quarta-feira, 31 de julho de 2013

BOAS FÉRIAS... PARA TODOS... (MENOS PARA QUEM NÃO PODE)




Caros Sócios e Amigos:

Agosto está aí. Mês de férias e de descanso por excelência é, para os Bombeiros, mês de redobradas preocupações e de “intenso trabalho”.
Para cabal cumprimento das nossas missões temos, aqui, nos Bombeiros Voluntários de Coimbra, meios humanos reforçados com a disponibilidade de sempre e a vontade de tudo fazer para que os seus concidadãos se sintam seguros e possam gozar da melhor forma possível este tempo de férias.
Por outro lado, a Direcção da Associação esforça-se diariamente para encontrar os meios indispensáveis ao normal funcionamento da instituição e a garantir que nada perturbe a operacionalidade do Corpo de Bombeiros. Recorde-se que nesta altura são maiores os consumos de combustível, água, gás, electricidade e é mais frequente a necessidade de reparação e manutenção de viaturas (sujeitas a esforços intensos e redobrados) o que implicam encargos que à partida a Associação tem de garantir e cujo ressarcimento, quando é o caso, só muito mais tarde vem a acontecer.
Infelizmente este também é um tempo em que os apoios particulares são praticamente nulos e o apoio autárquico, para o corrente ano, ainda não foi protocolado e consequentemente não foi recebido.
Mas a Direcção para além do trabalho quotidiano não descura a questão das instalações tendo aprovado formalmente, em reunião de 19 de junho, o “Estudo Prévio de Recuperação, Remodelação e Ampliação do Quartel dos Bombeiros Voluntários de Coimbra e Instalações da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra.”, que remeteu à Câmara, estando a aguardar, a comparticipação nos termos do acordado.
Com a garantia de dedicação e a generosidade permanente de serviço agradecemos toda a ajuda possível e desejamos a todos os nossos sócios e amigos um bom mês de Agosto.

Qualquer apoio financeiro pode ser feito para:

ASSOCIAÇÃO HUMANITÁRIA DE BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE COIMBRA
NIB 003502550001090883230
Conta n.º 0255010908832 – CGD – Agência da Praça 8 de Maio, Coimbra
Com os melhores cumprimentos,


João Silva
Presidente da Direcção da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Coimbra

124 ANOS DE SERVIÇO E DEDICAÇÃO!

terça-feira, 30 de julho de 2013

EDITORIAL: DA FÁBULA À REALIDADE



 Há duas semanas escrevi um texto com o título: “O Olhar do Gato Persa”. Em jeito de fábula, pretendia ser um ponto de partida para a reflexão. Acima de tudo, fazer-nos pensar que embora o respeito, na protecção, pelos animais deva ser arrogado através da educação e posteriormente legitimado nas tábuas da lei é preciso usar de alguma ponderação na equidistância entre irracionais e humanos. Como ressalva, tenho uma grande deferência por todos os seres vivos. Não sou anti-tourada, tento entender os usos e costumes, mas aquele espectáculo bárbaro repugna-me. Não está de acordo com os ideais que devem perseguir a humanidade sobre todos os seres vivos.
Quando plasmei o texto sobre o gato persa, estaria muito longe de imaginar que a autarquia de Coimbra iria assinar um protocolo com uma associação de defesa de gatos e pagar-lhe mensalmente 600 euros ao longo de quatro anos. Num tempo de escassez de recursos para acudir aos humanos na cidade, muitos deles a passarem fome, há aqui qualquer coisa que se não está no reino do absurdo anda lá próximo.

segunda-feira, 29 de julho de 2013

COIMBRA: POR QUE ME TRAMASTE, CANTANHEDE?



Tudo começa logo à entrada, nas centenas e centenas, senão milhares, de automóveis parados. Depois, à procura de um lugar, constatamos a imensa área disponível para estacionamento. Lá encontramos um lugar e, a penates, seguimos em direcção ao recinto da EXPOFACIC. Afinal foi para isso mesmo que fomos lá. Enquanto caminhamos a pé, mais uma vez, percorremos com o olhar a extensa área destinada a parqueamento de automóveis. Vamos reparando que o chão, nalguns casos de terra batida, está bem cuidado. O seu estado não gera implicância com os nossos sapatos. Continuamos a andar e verificamos que está tudo relativamente bem pensado, até um riacho que corre ao longo do terreno está com resguardos em madeira.
Compramos o bilhete de 3 euros, que, no caso, dará acesso a um concerto de Tony Carreira, e entramos dentro do recinto da feira. É então que, perante tantos standes de venda e aquele molhe humano que, como pedras rolantes, quase se atropela, da nossa boca sai uma imprecação: “C’um raio! De onde é que veio tanta gente?”
Prosseguindo na minha especulação, continuamos a interrogar. Se Cantanhede conseguiu todo este sucesso, por qual a razão de Coimbra, com a sua CIC, Feira Industrial e Comercial, nem por sombras andou lá perto?
E aqui, em vez de interrogações, passamos a dar respostas em forma de constatação.
A feira de Cantanhede é uma realização do seu município. Ou seja, anualmente a autarquia, metendo as mãos na massa, candidata este certame ao QREN, Quadro de Referência Estratégico, e a outros programas de incentivos, e o resultado está à vista.
E em Coimbra o que aconteceu? Aqui, a meu ver, todos temos culpa no empobrecimento da nossa CIC. Como se sabe foi sempre uma realização da ACIC, Associação Comercial e Industrial de Coimbra –que se, por um lado, nunca largou mão da exclusividade da sua realização, por outro, a Câmara Municipal também nunca se quis envolver activamente. A edilidade limitava-se a contemplar a associação com uma verba à volta de 100 mil euros –foi o último subsídio cabimentado- e nada mais. Ora este “não me toques que me desafinas”, nesta centralização por parte da ACIC e na medida em que a de Cantanhede crescia e a de Coimbra minguava, foi fatal para a nossa Feira Industrial e Comercial.
Depois também na época, na subsequência, aconteceram momentos peculiares e fatídicos. Peculiares, porque os nossos empresários desde que a CIC saiu da Praça Heróis de Ultramar nunca mais acreditaram nesta feira. Conseguir a sua inscrição de participação era mais difícil que ir a Fátima a pé –saliento que o sucesso da CIC até 1978, na praça agora ocupada próximo do Dolce Vita, tinha directamente a ver com o momento que se vivia em Portugal e, sobretudo, por haver meia dúzia de certames no país. Fatídicos, porque as poucas unidades industriais que existiam na cidade foram desaparecendo progressivamente e ficando sem representatividade.
A queda da CIC, no meu entender, não tem rigorosamente nada a ver com a sua deslocalização mas antes pela forte concorrência de outras realizações na zona centro, como Figueira da Foz, Leiria, Batalha, Lousã e Cantanhede, naturalmente.
Quando digo em cima que todos temos culpa, refiro também o cidadão comum, que, habitualmente, não participa muito no que se faz na Lusa Atenas. Num certo ostracismo, prefere ir apreciar o que se edifica nas redondezas. Em resultado do que escrevi até aqui, a CIC está morta e muito bem enterrada. Estando Cantanhede a pouco mais de uma dezena de quilómetros não fará qualquer sentido a cidade dos estudantes ter uma feira, apenas porque tem de parecer concorrente, nem que seja de fantasia, do melhor que se faz à sua volta. Cada vez mais se deve encarar a Região Centro como policêntrica, ainda que com as suas diferenças, mas a convergir para o enriquecimento de todos.
Culpar a ACIC, a Câmara Municipal, culpar os empresários, culpar os visitantes, acho que também será uma perda escusada de recursos. Todos tivemos culpa no cartório. O tempo, no seu caminhar em busca da luz, se encarrega de fazer emergir a verdade. Ponto final e parágrafo.

BOM DIA, GENTE DE FORÇA...

O LEGALISMO CEGO E ATROFIANTE



(Se quiser ver um vídeo do raio do puto a tocar como gente crescida clique AQUI)


 A semana passada escrevi n´O Despertar uma crónica sobre o título “Um anjo supertalentoso a tocar violino”. Para quem não leu, contava a magistral execução de um menino-prodígio, de 6 anos de idade, a tocar violino na Rua Ferreira Borges. Filho de dois excepcionais músicos, o Fernando Meireles e a Patrícia, naturalmente que filho de peixe só poderá ser mesmo campeão olímpico de natação. Fiz alguma coisa de mais? Não senhor. Como passageiro anónimo destas ruas da Baixa, se calhar, digo eu, com alguma sensibilidade maior do que o comum dos transeuntes, limitei-me a registar o facto. Passando a imodéstia, há uma diferença entre o singular e plural. O singular, enquanto solitário e perscrutador de silêncios, olha à volta, repara num gesto subtil, num olhar perdido, pressente, vê com antecipação. Pelo contrário, o colectivo, agindo em mimética de carneirada, em imitação de massas, só se apercebe de algo grandioso quando é chamado à atenção pelos jornais e televisão. Então um facto que até aí esteve ao alcance de um olhar, e nunca mereceu um fixar de mais de três segundos, de repente, passa a ser seguido por todos. E vem esta introdução a propósito de um desabafo do Fernando Meireles, que passo a reportar:
“Gostaria que ficasse bem claro que a minha presença e do Fernandito na Baixa de Coimbra só tem a ver com o facto de ele tocar bem e gostar de tocar em público. Para o meu rebento é muito importante tocar ao ar livre, porque ele é um grande artista e vai ser essa a sua vida, e este contacto directo cria descontracção, gera confiança e desmistifica a tensão de estar em palco sobre a pressão dos espectadores -sei do que falo porque piso palcos há muitos anos e, ainda hoje, há quase sempre um nervoso miudinho que por vezes nos deixa um pouco tensos e inquietos. A meu ver, como pai e músico, esta performance constitui um grande estímulo para o meu filho. São momentos de treino que, em vez de o fazermos em casa, ao fazê-lo na rua e poder partilhar isso com os transeuntes é muito importante para ele e para o seu futuro. Temos sido muito acarinhados e incentivados por quem passa na Baixa. Fazemos isto por pura brincadeira e divertimento. O dinheiro que recolhemos vai para a conta do Fernandito e também é distribuído pelos outros músicos que tocam na zona, ele, nisso, é muito generoso. A semana passada estávamos a tocar e passou por nós um senhor que andava a pedir e o Fernandito parou de tocar e pegou numa mão cheia de moedas e foi dar ao homem. Quando vê o acordeonista que toca contigo, ou o saxofonista, ou alguém a tocar qualquer música, é muito bondoso e quer dar sempre 3 moedas. Acho isso lindo, imensamente altruísta e comovente.
Ontem (terça-feira, 23) fomos novamente à Baixa. Já não íamos há uns dias, e fomos abordados por dois agentes da PSP. Com uma atitude ameaçadora, foram dizendo, que ninguém tinha feito queixa até ao momento, mas assim que alguém fizer eles vão lá, identificam-nos e levam-nos. Eu disse ao senhor agente, porque só um é que falou, que estávamos ali porque o Fernandito quer, gosta e é uma maneira dele treinar e estudar com entusiasmo e incentivo do público. Ele também joga bola na rua, anda de bicicleta, pratica skate. Enquanto educador não me esqueço destas necessidades essenciais. Expliquei que era esse o espírito que nos movia e ali nos apresentávamos. Disse-lhes também que seria preciso uma mente muito obscura e perversa para transformar estes nossos momentos em algo que pudesse ser condenável, mas o polícia disse-me que estávamos conversados e não queria mais conversa. Fiquei triste, e o Fernandito também, porque percebeu a cena, ficou intimidado e ganhou medo da polícia. Tenho vindo a incutir no meu filho que a polícia serve para nos proteger e ajudar. Ele até tem um amigo polícia que se chama Cândido, que costuma ir à escolinha dele e de quem ele gosta muito. Agora, com este episódio, ele ficou a questionar, e por isso mesmo, temos ficado por casa. Tocamos todos os dias, mas, para nós, era muito mais saudável poder fazer este trabalho na rua, partilhando esta alegria com as pessoas que passam do que estarmos a fazer o mesmo trabalho dentro de 4 paredes.”


domingo, 28 de julho de 2013

sábado, 27 de julho de 2013

NAS MALHAS CAÍDAS



 Antes de entrar no assunto que leva escrever esta crónica, como primeira ressalva, vem-me à ideia as permanentes chamadas de atenção da minha falecida mãe: “ai Toino, Toino! Vês sempre tudo ao contrário. És um tolo, rapaz!”. Ela tinha razão. Às vezes tenho alguma dificuldade em aferir a bondade de certas iniciativas que se fazem em Coimbra, e mais propriamente nesta zona velha. O problema é que vejo toda a gente a aplaudir e, em solilóquio com meus sapatos gastos e cansados de tanto calcorrear sendas e veredas, dou por mim a duvidar da minha própria avaliação. Poderia elencar aqui meia dúzia de exemplos, mas, para já, vou apenas debruçar-me sobre uma iniciativa que está patente em vários pontos da cidade e até ao fim do mês.
Pelo que se vê em algumas zonas, incluindo a Rua Direita e a Rua Fernandes Tomás, na Baixa, está a decorrer, durante este mês de julho, o primeiro Festival de Croché Social. Segundo o Diário de Coimbra, de 5 do corrente, “a iniciativa pretende embelezar vários pontos da cidade com trabalhos em croché feitos por utentes de 40 instituições e associações de solidariedade social da cidade. O talento e a criatividade dos mais idosos preenchem agora de croché as árvores, as rotundas, os postes e até um autocarro do Ateneu de Coimbra (…)”.
Com toda a franqueza, começo por pedir desculpa aos promotores desta acção. Tenho a certeza de que a desencadearam com a melhor das intenções. Porém, quando passo junto à Câmara Municipal, ou na rotunda dos HUC, e vejo aqueles pinos forrados com crochet, feito com tanto amor por alguém mais velho do que eu, completamente desbotado, a estorricar ao Sol, como roupa a corar esquecida na eira, fico apreensivo e questiono a positividade da ideia. Pressinto ali uma falta de lógica, uma relação desproporcional entre a causa e o efeito. Uma enorme sensação de desperdício de recursos. Não sei bem se conseguirei ser claro, mas vou tentar analisar esta iniciativa sobre uma única vertente: o trabalho.
Começando então pelo trabalho, poderemos defini-lo como actividade física ou psíquica, feita por humano, cuja intenção, objecto, é realizar, transformar, ocupar o tempo, considerando que o ócio, para além do necessário, leva ao definhamento mental e é nocivo à criação intelectual do homem. É ponto assente que o trabalho, enquanto função, deve ser proactivo e dignificar a pessoa. Daí se continuar no eterno conflito em saber se deveremos considerar a prostituição uma profissão reconhecida e relevada socialmente –um dia, não se sabe quando, talvez quando cair a máscara da hipocrisia, vai ter de se decidir. Enquanto se pensa e repensa, entre o sim, o não e o talvez, as prostitutas, como Madalenas condenadas pela história, num limbo de ostracismo, continuam sem qualquer protecção social e a serem espancadas por canalhas sem escrúpulos. Continuando na minha narrativa, é também acordado que todo o labor deve ter acoplado uma retribuição: monetária, enquanto acção individual e fonte de rendimento; de utilidade colectiva, pro bono, implicando, pela sua gratuitidade, o correspondente reconhecimento público; prazenteiro, individual, imbricado na satisfação pessoal, e projectado na ocupação e na criação.
Depois destas alegações, poderemos então considerar trabalho este resultado material de um universo de pessoas idosas e carenciadas, no tecer manualmente centenas de metros de bordados? Sim, podemos –penso que não há dúvida. O que me gera alguma intranquilidade é o chamado efeito placebo, o fazer crer a alguém carecente de que o resultado da acção implica melhoramento do seu estado, físico ou anímico. E escrevo isto tendo em conta que, provavelmente, o fim que se espera para estas obras deverá ser um qualquer recanto esquecido ou o lixo. Será que o produto do seu labor esforçado, tendo em conta o seu ideal de decorar a cidade durante um mês, é bastante e dignifica toda a entrega e dedicação dos autores obreiros? Bom, se calhar, só eles poderão responder. Aparentemente, pelas suas manifestações de contentamento na televisão, assim parece. Mas, levando à letra que são utentes de instituições de carácter social, marcadamente com suas diferenças, será que não estamos implicitamente a desvalorizar o seu empenho?
Bem sei que a questão não é pacífica, é que, comparando, podemos ser transportados para outros lugares com ruas ornamentadas com flores de papel e chãos atapetados com pétalas de rosas em festas alegóricas. Mas, a meu ver, neste caso, são utilizados materiais perecíveis. Ou seja há uma relação directa entre o nascimento e morte, uma temporalidade entre a criação, o definhar e o perecimento. Não será o caso do crochet –como todos sabemos, é uma arte laboral ancestral, passada de mães para filhas, cuja utilidade, de longa duração, assentava essencialmente nas dificuldades financeiras da família, pela carestia da vida. Este vício familiar, rural e urbano, desapareceu pela desvalorização acentuada dos têxteis e por outras ofertas de ocupação dos tempos livres. As razões que sempre lhe estiveram subjacentes, assentes na necessidade, deixaram de existir.
Enquanto homenagem a um costume familiar em vias de desaparecimento foi uma boa forma de chamar a atenção? Deixo a resposta a quem me ler.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

BOM DIA, MARINHEIROS DA TAPROBANA...

HOJE HÁ NOITE BRANCA NA BAIXA

Foto: A Agência para a Promoção da Baixa de Coimbra preparou para o próximo dia 26 de Julho (Sexta-Feira), mais uma edição das NOITES BRANCAS, com a abertura dos estabelecimentos comerciais até às 24h00. Atendendo ao sucesso das anteriores campanhas promocionais integradas nas iniciativas do “Comércio vem para a Rua” apelámos novamente aos comerciantes a manterem a campanha de venda de produtos de stcok a preços vantajosos, em estruturas a colocar no exterior das lojas. 
Nesta edição da noite branca animação musical ficará a cargo de grupos folclóricos e música popular portuguesa .
Esta é sem duvida uma noite de oportunidades para quem quer aproveitar os preços apelativos do comércio da Baixa de Coimbra, onde em alguns estabelecimentos as promoções vão até aos 70%.

"ULTRAPASSA OS TEUS LIMITES. ARRISCA!"



 Sempre tive uma certa desconfiança em relação aos concursos. Achei sempre que, deixando os melhores de fora, discriminam a maioria dos concursantes e não avaliam os candidatos como deve ser –escusado será dizer que, apesar da natural discricionariedade do júri dentro da subjectividade humana, eu não sei como fazer melhor.
Ainda hoje li no Diário de Coimbra (DC) “Concurso de ideias já distribuiu 400 mil euros –Universidade de Coimbra Projecto “Arrisca C” abre-se este ano, pela primeira vez, aos alunos do ensino secundário”. Continuando a ler, “(…) A edição deste ano, que vai ser pela primeira vez aberta a estudantes do ensino secundário, vai distribuir mais de 150 mil euros. (…) Até aqui dirigido aos estudantes ou recém-diplomados há menos de cinco anos de qualquer instituição de ensino superior do país que tenham um projecto e que queiram coloca-lo em prática, esta 6ª edição do “Arrisca C” resolveu ultrapassar todas as convenções e aumentar ainda mais a fasquia, explica a Universidade.”
Por aqui, por este pequeno extracto, já se vê a brutal discriminação da Universidade. Sim da Universidade –é o que se escreve no texto do DC, não se fala em nome personalizado. Só vindo de uma velhota com mais de 700 anos se pode entender ficar meia histérica ao considerar que com este pequeno alargamento aos “secundaristas” se está a ultrapassar todas as convenções. E os outros? Os que não são estudantes do segundo escalão, universitários e recém-diplomados não podem ter boas ideias? Todos os dias, ao virar da esquina, nos apercebemos de invenções geniais. Simples. Tão simples que até nos perguntamos como foi possível não termos nós descoberto aquilo. Estes “arquitectos” não merecem ser contemplados? Por exemplo, ainda hoje reparei numa extraordinária ideia de um qualquer brilhante funcionário camarário –a menos que partisse de outra freguesia. Às vezes até fico mais burro do que já sou. Então não é que -por coincidência, está de ver- ontem escrevi um texto sobre o novo horário de recolha de lixo? E, então, lá defendia que era preciso personalizar a informação aos moradores e aos comerciantes, porque, como desconheciam as alterações, continuavam a colocar os resíduos à mesma hora de antigamente. É óbvio que, para além de ser muito lerdo e a cair para a idiotice, não tenho nem uma ideia feliz. Está de ver que falar pessoalmente com umas centenas de residentes na Baixa será uma tarefa hercúlea. E, acima de tudo dá uma trabalheira. É lógico que se as minhas ideias fossem realmente boas, sei lá, provavelmente seria advogado. Se continuo a despejar postas de pescada por alguma razão será. É ou não é? Ainda escrevo mais, se fosse minimamente inteligente teria visto logo que estava a defender o impossível.
Graças a Nosso Senhor Jesus Cristo e ao Nosso Pai do Céu, temos gente criativa na autarquia de Coimbra. Então –não vou dizer que tivessem lido o texto que escrevi ontem, nada disso!-, em resposta –quase parece mas não é-, o que fizeram os diligentes supra citados? Recorreram a algo excepcional. Diria antes fantástico! Durante a noite, creio, imitando os “corujas” –sem ofensa, está de ver-, fartaram-se de colar avisos em tudo quanto é esquina na Baixa. Um acto simples deste desmesurado alcance não é uma ternura? Confesso, fiquei sem palavras. Graças ao Altíssimo que temos gente competente a decidir. É que faz todo sentido. Como é que eu não vi isto, caramba! –e bato com a mão aberta na minha testa rugosa de tanto se esforçar por pensar mas não sai nada. Não há dúvida, já dizia a minha mãezinha, que Deus tenha em boa guarda,: “ai, Toino, Toino, complicas tudo, rapaz!”. É assim mesmo que se racionalizam os custos. Pois claro. É certo que durante a noite também se distribuíram uns panfletos debaixo das portas e gastou-se algum pilim, mas isso não é nada! Mesmo assim, poupou-se muito, sobretudo esforço físico. Alguém imagina o que é subir três e quatro lances de escadas para bater no quarto andar? E depois se a velhinha não abre, porque confunde o mensageiro com um vendedor da Meo ou outro qualquer operador de comunicações? Sim, não há dúvida: uma brilhante solução, simples, de grande eficácia e perfeitamente inserida dentro do âmbito da classificação de Património Mundial.
Volto outra vez à introdução, esta ideia, não estará perfeitamente dentro dos parâmetros “Ultrapassa os limites. Arrisca”? Será que não deveria ser contemplada pela Universidade de Coimbra? É por essas e por outras…


LEIA O DESPERTAR...



LEIA AQUI O DESPERTAR DESTA SEMANA 

Para além  do texto "UM ANJO SUPERTALENTOSO A TOCAR VIOLINO", deixo também as crónicas "A SEMANA DA REVELAÇÃO"; "O PRIMEIRO CD"; e "REFLEXÃO: O MATA-DONOS".



UM ANJO SUPERTALENTOSO A TOCAR VIOLINO

 Quem passou, na quinta-feira da semana passada, na Rua Visconde da Luz, em frente às Escadas de São Tiago, certamente terá ficado surpreendido com a mestria de um miúdo a tocar violino. Trata-se de Fernando Pereira Meireles, de 6 anos de idade, e é filho de dois reconhecidos músicos talentosos. O pai, Fernando Meireles, conhecido –e infelizmente pouco reconhecido por quem tem obrigação de o fazer- instrumentista na cidade pela sua participação no seu grupo “Os Realejo” e ainda mais como único construtor de Sanfonas. No entanto, o Meireles, para além de investigador e executante autodidacta, é um criador de qualquer instrumento acústico que emita sons. Para além da Sanfona, constrói violinos, guitarras portuguesas, bandolins, concertinas e violas toeiras. A talhe de foice, há muito tempo que batalha para que as autoridades locais, da cidade, lhe deem atenção no sentido de ser criada uma escola de instrumentos musicais e, mesmo sabendo-se que é o único a recriar a Sanfona, instrumento do século XVII, é preciso aproveitar o seu saber, nada acontece.
O Fernando Meireles pequenino, o anjo de que comecei por falar, é também filho da Patrícia, uma exímia acordeonista e que em 2008-2009 nos presenteou com a sua música nas Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz. Nessa altura escrevi vários textos no blogue a chamar a atenção para o seu valor de instrumentista. Pelas suas parecenças físicas com a diva francesa, batizei-a como a Edith Piaf da Calçada. Fruto de uma ligação com Meireles viria a nascer este anjo sobredotado para a música. Vamos ouvir o Fernando (pai): “nunca tive televisão em casa. Mas cedo me apercebi que o meu filho adorava vídeos de música e decorava facilmente as melodias. Há um ano atrás, juntamente com o Manuel Rocha (diretor do Conservatório de Música de Coimbra), começámos a espevitá-lo para o violino. Aprendeu rapidamente e até a ler a pauta sozinho. Ele é um supertalento. Reproduz tudo de ouvido. Neste momento, e depois de um ano de execução, toca cerca de 200 músicas. Ora ouve esta do Rieding (compositor alemão Oskar Rieding). Toca aí, filho!”
E o anjo, de olhos azuis e cabelos louros, como se balouçasse numa nuvem e levitasse desta terra carregada de preocupações, tocou e encantou quem por ali passou.


A SEMANA DA REVELAÇÃO

 Até há pouco tempo um pensamento recorrente me bailava na cabeça: escrevo n’O Despertar há quase um ano e meio com uma página semanal. Até agora, nunca vi por cá um desabafo de um leitor a insurgir-se contra ou a favor sobre o que, tantas vezes subjetivamente, opino. Ora, sendo assim, em silogismo, extraio três resultados possíveis: ou estão sempre de acordo com o que escrevo; ou nunca leem o que plasmo no jornal; ou, lendo, pensam para si mesmo: “deixem lá o tipo escrever o que quiser. O gajo é doido. Não é para ligar”. Continuava eu a imaginar: se assim for, levando em conta esta última premissa, é mau porque, sendo uma espécie de prerrogativa, vou persistir no disparate. Como antecipadamente sei que não terei réplica, arbitrariamente, sinto-me livre para defender o indefensável.
Subitamente, na semana passada, tudo mudou. Dois acontecimentos, um negativo e outro positivo, fizeram-me crer que, afinal, muitos leitores leem o mais antigo semanário da cidade –o conteúdo que, enquanto colaborador, escrevo e os dos meus camaradas de prosa. Sobre o negativo, não vou debruçar-me. Já basta o facto de o ser, enquanto carga negra para esquecer. Por isso mesmo vou contar o que foi deveras relevante. Na terça-feira, 16 do corrente, tinha uma mensagem de uma senhora no telefone: “senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, embora tivesse ligado para o jornal onde trabalha, agradeço que, apesar do meu número ser sigiloso, me telefone para o móvel”. E eu liguei. “Senhor Luís Fernandes, d’O Despertar, sou parte integrante de uma congregação religiosa e lemos no nosso jornal a sua crónica “O último regresso”, onde escreve sobre o músico de rua, o acordeonista Paolo Vasil, e na necessidade de, novamente, ele poder pisar o chão sagrado da terra que o viu nascer. Queremos entregar-lhe um envelope com uma comparticipação coletiva. Não queremos publicidade. Onde o podemos encontrar?”
E eu, surpreendido e meio atarantado, sem palavras por esta generosidade sublime, lá expliquei que o Paolo, para além de ser instrumentista na denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra, toca todos os dias junto ao Museu Municipal do Chiado, na Rua Ferreira Borges. Só me ocorreu exclamar: em meu nome e, essencialmente, do Paolo muito obrigada. Respondeu a senhora: “não agradeça. A nossa contribuição não é para merecer reconhecimento. Estamos a fazer o que devemos. Que Deus o abençoe e ao senhor Paolo Vasil.”
No dia seguinte este homem bom, trabalhador e solidário com quem muito necessita como ele, embaixador de boa vontade de um povo que nos fez criar um estereótipo pouco lisonjeador, recebia um envelope com uma verba que não vou revelar e que, de certo modo, irá permitir fazer face à sua doença e apoio para o seu regresso. Há palavras para comentar este ato fantástico de magnanimidade? Há, mas deixo os comentários para quem me ler. Apesar de ser contra o estabelecido pela senhora anónima, apenas resumo numa frase: Muito obrigados a todos quantos se preocupam com quem vive horas de aflição. Bem-haja!


O PRIMEIRO CD

 Neste último sábado, a denominada Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra -constituída pela Celeste, o Gastão, o Armando, o Lourenço, o Emanuel, o Paolo e este vosso servidor- passou a registo digital, em cd, 13 temas originais. “Leva-me contigo” será o título que lhe dará asas para voar e que assentará num dos mais bonitos temas deste trabalho discográfico. O lançamento desta obra, creio que a primeira em Portugal em que juntando individuais artistas de rua se compõe um agrupamento, está programado para o Pavilhão de Portugal em final de Agosto. Desde o princípio da criação deste conjunto musical, em Dezembro último, que se conta com o apoio incondicional de Emília Martins, presidente da direção da Orquestra Clássica do Centro, a quem aproveito para agradecer publicamente o ter acreditado em nós.
Com uma pequena edição de uma centena de exemplares, os proventos deste lançamento serão atribuídos ao Paolo Vasil, acordeonista desta banda de rua, doente e sem meios próprios, para poder fazer face às despesas e, de cabeça erguida, poder regressar à sua terra. Em boa verdade, não deixa de ser irónico o facto de, fazendo ele tanta falta a este pequeno grupo, se estar a contribuir para que um bom músico, como é o Vasil, se vá embora de vez. Mas, com honestidade, teremos o direito de reter alguém numa terra que não é a sua? E, acima de tudo, quando o que ele aufere, no dia-a-dia, não lhe permite sobreviver com dignidade? Penso que a resposta é clara. Enquanto mentor desta ideia e autor dos temas agora gravados, sinto muita pena que o Paolo, por motivos de força maior, nos abandone. A Baixa, a Rua Ferreira Borges, não voltará a ser a mesma. Mas a vida, no seu correr em busca da paz interior a que cada um de nós tem direito legitimamente, é assim mesmo. A maior felicidade para este bom homem que, para sempre, guardarei no coração. Foi essencialmente graças à sua imensurável disponibilidade e generosidade que foi possível levar este projeto em frente.


REFLEXÃO: O MATA-DONOS

 Nas últimas semanas estamos a ser invadidos por notificações das Finanças, respetivamente, para pagamento de IMI, Imposto Municipal sobre Imóveis, e IRS, Imposto sobre o Rendimento das pessoas Singulares. Tudo estaria bem se os valores a liquidar fossem de acordo com uma necessária previsibilidade, levando em conta a queda abrupta dos rendimentos das famílias. Acontece que não é assim. No IRS, por força dos alargamentos dos escalões sujeitos a impostos, com os mesmos proveitos do ano transato, estamos a ser bombardeados com números assustadores. No IMI, devido à atualização recente da propriedade, a mesma história repetida. Numa altura em que, por um lado, os lucros provenientes do trabalho, de rendas e de juros, como um dominó alinhado, caem continuamente e, por outro, as faturas da eletricidade, água, comunicações são cada vez mais elevadas, pergunta-se: depois de década e meia a semear proprietários no país, o que vai acontecer ao pequeno possessor particular? Privado de meios de receita que possam fazer face ao confisco por parte do Estado, como vai responder a este ataque brutal contra a propriedade e só igual na história, em 1834, quando Joaquim António de Aguiar, o Mata-Frades, incorporou na Fazenda Nacional todo o património pertencente às ordens religiosas? Quase dois séculos depois, a coberto de linhas ideológicas muito claras e onde a expropriação, através da lei, passou de instituto de exceção a regra geral, só apetece gritar: “salve-se quem puder!”


ATENÇÃO COMERCIANTES E OUTROS ARRENDATÁRIOS

 Após o dia 15 deste mês de julho, e depois das alterações ao Regime de Arrendamento Urbano terem entrado em vigor em novembro último, finalmente começaram a ser emitidas pelas Finanças as declarações de RABC, Rendimento Anual Bruto Corrigido, documento essencial para o cálculo do aumento das rendas antigas, anteriores a 1990.
Gostaria de chamar a atenção para um pormenor muito importante. Nas novas comunicações dos proprietários aos inquilinos para atualizar a renda, por obrigatória carta-registada, indica-se a nova verba proposta e a seguir vem uma frase mais ou menos assim: “Proponho que o contrato passe a contrato com prazo certo, com a duração de 5 anos”. É de supor que esta frase passe despercebida a uma grande maioria e, se não for levada em conta, venha a custar muito caro no futuro.
Ora, o que quer isto dizer para os menos avisados? Significa que, se o inquilino não responder no prazo de 30 dias, opondo-se a esta alteração, o seu silêncio valerá para transformar um contrato sem termo num acordo a prazo de 5 anos. Passado este tempo irá ter a maior surpresa da sua vida. Muita atenção, portanto.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

UMA GRAVAÇÃO AO VIVO... NO COLISEU



Na última vez -em data que já esqueci- em que a denominada "Orquestra de Músicos de Rua de Coimbra" esteve a actuar no Coliseu -seria mesmo no Coliseu? Se calhar não foi, estou tão esquecido, mas também não interessa nada-, um nosso amigo muito querido, se calhar com receio que o próximo disco esgote, fez o favor de gravar a nossa actuação ao vivo. Deixo-lhe aqui o seu prestimoso trabalho:

(CLIQUE SOBRE O LINK EM BAIXO E OUÇA)

"TERCEIRA E ÚLTIMA TENTATIVA"



 Depois de um interregno de cerca de um mês, aqui e aqui, esta semana reabriu o Café Puri Doces, na Rua das Padeiras. Já por duas vezes se verificou encerramento da actividade. Segundo o senhor Jorge, o proprietário. “É a terceira e última tentativa que estou a fazer. Depois de tantos anos, custa-me muito abandonar, sem mais nem menos, o estabelecimento. É uma dor de alma, um derramar de sofrimento, uma pessoa ter de desistir de algo que foi um sonho, sabe? É a minha vida que está aqui. E quando falo assim, não refiro apenas o investimento que aloquei. Um negócio é como um casamento. Uma pessoa aposta tudo convencido que será para sempre. Se falhamos, se não dá certo, sentimos um vazio, um rasgo na alma, uma queda abrupta num desfiladeiro imaginário. É triste, sabe? Vou tentar outra vez. Gostava que as pessoas que me rodeiam, os meus clientes, entendessem estas minhas interrupções. Em mensagem por este meio, gostava de lhes dizer que agora, nesta mais uma tentativa, me sinto com mais forças. Claro que preciso da ajuda de todos para me manter cá. Venham ao meu café!”
Vamos todos ajudar o senhor Jorge? Afinal, frequentando ou não, somos nós os responsáveis pela permanência de um estabelecimento aberto ou encerrado. Somos ou não somos?


TEXTOS RELACIONADOS

BOA TARDE, GENTE DE ESPERANÇA...

O LIXO DO NOSSO DESCONTENTAMENTO



 Em 12 do corrente, o Departamento de Qualidade de Vida, Divisão de Ambiente, da Câmara Municipal de Coimbra, fez constar em edital publicado nos jornais da cidade a alteração de horário de funcionamento para recolha de resíduos urbanos na cidade entre as 17h00 e a 1h00 da madrugada.
Recorrendo à publicação nos diários, “Assim solicita-se a melhor colaboração dos munícipes residentes na Alta e na Baixa de Coimbra para que a deposição de sacos na via pública se efectue no período entre as 17h30 e as 21h00”.
A primeira tentação que nos impele é criticarmos esta mudança, considerando a recolha demasiado cedo, se levarmos em conta os imensos restaurantes que laboram até tarde nesta zona velha da cidade. Na minha forma de avaliar esta transformação estará correcta e virá de encontro às necessidades da população das zonas velhas. Várias vezes escrevi alguns textos a insurgir-me contra o desmesurado barulho que os funcionários camarários faziam noite dentro. Mais do que uma vez, cerca das 3h30 da manhã, me levantei e vim reclamar junto dos faxineiros a falta de respeito por quem dormia. Até se poderá pensar que seria embirração minha. Nada disso. Uma das vezes, lembro-me, com um ferro em forma de marreta, dois trabalhadores começaram a desmantelar um frigorífico junto à minha porta. Naturalmente que dei conta destes factos na autarquia. Em conversa com vários vizinhos, todos entendiam que havia uma grande falta de cuidado por parte dos funcionários da ERSUC. Ora, sendo assim, entre escolher o descanso dos residentes e antecipar a apanha de detritos nos restaurantes, em escolha, qual será o mal menor? Em princípio não haverá dúvida. Nesse caso, tudo estará muito bem, dirá o leitor em ilacção. Acontece que não. Não está mesmo. Antes pelo contrário, agora está ainda pior. Como as pessoas não sabem das novas modificações, continuam a abandonar os excedentes no antigo horário e, durante todo o dia, permanecem para quem os quiser ver e cheirar –não podemos olvidar a nova classificação desta área circundante como Património da Humanidade e a responsabilidade acrescida pela distinção.
É evidente que esta medida de troca de horários só fará sentido se for acompanhada de uma campanha de sensibilização junto dos comerciantes e residentes e, numa segunda fase, a aplicação de multas aos infractores. Mais ainda, de uma vez por todas, os serviços camarários em vez de despejar a informação através do edital publicado no jornal e darem por concluído o processo, é obrigatório passar a comunicação pessoalmente e de porta em porta. Dá trabalho? Acredito que sim, mas, para almejar sucesso, não se vê outra forma de procedimento. Recorra-se às juntas de freguesia; recorra-se a voluntariado. É preciso sair dos confortáveis gabinetes e investir no contacto individual. Por se pensar que, para que a informação chegue a todos, basta carregar num botão é que, cada vez mais, temos uma população disfuncional, do ponto de vista organizacional, info-excluída, a renegar os computadores, e a sentir-se cada vez mais perdida neste oceano de modernidade. Talvez valesse a pena pensar nisto, não?!?

INCENTIVOS AO INVESTIMENTO: "COMÉRCIO INVEST"

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


Foram publicadas em Diário da República as novas regras de incentivos para o Comércio tradicional, denominado "Comércio Invest". Clique  AQUI em cima.

http://dre.pt/pdf1sdip/2013/07/14100/0434204352.pdf

QUALQUER SEMELHANÇA SERÁ PURA COINCIDÊNCIA...

quarta-feira, 24 de julho de 2013

"A MINHA GERAÇÃO"



Há mais de dois anos, em Março de 2011, escrevi este texto.
Enquanto ouve este novo trabalho dos UHF, “A minha Geração”, leia a crónica. Passando a auto-citação, creio que vale a pena.



 Confesso, estou completamente baralhado. Pela demissão da classe política, em Lisboa, na Avenida da Liberdade, estiveram, não se sabe muito bem, à volta de 20 mil pessoas. No Porto e nas restantes cidades do país, incluindo Coimbra, segundo a SIC, o número de manifestantes rondaria cerca de 100 mil manifestantes.
As pessoas têm razão? Têm. E mesmo se, eventualmente, ontem não tivessem, bastava o anúncio, hoje, de um novo PEC, Pacto de Estabilidade e Crescimento –o quarto- para a terem. Então porque estou confuso? Pois, aí é que reside o busílis da questão, não sei. Há qualquer coisa que me escapa. Porque razão havia três gerações, avós, pais e filhos? Onde irá conduzir este protesto? À demissão, ou queda provocada através de moção de censura, do Governo? Provavelmente é o que irá acontecer, mas e depois? Caindo este governo os nossos problemas estarão naturalmente resolvidos? Será este Governo o grande inimigo do povo? Será este Governo do Partido Socialista o causador de toda esta frustração? Convém não esquecer que foi eleito há pouco mais de um ano, legitimamente e sufragado através do voto popular.
Antes de avançar na minha reflexão, já agora, atentemos nos comentários das diversas manifestações em várias cidades portuguesas e passadas na televisão. Deu para ver os mais díspares argumentos, uns escritos em cartazes e outros em respostas dadas directamente a jornalistas. Vamos lá analisar alguns que eu vi e ouvi:

-“Queremos a alimentação mais barata!”
-“Queremos a gasolina mais barata!”
-“Queremos pagar menos impostos!”
-“Estamos fartos desta precariedade!”
-“estamos contra o aumento de propinas!”
-“Defendemos mais direitos!”
-“Direito ao trabalho livre, sem exploração!”
-“Precisamos defender mais futuro!”
-“Queremos uma vida melhor, pá! Não quero dar a cara, pá!”
-“Ordenado mínimo para os políticos!”
-“Sócrates vai para a rua!”
-“Demissão de toda a classe política!”
-“Isto é produto da nova ordem mundial. Abram os olhos!”
-“Isto não resolve nada! É preciso partir para a violência!”
-“O que é que tem de mudar?”, perguntava a jornalista da SIC a um manifestante. “Tudo…tudo!”, respondeu o entrevistado, sem mais nada dizer.

 Vou passar à frente destas declarações escritas e faladas. Deixo isso para reflexão. Começo pelas questões colocadas no início do texto. Porque estiveram representadas, pelo menos, três gerações? Portanto, os avós das gerações de 1930/40, os filhos destes, nascidos nas décadas de 1950/60, e a última geração nascidas nas décadas de 1980/90?
A resposta óbvia é que estarão todos à rasca. Muito bem, mas e para além do evidente? Ou seja, por outras palavras, estiveram ali para simplesmente protestar contra o Governo por este ter defraudado as legítimas aspirações de todos? “É verdade”, poderíamos responder em uníssono. Mas, já agora, num exercício alargado de dúvida, perguntemos: só o Governo é que deverá arcar com a culpa de tudo? Será que estas três gerações, na qual me incluo –nasci em 1956-, não terão também a sua quota-parte?

Comecemos pelos nascidos nos anos de 1930/40:

Foi uma geração patriarcal muitíssimo sacrificada, onde, essencialmente nas aldeias, a fome foi uma diária servida sem cerimónia. Os seus filhos, numa grande maioria, eram encarados como sua propriedade e, no mínimo, eram força de trabalho sem contemplações. Pouco importava o que fizessem desde que o seu rendimento fosse inteirinho para o lar paterno. Era este patriarca que, como chefe de família legalmente instituído, punha e dispunha. Talvez pela ineficiente alimentação, o álcool era rei em muitas casas portuguesas. A pancada imperava todos os dias à mesa e fora dela. Raramente a educação intelectual era preocupação destes lares de família. Leia aqui uma história verídica dessa época;

Os nascidos nas décadas de 1950/60:

Esta geração, portanto filhos da anterior, começou a trabalhar muito cedo. Muito novos tiveram uma noção ampla da vida. Como em todas as estirpes, entrou em conflito directo com os seus progenitores -mais o pai, mas insurgindo-se contra a omissão da mãe- e pondo em dúvida que essa forma de educação tivesse o mínimo de correlação com um desenvolvimento necessário a qualquer criança.
Abandonaram cedo a agricultura do interior e, logo terminada a instrução primária, rumaram à grande cidade. Como as ferramentas que dispunham era muito melhores que os seus pais, e também porque, apesar do grande choque petrolífero de 1973, tiveram uma revolução de Abril de 1974, que para além de constituir uma profunda transformação social, foi essencialmente económica. Não podemos esquecer que os ordenados deram um grande pulo e, apesar de muitas falências em massa no tecido empresarial nessa altura, os cidadãos passaram a viver melhor. Apesar de trabalharem sempre, preocuparam-se com a sua formação. É uma geração viciada no trabalho e, talvez porque pouco teve, é profundamente materialista. Curiosamente, contrariando os seus antecessores, põe de lado o álcool ou outra qualquer substância que lhe sirva de muleta.
Uma grande maioria, estudando de noite e a trabalhar de dia, chegou à Universidade. Mesmo os que não chegaram criaram grandes negócios e foram bem sucedidos na vida. Uns no comércio, outros nos serviços, outros na indústria. Foram ainda bafejados com a adesão de Portugal à então CEE em 1986 e este facto foi fundamental para a sua ascensão. O fazer parte desta grande comunidade de países europeus, através da vinda de milhões de contos em subsídios, foi a pedra de toque para o grande salto no consumo e desenvolvimento social.
 Uma preocupação ruminava a mente desta geração: os seus filhos não iriam passar o que eles passaram e sofreram na infância. Esta lembrança, em forma de recalcamento, era uma espécie de bandeira desfraldada e erguida ao vento;

Os nascidos nas décadas de 1980/90

Esta geração, contrariamente aos seus pais, que trabalhando noite e dia e dormindo sobre espinhos, nasceu e cresceu sobre algodão. Logo desde o berço passaram a ter tudo, desde uma alimentação frugal até ao grande acompanhamento no seu crescer com muito afecto. Tiveram de mão-beijada todos os jogos de consola e acesso a tudo o que fosse formação intelectual. Tiveram na escola e no colégio as melhores marcas mundiais calçadas nos pés e nas camisolas vestidas.
Como entretanto o ensino universitário se democratizou, toda esta criação foi para a Universidade e tirou cursos e mais cursos. Pouco interessava sobre o quê, desde que fossem licenciados e, muito por vaidade, os seus pais –como eu- pudessem gritar aos sete ventos: “o meu filho é doutor!”.
Começaram a chegar ao mercado de trabalho já com quase 25 anos –lembremos que os seus progenitores começaram a trabalhar ainda infantes. Os primeiros a saírem diplomados ainda arranjaram empregos, os que vieram nas fornadas seguintes, naturalmente já não havia emprego para tantos mestres.
E foram ficando em casa dos pais. Estes, perante este descalabro nas suas planeadas aspirações foram ficando frustrados e começaram a ver que afinal o ter canudo não era sinónimo de ter trabalho. Por sua vez, para desespero da família, e também fruto de novos costumes adquiridos enquanto estudantes, uma grande maioria, apesar de não serem auto-suficientes economicamente, continuam a levar uma vida nocturna de “desbunda” e sempre a "cravarem" os familiares. Contrariamente aos seus progenitores, o recurso ao álcool e ao tão popular "charro" é transversal a toda a Europa neste ciclo de desenvolvimento.
Poucos se agarram a mais qualquer coisa para além do objecto de licenciatura. Os que enveredam por áreas do “povo simples” acham que não devem estar ali.
Os pais, como bateria de acumulação, vão enchendo “desaforo” e frustração perante um quadro que ultrapassou em muito as suas previsões planeadas em longas noites de insónia;

O ABANDONO DO SECTOR PRIMÁRIO

Resultado da adesão de Portugal à Europa, e porque, comparativamente com países vizinhos, éramos excedentários em produção agrícola, por directiva contratual, fomos abandonando a agricultura, as pescas e a indústria pesada.
Progressivamente fomo-nos virando para o comércio e serviços.
Passamos a ser um país de vendedores.
O que restou da nossa produção ancestral, de produtos endógenos, por ignorância e quase má-fé, foram desaparecendo quase todos;

A FRAUDE DA GLOBALIZAÇÃO

No início da década de 1990 começou a invasão das “lojas de 300”. Como se sabe eram produtos vindos da China a preços irrisórios. Em Coimbra, na Rua das Padeiras, chegou a haver grandes filas na rua para comprar artigos baratos provenientes do país do Sol Nascente. Ninguém se preocupou, ainda nesta década, de ter encerrado a nossa última fábrica de guarda-chuvas –não esquecer que temos um clima temperado e com muita água a cair no inverno. Ninguém se preocupou que as fábricas de ferramentas portuguesas fossem encerrando paulatinamente, porque foram substituídas pelos artigos chineses.
Como subscritores da Organização Mundial de Comércio em 1994, e portanto a planejar na globalização, a seguir foram as fábricas de têxteis, de calçado, e tudo o vento levou para o Oriente e, depois, era devolvido para o resto do mundo, e nomeadamente a Europa, com a sigla “made in China”.
Claro que todos nós surfávamos alegremente nesta onda consumista, onde uma minoria enriquecia a olhos vistos e uma maioria ia hipotecando o seu futuro.
Os empregos eram cada vez menos para uma juventude cada vez mais apta intelectualmente a entrar no mundo do trabalho. Só que, para tão nobre povo culto e educado, trabalho nas áreas correspondentes não havia.
Para serviços pesados, como a construção civil, o recurso foi a imigração;

A FUNÇÃO PÚBLICA COMO MECA

Como passou a não haver empregos para tantos aspirantes, os sucessivos governos nas últimas duas décadas, cada um à sua conta, foram metendo uns milhares de amigos na função pública. Escusado será dizer que estes “rapazotes” foram sempre para os melhores lugares. O trabalho de “sapa” continuou a ser feito pelos mesmos “básicos” de sempre.


AS NOVAS TECNOLOGIAS A SUBSTITUIR A MÃO-DE-OBRA HUMANA

A era digital entra em força nas empresas e outrora uma pequena fábrica que ocupava uma centena de pessoas passou a ser da responsabilidade de menos de uma dezena e com maior produção –só para lembrar, recordemos no ano passado a substituição de quase todos os portageiros da brisa por máquinas automáticas.
Claro que, a continuar assim, em competição desigual, como é que se podem criar mais empregos? O desemprego aumenta como nevoeiro em manhã húmida;

O CONSUMO COMO ASTRO-LUZ DO FIRMAMENTO

E tudo corria razoavelmente bem, não fosse o atentado das torres gémeas em Nova Iorque, em Setembro de 2001. Aqui, com grande sobressalto, assistimos que afinal a América não era invencível como se fazia crer. E foi o princípio da hecatombe mundial. As torres caíram nos Estados Unidos e a Europa começou a tremer. O consumo sofre o primeiro revés.
As empresas começam a falir na Europa, e nomeadamente em Portugal.
Começam a subir os impostos em flecha para suprir o défice de IRC das empresas.

ESTADO PROVIDÊNCIA VAI AO DIVÃ DO PSIQUIATRA

Na década de 1990, com a economia a cavalgar a trote -mesmo apesar de uma crise em 1993-, por António Guterres, então Primeiro-Ministro, em 1995, é criado o Rendimento Mínimo Garantido. Foi um “fartar vilanagem” com pessoas a receber em quadruplicado. Bastavapara isso que se inscrevessem em vários distritos. São demasiadas histórias contadas.
No virar do milénio, e já depois do derrube das torres, mesmo com a economia nacional a decair fortemente, tudo continuou na mesma. As despesas com a saúde todos os anos aumentavam, as autarquias cada vez mais se endividavam. Ninguém se lembrou que, perante o paulatino cair do consumo –que era o sustentáculo da nossa débil economia- era necessário cortar nas garantias laborais. Ninguém teve a coragem de assumir que numa economia frágil, sem produtividade, e sem rentabilidade, não se poderia continuar a pagar 15 meses num ano. Dos governos que se sucederam nenhum deles assumiu que era necessário flexibilizar o Código Laboral e agilizar os despedimentos. Erradamente, em vez disso, começou a convidar-se à aposentação compulsiva. Resultado: falência eminente da Caixa de Aposentações e da Segurança Social.
Para complementar esta bomba de deflagração, criam-se mecanismos legais para o aborto, e a população activa, em aumento da passiva, diminui a passo de lebre;

A FRAUDE DO PROTOCOLO DE BOLONHA

Como se já não houvesse demasiados licenciados no país, através da ratificação da convenção de Bolonha, passou a ser possível ser licenciado ao fim de três anos. Claro que era (e é) um engodo, mas que interessa isso? O que importa é que o meu filho seja doutor!

AS FALÊNCIAS DOS GRANDE BANCOS NORTE-AMERICANOS

Em Setembro de 2008 rebenta a bronca com a falência do Lehman Brothers e o sistema financeiro mundial, como dominó, começa a ruir em barda.
Só então todos vimos que este sistema financeiro, suporte do económico, afinal tinha pés de barro e estava em crise profunda.

A GRANDE CRISE NA JUSTIÇA

A partir de 1990, no consumo, entrámos na era dos Direitos, Liberdades e Garantias. Ninguém se lembrou que, perante tantas premissas garantísticas, com os conflitos a aumentarem, não haveria edifício da justiça que resistisse. Resultado: a justiça entope.
Passamos a ser um país de direitos e nenhumas obrigações.
O Estado, em contra-ciclo e ainda para aumentar mais a confusão, passa a utilizar as leis para controlar a vida privada: resultado: mais e mais processos em tribunal.

E AGORA?

Agora estamos perante um inevitável PEC IV. Perante a necessidade de nos abastecermos de crédito lá fora, não haverá volta a dar a isto.
Soluções, aparentemente, não haverá mesmo, a não ser todos pagarmos com juros de língua de palmo o que usufruímos, sem poder, nos últimos 25 anos;

 O PSD IRÁ DERRUBAR O GOVERNO?

Perante tantas incertezas algumas coisas sabemos: este Governo cairá apeado pelo presidente da República -através da dissolução do Plenário- ou através de uma moção de censura. Sabemos também que, em princípio, José Sócrates não se demite nem que a porca torça o rabo.
Sabemos também que apesar de Passos Coelho dizer ontem que não deixaria passar este PEC IV, provavelmente e mais uma vez, como no Orçamento Geral do Estado, vai apresentar ao eleitorado umas pequenas vitórias de Pirro e o PEC lá passará na Assembleia da República. E porque irá o PSD viabilizar mais um pacote de drásticas medidas? Exactamente porque não tem soluções novas para apresentar ao eleitorado perante a enormidade de problemas que afligem a Nação. Mais ainda, este grande partido de oposição sabe que o executivo de Sócrates, como já não está a governar para as sondagens, vai tomar medidas de urgência e anti-populares, como é o caso da flexibilização da Lei do Arrendamento e alteração do Código do Trabalho, com as indemnizações por despedimento a caírem para um terço;

E agora em final, depois de tanto escrever, certamente você gostaria que lhe apresentasse um culpado desta situação? Pois, gostava, mas eu não indico. Apenas posso dizer que todos teremos a nossa parte de culpa. No fundo, bem no fundo, os políticos que temos hoje, com todos os defeitos e virtudes, são o resultado da nossa, muita ou pouca, exigência. Se nos enganaram ao longo de todas estas últimas décadas? É provável, mas, pensemos: não seria isso mesmo que nós queríamos? Não fomos nós que pedimos? Agora queremos que eles falem sério? Muito bem, então aguentemos o murro. Ele está aí!



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“Coimbra com Centro, Um Centro com Gente” foi o mote para o debate realizado na noite de 17 de Julho pelo Movimento Cidadãos por Coimbra sobre Reabilitação Urbana. Mais de meia centena de cidadãos fizeram questão de ocupar simbolicamente e tornar vivo o Terreiro da Erva. Situado junto às ruínas e crateras abertas na Baixa de Coimbra pelas demolições realizadas a pretexto da vinda do Metro de Superfície, a poucos metros da R. da Sofia, classificada de Património Mundial, mas em elevado estado de degradação e abandono, este espaço degradado da Baixa poderia ser um dos focos de uma intervenção exemplar, no sentido de requalificar e revivificar o centro histórico, em particular a partir da economia criativa.
A reabilitação do centro histórico foi considerada unanimemente pelos intervenientes como a prioridade das prioridades para Coimbra, para a qual é necessária uma forte vontade e decisão política e planos de acção concertados em várias áreas no sentido de trazer gente para a Baixa e a Alta. Sem a promoção da habitação, considerou o candidato à Presidência da Câmara, José Augusto Ferreira da Silva, não será possível recuperar o centro histórico e a classificação como “Património Mundial” não passará de um título vazio.
 José António Bandeirinha, arquitecto e candidato à Assembleia Municipal, sublinhou a importância e o valor de Coimbra como eixo articulador do território situado entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, bem como do território que se estende para as cidades do interior e até no contexto ibérico. Para exercer este papel, fundamental numa perspectiva de desenvolvimento, Coimbra necessita, segundo Bandeirinha, de densificar e consolidar um centro que se estende a toda a cidade infra-estruturada. Rejeitando políticas que continuam a optar pelo licenciamento de construção nova em zonas periféricas que promovem o desmembramento da cidade e tornam incomportáveis o custo da extensão de infra-estruturas e da gestão de outros serviços, Bandeirinha sublinhou que a requalificação do centro passa por intervenções de qualidade no edificado e, sobretudo, pela intervenção no espaço público. Segundo o arquitecto, é indispensável vontade política para que os serviços públicos de âmbito local, regional e nacional não abandonem o centro, como tem vindo a acontecer, preservando-se assim as âncoras que trazem as pessoas ao núcleo da cidade. Sublinhou ainda que a intervenção no espaço público não pode ser uma questão de gosto, mas uma intervenção inclusiva, com atenção às acessibilidades, que permita a todos/as os/as cidadãos/ãs sentir e apropriar-se desse espaço como seu. Para Bandeirinha, património é exactamente esse espaço vivo e ocupado com o qual todos/as nos relacionamos.
No mesmo sentido, Luísa Bebiano Correia, arquitecta candidata à Assembleia de Freguesia de Santo António dos Olivais, advertiu para os perigos da transformação do “património” num espaço musealizado e mercantilizável, para consumo turístico, secundarizando a sua dimensão viva. A partir de um estudo que realizou na pequena fábrica de louça pintada à mão que funcionava no Terreiro da Erva, Luísa Bebiano reflectiu sobre o papel da arquitectura na intervenção sobre espaços e edifícios que carregam consigo a memória de quem os habitou, neles trabalhou, sobre eles pensou e neles viveu percursos diversos. O trabalho de arquitecto transforma-se, assim, num olhar e ouvir e numa relação de afecto. Salientou como a fábrica desactivada foi já objeto de um projecto na área da arquitectura e do design, proposto à Câmara Municipal de Coimbra, inclusivamente com propostas de outras intervenções de reabilitação no Terreiro da Erva, e que esta tem sucessiva e absurdamente recusado. Para Luísa Bebiano, os edifícios vazios, degradados e entregues à especulação devem ser sujeitos a políticas de expropriação e de ocupação ativa, nomeadamente para e por pessoas sem habitação, no contexto da crise atual. Esta ocupação ativa tem ainda a vantagem de transformar os edifícios em lugares de afetos, dado o envolvimento colectivo na sua reabilitação. Segundo a arquitecta, a reabilitação do centro tem de passar por intervenções de diversas áreas, nas quais a cultura assuma papel central.
Por fim, Francisca Moreira, estudante, descreveu a sua experiência como comerciante da Baixa, proprietária da loja “Gang of Four”, sita inicialmente no Terreiro da Erva e depois na rua Visconde da Luz. Francisca Moreira descreveu os obstáculos quase intransponíveis que enfrenta quem quer instalar negócios na Baixa, os quais começam no preço extremamente elevado das rendas dos espaços e se estendem às condições absurdas impostas pela burocracia camarária, passando pela insegurança devida à falta de gente na Baixa e à falta de policiamento adequado. Elogiando iniciativas como as “Noites Brancas”, da Agência para a Promoção da Baixa, Francisca Moreira propôs a captação de lojas âncora pela Câmara e salientou a necessidade de os comerciantes se empenharem e colaborarem em rede, de modo a criar sinergias que o fortaleçam na concorrência com os centros comerciais, aos quais os poderes camarários atribuem todo o tipo de facilidades que não concedem aos empresários no centro histórico.
O debate que se seguiu deu voz a intervenções pertinentes da plateia. Entre outros, Pedro Bingre, candidato à Câmara Municipal, reforçou a necessidade de promover a habitação, num contexto historicamente novo que é o da desvalorização do imobiliário e da crise do sector da construção, criando, como propõe o Movimento Cidadãos por Coimbra, uma Agência Municipal de Arrendamento. Serafim Duarte, candidato à Assembleia Municipal de Coimbra, chamou a atenção para o abandono dos Colégios da Rua da Sofia, sugerindo a sua recondução à função historicamente original de residências universitárias, o que permitiria trazer gente para a Baixa. Chamou ainda a atenção para a falta de operatividade da Sociedade de Reabilitação Urbana, nomeadamente na perda de várias oportunidades de candidatura a fundos europeus para a reabilitação urbana. António Luís Quintans, comerciante, fez o historial da decadência do comércio na Baixa, responsabilizando os poderes públicos pelo desleixo que leva ao encerramento de lojas durante vários anos e pela falta de regulação, entre outros, dos valores do arrendamento de espaços comerciais."