laboratório sociológico de costumes de antanho e a modernidade contemporânea que nos calha todos os dias.

Diariamente havia animação para os hóspedes da unidade hoteleira. Entrámos na sala destinada às variedades do hotel. Estava repleta, sem uma única mesa livre. De repente, próximo de nós, um homem sozinho, aparentemente nos “sessentas”, da nossa idade, levantou o braço e convidou: “se quiserem, sentem-se aqui, na minha mesa, estou à espera da minha mulher, mas não sei se vem.

Como a justificar-se, continuou o participante, “devemos ser solidários, não faz sentido eu estar só a ocupar um lugar destinado a um grupo de pessoas…

Interrompeu o discurso para, mais uma vez, levantar o braço e convidar outras pessoas para junto de nós. Era um outro casal, um pouco mais velho, talvez na casa dos setenta anos. A mulher, um pouco introspectiva, de rosto fechado, como se carregasse toda a tristeza do mundo, parecia não dar abertura sequer a um simples diálogo de circunstância. Mas, notava-se, era uma senhora bem-formada e requintada, Simplesmente só falava se absolutamente necessário.

Em completa contradição, o marido, sem hipótese de passar desapercebido, era o paradigma da empatia. De sapato branco abicado, calça e camisola igualmente de cor branca e na cabeça um chapéu de abas de tom claro e imaculado. Era um perfeito “dandy” – cavalheiro de presumível bom gosto e de aparente bom-senso, mas que, pelo aspecto abastado, podia não pertencer à classe nobre. É uma imagem construída para impressionar. Como se usasse uma máscara, é uma amostra de intelectual. Com uma obsessão pela classe e, detestando, a vulgaridade, procurando dar nas vistas, tenta elevar-se acima do comum. No oposto ao desejado, contudo, não está livre de provocar sorrisos mordazes e críticas ferozes pela ousadia de querer romper o situacionismo.

Virando-se para mim, à laia de cumprimento, atirou de supetão: “eu sou juiz (jubilado) – e puxou imediatamente de um cartão.

Reparei que era extremamente magro, de rosto quase esquelético. Pensei para mim que devia estar doente – mais tarde fiquei a saber que (aparentemente) estava muito bem de saúde e que, no tocante à inelutável magreza, era uma questão biológica, por mais que comesse, e comia muito bem, não conseguia engordar.

Passados uns minutos, repetiu: “já lhe disse que sou juiz? E já lhe mostrei o cartão?” - e levou a mão ao interior de um dos bolsos das calças.

De forma discreta mas imperativa, a esposa, ao mesmo tempo que lhe pegava no braço, murmurou-lhe baixinho junto ao ouvido: “querido, já mostraste!

A conversa entre todos decorria com cordialidade em torno dos dias da nossa vida. Depois de passar pelo futebol, inevitavelmente, a amável cavaqueira caiu na política partidária, atirou o meu novo amigo: “ já lhe contei que o António, aquele que foi presidente da Câmara Municipal de…, um dia ligou-me a dizer que precisava de falar comigo. Combinámos o encontro. Quando nos reunimos no seu gabinete, arrastando-me para a secretária e pegando no meu braço, ordenou: João, assina aqui. A partir de hoje passas a ser militante do partido…

E continuou a narrativa, “empertiguei-me todo… O quê? Eu não assino nada… Eu quero lá saber disso?!?”. E repetiu: “eu quero lá saber disso?!?”.

De repente, interrompendo em corte, interroga: “eu sou juiz, já lhe disse? E já lhe mostrei o cartão? - e transporta a mão em direcção ao bolso. E novamente a esposa, de forma sub-reptícia e delicada, lhe prende a mão e, junto ao ouvido rumorejou: “já mostraste!



 

sábado, 17 de setembro de 2022

QUADROS SINÓPTICOS: FÉRIAS DEPOIS DOS SESSENTA

 

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





Estávamos de férias, eu e a minha mulher, longe do conforto do nosso lar; arredados do mugir mágico de uma cabra, ou ovelha, que, na aldeia, nuns currais afastados teimam em romper o silêncio; afastados dos afagos e do miar do nosso gato; distantes do galo-sentinela, que a par do relógio da capela, sem querer saber se somos velhos ou novos, se já temos a nossa conta no índice de contribuição laboral, alheio a qualquer influência externa, teima em nos acordar para uma madrugadora vida diária.

Estar de repouso para os mais velhos, a partir dos sessenta, a minha geração, não é apenas agarrar a trouxa, deixando tudo para trás como se o que fica pouco contasse, e partir para longe. O ir em gozo de férias é, acima de tudo, um acertar de contas com o passado, onde, nas últimas décadas, quantas vezes ininterruptamente sem descansar, o trabalho foi muito mais do que uma obrigação societária individual e paritária, que deve caber a cada um de nós para ser um cidadão auto-suficiente e ser gerador de riqueza. É o usufruir de um direito que, por juros acumulados lhe deve calhar em dobrado, mesmo com atraso em relação ao tempo presente, numa espécie de catarse, método psicanalítico que consiste em trazer à consciência recordações recalcadas, com orgulho envaidecido, nos julgamos justos merecedores. Não é por mero acaso que num encontro dos agora apelidados de “seniores”, a qualquer momento, possa sair o desabafo: “eu trabalhei muito e duro. Muito mesmo. Nem te passa pela cabeça”.

Para muitos, tantos, tantos que nem se sabe a conta, foi mesmo assim, sobretudo para aqueles que, vindos da miséria cintilante das décadas de 1940/1950/1960, elegeram a pobreza como inimigo a abater. E quem por aqui passou, percorrendo sendas e veredas, e calcou calhaus pontiagudos e arame farpado, sabe que não estou a exagerar.

O descansar um período, ou períodos, durante um ano, é como se estivéssemos a usufruir de uma prerrogativa equitativa, sonhada durante noites sem fim enquanto fomos novos. Ou seja, que, embora com atraso temporal, e exceptuando a proeminente barriga, nos transforma em iguais perante quaisquer outros.

De certo modo é como se, durante a melhor fase da nossa vida, andássemos a adiar para a velhice o que nos dá mais prazer no entretenimento. Deixamos para mais tarde a leitura de centenas de livros que juntámos em acervo bibliotecário; adiamos para as calendas da velhice as viagens para conhecer uma parte do mundo.

Quando lá chegamos, estamos cansados, os ossos, com dores agudas, negam-se a subir a montanha, as receitas médicas e os exames sempre a balouçar perante novas doenças que, como castigo divino, parecem querer correr atrás de nós sem nos largar, a memória, como um filme riscado, começa a falhar, é mais fácil relembrar um acontecimento passado há meio-século do que onde deixámos ontem o carro estacionado na cave da grande superficial comercial.

Para piorar as coisas, o relógio, marcador do tempo, passa a ser nosso inimigo. Contrariamente a nós e à nossa vontade, o maldito trabalha sem se esfalfar.

Se é que alguma vez controlámos alguma coisa, agora, com os dias a encurtar no Inverno da existência, é que sentimos que somos meros peões num jogo a que chamamos vida.