Passado
um ano, depois de ter perdido as eleições para a Câmara Municipal
e após ter permanecido dois mandatos consecutivos à frente do
executivo concelhio, 2013-2021, e muitos mais no pretérito século,
está na altura de, em jeito de balanço, fazer umas perguntas ao
actual líder da oposição.
Rui Manuel Leal Marqueiro,
natural de Ermesinde, concelho de Valongo e distrito do Porto, de 70
anos, conhece os corredores camarários como poucos. Como
independente do Partido Socialista (PS), em 1979 foi eleito
presidente da Assembleia Municipal de Mealhada.
Em 1981 aderiu ao PS. Em 1983,
concorreu e ganhou novamente a mesa da Assembleia. Em 1985 foi
eleito, ex-aequo, para a Assembleia Municipal e membro da
freguesia de Antes.
Em 1989 foi eleito presidente
da Câmara Municipal; foi reeleito em 1993 e em 1997.
Goste-se ou não de Marqueiro,
um valor ninguém lhe pode negar: a sua coragem. Poucos com a sua
idade e experiência empírica tomariam a decisão de ocupar o
correspondente lugar na oposição – e daí, confesso, a minha
profunda admiração.
É no desempenho da função
política que podemos avaliar o pior do comportamento humano: se o
eleito está em cima, por ter poder de execução, é hipocritamente
elogiado e idolatrado; se está em baixo, sem autoridade, é, sem
pejo, vaiado e desprezado por muitos que, até aí, lhe beijavam as
mãos.
A pensar que me mandava dar
uma volta ao bilhar grande, lancei-lhe, mais uma vez, o desafio de me
responder a uma série de questões políticas e algumas que até
podem tocar a pessoalidade. É a segunda vez que, perante o meu
atrevimento, não nega fogo. Começo por lhe agradecer a gentileza.
Sem mais demoras,
contraditando perguntas de âmbito geral, vamos ouvir Rui Marqueiro.
Meallhadenses
que Amam a sua Terra (MAST): A dez dias das eleições para a
Comissão Política Concelhia e do Secretariado Concelhio da Secção
da Mealhada do PS temos apenas uma candidatura conhecida, a de José
Calhoa.
O
seu tardar em pronunciar-se, num aparente recolhimento de guerreiro,
velho, cansado e desanimado, que depois de regressado de uma longa
batalha esforçada mas perdida, perante a indiferença do povo,
significa que, numa espécie de bofetada sem mão, devolvendo o que
tem recebido nos últimos tempos,
mandando-os bugiar, está a ponderar não se recandidatar?
Ou
que está a criar um tabu, uma onda de força impactante, e que no
último momento, surgindo de espada em riste, leva todos e tudo à
frente?
Rui
Marqueiro (RM): Que eu saiba, só haverá a candidatura do meu
camarada e Amigo José Calhoa.
Entendi
que eu não deveria apresentar uma candidatura.
Não
é a primeira vez que o faço.
Nesta
última passagem pela Câmara Municipal de Mealhada (CMM), a minha
camarada e Amiga Arminda Martins foi Presidente da Concelhia; na
primeira passagem pela CMM foi Presidente da Concelhia o
saudoso camarada e Amigo o Prof. António Gonçalves.
Não
há tabu, nem desinteresse, nem os meus camaradas estão indiferentes
comigo, ou eu com eles.
MAST: No desempenho de
líder da oposição, ao longo de um ano, pelas suas manifestações
perceptíveis de desânimo e descontentamento nas reuniões
camarárias em relação aos seus correlegionários, dá para
apreender que é um homem descontente, solitário e desapontado.
Sente que está a ser injustiçado pelo aparelho do partido?
RM:
Não. Não estou
desapontado, ou descontente, bem pelo contrário. Estou a gostar da
experiência, que é nova para mim. Já fui oposição na Assembleia
Municipal,
na Assembleia de
Freguesia
de Antes. Na
CMM é a primeira vez. Há sempre que aproveitar a possibilidade de
vivenciarmos novas experiências
na Vida.
MAST:
Reunião após reunião, e já foram muitas durante o ano que passou,
tenho notado que o espírito hilariante, mordaz e maledicente do
Marqueiro dos primeiros tempos está a dar lugar a um novo actor
político mais dramático, mais cordato e menos hostil. É o cansaço
inerente à função a manifestar-se, ou um comportamento estudado e
deliberado para não cansar os eleitores?
RM:
Nunca
fui maledicente. Procuro nunca me trair. Aprovo o que achar bem,
reprovo o que achar mal. Sou
sarcástico com a falta de verdade, e implacável com manobras de
proteção de interesses de duvidosa legalidade administrativa ou
penal e aí recorrerei às
autoridades competentes em razão da matéria em causa; nunca com o
manto cobarde do anonimato como no ultimo mandato fizeram comigo, com
os meus colegas, e alguns funcionários da CMM.
Tudo
aquilo que, no meu entender, tiver de ser comunicado a qualquer
autoridade leva o meu nome e cargo.
Quanto
aos eleitores, cada qual que pense pela sua cabeça e oxalá não se
deixem intoxicar pela muita propaganda viperina e paga que por aí
anda.
MAST:
Naturalmente, pretendendo atingir a sua imagem pública, corre no
interstício da má-língua que o político Rui Marqueiro está
riquíssimo, com depósitos em contas “offshore”.
Há
uns meses, mais
concretamente em Julho,
em articulação com outras matérias em discussão com
outro vereador no
executivo, o senhor afirmou: “Eu
tenho uma mágoa na vida: fui acusado de ser desonesto. (…) Eu
tenho uma vida de impoluto; a minha fortuna resume-se a cento e tal
mil euros. Pode ver a declaração no tribunal.”
Afinal,
em que ficamos? É rico, remediado, ou
pobre?
RM:
O
Rui Marqueiro nunca teve, não tem, nem nunca terá qualquer
património fora do seu País. Desafio quem quer que seja a provar o
contrário.
Ser
pobre, remediado ou rico depende do patamar que se considerar.
Ter
património de 1000000, um milhão de euros é ser rico? Então não sou rico.
Ter
património de 500000, quinhentos mil euros, meio-milhão de euros é ser rico? Então não sou rico.
Vivo
com dignidade, após 44 anos de trabalho. Agora estou aposentado com
uma pensão resultante destes anos de trabalho, sem beneficio de
nenhuma espécie.
Para
todos aqueles que andaram, andam e, pelos vistos, continuarão a
andar a difamar, mentir, e invejar a minha pessoa dedico-lhes uma
quadra do grande poeta Aleixo para perceberem o quanto os desprezo
Sei
que pareço um ladrão
Mas
há outros que eu conheço
Que
sem parecerem o que são
São
aquilo que eu pareço
MAST: O Mercado Municipal,
uma obra emblemática de quase três milhões, adjudicada no seu
mandato, e que presumivelmente pretendia ser o ícone, a obra de
regime em que deveria ser lembrado para a posteridade o político Rui
Marqueiro, está a dar “água pela barba” aos novos ocupantes da
cadeira presidencial. Se fosse hoje, tendo em conta a crise dos
mercados tradicionais e a “invasão” de novas médias-superfícies
comerciais na cidade,
faria uma obra de tamanha volumetria e considerada por muitos como
megalómana?
RM:
A
verdadeira história do mercado municipal de Mealhada será em breve
contada por mim numa reunião da CMM.
Hoje
faria exactamente o mesmo. E
não vou ser complacente com tanta falta de verdade e incompetência.
MAST: Imagine que está
prestes a exalar o último suspiro – longe vá o agoiro que, juro,
não lhe desejo mal algum -,
vai mandar chamar
Hugo Alves Silva, o vereador da “catalinária”,
como o classifica
amiúde,
e aparentemente
“inimigos de
estimação”,
e rogar-lhe um pedido de perdão recíproco
pelas demandas em tribunal por
difamação? (bem
sei que não é religioso, mas, pelo sim, pelo não, convém levar a
consciência em paz para a última viagem)
RM:
Não falo sobre o sr. Hugo Silva. A justiça dos seres humanos que se
ocupe dele. Não tenho medo da Morte, porque acredito que é o fim de
todos os sofrimentos e nada mais há para além dela.