quinta-feira, 30 de abril de 2015

QUANDO A MISÉRIA PAGA TAXA




(RECEBIDO POR E-MAIL)

“UMA VERGONHA”


“... batendo as asas pela noite calada... vêm em bandos, com pés de veludo...» Os Vampiros do Século XXI:

“A Caixa Geral de Depósitos (CGD) está a enviar aos seus clientes mais modestos uma circular que deveria fazer corar de vergonha os administradores – principescamente pagos - daquela instituição bancária.
A carta da CGD começa, como mandam as boas regras de marketing, por reafirmar o empenho do Banco em oferecer aos seus clientes as melhores condições de preço qualidade em toda a gama de prestação de serviços, incluindo no que respeita a despesas de manutenção nas contas à ordem.
As palavras de circunstância não chegam sequer a suscitar qualquer tipo de ilusões, dado que após novo parágrafo sobre racionalização e eficiência da gestão de contas, o estimado/a cliente é confrontado com a informação de que, para continuar a usufruir da isenção da comissão de despesas de manutenção, ter crédito de vencimento ou ter aplicações financeiras associadas à respectiva conta, terá de ter em cada trimestre um saldo médio superior a 1000 euros. Ora sucede que muitas contas da CGD, designadamente de pensionistas e reformados, são abertas por imposição legal. É o caso de um reformado por invalidez e quase septuagenário que sobrevive com uma pensão de 243,45 euros - que para ter direito ao piedoso subsídio diário de 7,57 euros (sete euros e cinquenta e sete cêntimos!) foi forçado a abrir conta na CGD por determinação expressa da Segurança Social para receber a reforma.
Como se compreende, casos como este - e muitos são os portugueses que vivem abaixo ou no limiar da pobreza -não podem, de todo, preencher os requisitos impostos pela CGD e tão pouco dar-se ao luxo de pagar despesas de manutenção de uma conta que foram constrangidos a abrir para acolher a sua miséria.
O mais escandaloso é que seja justamente uma instituição bancária que ano após ano apresenta lucros fabulosos e que aposenta os seus administradores, mesmo quando efémeros, com «obscenas» pensões (para citar Bagão Félix), a vir exigir a quem mal consegue sobreviver que contribua para engordar os seus lautos proventos.
É sem dúvida uma situação ridícula e vergonhosa, como lhe chama o nosso leitor, mas as palavras sabem a pouco quando se trata de denunciar tamanha indignidade.
Esta é a face brutal do capitalismo selvagem, que nos servem sob a capa da democracia, em que até a esmola paga taxa. Sem respeito pela dignidade humana e sem qualquer resquício de decência, com o único objectivo de acumular mais e mais lucros, eis os administradores de sucesso.
Medita e divulga... Mas divulga mesmo por favor... Cidadania é fazê-lo, é demonstrar esta pouca vergonha que nos atira para a miséria social.
Este tipo de comentário não aparece nos jornais, tv's e rádios... Porque será???”

LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "CARTA A UM PARVO QUALQUER", deixo também a crónica "DEUS NOS LIVRE DA LISÍSTRATA".


CARTA A UM PARVO QUALQUER

Viva meu papalvo. Espero que esta carta te vá encontrar de boa saúde… física, pelo menos, porque mental estás completamente senil, meu velho. Não te esforces em contraditar-me. Não vale a pena. Conheço-te melhor do que tu próprio alguma vez almejaste conhecer-te. Não mates a cabeça em tentar adivinhar quem sou. Basta apenas parares para refletir. Tu andas mal, meu! Muito mal, mesmo. Estou profundamente preocupado contigo –acredita, este foi verdadeiramente o motivo por que decidi escrever-te. Bem sei que não vais ligar nenhuma, porque te conheço bem, mas mesmo assim arrisco enviar-te esta missiva. Mesmo não sendo presciente, adivinho o teu sofrimento, a tua dor plasmada no teu rosto hermético que há muito não sorri de vontade. Andas muito triste, bem sei. Afivelaste essa máscara de solidão há uns anos e, como ela se te colou à face, nunca mais a largaste. Sei muito bem que, quando escreves, procuras focalizar os teus pensamentos na vida dos outros. Raramente falas de ti, da amargura que te corrói as profundezas da alma. De ti, escreves apenas banalidades, passagens que não despertam o mínimo interesse. Fazes essa descrição simplista para enganares quem te lê, para que pensem que te conhecem e que compartilhas as tuas preocupações com eles, mas eu sei que não. Tu falas muito pouco da tua amargura, dos teus sonhos frustrados, em tentares ser o que nunca conseguiste. Não descreves essa tua luta surda, obsessiva, em direção a um horizonte desconhecido. Pareces um boneco de corda a quem rodaram a pega e enquanto se não acabar a força continua sempre em frente, mesmo a arrastar-se pelo solo, meu. Queres provar o quê? A quem? Esquece essa predestinação, meu! O teu pai já morreu há quase uma vintena de anos e já não quer saber de nada de ti… se é que alguma vez, enquanto vivo, se preocupou contigo. Não vale a pena, é tempo perdido, continuares a querer demonstrar-lhe que, quando ele te dizia que “dormias muito e nunca serias nada na vida”, estava enganado. Onde quer que ele esteja já viu certamente. Deixa de te preocupares com os outros. Preocupa-te apenas contigo. Já estás a ver que essa tua inquietação com quem te rodeia não te conduz a lado nenhum.
Lembras-te quando o teu pai, esquinado, completamente bêbado, batia na tua mãe junto ao borralho e tu, encolhido a pedir às Alminhas para não levares também, fazias uma promessa solene para ti mesmo de que nunca irias ser assim? Jamais baterias na tua esposa um dia quando fosses homem? Jamais te embriagarias? De que te aproveita isso? Não seguiste tu o caminho do teu pai, como castigo divino, imita o teu filho o avô. Valeu-te alguma coisa? O que sentiste esta noite quando o foste recolher ao hospital completamente carregado de álcool e sem dar acordo de si? O que sentiste quando há tempos, lá em casa, verificaste que todas aquelas garrafas que guardavas para uma ocasião especial estavam vazias? Não faças essa cara de surpresa, meu. Eu conheço-te bem. Sei tudo a teu respeito. Lamento por ti, podes crer mesmo. Bem sei que tanto te esforçaste para dares aos teus filhos uma vida que não tiveste. Lembras-te quando fizeste o exame da 4ª classe, tiveste os teus primeiros sapatos, calça de terylene e camisa tv, e, para que todos na aldeia vissem a tua roupa nova, foste sentar-te no patim do adro da capela? Recordas quando chegaste à cidade com uma saca de pano onde não teria dentro mais do que medos de falhar no novo emprego e poderes não aguentar, no mínimo, um ano? Se acontecesse o contrário, lá na aldeia, serias considerado um estroina e valdevinos que não parava em lado nenhum. Estás a visualizar, meu? Consegues rememorar quando entre os 10 e os 16 anos compravas roupa usada com as gorjetas que te davam no emprego? E as tuas vestes eram lavadas durante a noite para vestires no dia seguinte, tantas vezes enxovalhada e húmida? Consegues reviver o caminhares com uns sapatos, dos mais baratos que havia –do “Campeão Português” e que custavam 80 escudos, hoje 40 cêntimos- completamente com a sola gasta, com um buraco no meio, e que até evitavas calcares as pedras mais salientes?
Quiseste facultar tudo o que não tiveste aos teus filhos. Sentias que tinhas obrigação de lhes dares o que não tiveste. Enquanto criança, nunca o teu aniversário foi comemorado. O Natal e a Páscoa, idem aspas. Nas datas importantes como a comunhão solene, por exemplo, estiveste sozinho. Nunca esqueceste esse lapso dos teus pais, meu. Pois, como se tivesses essa memória a queimar-te a mente, para os teus filhos estiveste sempre nas datas mais importantes das suas vidas. Algumas vezes ias a correr e chegavas já depois do espetáculo ter começado. Levantavas os braços para eles verem que estavas lá. Eu sei, meu. Eu acompanhei essa parte da tua história. É triste, meu, quando às vezes te acusam de não lhes teres dado carinho. É ofensivo, meu. Tu fizeste tudo para que fossem felizes. Aliás, tenho a certeza de que, ao longo da tua existência, a tua família esteve sempre presente. Até te digo sem pestanejar que os interesses deles foram sempre colocados depois dos teus. Vai ver as cassetes de vídeo, quando eles eram pequenitos e lá se pode ver, nas brincadeiras, o ar de felicidade comum. Como te podem acusar de não lhe teres dado afeto? Oferecer um brinquedo que nunca se teve a um filho não é um ato de carinho? Dar uma camisola de marca que nunca se pode ter é o quê? Deste de mais, meu. Esse é o problema. Deverias saber que só damos valor às coisas quando não as temos. E tu deste por não teres tido. Gozavas o sentimento de posse da mesma forma como se fosse para ti. E eles tiveram tudo o que a classe média da altura detinha, para que não se sentissem complexados, inferiorizados, perante os colegas na escola. E tu trabalhavas, trabalhavas cada vez mais para que nada lhes faltasse. Como a remendar o teu passado, deste-lhes sapatos, calças e blusões caros, de luxo. Tu que não pudeste ir estudar para o liceu, porque os teus pais eram muito pobres, aprender solfejo – a tua música era o assobio que sempre te acompanhou a trabalhar e até há uns anos- deste tudo isso aos teus herdeiros. Recordas quando a tua filha entrou na Faculdade e choraste como uma Madalena? Naquela entrada na universidade tu sentiste como fosse o teu ingresso. Era a tua projeção existencial que estava em causa. O preenchimento de uma lacuna. Um buraco que tentavas tapar. O grave é que, às vezes, por mais que tentemos remediar um problema ele será sempre irresolúvel. E quanto mais nos esforçamos para a sua solução maior é o fosso cavado entre o ofendido e o agressor. É como tentar alterar um destino previamente escrito nas calendas do tempo.
Não vale a pena continuares a recriminar-te, meu. Agora é tarde. E toma atenção: o que não pode ser solucionado resolvido está. Bem sei que gostavas de ver os teus filhos encaminhados na vida, mas o que podes fazer? O que podias, no que estava ao teu alcance, fizeste. Agora é com eles. Tal como na natureza, com os passarinhos, apenas somos responsáveis pelos filhos até conseguirem voar. A partir do momento em que o podem fazer o seu futuro passa para as suas mãos, na sua vontade. Compreendo-te bem, meu. Gostavas que os teus herdeiros dessem valor às coisas como tu dás. Mas como, meu? Se não sofreram o que tu sofreste para as conseguir? Foi tudo fácil para eles. Estás farto de saber que o sofrimento apura a alma, eleva o espírito. Se aceitas que é assim, porque continuas a teimar? És burro, meu? Eu entendo. Acredita que entendo. Custa ver um projeto de vida ir por água abaixo, ao sabor da corrente. É um sofrimento que se arrasta há muitos anos. É uma areia na engrenagem que vai causando mossa nas relações entre ti e a tua mulher. Estou a ver a coisa, meu. As mães, com o seu obsidente sentimento de amor pelos filhos, tentando tapar as suas falhas graves, acabam por destruir os elos que sustêm a própria família. É natural, eu sei, meu. Mas é um bocado estúpido, não é? Nenhum primogénito merece a separação dos pais, sobretudo quando lhe foi dado todas as oportunidades para se reinserir na sociedade. Todos, individualmente, através do trabalho, devemos contribuir para a riqueza e o desenvolvimento da prole e, por inerência, do país. Não há máximos –isso já depende da ambição de cada um e até onde quer chegar-, mas há mínimos exigíveis para sermos cidadãos transversalmente com os mesmos direitos e obrigações. Não pode haver “pão para malucos”. Só pode ter direito a broa na mesa quem se esforça e contribui para a ter. O bem-estar conquista-se, não cai do céu.
Comecei com esta retórica, meu, desculpa, bem sei que comungas da mesma opinião. Infelizmente não tenho soluções para o teu caso. Resta-me apelar à tua santa paciência. O tempo resolve tudo… E se não resolver, repito, solucionado está. Desculpa, também, ter-te chamado parvo. Não és. Bem sei que não és. Um grande abraço, meu.


DEUS NOS LIVRE DA LISÍSTRATA

Na última sexta-feira quando o relógio da torre da Igreja de São Bartolomeu marcou mais ou menos 21h30 o pequeno largo da Rua de Sargento Mor estava repleto de mulheres. Se não me engano, só um homem estava lá –no caso, era eu porque fui contratado para reportar o evento para o grande público nacional e internacional e, por isso mesmo, peço desculpa ao meu género mas, como se deve entender pela falta de trabalho, não podia dizer que não. Juro pela minha avozinha que estava, e estou, completamente solidário com a classe masculina. Bem sei que você não está a perceber nada da minha prosa, mas faça o favor de ir com calma que já explico tudo. Como sabe a ansiedade é terrível para o ato. Desmancha tudo em três tempos e um homem, perante a mulher, fica estarrecido e mais dócil que um cordeirinho perante a mamã.
Vou então partir para o que me motivou a escrever esta crónica. O caso é este: dois jovens, o Dinis e a Mónica, finalistas do Curso de Teatro, lembraram-se de levar à cena a peça “Lisístrata”, de Aristófanes – O argumento gira em torno de um grupo de mulheres que, para impedir que os seus companheiros vão para a guerra, se agrupa e, usando o melhor instrumento que uma mulher tem para os pressionar –refiro a inteligência- fazem greve ao sexo. Então contactaram sete mulheres, de tomates, salvo sejam, oriundas da Rua de Sargento Mor, a Hermínia, do Cantinho da Anita, a Helena, da Loja Lena, a Marta, do Talho Sargento Mor, a Graça, do Restaurante Orpheu, a Anabela, da Retrosaria Ziguezague, a Ana, da sapataria “Low Cost”, e a Maria Patrocínio, do restaurante 007, todas mulheres de negócio na reputada artéria. E se isto alastra? Ai senhor! O que vai ser de nós, homens? *


* Por questões de espaço no jornal, fui obrigado a amputar o texto original, que escrevi no própria dia. Como não quero que lhe falte nada, leitor, vou plasmá-lo aqui novamente.

DEUS NOS LIVRE DA LISÍSTRATA

Mais logo quando o relógio da torre da Igreja de São Bartolomeu marcar mais ou menos 21h30 o pequeno largo da Rua de Sargento Mor vai estar repleto de mulheres. Se não me enganar, só um homem vai estar lá –no caso, eu porque fui contratado para reportar o evento para o grande público nacional e internacional e, por isso mesmo, peço desculpa ao meu género mas, como se deve entender pela falta de trabalho, não podia dizer que não. Juro pela minha avozinha que estou completamente solidário com a classe masculina. Aliás, até vou mais longe, isto é uma afronta reacionária à classe trabalhadora. Fogo! É uma falta de respeito para quem tanto trabalha. Porque uma coisa é estar de perna-aberta e dizer “anda cá meu amorzinho, salta para cima de mim!”, outra, é um homem diligente, para além de ter de parecer um grande garanhão, ter de ser, mostrar que está à altura e que tem mesmo de desempenhar o seu papel como deve ser. Porque, vamos lá, um sujeito quando está na função não pode representar. Ou é ou não é! Bem sei que você não está a perceber nada da minha prosa, mas faça o favor de ir com calma que já explico tudo. Como sabe a ansiedade é terrível para o ato. Desmancha tudo em três tempos e um homem, perante a mulher, fica estarrecido e mais dócil que um cordeirinho perante a mamã.
Vou então partir para o que me motivou a escrever esta crónica –que, como plasmei em cima, estou indignadíssimo, mas passemos à frente. O caso é este: dois jovens, o Dinis e a Mónica, finalistas do Curso de Teatro, lembraram-se de levar à cena a peça “Lisístrata”, de Aristófanes –calma que já conto o que é isto! Então contactaram sete mulheres, de tomates, salvo sejam, oriundas da Rua de Sargento-mor, a Hermínia, do Cantinho da Anita, a Helena, da loja Lena, a Marta, do Talho Sargento-mor, a Graça, do Restaurante Orpheu, a Anabela, da Retrosaria Ziguezague, a Ana, da sapataria “Low Cost”, e a Maria Patrocínio, do restaurante 007, todas mulheres de negócio na reputada artéria. Então os “miúdos” –porque levar uma peça destas à cena só pode mesmo ser obra de rapaziada nova-, cheios de força e sem calcularem a revolução que pode dar -para o prejuízo, é claro- ao pessoal másculo, toca de as orientar para a representação. Como escrevi em cima, será mais logo, se não chover –mas cá para nós, Deus queira que chova a potes!
Então em que consiste a peça de teatro? Pois! Aqui é que a coisa bate! O argumento gira em torno de um grupo de mulheres que, para impedir que os seus companheiros vão para a guerra, se agrupa e, usando o melhor instrumento que uma mulher tem para os pressionar –refiro a inteligência, pensava que era o quê?-, fazem greve ao sexo. Ora aqui é que bate no rebate! Imaginemos que isto alastra? Como é que eu e outros cá como o “je” ficamos? Não é por nada mas embora custe a admitir, de uma forma não declarada, já somos dominados pelo género feminino. As mulheres, para o género masculino, são a ditadura do proletariado. São a opressão e a instrumentalização através da delicadeza. Contrariando o filósofo Hobbes, que escreveu que o homem é lobo do homem, a mulher é a loba do pobre homem. Claro que a guerra está aberta e, por este andar, vai haver muitas mais baixas –deve ser por isto que os homens estão a dizimar as mulheres, não deve? Por que as guerras têm sempre na génese a perda e a conquista de poder. É ou não é? E não estou a escrever que concordo com a extrema violência, de maneira nenhuma. Eu sou do tempo em que numa mulher não se batia nem com uma flor –é óbvio que isto era a mitologia do tempo, o que se apregoava na rua. Dentro de casa era cada arraial de pancadaria que até metia medo e no dia seguinte aparecia a senhora toda pisadinha. Tinha caído na escada num acidente inglório, invocava a própria.
Voltando à peça de teatro “Lisístrata”, apresentada pelas garbosas mulheres da Rua Sargento Mor, se isto se espalha, se outras mulheres lhe tomam o exemplo, será como derramar gasolina sobre uma fogueira. Pode ser muito pior para nós, homens, que a peste bubónica no início do século XX. Mesmo tendo de aturá-las e sermos seus (in)fiéis servidores, sem elas, a nossa vida é bem mais complicada. Apesar de serem uma dor de alma, sem elas, não sobrevivemos. Não alterem este estado de coisas. Pode ser? Apesar da minha novena prometida à Rainha Santa não choveu e a representação foi muito ovacionada. Deus queira que não repitam!



 



LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...



Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "REDES E MUROS SEPARADORES ENTRE O PODER E O POVO" e a crónica "TEMOS DE MUDAR ISTO, CUSTE O QUE CUSTAR!"


REDES E MUROS SEPARADORES ENTRE O PODER E O POVO

A semana passada, uma idosa e doente com um problema particular originado por terceiro, que lhe estava a complicar a vida, dirigiu-se aos Serviços de Atendimento da Câmara Municipal e solicitou uma audiência para ser recebida pelo vereador do pelouro que estava conforme o seu caso. Segundo alegações da senhora, “só Deus sabe como me encontro à beira de um esgotamento. Não sei o que fazer. Fui à autarquia para poder falar com alguém que me pudesse ajudar. O funcionário, perante a minha exposição do problema, ficou indignado com o que eu disse e respondeu asperamente que a edilidade não tinha nada a ver com o caso em concreto. Entregou-me uma minuta dirigida ao vereador, enfatizou que a preenchesse, mas que isso ia demorar e poderia ser deferido ou indeferido. Disse ainda “aqui é a Câmara Municipal. Não é igual a qualquer outro serviço público. Estamos a cumprir ordens”. Tudo isto dito com secura e sublinhado com ar importante e a despachar-me. Entregou-me um número de Linha Verde e para eu falar para o gravador.
É uma falta de respeito para com os cidadãos. Sinto-me diminuída, discriminada. Passados 41 anos do 25 de Abril, não poder aceder a um vereador com facilidade é uma indignidade. É uma burocracia inqualificável. Uma atitude destas é pior que no tempo do fascismo. Os munícipes devem ser ouvidos e recebidos com celeridade. É uma vergonha. Sinto-me muito triste e desalentada com este executivo socialista. Fui funcionária pública durante muitos anos e sempre dei uma resposta cabal a quem dela necessitava. Lembro-me muito bem de Manuel Machado, atual presidente da Câmara Municipal. Conheço-o desde os seus 18 anos. Tenho muito boa impressão dele. Será que ele sabe o que se passa nos serviços de Atendimento? Nunca pensei que na minha Câmara houvesse um muro separador entre o poder e o povo!”
Saliento que o vereador da oposição Ferreira da Silva, eleito pelo movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC), recebe os munícipes todas as sextas-feiras, entre as 15h00 e as 17h30, na Sala dos Vereadores, situada no primeiro piso da Casa Aninhas, à frente da Câmara Municipal de Coimbra, na Praça 8 de Maio.

CHEGAR AO PÚLPITO E DESABAFAR É DIFÍCIL

Em Coimbra, tomando conta do que é exposto pela depoente acima referenciada, pelos vistos, excetuando Ferreira da Silva, do CPC, chegar a um vereador com pelouro é mais difícil que aceder ao Presidente da República. E não importa se o munícipe quer ser ouvido sobre um assunto pertinente ou não. O que está em causa é que qualquer eleito deveria ocupar o lugar para escutar os problemas e estar ao serviço dos cidadãos. Um grão de areia pode ser despiciente para um habitante do deserto mas, contrariamente, pode ser uma desgraça na engrenagem do sistema informático para um citadino. E se for idoso ainda mais complicado se torna. É preciso ter isto em conta. Quem vive os acontecimentos, grandes ou pequenos, é que sofre e sente todo o abandono de quem deveria poder ser-lhe útil. A felicidade de um povo começa aqui, no acesso facilitado aos serviços públicos. Mas isto é ruído para certos ouvidos de marcador. Como só sentimos quando nos calha a nós, estando de fora, acabamos a desculpar tudo e todos e rematamos com ênfase: “é o sistema!”
O acesso ao executivo local é feito apenas uma vez por mês, na primeira sessão, e é no fim da reunião, cerca das 18h00. Numa indescritível falta de respeito, já aconteceu os interessados exporem os seus assuntos cerca das 21h00. A inscrição para participar terá de ser com uma semana de prazo, impreterivelmente. Já me aconteceu ultrapassar os sete dias e já não poder aceder. Pergunta-se: por quê uma semana? É preciso tantos dias para poder consubstanciar a defesa e refutar os argumentos do munícipe?
Tentar intervir na Assembleia Municipal é outro labirinto em passos perdidos. Para fazer a inscrição tem de ser nos “serviços de apoio à Assembleia”. Por exemplo, se a funcionária não se encontrar presente teremos de voltar mais tarde. Então interroga-se: porque não é feito o registo na secção de Atendimento? Numa ação que deveria ser extremamente simplificada, é preciso quase andar de chapéu na mão para se poder dirigir à tribuna e apresentar a motivação aos deputados. Escrevo por mim, e depois de lá estar é preciso ter sorte para conseguir captar a atenção dos eleitos naquele hemiciclo. Repetindo as palavras escritas na primeira parte do texto, passados 41 anos do 25 de Abril a democracia ainda não chegou à cidade. E tanto faz ser ideologia de Direita, coligação do PSD, como de Esquerda, do Partido Socialista. A forma é a mesma –para não empregar um aforismo popular, em palavrão. O que aborrece deveras é a lengalenga do costume: que o cidadão não intervém na vida pública. Ou seja, com redes e mais muros de triagem a separar os eleitos dos eleitores, como é que se pode?

CONDEIXA MARCA A DIFERENÇA

Tanto quanto me é dado saber, já desde os mandatos de Jorge Bento que em Condeixa foi instituído o costume de o público poder assistir e intervir, ao abrir da sessão, em todas as reuniões da Câmara Municipal. Para além disso, foi instituído um dia da semana em que o presidente, acompanhado com os vereadores com pelouro atribuído, recebem os cidadãos em horário permanente e sem marcação prévia. Nuno Moita, atual presidente da edilidade condeixense eleito pelo Partido Socialista tal como o antecedente Jorge Bento, adotou o mesmo hábito e, acompanhado pela vice-presidente e vereadores, recebe os munícipes todas as terças-feiras das 09h30 até às 13h00. Segundo o boletim camarário de 29 de Outubro de 2013, “Esta medida entrou hoje em vigor e pretende reforçar a proximidade e a ligação entre os eleitos e a população. O atendimento aos munícipes passa a realizar-se sempre às terças-feiras, dia de mercado municipal e de maior afluência à sede do concelho, e não carece de marcação prévia. O atendimento ao munícipe não se esgota, porém, naquele horário, encontrando-se o presidente e restantes vereadores com pelouro sempre disponíveis para ouvir as preocupações e anseios da população embora sujeitos à disponibilidade de agenda. Com esta medida, pretendemos criar um contato mais próximo entre aquilo que é a ação da Câmara e os anseios da população e que promova o envolvimento dos munícipes nas decisões camarárias”, justifica Nuno Moita. O presidente da Câmara tem referido que pretende liderar uma “Câmara de portas abertas, onde os políticos trabalhem mais próximo dos cidadãos", estando ainda prevista neste âmbito a criação de um conselho consultivo na dependência do presidente e que será anunciado em devido tempo.”



TEMOS DE MUDAR ISTO, CUSTE O QUE CUSTAR!
Está a circular um vídeo na Internet que mostra o pior, o execrável, o que alguém pode fazer para alcançar o poder num lugar de relevo. Desde falar em rigoroso cumprimento da palavra dada, até nunca se fazerem nomeações políticas-partidárias, num “antes”, tudo ali é mostrado a nu. Veio o “depois” e a desgraça moral bate-nos com toda a força na cara. O que um homem faz para ascender ao governo. O que vemos nestas imagens videográficas devia envergonhar o Primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho. Mais: depois de enganar os portugueses desta forma infame nunca mais deveria poder candidatar-se a qualquer cargo público de relevo.
Era bom que o candidato do Partido Socialista, António Costa, que já começa a percorrer o mesmo caminho da ladainha e da mentira fácil para todos, pensasse bem o que está a fazer com a paciência dos portugueses. Um dia destes a pachorra esgota-se e o saco das intrujices rebenta-lhes na cara. Os portugueses, sobretudo a classe média, estão a ser usados, abusados e espezinhados por estes políticos cretinos, gente sem o mínimo de dignidade, gentalha que não vale nada. Chega de fazer pouco de quem trabalhou uma vida e vê-se agora, passados 41 anos do 25 de Abril, nas faldas da indignidade. É um doer de alma sentir o que se passa nas ruas. Pessoas sem trabalho que, como sôfregos em busca de um respiro, procuram alguma ocupação que lhes proporcione um rendimento para viverem.
É preciso alterar esta situação. No mínimo é necessário que as pessoas votem e não se divorciem da sua responsabilidade. Votem onde entenderem, mas exerçam o seu legítimo direito (e obrigação) de conduzirem o país para uma outra via. A situação está assim porque, é preciso dizê-lo, metade dos eleitores não quer saber, aceita pacificamente quem vier e só depois, no diz-que disse, reclama de quem conduz o Estado para o saque, a espoliação e o confisco ao cidadão. É certo que não é fácil de caucionar a palavra de um político-partidário mas, pegando nas promessas eleitorais de Paulo Morais de que “perante o não cumprimento das promessas implica a sua demissão”, alguma coisa terá de se fazer para modificar este situacionismo. É que por um mandato até se entende o falhanço de quem vota. O problema é que, acima de tudo nos últimos vinte anos, fizemos da exceção a norma e, paulatinamente, aceitamos o errado como certo. Ou seja, adotamos pacificamente que esta gente medíocre nos trapaceie e, sobretudo os mais velhos, continuamos a votar alegremente sabendo antecipadamente que estamos a ser burlados e tropeados, conduzidos como gado. Terá de ser alterada a Lei Eleitoral de modo a que se entenda que existe um vínculo contratual entre o candidato que promete e o eleitor que vota com base na promessa. A continuar este estado de apatia e de irresponsabilidade, estamos a degradar completamente a sociedade portuguesa, nomeadamente os nossos filhos e netos. Tem de se acabar com esta promiscuidade política. A bem da Nação, como se diria no Estado Novo.




A QUEIRÓS O QUE É DE VÓS

A semana passada, escrevi a crónica “Redes e muros separadores entre o poder e o povo”. Por desconhecimento não referi que o vereador da CDU, Francisco Queirós, recebe cerca de uma dezena de munícipes por marcação às quintas-feiras. No ano transato, de 2014, este edil e vereador da habitação da Câmara Municipal de Coimbra atendeu cerca de 500 cidadãos, oficialmente com ficha e registo mas muitos mais passaram no seu gabinete. Fica feita a emenda. Ao visado, Queirós, as minhas desculpas mas não o referi por que não tinha a informação.

BOM DIA, PESSOAL...

quarta-feira, 29 de abril de 2015

EDITORIAL: QUANDO A EXCEPÇÃO DEVIA SER A REGRA





Ontem uma loja comercial foi inaugurada na Baixa de Coimbra –no caso, tratou-se de uma galeria de um conhecido fotojornalista, colaborador de vários jornais, Carlos Jorge Monteiro, mais conhecido por “Cajó”. Desde Janeiro, último, só nesta área velha abriram cerca de 15 estabelecimentos comerciais -mais à frente vai perceber a razão de ter feito referência a este número.
Por ser um óptimo profissional, uma boa pessoa e muito popular na urbe, nesta abertura da galeria do Monteiro, para além da “high Society”, a alta sociedade da cidade, esteve também presente Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, acompanhado de um séquito de vereadores, assessores e chefes de gabinete.
Antes de prosseguir, tentando colocar ordem no raciocínio, vou fazer algumas perguntas. A primeira é: tendo em conta o facto em causa, não seria esta delegação camarária de peso ridícula?
Agora, indo em sentido contrário na argumentação, interrogo: e porquê ridícula? O chefe de governo local não é livre de ir onde lhe apetece? Não tem o direito de nas suas visitas privilegiar os amigos? Vou responder a estas duas questões. O presidente da edilidade, enquanto “homo economicus” e sujeito de direito privado, pode almoçar, comprar sapatos, adquirir cuecas e meias, cortar o cabelo e barba e fazer as visitas a quem e onde entender. Repito, é do seu foro privado. Depois desta alegação surge outra: e enquanto sujeito de direito público? Onde acaba o âmbito privado e começa o público? E chegados aqui temos a confusão completa. E porquê? Porque não sabemos responder. E esta balbúrdia já vem de longe, sobretudo nos mandatos do actual Presidente da República, Cavaco Silva, esta falta de destrinça tem vindo mais ao de cima. É óbvio que, admitamos, estabelecendo uma linha entre a pessoalidade e o geral de função, não será fácil determinar a fronteira e por isso mesmo o critério fica no livre-arbítrio do estadista. Ou seja, pressupõe-se que o interveniente na acção política que desempenha utilizará o bom-senso para não cair no prejuízo ou favorecimento de alguém. Mas para complicar ainda mais, mesmo sendo de projecção pública, não pode o mandatado escolher, de per si, os acontecimentos que lhe aprouver? Pode, mas sendo criterioso e tendo sempre em conta o interesse social e político.
Voltamos novamente à visita da comissão encabeçada por Machado à galeria e perguntamos: à luz da reflexão, esta visitação foi privada ou pública? Antes de responder podemos indagar: e isso interessa? Acho que interessa sim, sobretudo se a deslocação foi pública. Pela composição do elenco, tudo indica que foi. E interessa? Porquê? Porque nestes dois anos de reinado do presidente camarário, e sobretudo nos últimos quatro meses, em tantos espaços comerciais que já abriram nesta zona, nunca este edil se deslocou a qualquer um. Ora, esta excepção, enquanto serviço público, deveria ser a regra e não a anormalidade. Já escrevi várias vezes que sempre que alguém abre um negócio deveria ser obrigação do presidente da edilidade apresentar-se ao investidor e desejar-lhe boa sorte. Esta proximidade entre pessoas é política de relações humanas. É viver a polis em toda a sua globalidade, mostrando uma necessária equidade e igualdade, num respeito por quem arrisca.
Tenho para mim que os ocupantes da cadeira presidencial que passaram nos últimos anos na Praça 8 de Maio foram acima de tudo burocratas e péssimos políticos, no sentido em que privilegiaram o gabinete em detrimento do contacto com os munícipes. Aliás, exceptuando a campanha eleitoral, parece que fogem dele. E Machado, sendo reservado, foi o semeador da cartilha de manga-de-alpaca –já que esteve à frente da Câmara desde 1989 e até 2001 e foi reeleito em 2013. Encarnação ganhou a edilidade em 2001 e foi dono do seu destino até Dezembro de 2010, quando renunciou a favor de Barbosa de Melo. Estes dois edis, numa linha fechada onde prevaleceu o “low profile” –o aparecer pouco nos media-, seguiram o mesmo exemplo de pouca afectividade com os citadinos. A meu ver, curiosamente passa-se um fenómeno curioso com a imprensa local na cidade. Quando se é poder não é preciso fazer nada para os jornalistas comparecerem aos eventos mais vulgares e serem objecto dos holofotes. Quando se é oposição esta sofre de um nevoeiro demasiado denso e claramente notório.
Respondendo à questão inicial, se toda aquela deslocação presidencial e de vereação para inaugurar uma pequena galeria não era ridícula, não o será se for para fazer o mesmo em investimentos similares futuros. Se foi um caso isolado, mesmo em nome da amizade privada, fica mal tanto aparato público.


terça-feira, 28 de abril de 2015

DOIS FENÓMENOS NA PRAÇA VELHA



Hoje, cerca das 18h30, quem arribasse à Praça do Comércio era surpreendido por dois ajuntamentos de pessoas. Pelo primeiro, tratava-se da inauguração de uma galeria de arte e venda de antiguidades, propriedade do Carlos Jorge Monteiro, mais conhecido por “Cajó”, reconhecido fotógrafo do Diário as Beiras e outros jornais nacionais em que foi e é colaborador. Pelo segundo, o amontoado de indivíduos era justificado pela necessidade de ingresso num novo estabelecimento de Crepes e outros doces de estalar o palato que abriu no Sábado e, pelo tremendo êxito, já está a dar que falar e a colocar em causa todas as teorias de decrepitude desta área velha. O facto de os clientes esperarem em fila para provarem as suas especialidades mostra que havendo ideias novas e originais as pessoas acorrem.
Entre os dois agrupamentos havia uma diferença abissal. Se no segundo era gente simples pronta a satisfazer um desejo com sabor a chocolate, já o primeiro, no da inauguração do “Cajó”, estava a fina flor da nossa aldeia. Como é natural –e isso nem provoca comichão- o quartel-general do Diário as Beiras marcava presença –que até fez notícia na primeira página sobre o evento empresarial do seu colaborador. Mas não era tudo. Estava o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, estava o vereador do desporto, Carlos Cidade, a vereadora da Cultura, Carina Gomes, estava o assessor de imprensa da autarquia, Aníbal Rodrigues, e pela minha pressa, como não vi todos, provavelmente haveria mais vereadores e chefes de gabinete. Para além destes, para equilibrar a imprensa escrita local, também o Diário de Coimbra estava representado, com Arménio Travassos, assim como o presidente do Turismo do Centro, Pedro Machado, o presidente da Académica, Eduardo Simões, reputados médicos da cidade, como Polybio Serra e Silva, e também o Carlos Costa, um homem humilde do povo e residente numa destas ruas estreitas, que comia um pastel de carne com apetite dobrado.
Uma vitória já o “Cajó” conseguiu: tirar Manuel Machado do gabinete e trazê-lo para a rua para inaugurar uma loja. Conheço o Carlos Monteiro há muitos anos e é claro que para além de boa pessoa, bom profissional, é muito inteligente. Com a sua sagacidade, o Carlos veio mostrar que desde que se dê um suculento lanche o presidente da Câmara está cá. Ora, confesso, sinto-me completamente estúpido. Como é que eu não vi isto antes? Ando eu há cerca de dois anos a “martelar” na cabeça do Machado, a dizer que ele nunca sai da Praça 8 de Maio e afinal não é assim. Desde que haja croquete e rissol para acompanhar o corte da fita o homem está cá. De aqui para a frente, porque Machado, para além de ser equitativo é Socialista, não gosta de discriminar ninguém, quem o quiser ter no acto inaugural faça o mesmo e ele irá.
Por isso mesmo, para si leitor, se está a pensar em abrir uma loja na Baixa pode contar com toda a equipa da edilidade… desde que haja petisco.




segunda-feira, 27 de abril de 2015

REDES E MUROS SEPARADORES ENTRE O PODER E O POVO




A semana passada, uma idosa e doente com um problema particular originado por terceiro, que lhe estava a complicar a vida, dirigiu-se aos Serviços de Atendimento da Câmara Municipal e solicitou uma audiência para ser recebida pelo vereador do pelouro que estava conforme o seu caso. Segundo alegações da senhora, “só Deus sabe como me encontro à beira de um esgotamento. Não sei o que fazer. Fui à autarquia para poder falar com alguém que me pudesse ajudar. O funcionário, perante a minha exposição do problema, ficou indignado com o que eu disse e respondeu asperamente que a edilidade não tinha nada a ver com o caso em concreto. Entregou-me uma minuta dirigida ao vereador, enfatizou que a preenchesse, mas que isso ia demorar e poderia ser deferido ou indeferido. Disse ainda “aqui é a Câmara Municipal. Não é igual a qualquer outro serviço público. Estamos a cumprir ordens”. Tudo isto dito com secura e sublinhado com ar importante e a despachar-me. Entregou-me um número de Linha Verde e para eu falar para o gravador.
É uma falta de respeito para com os cidadãos. Sinto-me diminuída, discriminada. Passados 41 anos do 25 de Abril, não poder aceder a um vereador com facilidade é uma indignidade. É uma burocracia inqualificável. Uma atitude destas é pior que no tempo do fascismo. Os munícipes devem ser ouvidos e recebidos com celeridade. É uma vergonha. Sinto-me muito triste e desalentada com este executivo socialista. Fui funcionária pública durante muitos anos e sempre dei uma resposta cabal a quem dela necessitava. Lembro-me muito bem de Manuel Machado, atual presidente da Câmara Municipal. Conheço-o desde os seus 18 anos. Tenho muito boa impressão dele. Será que ele sabe o que se passa nos serviços de Atendimento? Nunca pensei que na minha Câmara houvesse um muro separador entre o poder e o povo!”
Saliento que o vereador da oposição Ferreira da Silva, eleito pelo movimento Cidadãos Por Coimbra (CPC), recebe os munícipes todas as sextas-feiras, entre as 15h00 e as 17h30, na Sala dos Vereadores, situada no primeiro piso da Casa Aninhas, à frente da Câmara Municipal de Coimbra, na Praça 8 de Maio.

CHEGAR AO PÚLPITO E DESABAFAR É DIFÍCIL

Em Coimbra, tomando conta do que é exposto pela depoente acima referenciada, pelos vistos, exceptuando Ferreira da Silva, do CPC, chegar a um vereador com pelouro é mais difícil que aceder ao Presidente da República. E não importa se o munícipe quer ser ouvido sobre um assunto pertinente ou não. O que está em causa é que qualquer eleito deveria ocupar o lugar para escutar os problemas e estar ao serviço dos cidadãos. Um grão de areia pode ser despiciente para um habitante do deserto mas, contrariamente, pode ser uma desgraça na engrenagem do sistema informático para um citadino. E se for idoso ainda mais complicado se torna. É preciso ter isto em conta. Quem vive os acontecimentos, grandes ou pequenos, é que sofre e sente todo o abandono de quem deveria poder ser-lhe útil. A felicidade de um povo começa aqui, no acesso facilitado aos serviços públicos. Mas isto é ruído para certos ouvidos de marcador. Como só sentimos quando nos calha a nós, estando de fora, acabamos a desculpar tudo e todos e rematamos com ênfase: “é o sistema!”
O acesso ao executivo local é feito apenas uma vez por mês, na primeira sessão, e é no fim da reunião, cerca das 18h00. Numa indescritível falta de respeito, já aconteceu os interessados exporem os seus assuntos cerca das 21h00. A inscrição para participar terá de ser com uma semana de prazo, impreterivelmente. Já me aconteceu ultrapassar os sete dias e já não poder aceder. Pergunta-se: por quê uma semana? É preciso tantos dias para poder consubstanciar a defesa e refutar os argumentos do munícipe?
Tentar intervir na Assembleia Municipal é outro labirinto em passos perdidos. Para fazer a inscrição tem de ser nos “serviços de apoio à Assembleia”. Por exemplo, se a funcionária não se encontrar presente teremos de voltar mais tarde. Então interroga-se: porque não é feito o registo na secção de Atendimento? Numa ação que deveria ser extremamente simplificada, é preciso quase andar de chapéu na mão para se poder dirigir à tribuna e apresentar a motivação aos deputados. Escrevo por mim, e depois de lá estar é preciso ter sorte para conseguir captar a atenção dos eleitos naquele hemiciclo. Repetindo as palavras escritas na primeira parte do texto, passados 41 anos do 25 de Abril a democracia ainda não chegou à cidade. E tanto faz ser ideologia de Direita, coligação do PSD, como de Esquerda, do Partido Socialista. A forma é a mesma –para não empregar um aforismo popular, em palavrão. O que aborrece deveras é a lengalenga do costume: que o cidadão não intervém na vida pública. Ou seja, com redes e mais muros de triagem a separar os eleitos dos eleitores, como é que se pode?

CONDEIXA MARCA A DIFERENÇA

Tanto quanto me é dado saber, já desde os mandatos de Jorge Bento que em Condeixa foi instituído o costume de o público poder assistir e intervir, ao abrir da sessão, em todas as reuniões da Câmara Municipal. Para além disso, foi instituído um dia da semana em que o presidente, acompanhado com os vereadores com pelouro atribuído, recebem os cidadãos em horário permanente e sem marcação prévia. Nuno Moita, actual presidente da edilidade condeixense eleito pelo Partido Socialista tal como o antecedente Jorge Bento, adoptou o mesmo hábito e, acompanhado pela vice-presidente e vereadores, recebe os munícipes todas as terças-feiras das 09h30 até às 13h00. Segundo o boletim camarário de 29 de Outubro de 2013, “Esta medida entrou hoje em vigor e pretende reforçar a proximidade e a ligação entre os eleitos e a população. O atendimento aos munícipes passa a realizar-se sempre às terças-feiras, dia de mercado municipal e de maior afluência à sede do concelho, e não carece de marcação prévia. O atendimento ao munícipe não se esgota, porém, naquele horário, encontrando-se o presidente e restantes vereadores com pelouro sempre disponíveis para ouvir as preocupações e anseios da população embora sujeitos à disponibilidade de agenda. Com esta medida, pretendemos criar um contacto mais próximo entre aquilo que é a acção da Câmara e os anseios da população e que promova o envolvimento dos munícipes nas decisões camarárias”, justifica Nuno Moita. O presidente da Câmara tem referido que pretende liderar uma “Câmara de portas abertas, onde os políticos trabalhem mais próximo dos cidadãos", estando ainda prevista neste âmbito a criação de um conselho consultivo na dependência do presidente e que será anunciado em devido tempo.”






domingo, 26 de abril de 2015

sábado, 25 de abril de 2015

LEIA O DESPERTAR...




LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "O 25 DE ABRIL VISTO DA MINHA JANELA", deixo também as crónicas "O PINTOR EM BUSCA DE SI MESMO"; e "OS VELHOS DO ESQUECIMENTO"


O 25 DE ABRIL VISTO DA MINHA JANELA

Quando se anunciou em Coimbra que tinha havido uma revolução em Lisboa eu tinha 17 anos de idade e estava a trabalhar numa loja de comércio da Baixa. Até aí, desde os dez, eu laborara na hotelaria. Trocar o servir à mesa por ir atender ao balcão a vender trapos foi uma transferência extraordinária. Não pelo ordenado, já que, em comparação com um qualquer café, era menor. Nessa altura a vida comercial estava considerada num plano superior. Isto é, a atividade hoteleira era muito mais intensiva, com muito mais horas de labor e, embora já com um dia de folga semanal, trabalhava-se domingos e feriados. Por outro lado, servir num café era muito mais serventuário. Ali era notório o nós, os simples, e os outros, os donos do dinheiro. Estava-se obrigado a um exagerado exercício permanente de servilismo. Se bem que também houvesse classes distintas. Havia os simplórios como eu, que normalmente vinham da região do Luso e zona da Bairrada, que inicialmente eram pau para toda a colher e começavam como grumete, havia os chefes, de balcão, de cozinha e de mesa, e depois existia toda uma classe garbosa, vestida de calça preta, camisa branca e laço, casaco branco e nos pés um sapato preto impecavelmente engraxado. Ser empregado de mesa era o sonho de qualquer miúdo como eu, já que maioritariamente nesta arte se trabalhava à percentagem de 10 por cento sobre o total da caixa. Para além disso havia um costume arreigado de dar gorjeta ao funcionário.
Num período da nossa história em que dois terços da população portuguesa eram pobres –e estes se dividiam em remediados e pé-descalço-, entrar para o comércio, acima de tudo, foi o poder ser mais igual a qualquer um, já que comecei a vestir melhor, a ter, por exemplo, duas camisas, a não precisar de lavar a roupa durante a noite para vestir no dia seguinte, húmida e enxovalhada. Para além de estudar de noite, continuei a trabalhar aos fins de semana a servir casamentos –conheci um senhor de idade, o senhor Quintas, que me contratava praticamente todos os Domingos. Nunca lhe agradeci em vida a atenção que teve comigo. E assim continuei até casar com 20 anos e ir, a seguir, para o serviço militar, para Estremoz –a título de curiosidade, apanhava o comboio em Coimbra no Domingo à noite com 200 escudos no bolso (1 euro). A viagem ferroviária custava 75 escudos para cada lado. Então, para poupar, juntamente com o Jorge, a trabalhar na altura no Cruz Oculista, na Rua Adelino Veiga, e hoje estabelecido na Rua Corpo de Deus com o mesmo ramo, vínhamos à boleia no regresso. Ora poderia acontecer, como aconteceu tantas vezes durante as cerca de três centenas de quilómetros, sermos transportados num Mercedes como em cima de uma camioneta de caixa-aberta.
O tempo foi correndo e, tal como o meu amigo Jorge, trabalhando muito, muito, estabelecemo-nos por conta própria e fomos comprando o que nos fazia falta, o que era essencial para o bem-estar como habitação, e podermos proporcionar aos nossos filhos tudo o que não tivemos. Sem lhes exigir muito em troca, apenas pelo prazer de dar, oferecemos-lhes todas as ferramentas que poderiam concretizar os seus sonhos –nesta realização revíamo-nos. Éramos nós também quem estava ali. No dia em que a minha filha entrou para a Faculdade de Psicologia chorei como uma criança. Passado um tempo, como morava fora da cidade, comprei-lhe um carro para que ela pudesse estar mais à vontade nos transportes. Tal como o Jorge, as dívidas que assumimos cumprimos sempre. Somos herdeiros do compromisso, onde a palavra dada vale mais que toda a riqueza universal. Nunca fomos ao banco pedir dinheiro para ir para férias. Praticamente nunca viajámos para fora, e do mundo não conhecemos nada. O nosso lema era trabalhar afincadamente enquanto éramos novos para quando chegássemos às portas da velhice podermos usufruir do empenho hercúleo anteriormente desencadeado.
Passados quarenta e um anos depois do 25 de Abril de 1974, agora na pré-entrada de sermos sexagenários, o que está acontecer connosco? Estamos aflitos para conseguir aguentar o que temos e continuar a viver com dignidade. É como se agora, já sem esperança, estivéssemos a fazer o percurso descendente, contrário a quando começamos. É como se sentíssemos que não valeu a pena. Foi um esforço inglório. Para piorar, sinto um terrível sentimento de impotência, de nada poder fazer. Estou contente com o balanço? Não. Passados quarenta e um anos, é triste dizer, mas a sociedade portuguesa está demasiadamente igual a 1974. Duas partes são pobres e uma parte é demasiado rica. Não tenho gosto nenhum em fazer parte deste sistema viciado. Não gosto deste Portugal.


O PINTOR EM BUSCA DE SI MESMO

Foi em 2009, quando andou pela cidade, que o conheci. Fez várias exposições no desaparecido Salão Brazil. Como andorinha em busca de outra terra mais quente, desapareceu e nunca mais se ouviu falar do Pedro Freitas. Entrou há dias porta dentro a cumprimentar-me. Pelo aspeto andrajoso e mal cuidado, de barba hirsuta, cabelos longos e mãos inchadas, não o reconheci imediatamente nem sequer imaginei que há minha frente estava o grande pintor Pedro Freitas, filho do escultor Silva Freitas, com várias obras espalhadas pelo país e estrangeiro. Segundo me contou, nos últimos seis anos, esteve radicado na Figueira da Foz. Como barco atracado que precisa de se fazer ao mar, levantou ferro e veio procurar novos horizontes na cidade dos estudantes.
Se um dia destes o encontrar a pintar na rua, não se deixe levar pelo ar desalentado e de perdição que imana da sua imagem. Acredite, pelo seu talento e currículo, vale a pena adquirir-lhe uma pintura.


OS VELHOS DO ESQUECIMENTO

Conheço-a há cerca de vinte anos. Embora não pareça, anda agora pelo hall de entrada dos oitenta. É uma mulher calejada pela vida. O seu avental e o mexer com ligeireza indica que continua a laborar como sempre desde que se lembra de existir. Juntamente com o catolicismo fez também do trabalho a sua religião. Uma, a da igreja, leva-lhe a alma um dia para um bom recato, outra, a faina, garante-lhe a sobrevivência e a permanência para, até lá, poder continuar a ajudar a filha e os netos, porque os velhos, chegados a uma certa etapa da vida, passam com pouco. Precisam só de respirar. Querem apenas que os deixem viver.
Há dias transpôs a porta e atirou: “queria pedir-lhe um favor. Diga-me, sabe se há empresas que se encarregam de trocar as nossas coisas?”. Como?!? Interroguei sem perceber a lógica do negócio. Com convicção explicou melhor. “Quero saber se há serviços que vão a nossa casa e mudam os objetos que lá temos por outros. Sabe por que lhe pergunto? Há dias fui à Guarda, à minha aldeia, e quando cheguei, no mesmo dia à noite, tinha tudo trocado. Até a mobília da sala foi substituída. Lembra-se das pernas das cadeiras que eram torneadas? Agora deixaram lá umas direitas! Foram as minhas roupas, as minhas louças. Tudo! Por que fizeram isto, senhor?”
Perante a minha afirmação de que estava confundida, disse: “você diz o mesmo que a minha filha, mas, bolas, eu não estou doida?! Eu sei o que digo. Tocaram-me as coisas!”. Debalde a tentei convencer que o cenário por si descrito não poderia ter acontecido. Era ilógico. Se tivessem desaparecido, isso sim, fazia sentido, agora a haver troca por troca é impossível fazer-se isso tudo num só dia. Com algum cuidado fui alertando que deveria falar com a filha e consultar o médico. Estas alterações comportamentais podem acontecer aos mais velhos. Sem grande convencimento, ela foi embora.
Numa destas ruas estreitas, Maria –vamos chamar-lhe assim- já vai na quarta fechadura que manda instalar na mesma porta. De cima-a-baixo do pórtico, as quatro fecharias lá estão mas, recentemente e mesmo assim, não impediram que desaparecesse uma travessa com um bolo durante um dia inteirinho. O mais estranho, segundo o lamento de Maria, que vive sozinha, é que no dia seguinte apareceu dentro de um móvel. “Isto é coisa do demónio”, exclama com ênfase e pesar para uma vizinha. Não vale a pena tentar explicar-lhe que, pela idade, a sua cabeça gera cenários e teorias da conspiração. O problema é fazer-lhe crer que precisa de ajuda médica.
Teresa –vamos dar-lhe este nome- mulher muito personalizada e muito conhecida entre nós, aqui na Baixa, está com cerca de oitenta primaveras. Vive sozinha numa rua estreita onde o Sol beija o chão lá mais para Maio, mês das flores e da multiplicação dos passarinhos. Nos últimos tempos é notório um certo abandalhamento na higiene corporal e um perfume pesado nas roupas um pouco ensebadas. Calcula-se que a sua casa está cada vez mais a ser depósito de coisas sem valor e cujo fedor começa a invadir as redondezas –a Síndrome de Diógenes é uma das patologias que atingem os mais velhos. Consiste em reunir, sem critério e obsessivamente, todo o género de objetos e coisas velhas sem valor. Tudo serve para levar para casa. Uma amiga de Teresa, apercebendo-se do que está acontecer, já tentou por outros meios, que implicassem a persuasão, pedir apoio psicológico, mas a especialista clínica não passou da porta. Para piorar, Teresa ainda considerou haver invasão da sua privacidade por parte dos mais chegados. Pouco há a fazer a não ser assistir a uma decrepitude que se adivinha célere e, um dia destes, a uma morte sem assistência por opção. Tudo por que Teresa, que sempre viveu independente, não tem noção da sua fragilidade mental.
A questão, que não é nova, é: por um lado, uma Lei de Saúde Mental que prima pela decisão do próprio, quando o seu estado de saúde mental está muito aquém de poder decidir por si mesmo seja o que for. Por outro, assistirmos impotentes à decadência destes idosos que, como trapos sem préstimos, se arrastam pelas ruas da calçada –infelizmente, constata-se também que há já uma classe de novos-velhos, pessoas com pouco mais de trinta anos, que, divididos entre o álcool e as drogas, seguem o mesmo percurso de arrastamento pelos dias sem dia de fim à vista.
Sem culpar o sistema –porque o sistema somos todos-, deixo o texto apenas para reflexão e uma pergunta: que sociedade estamos a construir?



LEIA O CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS...




Leia aqui o CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS desta semana.

Na página "OLHARES... POR COIMBRA E PELO PAÍS", na rubrica "NÓS POR CÁ..."  leia  o texto "QUEIRÓS & NÓS" e a crónica "BAIXA: DEZ MINUTOS DE BÁTEGA"



CMC: QUEIRÓS & NÓS

A última sessão do executivo municipal, realizada na penúltima segunda-feira 13, foi controversa. Entre as várias propostas levadas à mesa uma provocou acesa discussão. Tratava-se de renovar o contrato, por ajuste direto, de serviços de uma sociedade prestadora de assessoria de comunicação, a “Valor de Fundo”, empresa que, “segundo o portal Notícias de Coimbra, os seus proprietários intervieram na campanha inerente à eleição de Manuel Machado”. Por outro lado, no debate prévio, iniciado por Manuel Machado e líder do PS que governa a edilidade, a questão colocada pela oposição foi, por um lado, inventariar os serviços prestados no que fora feito até aí pela “Valor de Fundo”, por outro, rebater a imprescindibilidade de um serviço que já estava a ser feito por um assessor de imprensa, Aníbal Rodrigues (ex-jornalista do Jornal Público), e também que a própria autarquia possui ao seu serviço cerca de uma dezena de funcionários ligados à comunicação. Por tudo isto, que argumentos poderiam justificar a contratação da “Valor de Fundo, por mais um ano, na importância de 40,000 euros?
De alegação em alegação, contra a proposta levada à mesa pelo presidente da Câmara, a oposição fez o seu trabalho e, segundo este semanário, “o negócio esteve tremido, mas uma conversa entre o líder do Município e o vereador da CDU, ocorrida fora da sala de sessões, terá sido determinante para a abstenção de Francisco Queirós. “Tenho dificuldade em dizer que a Câmara Municipal de Coimbra pode continuar a fazer aquilo que não sei o que é”, afirmara o autarca comunista antes de se ausentar da sala de reuniões para conversar com Manuel Machado. Mas isso foi antes. Na hora da votação, o vereador da CDU, com o pelouro da Habitação, foi o único da dita oposição a viabilizar o voto de qualidade do presidente da Câmara.”
Porque é preciso esclarecer a opinião pública, por que os munícipes pedem uma explicação cabal, remeti, por escrito, três perguntas a Francisco Queirós e, na volta do correio, recebi as suas respostas. Ei-las:

Pergunta: o que o levou a abster-se depois de se manifestar apreensivo?

Resposta: o que foi descrito como tendo ocorrido está profundamente ficcionado. Não saí da sala acompanhado pelo presidente. Como é natural procuro sair o menos possível da sala de reuniões. Só o faço por motivos de força maior. Atender um telefonema ou algo semelhante. E, evidentemente, porque mesmo um comunista tem bexiga e próstata… Assim, numa reunião que começou às 15h00 e terminou cerca das 21h30, terei saído da sala duas ou três vezes pelo tempo necessário…
Quanto à questão: nada tenho contra a promoção da imagem da cidade, tanto mais necessária quando é Património da Humanidade e tem para abrir em breve um equipamento como o Convento de São Francisco. Coloquei diversas dúvidas relativamente a questões processuais e de total clareza, sobre quem deve fazer essa promoção e sobretudo como será feita. Deve sê-lo com total transparência e prestação regular do exercício. Algumas das minhas apreensões foram respondidas. O "ajuste" obrigatoriamente terá de ter o relatório de atividades.
Acrescento que a questão dos ajustes diretos é habitualmente mal colocada. Há questões que devem ser motivo de concurso público. A lei a tal obriga e os princípios que defendo também. Contudo, refira-se ainda que as atuais regras e normas legais dos próprios concursos públicos deixam muito a desejar quanto ao que se deve esperar do serviço a prestar aos cidadãos. Nem sempre o preço mais baixo é o melhor. E uma empresa que manifestamente não cumpre pode "ganhar" um concurso. A CDU e o PCP há muito que defendem a alteração da legislação. Há situações em que é preciso existir confiança técnica na empresa a contratar e isso não está garantido pelo atual enquadramento legal. Por exemplo, uma empresa que vença um concurso por apresentar um preço mais baixo é muitas vezes uma empresa que não cumpre as suas obrigações para com os seus trabalhadores. E não há, no atual quadro, como a impedir de concorrer.

P: há ou não uma “santa aliança” entre a CDU e o PS na Câmara Municipal de Coimbra?

R: Quanto à aliança vodka/laranja, perdão, com o PS é ficção. Não houve qualquer acordo com o PSD antes e não há qualquer acordo com o PS. Só com a população da cidade. Essa sim é a aliança sagrada.

P: pela sua abstenção em alguns ajustes diretos polémicos, que tem permitido a sua aprovação, não teme que a CDU saia chamuscada no seu necessário e legítimo papel de oposição no executivo?

R: Não, não temo. Desenvolvo o meu mandato em consciência. Só estou ao serviço do povo que me elegeu e só aos munícipes presto contas. A CDU, Coligação Democrática Unitária, é uma aliança entre dois partidos o PCP e o PEV, Partido Ecologista “Os Verdes”. Mas é muito mais do que isso, é uma aliança com as populações. A CDU é uma filosofia de vida.


BAIXA: DEZ MINUTOS DE BÁTEGA

Cerca do meio-dia de terça-feira da semana passada, bastaram dez minutos de chuva grossa para, mais uma vez e tal como em anos anteriores, a Praça 8 de Maio ficar intransitável com cerca de 25 centímetros de altura de água e a entrar na vetusta igreja de Santa Cruz. Focando a Baixa e já depois ca construção da Barragem da Aguieira, felizmente, e contrariamente a casos anteriores, houve poucos estabelecimentos inundados. A enchente circunscreveu-se ao adro do memorial.
A maior cheia que há lembrança ocorreu em 22 de Setembro de 2008 em que dezenas de lojas ficaram inundadas nas ruas estreitas adjacentes e no antigo largo de Sansão –assim conhecido por ter existido um chafariz com a estátua de Sansão desde 1592 até 1838, quando foi demolido por apresentar avançado estado de ruína. Em 1874 a sua toponímia foi alterada para Praça 8 de Maio, por alturas das comemorações do aniversário da entrada das forças liberais do Duque da Terceira na cidade de Coimbra em 8 de Maio de 1834. No Verão de 1995, sob a égide de Manuel Machado, na altura presidente da Câmara Municipal e atual, e projeto de Fernando Távora, iniciaram-se as obras de rebaixamento da praça com a intenção de nivelar a entrada da igreja de Santa Cruz e libertar o trânsito da zona e modificar as ruas do canal para vias pedonais. A verdade é que esta alteração arquitetónica, cuja intenção a par da pedonalização era transformar o largo em palco natural de festividades, nunca obteve unanimidade entre os conimbricenses e mais particularmente entre os comerciantes. Do ponto de vista económico, nestes vinte anos, tem sido um sorvedouro de dinheiros públicos. Começou logo nas rampas de acesso às artérias laterais que, sendo apresentadas inicialmente com pedra de Ançã, proporcionou grandes trambolhões a muitos transeuntes. Uma senhora de Almalaguês viria a morrer nos HUC, Hospitais da Universidade de Coimbra, por uma queda ocorrida no local –por desistência da família em levar o acidente à barra nunca foi estabelecido o nexo de causalidade. Os custos de projeto continuaram a aumentar, nomeadamente, com os corrimões, que já foram substituídos e reparados várias vezes, o lajeado demasiado escorregadio do chão do rossio e o lago central. No princípio era um tanque arredondado com água parada o que, em consequência, passou a ser um repositório de lixo. Em 2001, Carlos Encarnação ganhou a autarquia e, para colmatar maiores prejuízos para uma ideia infeliz, mandou colocar repuxos e fazer o tamponamento com uma rede em alumínio. Como em 2013 Manuel Machado, em representação do PS, Partido Socialista, viria a recuperar a edilidade e a apear a Coligação por Coimbra, cujo partido maioritário era o PSD, das suas obras recentes, uma foi, há pouco tempo, transformar novamente o arredondado tanque e voltar a enchê-lo. Os resultados, como era de prever, é, volta e meia, os funcionários camarários andarem a pescar “sardunhos” –uma espécie biodegradável tão nossa conhecida. Salvo melhor opinião, é uma praça com pouca dignidade, tendo em conta a sua importância de localização junto do Panteão Nacional.
Ao longo desta vintena de anos e com maior incidência nos últimos sete anos –provavelmente ligado ao assoreamento do Mondego-, as enchentes são mais do que muitas na velha praça e levando a grandes prejuízos para os comerciantes, sobretudo as de Setembro de 2008 e Dezembro de 2013. Como já é tradicional, logo a seguir às enxurradas vêm os responsáveis, da Proteção Civil e outros, largarem pérolas e lágrimas sobre as águas, aumentando ainda mais o caudal, e a prometerem uma solução para este continuado desleixo que incomoda quem cá vive e vem de fora. É óbvio que não somos engenheiros mas para se ser saber se um cozinhado está bom também não se precisa ser cozinheiro. Quero dizer que para se apreciar as funções de uma obra, na sua eficácia, não é necessário ser diplomado. Ora, o que ressalta à vista desarmada é que as grelhas de escoamento nesta praceta são demasiadamente estreitas e, com o rebaixamento do largo e a funcionar como depósito recetor das águas que provém da Alta da cidade juntamente com folhas e lixo diverso, devido à torrente elevada, não podem cumprir a sua tarefa.
Será desta que esta obra tão necessária vai arrancar? Hum!...