domingo, 29 de novembro de 2020

CHEGA DE TANTA DEMAGOGIA

 

(Imagem da Web)



Segundo o jornal online notícias de Coimbra, “O presidente do Chega quer proibir, punindo com pena de prisão, a captura e difusão de imagens ou vídeos de atuação policial, especialmente sobre “grupos étnicos ou raciais minoritários”, através de uma proposta para alterar o Código Penal. O projeto de lei, a que a agência Lusa teve acesso e que André Ventura pretende entregar no parlamento até segunda-feira, tem por objetivo desencorajar a “captura de imagens ou vídeo de agentes policiais e forças de segurança no exercício de funções, mesmo no quadro de uso da força legítima”. (...)

Salvo melhor opinião, estamos perante mais uma medida populista do Chega. As polícias, nomeadamente GNR e PSP, acima de tudo, precisam de ver o seu exercício aprovado pelos cidadãos e não, como pretende André Ventura, esconder a sua actuação. Colocar o Estado a evitar o escrutínio e a legitimação do desempenho das polícias, para além de agravar o problema, é pregar mais um prego no caixão que há-de conduzir à destruição das forças de segurança. É preciso tomar medidas sérias, mas esta não deve constar no cardápio de reivindicações. Entre outras, todas as esquadras de polícia deveriam ter no seu interior câmaras de captação de imagens; tal como acontece nos Estados Unidos, todos os agentes em serviço de exterior deveriam ser dotados com uma pequena câmara na sua farda. Por último, não faz sentido continuar a julgar agentes policiais nos tribunais comuns em processos-crime gerados no desempenho de funções, onde os juízes não fazem a mínima ideia do que se passa quando são chamados a intervir. Tal como no exército, deveriam ser criados tribunais especiais, extraordinários, compostos por juízes com formação policial e de segurança interna. É uma indecência julgar um agente da PSP ou GNR em paridade, no mesmo nível de um cidadão civil, como se as suas razões comportamentais que os regem fossem iguais -um, com sentido de serviço público, defende a população com corpo e alma, outro, por questões de interesse pessoal, lesa, agride e provoca desacatos.

É certo que os agentes recebem formação especial, mas, sendo a sua profissão de alto stresse e alto risco em defesa de todas as pessoas de bem, em caso de exagero, a sua execução tem de ser avaliada por quem sabe e já sentiu o limbo do "avanço?" ou "não avanço?". E se avançar, por motivação de legitimidade de função, tem de se lhe ser garantida uma certa discricionariedade – e, se calhar, até alguma arbitrariedade. Ou seja, continuando a julgar agentes de segurança em tribunais ordinários comuns, por este andar, não tarda, ninguém se presta a ingressar nas suas fileiras.

O final desta injustiça é fácil de antecipar: o abandalhamento da profissão. Falo por mim, se eu fosse agente e fosse chamado a intervir sem garantia de cobertura legal, sem poder usar a arma a não ser em defesa pessoal, eu estaria a marimbar-me para a segurança de outros.

Talvez valha a pena pensar nisto. E é bom que se pense depressa, digo eu.


sábado, 28 de novembro de 2020

BARRÔ: O PRESÉPIO JÁ ENCANTA

 




Quando bateram as doze badaladas de hoje na torre sineira do santuário de Barrô, pelas mãos hábeis dos membros da comissão zeladora da capela, constituída por Edite Pedro, Luís Santos e António Amorim, coadjuvados pela esposa de António Amorim, a Lucinda, e José Abrantes e a esposa Irene, tal como nos últimos anos, depois de organizarem o presépio, foram ligadas as iluminações natalícias em torno da ermida e no pinheiro, de cerca de seis metros, que foi erigido em honra de todos os moradores da aldeia, para acender a vela da esperança neste período deste ano tão deprimente e incaracterístico.

Dentro da pequena catedral, no altar, São Sebastião, o padroeiro, perante este acto que visa arredar a angústia e a tristeza, pareceu perder o ar de sofrimento e, por momentos, mostrou um sorriso de ciúme.

Em baixo, no átrio, as imagens da família sagrada, fitando o menino Jesus com mil cuidados, não tinham olhos para o que se passava à sua volta. Embora se diga que São José, de rosto enigmático e fechado, mostrava dizer: “bolas, este confinamento e recolher obrigatório veio lixar tudo. Se tivesse mais tempo tinha construído um curral mais acolhedor. Espero que o Menino Jesus não apanhe o maldito vírus”.

Já os três Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar, de ar muito compenetrado, aparentavam serenidade. 

O anjo da Anunciação, de asas abertas e a abençoar o momento, numa posição de reflexão, parecia recordar-nos que todo o conjunto da representação da natividade foi oferecido por um bem-feitor. Já os animais, talvez preocupados com a falta de pasto, tratavam de encher a barriga enquanto havia.

O povo, protegendo-se do malefício epidémico nas suas casas, só aos poucos, nos dias que se anunciam para breve, virão ver e apreender a simbologia do Natal, sobretudo deste que sendo tão diferente dá saudade do tradicional.


EM NOME DA RENOVAÇÃO


Ao que se julga saber, 2021 é ano de renovação ou alteração de propositura para novos zeladores dos templos. Conforme é hábito as nomeações são feitas pelo padre da paróquia. Como se sabe, o anterior vigário de Luso, Carlos Godinho, deu lugar ao padre Rudolfo Leite.

Ora, aproveitando o momento da passagem da pasta, o novo presbítero, promovendo a mudança, devia incentivar a remodelação e apresentação de novas listas, que, a nosso ver, deveriam ser compostas apenas por mulheres. As pessoas, a bem do interesse comum e da revitalização dos lugares habitados, por sua livre iniciativa, deveriam dar primazia a outros e não se deixarem eternizar nos lugares.

Salienta-se que esta proposta não visa mostrar qualquer insatisfação perante as comissões que cessam o seu período de vigência. Nada disso. O que está em causa é, com a sua indisponibilidade voluntária de continuarem, mostrarem que estão dispostos a dar lugar a outros, a novas ideias, a novos projectos que conduzam a mais interação entre residentes.

Sejamos crentes ou não, estamos certos, todos estão de acordo que a(s) igreja(s), no seu religare entre humanos e o metafísico, é também a ponte fundamental que liga todos os nativos, independentemente da sua classe.

Precisamos de pessoas de coração aberto ao servir humilde, seja a Deus, seja aos terrenos, que propaguem o bem e o espalhem como folhas ao vento, mas sem beatice. Residentes que, sem interesses pessoais de protagonismo, estejam permanentemente ao serviço da comunidade.

Vale a pena pensar nisto?


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

BARRÔ: UMA PRENDA PARA O SENHOR PADRE

 





Em Setembro, último, foi feito um peditório em Barrô, alegadamente, para ajudar a comprar uma lembrança ao padre Carlos Alberto da Graça Godinho, que, após 21 anos ao serviço da nossa paróquia de Luso, nos primeiros dias de Outubro ia deixar terras lusenses e ministrar para outras freguesias. A mentora da iniciativa na nossa povoação foi Edite Pedro, a líder da comissão zeladora da capela do nosso lugar e uma reconhecida e interessada no desenvolvimento da nossa povoação.

Até ontem não se sabia que prenda recebeu o senhor padre Carlos, em 13 de Setembro.

Hoje, dia 23 de Novembro, apareceu na vitrine da capela uma comunicação, com data de 13 de Setembro de 2020 e titulada “Oferta da Paróquia ao Padre Carlos Godinho”.

Na comunicação pode ver-se um relógio de pulso da marca “Gant” com quatro imagens. Na primeira vê-se o mostrador e a marca em relevância; na segunda, o relógio e bracelete de pele no seu todo; na terceira, o verso do relógio e respectiva bracelete; e na quarta o verso do relógio com a seguinte inscrição: “Oferta Paróquia do Luso – 1999 – 2020”, seguido de uma legenda em letras minúsculas.

Ainda na exposição, ao fundo, pode ler-se:

Apresentação das contas à Paróquia de Luso

Donativos recebidos: 1,581.50 €”

Relógio 1,035.00 €”

Ramo de 21 rosas: 29.50 €

Saldo entregue ao Conselho Económico: 517.00 €”

E a terminar, a assinatura de António Neves, acólito na freguesia de Luso.


DESCULPE PERGUNTAR, MAS...


Perante as questões colocadas, surgem umas perguntas:

Primeiro, se alegadamente a colecta, peditório, tinha por objecto, e foi a informação dada aos dadores, comprar uma prenda ao senhor padre Godinho, por que razão foi entregue 507.00 euros ao Conselho Económico da Igreja Paroquial de Luso?

Segundo, qual foi o montante apurado em Barrô? Estranhamente ninguém sabe…

Mas vamos por partes…


DE PÔNCIOS A PILATOS PARA FICAR NA MESMA…


Comecei por formular a seguinte pergunta a Edite Pedro: Qual foi o montante apurado no lugar de Barrô?

Edite respondeu: “Não sei. Eu disse às pessoas que o dinheiro que dessem era para juntar ao dos grupos paroquiais, todo num bolo”, enfatizou.

À minha insistência de que, para evitar especulações, convinha responder, a moradora disse que voltaria a ligar daí a bocado.

Cerca de meia-hora depois recebi um telefonema de António Neves, acólito da freguesia, a dizer-me que tinha sido contactado por Edite Pedro. E disse o mesmo que a anterior depoente, ou seja, que era impossível saber quanto ofereceu cada grupo paroquial, porque foi tudo juntado no mesmo saco. Além disso, disse ainda Neves, que a divulgação individual ia causar mal-estar entre os grupos menos generosos. À minha insistência para apresentar o valor de Barrô, retorquiu que ia consultar outros pares e me respondia dentro de algum tempo.

Meia-hora depois, recebi um telefonema de um senhor de nome Luís Brandão. Disse que o senhor Neves lhe tinha pedido para me explicar o que tinha acontecido. Disse também que ajudou o senhor Neves nesta ideia e que me ia dizer como tudo aconteceu. Mais uma vez ouvi o que já tinha ouvido, isto é, que era impossível saber os montantes recebidos por cada grupo.

Porquê tanto segredo?

domingo, 22 de novembro de 2020

NOTÍCIAS DE BARRÔ

 




NOTÍCIAS DE BARRÔ


Junto à capela do mártir São Sebastião, no átrio, durante a manhã de hoje, pela primeira vez em séculos de história, foi erguido um pinheiro de cerca de seis metros alusivo ao Natal e a toda a quadra encantada que se aproxima velozmente.

O esforço físico foi desencadeado por um grupo de moradores que residem em torno do Largo da Capela. Respectivamente, a doação, o corte e transporte da árvore coube ao Luís Santos, Sérgio Saldanha e Álvaro Pedro. Colocar o pinheiro na vertical e garantir a sua segurança esteve a cargo do Luís Quintans e restantes companheiros de jornada. A feitura de flores e laços, como nunca se viu em Barrô, teve por incumbência a Ana Maria Torres. A decoração esteve à responsabilidade das senhoras Ana Torres, Susana Valente, Madalena Quintans e Marisa Saldanha.

Durante cerca de quatro horas, foi interessante ver o entusiasmo como todos, desinteressadamente, se entregaram à tarefa de erguer um símbolo da paz, como é o pinheiro de Natal.

Em conversa com a líder da comissão zeladora, Edite Pedro, ficou combinado que, “uma vez que ainda não se sabia nem quando, nem se haveria presépio este ano”, a iluminação da árvore aguardaria até ao final deste mês de Novembro. No caso de se fazer a alegoria ao Menino Jesus, como habitualmente no pátio do templo, fazia todo o sentido iluminar tudo ao mesmo tempo, incluindo a ermida.

Em nome da povoação, no seu todo e sem excluir alguém que seja, se posso escrever assim, fica o agradecimento. Espera-se que este singelo acto sirva para unir e, sobretudo, nesta época tão acinzentada e sem cor nas emoções, fazer acender a vela da paz, da boa disposição e da esperança. Parafraseando a frase agregadora: “Tudo vai ficar bem”.


REGRESSOU O ABRANTES


Depois de cerca de um mês ausente por terras do centro da Europa, mais especificamente o Luxemburgo, regressou a terras barrosenses o nosso estimado confrade José Abrantes e esposa Irene.

Sempre com o sorriso colado no rosto, simpatia e boa-vontade na colaboração, o “Zé” é um exemplo para todos os habitantes de Barrô, sempre tão ensimesmados, de rosto fechado, com preocupação que extravasa negativamente em redor. A nossa aldeia, para a retirar do mutismo em que se encontra, precisa de embaixadores do sorriso como é o caso do Abrantes.

Por falar nisto, na empatia que podemos gerar nos outros, você, leitor, já trocou hoje umas palavras com o seu vizinho, remetendo-lhe um sorriso?


O DEPÓSITO FOI REMENDADO


Em Setembro, último, dei aqui nota de uma comunicação remetida ao executivo da Junta de Freguesia de Luso a dar conta de uma fuga de água no depósito que, através de furo artesiano, abastece o Lavadouro comunitário.

Com apreço, posteriormente, tivemos o privilégio de ser contactados por Claudemiro Semedo, presidente da Junta de Freguesia, dizendo que tinha tomado em boa nota a informação e que já tinha contactado o empreiteiro para efectuar a devida reparação.

Após algum tempo de espera, o que se compreende, foi esta semana reparada a anomalia. Pela palavra dada e cumprimento da mesma, Barrô agradece.


quinta-feira, 19 de novembro de 2020

UM SORRISO MARCA A VIDA

 

(Imagem da Web)


UM SORRISO MARCA A VIDA


Encontrei-te por acaso,
numa rua da cidade,
tropecei no teu sorriso,
pareces não ter idade;
Tanto tempo já passou,
eu mal te reconhecia,
se não fosse o teu sorriso,
eu jamais me lembraria;
É estranho um sentimento,
p’ra viver é tão preciso,
parece que nada contou,
a não ser o teu sorriso;
Essa alegria espontânea,
que me prendeu tanto a ti,
foi esse sorriso louco,
que me escravizou assim;
Agora até entendo,
e consigo compreender,
por que é que só um sorriso
nos amarra até morrer;

Envolvido em tristeza,

Um dia quando partires,

vais ver, tenho a certeza

vou chorar e tu sorrires;

Lá de cima cá para baixo,

vais chorar de alegria,

vais ver, não me rebaixo

a uma depressão vadia.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

HISTÓRIAS MARCANTES QUE MARCAM A NOSSA VIDA

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Todos temos uma mãe, mas a nossa é, ou foi, a melhor do mundo. Tenho muita saudade da minha. Tanta que nem consigo quantificar. Que Deus a tenha em boa guarda, desde há quinze anos, em que a vi partir num dia cinzento de Inverno e de chuva copiosa.

O seu sorriso desbragado, algo libertino para uma esposa e mãe de cerca de setenta anos; a sua forma subtil de criticar algo que não concordava; sempre atenta ao seu rebanho e às suas necessidades mais ínfimas, era impressionante o seu lado imparcial e justo como tratava por igual os seus cinco filhos. Mesmo sem saber ler ou escrever, conhecia os números e somava as parcelas de cabeça. Dificilmente alguém a enganava nas contas. Tinha uma memória prodigiosa. Era uma mulher muito à frente do seu tempo.

Sem que o possa evitar, são muitas as noites em que a sua figura preenche os meus sonhos. Pressinto-a a falar comigo com aquelas “deixas” que me desarmavam completamente.

Como é normal, em cima de tantas virtudes, inevitavelmente, lá tinha a sua fraqueza, o seu maior defeito: sofria de hipocondria. Qualquer dorzinha, mesmo amável e serena, julgava ameaçar a sua existência e poderia ser perfeitamente o ranger da porta que divide a vida terrena e metafísica.

Quando sentia uma qualquer dor de cabeça alertava-me logo: tens de me levar ao Dr. Jorge Monteiro, o médico de muitos anos (actualmente denominado de família).

O clínico, homem calejado pelo sofrimento alheio e feito psicólogo pela experiência do tempo, quando via entrar a minha mãe no seu consultório logo afivelava ao seu rosto a máscara com o seu melhor sorriso e o abrir de braços que caracteriza o Cristo-Rei. Ainda ele estava a ensaiar a frase tradicional de triagem, “então, de que se queixa, Dona Rosa?”, e já a minha mãe, com imaginária metralhadora verbal em riste, o metralhava:

- Senhor doutor tenho muitas dores de cabeça, mais que certo vou morrer. Deve ser tumor cerebral, não deve?

No meio de um sorriso fechado mas simpático, aquiescendo, respondia o clínico:

- É sim, dona Maria!

E a minha mãe ficava à espera de uma longa lista de muitos medicamentos na receita. Mais que certo, o que lhe seria receitado eram placebos – substância neutra, que nem faz bem nem faz mal, para desencadear reacções psicológicas.

Mas se acaso o diagnóstico (feito por ela) não tivesse merecido a devida atenção e nada lhe fosse receitado, quando chegava cá fora, ao pé de mim resmungava impropérios a torto e a direito:

- Olha o grande cabrão... Que não me receitou nada! Grande filho da puta! Havia de ter as dores que eu sinto na cabeça num sítio que eu cá sei. Grande corno!”

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

UM PONTAPÉ NO PRECONCEITO

  



Durante cerca de vinte anos, algumas vezes ao dia, passei pela mulher nas ruas estreitas. Trabalhando numa das lojas com o marido - ela é esposa de um empresário muito conhecido e com vários estabelecimentos na cidade que, recentemente, ficou muito doente. De olhos tristes e sempre inclinados ao chão, nunca no seu rosto vi um sorriso nem tal alma pareceu olhar para mim.

Durante esta semana deu para ver que o pensamento negativo acerca da senhora era transversal nos becos e ruelas em redor a um dos estabelecimentos, agora encerrado, do malogrado operador. Os colegas interrogavam-me: “sabes alguma coisa de fulano?”. Juntamente com o meu abanar de cabeça, perguntava: mas já interpelaram a esposa dele? A resposta era unânime: “nunca falei com ela, nem ela falou comigo. É uma pessoa antipática. Não fala a ninguém”.

Mentalmente, prometi a mim mesmo ir falar com a comerciante. Mais que certo iria levar para contar ao perguntar o estado de saúde do marido. Mas pouco importava, afinal a vida, na sua convivência diária, é um risco permanente. Para além disso, pontapés já levei tantos que até já tenho o traseiro com um calo maior que a careca de um meu amigo.

Pé-ante-pé, devagar, devagarinho, escolhendo as palavras mais adocicadas, lá fiz a abordagem. Para minha surpresa, a pessoa que estava à minha frente não tinha nada a ver com a outra que eu tinha formado em pré-conceito. Amável, com simpatia contida mas afável, falou comigo acerca do estado de saúde do marido como se fôssemos amigos de longa data.

Com a grande lição que levei, mais uma vez se prova que, repetidamente, não devemos confiar inteiramente nos nossos instintos.


quarta-feira, 11 de novembro de 2020

BAIXA DE COIMBRA: O ROGÉRIO, “DA OURIVESARIA”, ESTÁ MAL

 




O nosso colega Rogério Barreira, de 74 anos, com estabelecimentos de ourivesaria na Rua Eduardo Coelho e na Rua da Sofia, há cerca de uma semana, foi acometido de um AVC, Acidente Vascular Cerebral, enquanto almoçava.

Embora fosse imediatamente auxiliado e transportado ao hospital com grande rapidez por uma ambulância, tal não impediu que as sequelas fossem profundas. Segundo um familiar muito próximo, tudo indica, infelizmente, que o seu regresso aos negócios e às suas duas lojas estará fora de hipótese.

Sendo uma pessoa muito popular na Baixa, a sua simpatia vai fazer-nos falta. Em nome de todos, nesta hora de tantas dificuldades acrescidas, desejamos o melhor restabelecimento e qualidade de vida para o nosso querido amigo Rogério.


sábado, 7 de novembro de 2020

EDITORIAL: QUEM SALVA AS CIDADES?

 




A história das cidades remonta há milhares de anos. As primeiras terão surgido na Mesopotâmia, ao longo do rio Nilo, e sempre resultante da junção de pequenos lugares habitados. O crescimento de grandes impérios antigos e medievais levou ao aparecimento de grandes urbes como, por exemplo, Roma.

Durante a Idade Média, na Europa, uma cidade era tanto uma entidade política-administrativa como um conjunto de casario agregado. Com um quadro legislativo próprio, era o senhor feudal que impunha a sua lei. Com a queda do feudalismo, pela crise gerada nas relações entre senhores e servos, pela contínua imposição de obrigações, tributos e necessidade de permanecerem agarrados à terra, dos primeiros sobre os últimos, as cidades multiplicaram-se. Os camponeses, com o contingente populacional a crescer a par com as actividades artesanais e comerciais, recorrendo aos seus próprios meios de fuga para a liberdade, começaram a abandonar os feudos e a refugiar-se na periferia da cidade muralhada, onde, com a criação de feiras e mercados, permitia um melhor escoamento de produtos e, sobretudo, fugir ao absoluto controlo da entidade administrativa. Com o advento do Capitalismo e início da Globalização, com as viagens marítimas de circum-navegação, estavam criadas as condições para o desenvolvimento. Com a formação das associações de classe, “fraternidades”, e as “corporações”, que agregavam os seus membros em torno de estatutos comuns, bandeiras e santos padroeiros, surgiam as oficinas, em que a loja era o ponto de venda do produto aí criado, com os seus mestres e instalada em ruas com ofício designado.

Com a queda do banco de investimentos Lemans Brothers, com sede em Nova Iorque, em 2008, com repercussões económicas e financeiras a alastrarem ao mundo inteiro, quem mais sofreu foram as cidades. Com os pequenos negócios, comércio e indústria, a desaparecerem num piscar de olho, as urbes, completamente perdidas, sem norte, foram perdendo toda a sua identidade.

Com o grande capitalismo transnacional, sem pátria, a saber organizar-se e a ganhar cada vez mais dinheiro como nunca, a chamada classe-média, exangue e sem rendimentos que lhe permitiam enfrentar a grave crise que se abateu sobre as suas vidas, tem vindo a decair cada vez mais.

As cidades, depois de séculos como geradores de emprego e motor de desenvolvimento e riqueza privada, passaram a centros de pobres estabelecidos por conta-própria a serem explorados pelo Estado através dos impostos. Ou seja, os assalariados, na ideia de serem donos de si próprios, trocaram de patrão mas não de ladrão.

Para terminar um ciclo que já se afigurava estertor, veio a pandemia. Mais uma vez o capitalismo selvagem continua a contabilizar cada vez mais lucros.

Tal como já vinha acontecendo em crescente, hoje a cidade, sem políticas concertadas de regeneração e que evitem a sua morte anunciada, é cada vez mais uma sombra de si mesma em forma de esquiço. Mas ainda não bateu no fundo. Impotentes para mudar o rumo das coisas, para nossa infelicidade, iremos assistir a muitos mais quadros negros na esperança que nunca morre.