domingo, 28 de fevereiro de 2021

MEALHADA: ELECTRICIDADE PARA ADRIANO, PRECISA-SE

 

(Imagem da Web)




Como tema de conversa, no passado dia 24, o pequeno texto, publicado na página “Mealhada” do Facebook, rezava assim:


Boa tarde a todos , peço desculpa se ontem alguém se sentiu ofendido pela publicação que fiz ... Mas vou contar um pouco da minha história : á doze anos atrás vivia numa casa á renda fiquei desempregado não tinha como pagar a renda e a minha madrinha deu me um barracão para viver com a minha mulher e a minha filha mais velha, que não tinha nada só quatro paredes. Arranjei trabalho , fui fazendo obras eu mesmo sozinho sem a ajuda de ninguém. Aos poucos fiz a minha casa onde graças ao meu suor não lhe falta nada á exceção da Luz que até á data vinha de casa da minha mãe. Mas alguém fez queixa e até sexta feira a minha mãe tem que tirar o cabo da luz que vai para minha casa.

Eu não estou a pedir que a câmara me pague nada, apenas que me ajude a tentar selecionar o meu problema ... Obrigada a todos e as minhas sinceras desculpas.”


Este apelo sentido mereceu a comparticipação de 176 gostos, 108 comentários e 12 partilhas.

Os comentários dividem-se em quatro grupos: um remete para a fé e esperança em Deus; outro para a E-REDES, a empresa fornecedora de ligação à rede; outro passa a solução para a Câmara Municipal da Mealhada; por último, menos de uma dezena de comentadores, entre eles, alguns a doarem móveis, ofereceram ajuda de facto.

Hoje, dia 28, como quem diz, passados quatro dias, não fosse um comentário assim e dir-se-ia que o assunto morreu:


Boas tardes pessoas de bem. Acabei de falar com o Sr. Adriano e ele disse me que o vereador da CM da Mealhada já ligou com ele com vontade de agilizar o processo. Tenho duas pessoas que se oferecam para financeiramente pagar as burocracias associadas a estes processos.


Parece-me, embora sem confirmação, que o vereador indicado na pequena comunicação será, por ventura, Hugo Alves Silva, vereador sem pelouro, eleito pelo movimento Juntos pelo Concelho da Mealhada, que provavelmente levará, amanhã, o assunto a ser debatido em reunião de Câmara.

Neste tempo de miséria proporcionado pelo longo confinamento em consequência da Pandemia, salienta-se a falta de intervenção dos Serviços Sociais a tomarem conta deste grave problema. Passados cinco dias, não deveriam os referidos serviços estarem em cima do acontecimento e a verificar a verdade ou inverdade do que é aflorado pelo autor. Não devemos esquecer que, para além do casal, estão em causa três crianças de tenra idade. Será que este quadro pintado de cores negras e de angústia não tocará os seus corações?


sábado, 27 de fevereiro de 2021

MEALHADA: HOJE HOUVE ASSEMBLEIA VIA ZOOM

 

(Retirado da Web)




Entre as 10h00 e cerca das 14h00, realizou-se hoje uma sessão da Assembleia Municipal da Mealhada via Zoom.

Comecei a visionar já tinham decorrido duas horas, entrei, portanto, cerca do meio-dia. Nesta altura, o monitor mostrava 57 assistentes. Se deduzirmos os 26 envolvidos directamente, entre deputados, presidentes de juntas e presidente da Câmara Municipal, quer dizer que apenas 31 pessoas, munícipes ou outros, estiveram atentos. Convenhamos que, neste tempo de confinamento obrigatório, é um resultado muito aquém do desejado.

Sou um, entre muitos, que reivindica a transmissão das reuniões do Executivo e da Assembleia Municipal através da Internet. A minha esperança é que, com esta difusão, se derrubem as ilusórias paredes de vidro que separam os cidadãos dos seus membros eleitos, e aqueles ganhem confiança para intervir futuramente. Como se sabe, uma sessão de câmara tem o mesmo peso, pesado e tradicionalista, de uma audiência num tribunal.

Com tão poucos a assistirem, começo a ter dúvidas de que esta seja a solução para uma participação pública que todos desejamos. Tenho para mim que a maioria, em vez de se informar e verificar como funcionam as instituições, prefere andar de chapéu na mão e pedir o que precisam particularmente via telefone. É preciso, de uma vez por todas, que os cidadãos entendam que, com educação, devem “exigir” e não “rogar” aos seus representantes.

Quanto ao funcionamento da Assembleia Municipal conduzida por Daniela Esteves, durante as quatro horas de duração, foram votados e apreciados os oito pontos apresentados na Ordem de Trabalhos. No que vi, de forma global, pareceu-me uma sessão muito civilizada e com respeito por todos.

Quanto ao desempenho individual, no que vi, o Bloco de Esquerda e a CDU, através dos seus eleitos, são os que fazem mais interpelações ao líder do executivo, Rui Marqueiro.

Quanto ao presidente da Câmara Municipal também esteve bem. No entanto, ressalve-se que o verniz esteve mesmo para estalar quando Nuno Alegre, deputado do movimento Juntos pelo Concelho da Mealhada, economista de formação, questionou Marqueiro sobre várias cabimentações na Revisão Orçamental que lhe suscitavam dúvidas. Na resposta, Marqueiro ainda entrou de botas cardadas, mas, de repente, fez inversão de marcha e calçou chinelos de lã. Enfatizando, disse que não fossem acusá-lo de desrespeitar o senhor vogal Nuno Alegre, que, embora não pescassem no mesmo mar ideológico, aliás, até eram amigos. E a resposta do amigo, que disse que era amigo, deslizando como se fosse chão untado de manteiga, correu muito bem.

Parabéns a todos.


(só um pequeno à parte, um “rien de tout”: não faz sentido a convocatória para a Assembleia Municipal ser introduzido por “Dr.ª” Daniela de Melo Esteves. Refiro objectivamente o apêndice “Dr.ª”. Nos dias que correm não faz sentido, e a maioria de autarquias já perderam há muito o umbilical cordão que liga o nome. Não sei se concordam comigo, mas com a alusão, parece remeter-nos para o interior profundo)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

MEALHADA: A SENHORA DONA ESTAÇÃO

  





Ao longo das minhas mais de seis décadas de vida, apesar de ter passado ao seu lado tantas e tantas vezes, nunca me senti com curiosidade para a conhecer. É certo que, como se fosse uma bela mulher, nunca deixei de apreciar as suas linhas insinuantes e modernas pelo canto do olho. Porque já sou entradote, quem sabe por preconceito, por saber que ela conta mais anos do que eu, nunca me deu para a visitar.

Não sei bem explicar mas, se calhar, só se mete com ela quem precisa. Como nos museus públicos, entre nós e ela, acaba por ser muito mais visitada e estimada pelos que vêm de fora do que os nativos. Para quem cá mora, é apenas uma coisa icónica, algo que se utiliza pela necessidade, agora mais esquecida que outrora, por que já foi simbolo de grande desenvolvimento social, comercial e industrial.

Por ser uma relação egoísta, como nunca precisei dos seus serviços, nunca tinha entrado (nem saído) na Estação Ferroviária de Mealhada.

Aconteceu ontem, por acaso, por acidente, para ser mais preciso. Acompanhado da minha mulher, tive que colocar o automóvel numa oficina próxima onde a manutenção durou toda a manhã. Como estava um lindo dia de Sol, depois de darmos um passeio pela cidade a “queimar” tempo, inevitavelmente, surgiu o cansaço. Onde nos podemos sentar? Começámos por nos perguntar. Com os bancos dos jardins públicos com fitas intermitentes entre branco e vermelho a impedir a acomodação – o que, como tantas outras medidas para nos protegerem da pandemia, me parece um verdadeiro disparate -, em teoria não há grandes hipóteses para nos sentarmos. Foi então que me lembrei da Estação.

Com a calma necessária para avaliar tudo em redor, Propus-me varrer o que os meus olhos alcançassem. Com linhas modernas e com a cobertura em ferro a remeter-me o pensamento, em analogia, para a Gare do Oriente, do arquitecto Calatrava, em Lisboa, a Estação de Caminhos-de-ferro de Mealhada é um encanto para o meu olhar pesquisador. Muito limpa em toda a superfície circundante relativa ao piso das linhas de comboios é mesmo muito simples e agradável. Com equipamentos em bom estado de conservação no exterior e as casas-de-banho mais ou menos asseadas, limpas e com papel, comparando com outras que conheço, tomei-a num caso raro.

O tráfego de composições sem paragem é impressionante. Provavelmente poucos imaginam o movimento de composições que se cruzam a todo o momento.

Não fossem as escadas para a passagem inferior, que por baixo dos carris faz a ligação entre as duas margens, e todo o túnel estarem muito sujas e com lixo solto, e far-me-ia pensar estar numa gare em Paris.

Para terminar, só não entendo a razão dos Táxis permanecerem em frente ao edifício do município quando, a meu ver, deveriam ter uma praça no átrio da estância. Faz sentido? Se calhar faz, mas não estou a ver...


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA

 




Jornal da Mealhada (edição de 17 de Fevereiro)


POSITIVO


A edição desta quinzena do Jornal da Mealhada (JM), com um grafismo de capa numa panóplia de cores intermitentes, entre o verde, roxo, bordeaux e amarelo, está interessante.

No interior do caderno, abrangendo transversalmente vários temas relativos à cidade da Mealhada, está agradável e bem conseguida.

Quanto aos conteúdos, naturalmente, sendo objecto de escolha da redacção, nada há a apontar.

A distribuição de fotografias, embora com tendência para exagero, estão razoavelmente bem distribuídas.

Com uma nova rubrica, “Na Rede”, em que se publicam vários desabafos de “figurões” reconhecidos no concelho “apanhados” no Facebook, está engraçada e aplaudimos a iniciativa. Pelo menos, dá-nos alguma esperança que a direcção deste “nosso” periódico, por um lado, não está mouco à crítica, por outro, também não está confortavelmente sentado no banco do “deixa andar, deixa correr” e a sua vontade é, acima de tudo, melhorar e ir ao encontro dos interesses dos leitores. Já se sabe que não se pode agradar a todos, mas o seu leque de importância deve satisfazer uma maioria de “clientes”. Como se sabe, muitas publicações regionais editadas em papel desaparecem porque não existem críticas de retorno positivadas por parte dos leitores. Talvez porque os próprios órgãos de imprensa, incluindo os jornalistas que, no seu papel importantíssimo para a sociedade, julgando-se com poder messiânico, têm tendência em arrogar-se acima de qualquer análise, ou reprovação. Procurando o elogio fácil, ou a não-intervenção crítica do assinante, procuram marear à bolina (com a costa à vista). O resultado dessa apatia, como se imagina, é a decadência seguida de morte.


MENOS BONS


Continuam a faltar conteúdos para o leitor consumir. Pese embora o esforço para manter o JM mais vivo, o título jornalístico não pode continuar a ser lido em 15 minutos. A variedade é a porta da diversidade. E a diversidade é a chave para impedir que tudo seja igual. Nenhum mal virá ao mundo se o quinzenário, recebendo notícias da Lusa, publicar assuntos nacionais de interesse social, político e económico.

Conforme já tenho escrito, sem desprimor para quem colabora, é notada a carência de colunistas que abarquem os vários ramos da sociedade. O JM precisa de críticos que o retirem do oceano da modorra instalada. Em metáfora, e passando o exagero, não se pode prolongar a mesma opinião que se tem acerca de um sujeito que nunca intervém em nada, nunca se demarca com uma opinião de corte. Está sempre bem com todos. Quando morre a avaliação geral é sempre unânime: era uma joia de pessoa. Nunca dizia mal de alguém. Tanta falta que nos faz! - mas fará mesmo?

Fazem falta editoriais do director. Discurso directo, volta e meia, precisa-se.

Falta ambição à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, proprietária da publicação, para, apostando na história do título e na sua viabilidade económica, aumentar o número de páginas (actualmente são 24) e transformar o JM em semanário.

De zero a vinte, atribuo a esta edição 15 valores.


JORNAL DA BAIRRADA (EDIÇÃO DE 18 DE FEVEREIRO)


Em virtude do aniversário do Jornal da Bairrada (JB), ou talvez não, a edição desta semana foi de luxo. Com conteúdos diversos, com colunistas de várias esferas sociais, onde se inclui parte da sua história de 70 anos, o JB está duplamente de parabéns. Foi um gosto ler esta última publicação de 48 páginas.

De zero a vinte, dou-lhe 19 valores.


domingo, 21 de fevereiro de 2021

BARRÔ: UMA VIA PROFUNDAMENTE DEPRIMIDA




O estado físico dela nunca foi grande coisa. É certo que a idade não perdoa. É velhinha, muito velhinha. Durante todo o século antecedente, como caminho de terra batida, era percorrida por carros de bois e carroças de burros. Eram estes transportes, individuais e colectivos, que faziam a ponte entre as terras do Ribeiro e a Lapa do Sino e os celeiros das gentes de Barrô e das gentes das Lameiras – de São Pedro, Santa Eufémia e São Geraldo.

À medida que os costumes rurais foram evoluindo, os carros de tracção animal foram sendo substituídos por potentes máquinas agrícolas. Por outro lado, por encurtar caminho entre Barrô e Luso, o tráfego automóvel aumentou desmesuradamente.

Em data que não lembramos, mas que pensamos ter sido há cerca de vinte anos, foi colocado um tapete betuminoso às três pancadas como sói dizer-se. Há quem diga que o falecido Homero Serra, anterior presidente da Junta de Freguesia de Luso, tentou encetar negociações com os proprietários confinantes para que a estrada fosse alargada, mas os vizinhos não autorizaram.

Nessa altura, para remediar, a velha estrada foi então alcatroada sem grandes cuidados, como quem diz, sem valetas laterais, sem tubagem, manilhas, a atravessá-la para encaminhar as águas para o rio, cujo leito dista sensivelmente uma centena de metros.

Resultado de tudo isto? A deterioração rápida do asfalto. É certo que Claudemiro Semedo, o actual líder da Junta de Freguesia de Luso, dentro das suas possibilidades - acreditamos – lá tem feito o que pode. Isto é, volta e meia, lá vai mandando pessoal da junta e uma carrinha de caixa-aberta para tapar os buracos. Mas como aquilo é como tentar remendar uma colcha de linho podre, o resultado só pode acabar na mesma. Disse-nos também Claudemiro que a responsabilidade pelo tapete betuminoso é da responsabilidade da autarquia.

Desde há uns meses que o caminho que falamos se encontra em estado decrépito. Os buracos, em forma de cratera, fazem lembrar as picadas na selva africana.

Então, esta semana, com a depressão Karim, acompanhada de muita chuva, com lençóis de água e muita lama, o seu estado é mesmo calamitoso. Como se sabe esta via rural é também muito utilizada para os habitantes da área fazerem caminhadas. Então, para quem quiser apreciar, é vê-los a saltitar por entre os buracos e as poças de água como se jogassem à “macaca”.

Não é a primeira vez que escrevemos sobre este assunto. No ano passado, até já enviámos uma comunicação à Junta de Freguesia de Luso e à Câmara Municipal da Mealhada. Como é que ficamos? Vai tudo continuar igual?





 

BARRÔ: MAU TEMPO NO CANAL






Segundo informações emanadas da capitania, aconselham-se cautelas e caldos de galinha no tráfego marítimo na Ribeira do Salgueiral, sobretudo no porto de Barrô.

Embora a depressão Karim, tudo indica, se esteja a transformar numa ansiedade crescente e tenha perdido o pico, que poderá ter redundado num transtorno de personalidade, com emoções instáveis, aconselha-se prudência, quer aos barcos de grande porte, quer aos amantes de pesca à linha.

Uma fonte ligada ao comando, que pediu o anonimato, verberou: “tudo parece indicar que as coisas estão a melhorar, para melhor, sublinhou a redundância. No entanto, quando lidamos com transtornos intermitentes, que podem redundar em impulsos agressivos, de instabilidade emocional, temos de acautelar explosões de agressividade.”, enfatizou no meio de uma baforada de fumo saída do seu cachimbo.

Também se recomenda aos caminhantes que pretendam atravessar a ponte para a outra margem que o façam com a devida atenção.

Por este motivo de insegurança temporal, o Lavadouro Público continuará a não funcionar - já que, em paradoxo, com a imensa chuva que tem caído, as torneiras estão mais secas que uma lapa no verão. Assim como o velho moinho, que por motivos de abandono, também não vai operar durante esta fase irregular. Aos fantasmas que o povoam, e que noutros tempos ali trabalharam arduamente, pedimos desculpa pelo interregno. Estamos em acreditar que, mais ano-menos-ano, se iniciará a sua recuperação.




sábado, 20 de fevereiro de 2021

GENTE DA MINHA TERRA




Filha, esposa, viúva, mãe, avó, nascida e criada em Barrô, a Conceição Pires é o rosto da resiliência, a capacidade de superar, de recuperar de adversidades. De baixa estatura e de pequena compleição física, ninguém imagina a força interior, motriz e espiritual, que a move. Simpática, irónica, cheia de graça, parece ter sempre uma resposta pronta, mordaz, que afasta o infortúnio que a acompanhou nos primeiros tempos da sua vida.

Se fosse possível ler o destino, mais que certo, pelos pontapés que a má-sorte lhe destinou em sorte, o mais provável seria afirmar que, nas mesmas circunstâncias, ninguém aguentaria tanta infelicidade. Como se a tristeza fosse uma marca traumatizante para sempre, a única marca angustiante que se lhe reconhece é a dificuldade em sorrir. Por mais que se insista, a “São”, como é conhecida com carinho na nossa aldeia, não consegue plantar um sorriso aberto no seu rosto amendoado. Já contei aqui a sua história. Uma narrativa cheia de percalços mas também de superação. Uma lição para todos. Uma grande salva para a “nossa” “São”.

 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A VIDA TRANSFORMADA EM CARNAVAL

 

(Imagem da Web)




Hoje é terça-feira, dia de Carnaval. A pandemia veio trocar-nos as voltas completamente. Até ao ano passado, de 2020, sobretudo os mais foliões, saíamos de casa e, para nos divertirmos em cortejos carnavalescos ou sozinhos, expurgávamos os fantasmas, as preocupações de um ano inteiro passado.

Este ano de 2021, para mal de todos nós, é diferente em tudo, para pior, até no Carnaval. O sermos obrigados a estar confinados a um concelho ou à habitação, psicologicamente, transforma-nos em prisioneiros de nós mesmos. É como se a liberdade de circulação fosse cortada em fatias. É como se o horizonte passasse a ser a janela do nosso vizinho.

Passámos a ter medo de tudo e de todos. A comunicação entre humanos, com este choque endémico, levou um revés dificilmente ultrapassável nos tempos que se avizinham.

Por outro lado, o uso imposto de máscara, sem darmos por isso, transforma-nos numa espécie de assaltantes de cara tapada, encapuzados, prontos a divergir da ordem estabelecida. Por vezes, pela protecção que o ornamento concede à identidade, pergunto-me como não têm aumentado desmesuradamente os assaltos à mão armada.

Em especulação, dá para pensar que, depois das roupas todas iguais provindas da China, que praticamente transformou tudo o que vestimos numa espécie de fardamentos de Mao mais modernos. Para não nos distinguirmos no meio da molhe social, só faltava mesmo a máscara para nos fazer mais iguais entre desiguais.

Se bem que há quem diga que depois deste acumular de restrições por causa do Covid-19 nos vamos tornar mais humildes e valorativos nas pequenas coisas da vida. Que esta pandemia foi uma mensagem da natureza, para que a respeitemos integralmente e não pensarmos que estamos acima das suas leis naturais.

Claro que há outros que, fazendo-nos crer numa tese de conspiração, acreditam que o que se está a passar é um plano urdido pelo grande capital mundial para, à medida que a generalidade vai ficando mais pobre e mais frágil, nos tornar cada vez mais dependentes da grande ordem financeira global.

Seja lá que significado este tempo tiver, não podemos, nem devemos perder a esperança. É esta mesma natureza que nos ensina que depois de um vale, inevitavelmente, virá sempre uma montanha.

Para o ano voltará a haver carnaval. E, curiosamente, volta a ser à Terça-feira.

sábado, 13 de fevereiro de 2021

BARRÔ: A TRISTEZA DA LAVADEIRA

  




Seja Verão, seja Inverno, faça Sol, faça chuva, no pequeno lavadouro público de Barrô, construído pela Junta de Freguesia de Luso há cerca de quatro décadas, praticamente desde o primeiro dia que a obra comunitária foi erguida, vamos encontrar a Augusta de Jesus Vieira, de 78 anos, debruçada sobre o tanque de um total de oito lugares. Com vista privilegiada para o Barreiro, o vale fértil e celeiro da aldeia, onde se avistam a dois passos laranjeiras e outras árvores frutícolas, a Ribeira do Salgueiral e o velho moinho e, misturado com o chilreio dos passarinhos, se ouve as suas águas límpidas a baterem palmas à natureza, pela acalmia paradisíaca, presume-se, Deus teria passado por ali.

De um grupo de três resistentes, a Augusta é a única que marca o ponto todos os dias. Ou melhor, marcava, porque desde há cerca de um mês que, por avaria no sistema de enchimento automático, as torneiras do Lavadouro estão secas e silenciosas. Desde esse dia de secura, os dias de Augusta nunca mais foram iguais. Segundo diz, já por mais que uma vez comunicou a anomalia ao senhor presidente da Junta de Freguesia de Luso. Por entre uma tristeza velada no rosto, vai dizendo: “tenho a certeza que este atraso se deve à pandemia. Só pode ser, porque o Miro - Claudemiro Semedo, presidente da Junta de Freguesia de Luso -, nunca me falhou.

Ainda há dias, para ver se fico mais bem-disposta, liguei uma mangueira da minha casa - que é ao lado - para encher um tanque e conseguir lavar uns tapetes. Sabes, esfregar, torcer e lavar ali é o meu refúgio espiritual. Entendes? Se calhar não… É lá que ponho os meus pensamentos em dia. É um distraio! Se lavar em casa não é a mesma coisa!

Nos primeiros anos de 1960, a Augusta, a esposa do “” Maria, barbeiro, juntamente com um grupo de mulheres de Barrô, onde se incluía a minha mãe, foi lavadeira do Grande Hotel de Luso – engraçado é que eu, mesmo tendo cerca de cinco anos nessa altura, consigo lembrar-me desse tempo.

Prossegue a Augusta, “tenho a certeza que este meu gosto veio daí, do lavar a roupa do Grande Hotel, à mão. Apesar das imensas dificuldades, quem me dera esse tempo de volta, ter a mesma idade, e saber o que sei hoje!


BARRÔ: O TURISTA INDESEJADO

 



Aparentando cara de poucos amigos, aportou à nossa aldeia há cerca de um mês. Vestindo completamente de preto com as roupas que a natureza lhe deu, pose simples mas estudada de gentledog, rosto alongado, encimado por dois olhos brilhantes, não parece um nómada igual a alguns outros que percorrem as estradas e os caminhos de Barrô. De poucas falas, montou acampamento no adro da capela. Se avista gente da minha terra com sacos de lixo em direcção ao contentor, é certo e sabido que vai seguir o seu olhar. Aproximando-se lentamente, enfiando a melhor máscara de humilde pedinte, vai ficar à espera que lhe calhe qualquer coisinha em sorte. Se não vem, o que é um problema para o seu estômago, também não se manifesta. O seu olhar cândido e angélico vai manter-se sem qualquer alteração. Se o passante lhe fizer uma festa no dorso, vai deliciar-se com a atenção dispensada. Nesta altura da crónica já deveria estar a chamá-lo pelo nome, mas o nosso visitante de quatro patas, o melhor amigo do homem, não tem identificação.

Com um ar pacífico e meiguinho, o cão que descrevo, se vivêssemos numa sociedade ideal, nem serviria de nota. O mais certo seria estar a fazer companhia a uma qualquer família, numa qualquer casa da freguesia de Luso. Mas se alguma vez, enquanto comunidade, estivemos próximos de atingir a perfeição, os tempos que decorrem, em luta desigual entre iguais, estão muito longe de o ser. E a primeira manifestação que soçobra é o abandono de animais. E contra isto, por mais leis e decretos-lei promulgados em defesa, não há lei que valha aos chamados sencientes.

E poderia terminar esta “estória” por aqui. Mas há mais: o nosso amigo que enalteço, por força das circunstâncias, já que um cão vadio não é de ferro e precisa de se alimentar, deu em ladrão salteador. É certo que, como se esperava de um felino aristocrata caído em desgraça, nem é muito esquisito. Ora pode ir uma galinha do galinheiro mais à mão, ora vão uns ovos caseiros, assim como pode ir o pão, deixado pelo padeiro na entrada da madrugada pendurado nas portas principais.

Quem não está para condescendências e outros perdões humanitários são os lesados, que, com razão, se vêem privados dos seus bens. Vai daí, no princípio deste Fevereiro, alegadamente, comunicaram à Câmara Municipal da Mealhada e à Associação Quatro Patas e Focinhos para recolher o pobre animal, que, no fundo, bem no fundo, até gera pena colectiva pelo seu abandono por algum mastronço sem classificação. Isto, se por ventura tiver sido abandonado. Porque também pode andar perdido.

Alegadamente, no segundo dia deste Fevereiro deslocou-se à nossa aldeia um grupo de três pessoas ligadas à autarquia e à associação de animais para adopção. Depois de um exame em jeito de diagnóstico rápido foi dito, alegadamente, que, por um lado, o vagabundo não era possuidor de “chip”, por outro, também não haveria lugar na associação com protocolo com a edilidade para recolher animais perdidos.

E os dias sempre iguais vão passando neste tempo de pandemia.

Por um lado, se o cão falasse, o mais certo seria perguntar: que mal fiz eu para ser obrigado a roubar para matar a fome? Por outro, se fosse possível descrever a “vox populi”, a voz do povo, com certeza que também interrogaria: se as autoridades nada fazem, seremos nós que temos de tomar medidas?


sábado, 6 de fevereiro de 2021

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA





Jornal da Mealhada (edição de 3 de Fevereiro)


POSITIVO


A edição desta semana, abarcando transversalmente vários temas do concelho da Mealhada, está bem conseguida e, quanto aos conteúdos apresentados, nada há apontar. Com espaços para notícias bem distribuídos, com fotografias sem exagero e em quantidade que baste, está agradável e convidativo para se ler.


MENOS BONS


A capa, que é o desencadeante estimulador para se comprar o jornal, continua com cores mortiças e pouco apelativas. Demasiadamente assoberbada com publicidade, não deixando espaço para títulos de caixa alta, faz lembrar os jornais publicitários distribuídos nas médias e grandes superfícies.

Com uma notícia, “Presidentes de Junta reagem a entrevista do Jornal da Mealhada”, que nos remete para duas edições passadas, mostra-se facilmente que, sendo quinzenário, num tempo em que a informação é voraz da memória, perde actualidade. Era bom que a Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, proprietária do periódico, pensasse em investir mais na informação e formação do concelho e o transformasse em semanário.

A necessidade de publicar entrevistas a figuras do concelho que se destaquem no social, económico, político, religioso continua a ser uma premência.

Continua a ser notória a falta de cronistas que abarquem o espectro social, económico e político-partidário.

É preciso estimular a interacção dos leitores com o jornal. Seja por concurso de poesia ou prosa, é preciso criar uma “página do leitor”.

De zero a 20, atribuo a esta edição 14 valores.


(Publicado na página do “Mealhadenses que amam a sua terra”, do Facebook)


Jornal da Bairrada (edição de 4 de Fevereiro)


POSITIVO


Com uma capa apelativa, onde sobressai uma bipolarização de cores entre o vermelho e o preto, esta tiragem apresenta-se bem conseguida.

A fazer jus ao seu âmbito, apresenta uma ampla cobertura de terras da Bairrada.

Com um texto de opinião e colunistas que falam de terras da Bairrada, esta edição satisfaz.


MENOS BOM


Com três páginas dedicadas a pessoas falecidas é pastilha demasiado lúgrebe. Bem sabemos que é receita que não se pode desaproveitar, porém, neste tempo triste e de morte, tanto espaço dedicado à necrologia, puxa por uma tristeza e depressão que alastram na nossa alma. Uma das soluções para reduzir o impacto poderia ser, por exemplo, minimizar o tamanho das fotos dos que partem.

Numa avaliação global de 0 a 20, avaliaria esta edição com 17.

 

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021

MEALHADA: ASSIM É FÁCIL SER SENHORIO

 





Sem se apreender se foi por unanimidade, segundo informações vinculadas, sob proposta da oposição, a maioria da Câmara Municipal da Mealhada aprovou o perdão de rendas, durante todo o ano de 2021, a quem explora cafés, esplanadas, quiosques e outras estruturas que são propriedade do Município.

Segundo o Jornal da Bairrada, “À semelhança do que já havia acontecido em 2020, nos meses de confinamento, os exploradores de espaços e equipamentos, como cafés, restaurantes, entre outros, confrontam-se com inevitável perda de receita, pelo que o município os dispensará do pagamento de rendas pelo uso de espaços, este ano.

Não podemos cobrar rendas quando estas pessoas têm a sua atividade parada. O Município, nesta pandemia, procura ajudar as famílias, pelo que não iria agravar ainda mais uma situação que por si só já é difícil, uma vez que a maior parte destes casos são de pessoas que a título individual ou com empresas unipessoais dali retiram o seu sustento”, refere o presidente da Câmara da Mealhada.

E chegados aqui levantam-se algumas dúvidas e questões de igualdade entre inquilinos de senhorio público e privado. Por que razão se deve discriminar positivamente os arrendatários do sector público? Sofrem mais pelo prejuízo causado pela pandemia do que os dos sectores privados? Não. Infelizmente estão todos no mesmo barco que ameaça submergir. Então, porque se teima em beneficiar este grupo?

Ou será que, para equilibrar a balança da equidade, a autarquia vai atribuir aos privados a mesma tranche de benesses?

Ainda continuando a citar o Jornal da Bairrada, “Na mesma reunião, o executivo de Rui Marqueiro aprovou os primeiros apoios a micro e pequenas empresas do concelho da Mealhada elegíveis e beneficiárias dos programas Apoiar+ e Apoiar Restauração. Os primeiros 23 apoios totalizam 28.523,45€ e abrangem empresas que atuam em ramos tão diversificados como a restauração e hotelaria, venda automóvel, comércio, cabeleireiros ou atividades de saúde.

Ou seja, uma vez que os inquilinos da edilidade vêem dispensados o pagamento de rendas e ficam no mesmo patamar para serem apoiados no programa “Apoiar+”, em relação aos privados, acabam a receber uma receita indevida, que, se vivêssemos num Estado justo o tratamento deveria ser geral e abstrato.

Bem sabemos que não se pode obrigar os senhorios privados a fazerem descontos nos seus contratos. Então, especulando, para ser justa, a Câmara Municipal deveria atribuir um subsídio extra aos privados. Por ser inexequível, a edilidade deveria primar pelo tratamento igual para inquilinos diferentes. É sua obrigação enquanto ente representativo de uma comunidade de cerca de vinte mil habitantes.

Mas, se não o faz, porquê? Porque são medidas escandalosamente eleitoralistas. É muito fácil fazer “caridadezinha” à custa do erário público.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA

 



Jornal da Mealhada (edição de 20 de Janeiro)


POSITIVO


Comparando com anteriores, esta edição quinzenária, no tocante ao grafismo está com bom preenchimento de espaços com notícias diversas do concelho e sem demasiadas fotos como tem sido usual, apresenta-se bem conseguida.


MENOS BOM


Diria que a capa, para além de cores mortiças, está demasiadamente sobrecarregada com publicidade.

Continua a ser notório a falta de colunistas que abarquem o espectro social, económico e político-partidário.

Sobre o lema “esta semana falamos com…”, necessidade de publicar entrevistas quinzenalmente a figuras do concelho que se destaquem no social, económico, político, religioso.

Numa avaliação global de 0 a 20, digamos que avaliaria esta tiragem em 14.


Jornal da Bairrada (edição de 28 de Janeiro)


POSITIVO


Com uma capa apelativa, onde sobressai uma miscelanização de cores apelativas, entre o vermelho, o verde e o azul marinho, apresenta-se bem conseguida.

Com um texto de opinião e um painel de colunistas divido por terras da Bairrada, dá gosto ler este semanário.

Salienta-se a página de entrevista “À conversa com…”.

A fazer jus ao seu âmbito, apresenta uma ampla cobertura de terras da bairrada.

Prestes a comemorar 70 anos – são muitas décadas a “virar frangos” – para nosso gáudio, está quase a soprar velas.


MENOS BOM


Quase três páginas dedicadas a pessoas falecidas (necrologia) é dose. Bem sabemos que é receita que não se pode desaproveitar, porém, neste tempo triste e de morte, puxa por uma tristeza e depressão que alastram na nossa alma. Uma das soluções para reduzir o impacto poderia ser, por exemplo, minimizar o tamanho das fotos dos que partem.

Nuna avaliação global de 0 a 20, avaliaria esta edição com 18.