segunda-feira, 30 de julho de 2018

UMA FOLHA SECA CAIU DA ÁRVORE QUE A GEROU

(Imagem do Observador)




Um enorme constrangimento”. Ricardo Robles renuncia ao mandato na Câmara de Lisboa”


Ricardo Robles renunciou ao mandato na Câmara de Lisboa e também ao de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda (BE). Vereador do partido diz que caso de prédio que comprou em Alfama e está a tentar vender “revelou-se um problema político real e criou um enorme constrangimento à minha intervenção como vereador”. Sucessão será discutida esta noite na reunião da Comissão Política do partido.



Depois das declarações de Catarina Martins em defesa acérrima do vereador do Bloco de Esquerda (BE), deu para ver que este caso é cancro com metásteses no partido e não uma mera infecção -lembremos que Francisco Louça, há uns anos, já nos tentou também vender gato por lebre. Uma aselhice da coordenadora que vai sair muito cara ao BE, com juros altíssimos. Em vez de se colocar ao lado do seu correlegionário com explicações para boi dormir, tomando os eleitores como crianças que não pensam, deveria ter a integridade de se demarcar com uma declaração política.
Uma lástima!

BAIXA: ENCERROU A TABACARIA ESPÍRITO SANTO







Conforme escrevi há 20 dias, ontem, Domingo, encerrou a Tabacaria Espírito Santo, no início da Rua Martins de Carvalho, ao lado do Café Santa Cruz. Uma família, reconhecidamente constituída por boas pessoas como o Jorge Martins e a esposa Madalena, as suas duas filhas -uma delas, a Rita acompanhado do namorado Diogo, estava mais presente no quiosque-, que desde há cerca de quatro décadas aqui foi organizada e acrescentada, vai deixar-nos. Ou, pelo menos, virão cá mas já sem o compromisso laboral e diário.
Embora este fecho tenha por motivação a saúde da Madalena, a “nossa Lena”, como é reconhecida no Centro Histórico, quero dizer que não há outra causa, a verdade é que vão deixar saudades – pelo menos para mim que, diariamente, percorria a distância que separava os dois estabelecimentos, o meu e o deles, para ir comprar o jornal. Fazer aquele curto passeio de cerca de oitenta metros, atravessando a Rua do Corvo e a Praça 8 de Maio, parar cinco minutos em frente a banca dos jornais e revistas a ler os títulos, pela contemplação, era como uma pequena carícia com bálsamo que afagava o meu espírito. É certo que mais acima, na Rua Ferreira Borges, há outro ponto de vendas de jornais, a Mimo & Companhia, e mais ao lado a Estrelinha da Sorte, na Rua da Sofia, mas, até me habituar, não é a mesma coisa.
Pode até dizer-se que estou a escrever lamechices, pequenos nadas, minudência de cará-cá-cá. São coisas vulgares, mas que enchem a nossa vida. São emoções que marcam a nossa vivência terrena e nos alimentam a alma.
Quem trabalha ou reside nesta área velha sabe sobre o que escrevo. É saudosismo? É! Sem duvida que é! Há medida que vemos partir as pessoas que nos acompanharam nas últimas décadas deixam-nos uma sensação de perda, de vazio. Ficam as lembranças, é certo, mas o progresso, no seu deambular apressado e assente numa informação massiva, tritura tudo o que é pequeno e depressa faz esquecer os homens e mulheres que, mesmo num acto egoísta, como é o comércio, contribuíram esforçadamente para o seu desenvolvimento. Se é verdade que neste meu humilde trabalho de bloguer tento preencher uma bairrista lacuna memorial, cada vez me convenço mais que deveria ser criado uma espécie de “passeio da fama”, onde, pelo seu percurso de vida, a cada um deveria ser atribuída uma estrela e a sua história deveria ficar registada num anal municipal.
Sem pretender entrar em grandes análises de laurel, as homenagens públicas assentam numa lógica discricionária, mas tendo sempre em conta o passado partidário, a clubite e a profissão artística. Para os artesãos, homens humildes do povo que, pela sua simplicidade, são o sustentáculo dos centros habitacionais, seja em vida ou na morte, praticamente não há espaço para tributos, não existe reconhecimento colectivo.
Afinal, se a cidade, tocando os nossos sentidos naquilo que é mais peculiar, é composta por cheiros, rituais, práticas ou regras sociais, tradições, transmissão de costumes, cromos que carregam a tipicidade, (rostos nossos (des)conhecidos que, por vezes, nem sabemos o seu nome), a sua essência, a sua alma, são as pessoas. À medida que, por isto ou por aquilo, se vão, toda a nossa rede de conhecimentos em que assenta a nossa colectividade vai ficando mais empobrecida. É a nossa sabedoria que fica cada vez mais limitada. Considerando que a filosofia, como fonte a jorrar ideias, ainda que possa germinar em isolamento de abstracção, se desenvolve, sobretudo, com a leitura e com o contacto pessoal.
Desde Janeiro, último, é o 23º fecho de casa comercial nesta zona velha.
Para o Jorge Martins e família muita saúde e paz. Em meu nome e da Baixa, se posso escrever assim, uma grande salva de palmas.

A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA

sábado, 28 de julho de 2018

FEIRA DE VELHARIAS: OS 13 RESISTENTES





À hora do almoço, por volta das 13h00, no novo espaço alindado do Terreiro da Erva para onde foi agora mudada, estavam presentes na Feira das Velharias 13 expositores. Não se sabe se a cerca de duas dezenas que faltaram estariam a seguir o conselho de Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, que na última edição deixou bem claro que quem não gostasse que não viesse, ou teria sido um falso bater de pé ao pelouro da cultura da edilidade.
Com duas pequenas placas a indicar o certame em duas transversais da Rua da Sofia, o pelouro da Cultura parecia querer mostrar que está tento e até lê este blogue. Porém, a nosso ver, continua a dormir em serviço e a apostar numa publicitação inadequada e insuficiente.
Com os termómetros a mostrarem uma temperatura muito acima do verão envergonhado que tem andado por aí, um calor de rachar queimava quem se aproximava dos tendeiros.
Com o popular largo praticamente vazio de visitantes, pelo menos dois vendedores estavam a arrumar a tenda e preparavam-se para ir embora.
Com as moscas a incomodar os que teimavam em aventurar-se a mirar as tendas, cheirava a desalento. Parecia que estava tudo desanimado com esta nova transferência de local, mas seria mesmo assim?
Começámos por ouvir Fernando Luz, vindo de Leiria, e já há muitos anos presença assídua no certame com um stand coberto de livros usados. O que acha desta nova alteração?
Responde Fernando: “é assim, eu estou satisfeito. Gosto deste local e os meus clientes vieram na mesma. Há um senão: contrariamente à Praça do Comércio, em que havia casas-de-banho públicas, aqui não temos instalações para o efeito. Precisamos de lavar as mãos, vamos ao café mas temos de consumir, que eles não estão lá para nos servir gratuitamente. Vou continuar a vir.
Mais ao lado está Carlos Branco, natural de Pombal, com vários artigos usados e outros mais antigos. Recordemos que há cerca de um mês, aquando da primeira muda para o largo, disse o seguinte: “gosto deste local! Por mim continuava aqui! É um sítio muito agradável! Comparando com a Praça do Comércio, os comerciantes daqui são mais hospitaleiros. Parecem gostar mais de nós, entendes? É certo que aqui, no terreiro da Erva, não há turistas, mas quanto aos clientes que nos seguem, tenho a certeza, com o tempo habituam-se . Hoje, ao ser interrogado sobre como estava a correr o negócio, já não manifestou tanta esperança, no entanto foi adiantando: “hoje está pouca gente a vender porque uns foram para a praia e outros, mais que certo, foram para a Feira Internacional de Aljubarrota, mas, lá para Setembro, vão voltar.”
Mais à frente está o Francisco Moreira, ex-bancário da cidade, velho conhecido destas andanças, e que vende usados e antiguidades na feira local há décadas. Há um mês afirmou o seguinte: “o local é péssimo! É um sítio isolado e desconhecido dos nossos compradores. Como vês não há gente a visitar. Para além disso, como não tem árvores, é muito quente!”. Hoje contemporizou assim: “Olha, Luís, na última feira estava desanimado, porque só fiz 17 euros, e dei-te a entender que não voltava mais. Acontece que hoje, para meu espanto, já fiz uma boa feira. Vou persistir e ver o que dá. Vou voltar!”
Mais ao lado, abrigados numa sombra ocasionada pela parede de um prédio, estão dois vendedores de alfarrábios. Sem se querem identificar, a uma só voz foram adiantando que este local não serve, é muito exposto ao calor e não tem visitantes ocasionais. Na antiga praça velha era melhor. “O que a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) está fazer é a servir-se de nós, vendedores, para revitalizar o espaço. E até lá, até ficar gravado na memória das pessoas, quem nos paga a despesa? Viremos outra vez para ver o que dá e, provavelmente, não voltaremos mais!
Dois passos para o lado está um casal de meia-idade a vender livros. Preferiu não se identificar. Ao ser interrogado sobre como está correr a coisa, respondeu o seguinte: “olhe, com franqueza, está a correr muito bem! Como somos poucos os compradores concentram-se mais sobre quem está. Vendi a “habitués” e até a turistas estrangeiros, que nos compraram banda desenhada. Claro que voltaremos!
Para terminar, falámos com outro vendedor, que, vindo de Águeda, achou por bem não dar o nome. À minha pergunta como estava a decorrer o negócio respondeu assim: “muito mal! Este sítio é péssimo! Vendi pouquíssimo”, enfatizou.
Quando acrescento que outros colegas declararam ter vendido bem, tartamudeou: “não acredite nisso! Disseram isso para ficarem bem na fotografia. Ainda hoje, durante a manhã, andou aí um jornal a ouvir o que tinham a dizer sobre esta mudança. Disseram todos que estavam satisfeitos, mas mal virou costas o jornalista já estavam a dizer o contrário. Neste ramo há pouca gente credível. Raramente dizem a verdade. Se a feira continuar aqui, neste novo local, mais que certo não voltarei.


FEIRA DAS CEBOLAS NÃO FAZEM MINGUAR O ESPAÇO?



Há critérios camarários que não se entendem muito bem -se calhar também não são para entender. Valia mais serem directos e dizerem que o que se pretende mesmo com esta alteração é a revitalização do novo espaço intervencionado recentemente pela autarquia.
A explicação para a mudança da Feira de Velharias da Praça do Comércio para o Terreiro da Erva foi que “A CMC diz que com esta alteração pretende valorizar um espaço da Baixa da cidade que foi alvo de uma reabilitação urbanística recentemente, tornando este local num espaço aprazível”
Continuando a citar o jornal online Notícias de Coimbra,Por outro lado, na Praça do Comércio – onde até aqui se realizava a Feira – têm crescido várias esplanadas de estabelecimentos comerciais que obrigam a moldar a organização do certame.
Ou seja: a Feira das Velharias realiza-se uma única vez por mês, ao quarto Sábado. A Feira das Cebolas vai manter-se uma semana, de 11 a 18 de Agosto. Como aceitar o argumento que crescimento das esplanadas obrigam a moldar a organização do certame de antiguidades?

sexta-feira, 27 de julho de 2018

BAIXA: O QUIOSQUE MELLOS FOI ASSALTADO ESTA SEMANA







Esta semana, na noite de segunda para terça, o antigo quiosque Lobo e agora Mellos, foi assaltado com recurso a arrombamento. Sem especificar o montante, Guilherme Melo, o proprietário, de semblante abatido, perante a minha interrogação do montante, foi lacónico: “um valor muito considerável!
Continuei a falar com a vítima deste nefasto incidente, que, contrariamente ao segredo inexplicável que rodeia sempre estas coisas, deve ser público, e perguntei: posso escrever sobre o que aconteceu, Guilherme? 
-Pode!, respondeu.
Continuei a interrogar:
-fizeste participação na PSP?
-Não! Para quê? Não dá em nada!
Olhe, há cerca de dois anos e pouco fui assaltado no mesmo modo. Era tempo de festas estudantis. Foi a meio da madrugada. Só que, na altura, vinham a entrar uns estudantes residentes no prédio e, ao meterem a chave na fechadura, deram de chofre com um encapuzado a remexer nas minhas coisas. Ao aperceber-se que tinha sido descoberto o assaltante, calmamente, deixou o que estava a fazer e subiu as escadas em direcção a um ponto de fuga, por onde, certamente, teria entrado. Baralhados pela calmaria do energúmeno, os estudantes só deram conta quando viram tudo remexido. Porém ele já tinha escapado!
No dia seguinte, pela manhã, fui apresentar queixa na PSP. Reparei que o agente, presumivelmente, estava para sair de turno. Recebeu-me com rispidez. Começou por perguntar-me se ia participar um furto ou um roubo. Comecei a ficar sem fôlego, estas questões jurídicas, acho eu, não devem ser colocadas assim. Acabei por me vir embora sem fazer nada.
No dia seguinte voltei e, já com outro agente, apresentei a participação.
Não valeu de nada! Os estudantes foram ouvidos mas, como não reconheceram o meliante, acabou por ser arquivado. Fartei-me de caminhar para a polícia. Foi uma perda de tempo!
Já entende por que não apresentei queixa desta vez?

BOM DIA, PESSOAL...

FAZ O QUE EU DIGO E NÃO FAÇAS O QUE EU FAÇO

(Imagem do Expresso online)


A fazer lembrar Pablo Iglesias, o secretário-geral do partido espanhol Podemos, quando, em 2012, na altura, criticou o ministro da economia por ter adquirido uma vivenda por cerca de 600 mil euros e, este ano, veio fazer exactamente o mesmo, eis que Ricardo Robles faz copy paste no mesmo comportamento.
Sendo Robles um feroz crítico do mercado do arrendamento local e da especulação imobiliária na cidade, mas como investidor, Ricardo Robles, vereador da câmara de Lisboa pelo Bloco de Esquerda, poderá ganhar milhões com a venda de um imóvel em Alfama, conta na sua edição desta sexta-feira Jornal Económico
Segundo o semanário, Robles comprou em 2014, juntamente com a irmã, um prédio velho em Alfama por 347 mil euros, edifício que após uma renovação foi posto à venda,no final de 2017, por 5,7 milhões de euros, numa imobiliária especializada em imóveis de luxo. Ou seja, o edifício valorizou-se mais de 4,7 milhões de euros.”, citando o Expresso online.
Salienta-se que não está em causa o facto de, num acto de compra e venda se ganhar dinheiro. Não é isto que causa vómito. Vivemos numa economia de mercado e cada um, desde que respeite as regras legais, pode fazer o que bem entende. E, pelos vistos, Robles não fez tudo legalmente? Fez, sim! Então qual o problema?
O problema não é de legalidade, é essencialmente de moral e ética. O que assistimos aqui, neste caso, é transversal ao mundo, incluindo sobretudo a Europa, Ásia, América Latina, a um abastardamento de uma esquerda que, numa supremacia transcendental no campo dos valores, sendo ateia na maioria dos casos, fora de muros prega uma doutrina cristã, assente no desligamento dos bens materiais, e dentro de portas faz o mesmo que o comum dos mortais. Mais: embrulhadas como esta de Ricardo Robles não são só de agora, como o vento que sopra dos confins da Oceania, já vêm de longe. A história está cheia de exemplos, basta lembrar grandes ditadores que, apoiando-se num discurso salvífico, vieram a transformar-se em aberrações maiores do que os anteriores ocupantes do poder que foram depostos.
A questão que ressalta é: o que fazer com este Robles e outros esquerdistas vendilhões do templo que, como vendedores de enciclopédias, teimam em impingir-nos um produto com qualidades inexistentes. Ou seja, para todos os efeitos, ainda que no campo da moral e portanto, por ser de âmbito político, não pode ser sancionado pela lei, estamos perante uma burla social qualificada. Vai criar alguma consequência? Ora, ora! Acontece o mesmo que aconteceu em Espanha, ou seja, nada! 
Ainda que partidariamente se tente passar a ideia de falsos mitos -pensemos na trasladação de dois primeiros-ministros para o Panteão Nacional-,  a democracia raramente gera governantes honestos como Mahatma Gandhi. Em contraposição, multiplicam-se os mansos, os tolerantes, os que, como eleitores, perdoam sem limite e, numa memória curta, esquecem tudo. 
É evidente que, sublinho, esta falta de vergonha não é exclusivo da esquerda, a direita está prenhe de casos iguais. É o que temos! Ponto e parágrafo.

quinta-feira, 26 de julho de 2018

VISITE A EXPOSIÇÃO NA FIGUEIRA DA FOZ

Resultado de imagem para bichos de pata articulada..



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Promovida pelo Exploratório Centro Ciência Viva de Coimbra, desde o passado 13 de Julho até 14 de Outubro, está a decorrer na Figueira da Foz a exposição “Bichos de Pata Articulada”.
Visite e aproveite para dar um mergulhinho no mar!

quarta-feira, 25 de julho de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)

REFLEXÃO: O MEU VIVER É MAIS IMPORTANTE QUE O TEU
    É da sociologia, quando as crises,
estrutural ou de conjuntura económica, rebentam
os princípios e os valores descem ao seu mais baixo
nível de humanidade e ressalta o pior que habita
dentro de nós. Na Baixa, resultado de uma
luta pela sobrevivência, vamos sabendo de
jogadas pouco dignificantes entre operadores.
Sem pretender uma supremacia no
campo da moralidade e da ética,
nem que fosse apenas durante um minuto,
era bom que todos pensássemos que o Sol
quando nasce, pelo menos na região abrangida
pela sua luz, é para todos.
Vale a pena pensar nisto?

SEM CAIXA NÃO HÁ TACO

Segundo dados recentemente anunciados, desde 2011 perdemos 500 caixas de Multibanco por dia.
Depois de, dez em dez metros, tropeçarmos com este moderno meio de pagamento em tudo o que era rua da Baixa, com o aforismo popular de que não há fartura que não dê em fome a vir ao de cimo, eis que começa a ser preocupante a sua falta. Com o encerramento da dependência da Caixa Geral de Depósitos na Rua Ferreira Borges, num ápice, desapareceram duas máquinas de transacções automáticas - uma na rua larga e outra na Praça do Comércio - que eram um instrumento fundamental para os pequenos negócios que não detenham terminais de recebimento. Segundo queixumes que nos vão chegando, esta carência é mais uma machadada na pequeníssima loja de miudezas, que, assoberbada com custos fixos, tenta evitar mais um. Saindo o cliente com a promessa de ir levantar dinheiro, pela grande distância a percorrer, é certo que não regressa ao ponto de encontro.
Neste momento a servir o pequeno comércio e os turistas que nos visitam há máquinas instaladas na Loja do Cidadão, Rua da Sofia e Largo da Portagem. Num triângulo demasiado extenso, começa a gerar inquietação. Talvez o executivo municipal devesse debruçar-se sobre esta questão.

ASFALTO SUJO
(Esta imagem é de 2010, quando o Partido Socialista, na CMC, estava na oposição)

Não é a primeira vez que escrevemos sobre a limpeza do chão que pisamos. E também da sociedade do entulho. O que nos parece é que, nunca como até agora, as ruas, becos, praças e largos se mostraram tão sebento. Por vezes, em certas ruelas mais estreitas, sobretudo em dias mais quentes, o cheiro torna-se nauseabundo.
Já sabemos que, por declarações do vereador responsável Carlos Cidade, os meios camarários, instrumentais e humanos, são cada vez menos e que se vai abrir concurso para fazer face ao problema. Ainda que se compreenda a explicação, não se pode aceitar de ânimo leve. Para exemplificar, basta percorrer a Praça do Comércio e verificar como se encontram as pedras da calçada onde esteve instalada a FanZone.
Estando nós no pico turístico, Julho e Agosto, o cartão de visita que passamos a quem vistoria a cidade “Património Mundial da Humanidade” é deprimente. Como se adivinha, não traz nada de bom.

FEIRA DE VELHARIAS MUDOU DE LOCAL

Tal como já tínhamos escrito anteriormente e manifestado a nossa apreensão, pelos vistos a Feira de Velharias, que nos últimos trinta anos se realizou na Praça do Comércio, mudou definitivamente para o Terreiro da Erva.
É fácil de entender os argumentos do executivo municipal que servem de base para esta alteração. Ou sejam: que devido ao alargamento de esplanadas na antiga praça velha o espaço se torna cada vez mais exíguo para manter ali o certame. É verdade, porém, pela razão apontada, não se aceita facilmente o que se está a fazer. A Feira de Velharias, mesmo sem qualquer apoio municipal ao longo das suas três décadas de existência, quer na sua divulgação, quer no acomodamento dos vendedores, manteve-se relativamente viva somente pela sua localização privilegiada, já que os executivos, este e os anteriores na sua totalidade, olharam sempre os expositores com sobranceria e demérito pelo seu desempenho social na revitalização da cidade. Agora, o que se pretende é fazer dos mercadores uma espécie de actores, que à sua custa, gratuitamente, concorram para dinamizar e salvar o investimento camarário no popular terreiro.
Embora a pedir remodelação há muito tempo, diga-se a propósito, não era esta alteração que se pretendia. Aliás, conforme já escrevemos, esta mudança de local sem pensar nas consequências pode ser-lhe fatal e ditar o enterro deste popular evento a que já todos nos habituámos. Qualquer pequeno investidor inexperiente sabe que o local de instalação de um ponto de venda é uma premissa fundamental para o sucesso do empreendimento.
Quando, por exemplo, Aveiro continua estender a sua feira de antiguidades e velharias por mais artérias do casco velho, e com isso a contribuir para os cofres do município com mais taxas, Coimbra, persistindo em não onerar o espaço público ocupado mas ao mesmo tempo abandonando e não fazendo nada para a sua manutenção, continua a enterrar tudo o que possa servir de ponto de apoio e revitalização à Baixa.
É pena, não é?



BOM DIA, PESSOAL...

terça-feira, 24 de julho de 2018

BAIXA: O NOSSO “PELÉ” FEZ BANZÉ






Desde cerca das 06h00 da madrugada de hoje que o “Pelé”, um figurante que deambula habitualmente embriagado pela Baixa, morador na zona de Tovim, distribuiu gratuitamente pelas ruas estreitas gritos embrulhados em impropérios e com laçarote de vernáculo puro e duro dos campos.
Por volta das 07h00 abasteceu-se num estabelecimento de um pacote de tinto e batatas fritas para fazer frente à manhã, que, pelo sim, pelo não, podia apresentar-se tórrida.
Apesar do “Pelé” ser de constituição rechonchuda, o esforço físico durante a alvorada tinha sido demasiado e, diz-nos a sociologia, até os grandes são vencidos pela fadiga. Vai daí o nosso homem, sentando-se numa esplanada no Largo do Poço, de pés sujos e com chinelos de enfiar no dedo, camisola com manchas de vinho a mostrar uma barriga desenvolvida, adormeceu na liturgia dos justos durante cerca de duas horas. Mas como é normal há sempre um invejoso que não pode ver um anjo dormir e foi o que aconteceu. Sabendo-se que nunca se deve acordar um sonâmbulo pelas consequências imprevisíveis, ali não se tomou atenção à sabedoria popular. Resultado: o “Péle”, sentindo-se violentado no seu legítimo descanso, acordou sobressaltado e, como touro enraivecido, lá mandou uma mesa e umas cadeiras pelo ar. Coisa pouca, está de ver! Somente um agitar na brisa ligeira de uma rotina diária numa zona pacata. Mas estava dado o mote para a entropia, desordem de um sistema, e alguém chamou a PSP e o INEM.
Veio uma ambulância com dois para-médicos e vieram dois agentes, ainda jovens, pacientes, compreensivos com a má disposição de alguém que tinha sido importunado no seu repouso, e, especula-se, sobretudo preocupados com a necessidade última de empregar a força física -já que que na moldura humana que se formou à volta poderia estar algum membro da Amnistia Internacional ou, sei lá, um simpatizante do Bloco de Esquerda e estava o caldo entornado. Para além de poderem ser acusados de alcoolfobia, ainda poderiam ser indiciados por violência social contra um pobre e inocente ébrio.
Durante cerca de meia-hora, entre os agentes e a pipa ambulante, foram encetadas negociações ao mais alto nível. O diálogo era cativante. Enquanto os agentes tentavam convencer o bêbado a mudar de assento, da cadeira para a maca do INEM e para o conduzirem ao hospital, este mandava-os para o “caralho” e que se fossem “foder” que ele só ia se quisesse.
E nem alguns amigos próximos do barril conseguiam fazê-lo mudar de ideias. O homem estava bem ciente dos seus direitos de cidadania e, apesar do elevado grau etílico, parecia aperceber-se das fragilidades dos cívicos. Ou seja, que ser-se agente policial hoje não é fácil. Apertados entre um poder político sem direcção, ancorado em ondas que se dividem entre lixar o mexilhão ou a rocha no que toca à segurança interna, entre, alguns, juízes de tribunais que agem corporativamente e uma colectividade que só gosta da polícia quando é para resolver questões que lhe diga respeito, adivinha-se para onde caminha a deriva.
Mas como todas as histórias têm sempre um final, às vezes feliz, esta correu pelo melhor. Sem ser preciso chamar mais agentes do corpo de intervenção e mais uma ambulância, o “Pelé”, como grande campeão que se preze, esteve à altura das circunstâncias e só não levou com uma estrondosa salva de palmas do público porque o ruído poderia acordar os pombos nos beirais em redor que, como se calcula, passaram uma noite em sobressalto. Coitadinhos dos animais!

sábado, 21 de julho de 2018

BAIXA: COMPORTAMENTOS PARA COMERCIANTE REFLECTIR

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




É Sábado, o relógio marca 12h50. Apesar de faltarem dez minutos para o fecho do horário afixado no vidro da montra, a pequena loja de artigos de miudezas tem muitos clientes a serem atendidos pelos vários funcionários. O olhar ostensivo para o pulso, acompanhados de alguma ansiedade e com algum enfado manifestado num arfar de esgotamento, manifesta bem a simpatia que estes empregados denotam por quem lhes vai comprar, leva lá o seu dinheiro e, com essa comparência, mantêm os seus empregos.
Neste vaivém, um dos fregueses em pergunta de retórica profere: “por que é que vocês não estão abertos na tarde de hoje, Sábado?”. A funcionária, como se fosse picada por um insecto ou a pergunta fosse um insulto, respondeu: “abertos ao Sábado de tarde? Para quê? No Natal estivemos cá e não tivemos pessoas a comprar!”. O inquiridor, numa passividade notória mas adivinhando-se o que pensaria, não respondeu.
Faltavam alguns minutos para as 13h00 e a porta de acesso ao estabelecimento foi fechada. Os muitos clientes, como compreendendo que estavam a mais, começaram a acelerar e a dirigir-se para a caixa e fizeram uma pequena fila. O primeiro pagador deu o cartão Multibanco para pagamento da conta. Depois da tramitação de inserção na máquina, a funcionária, sem qualquer sensibilidade, falando alto e de forma que todos ouvissem, proferiu: “não tem saldo!”. O freguês, algo embasbacado respondeu: “não pode ser! Por favor, tente outra vez!
Um pouco a contragosto, como se estivesse contrariada, a mulher voltou a inserir a tarjeta na ranhura. Novamente, um pouco com ar vitoriosa, proferiu no mesmo tom de voz: “não tem saldo!”. As pessoas na fila, num silêncio opressor mas de conluio, entreolharam-se. O cliente, rendendo-se aos factos, disse: “estranho, mas não há problema pode pagar com este!” -entregando outro e liquidando a despesa.
Passados poucos minutos depois das 13h00 a loja estava vazia. Na paz dos anjos, todos foram em busca de um almoço retemperador. Adivinha-se que os funcionários desta loja não perderam um minuto a pensar no que tinha acontecido neste fim-de-semana no seu local de trabalho. Por parte dos clientes que quase foram enxotados por terem tido a ousadia de fazer compras uns minutos antes do encerramento, é natural que este caso os deixassem a pensar: mas haverá mesmo crise na Baixa da cidade?

UM EXEMPLO DOS NOVOS GOVERNANTES EUROPEUS... DEPLORÁVEL!







Visionar este vídeo, em que o Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, aparece a cambalear e amparado por colegas ministeriais, incluindo António Costa, Primeiro-ministro português, dever-nos-ia envergonhar a todos.
Para quem se sentir eurocéptico, que duvide das virtualidades da união, ao visionar um espectáculo degradante como este, como fica?
E o cidadão que, dividido entre metade negativa e outra metade positiva, numa esperança endémica teima em acreditar nos efeitos positivos desta congregação, ao ver um personagem destes, que não está à altura do cargo que ocupa, o que pensa?
E os outros, os que acreditam em tudo o que lhes contam, com esta mentira da ciática, como aceitam uma encenação destas?
O que se espera para destituir este irresponsável luxemburguês?

sexta-feira, 20 de julho de 2018

BOM DIA, PESSOAL...

A FRASE DO ANO...

(Foto do semanário Sol)






Pedrógão. Presidente da Câmara diz que denúncias são “inveja” e “má-fé””


LEIA AQUI TAMBÉM A NOTÍCIA NO ZAP -AEIOU


Longe vai o tempo em que os políticos perante uma investigação judicial, num politicamente correcto tipo chapa 9, respondiam: “estamos num sistema em que a separação de poderes prevalece, por isso mesmo, há suspeitas de crime? Investigue-se!”

quarta-feira, 18 de julho de 2018

BAIXA: CRÓNICA DA SEMANA PASSADA






RUMO AO DESCONHECIDO


No seu movimento sem condução política orientada, a Baixa, como se fosse um barco sem leme, continua em busca de um rumo que a guie a um porto seguro. As lojas comerciais tradicionais mais antigas, sem que se dê pela sua queda e sem uma palavra de apreço pelo seu desempenho ao longo de décadas no desenvolvimento da cidade, vão desaparecendo debaixo dos nossos olhos.
Resultado de uma turistificação massificada e no mesmo movimento de Lisboa e Porto, com edifícios a mudarem de proprietários, estão a surgir vários empreendimentos ligados a alojamento local nos andares superiores e hotelaria nos pisos térreos. Paulatinamente os prédios pertencentes a bancos estão a ser ocupados com novos segmentos de mercado. É o caso do desaparecido BES, na Rua Visconde da Luz, ao lado do Café Santa Cruz, que muito em breve abrirá com café e pastelaria sobre responsabilidade da reconhecida marca “Coimbra Doce”.
Mais à frente, na Rua Ferreira Borges, no espaço onde esteve a Mango, consta-se, dentro de poucos dias surgirá um novo restaurante “Itália”, que, por força do desmantelamento das suas actuais instalações no Parque da cidade, vem para mais perto de nós.
Ainda mais uns passos à frente, no Largo da Portagem, no edifício que pertenceu ao Banif, alegadamente, irá surgir no rés-do-chão um novo conceito ligado a conservas. Embora sem confirmação, será uma espécie de centro de vendas multimarcas de tudo quanto diga respeito à indústria conserveira.
Nos pisos superiores, presumidamente, será para alojamento local.


DEPENDÊNCIAS SOCIAIS

Com uma Baixa em profunda transformação económica e social, é um urgente um estudo público que, com dados estatísticos e científicos, mostre quem se acolhe, trabalha e reside no Centro Histórico.
Aparentemente, com uma população sem-abrigo ligada ao álcool e à toxicodependência a aumentar, com um novo morador muito pobre, cujo único rendimento é o RSI, Rendimento de Inserção Social, a viver em casas sem grande conforto e em que muitas delas não têm água canalizada nem electricidade, estamos a gerar um novo fragmento societário “sem-sem”. No mesmo seguimento da já falada franja de jovens “nem-nem”, que nem estão empregados nem a estudar, surgem agora os “sem-sem”, que sem trabalho, sem rendimento, sem vontade, é uma fracção completamente dependente do Estado e das instituições de solidariedade social.
Sem que nada se faça para inverter esta situação, está-se a construir um gueto.
Por outro lado, em termos de rentabilidade económica para as suas várias áreas, a Baixa está completamente subjugada ao turista ocasional, nacional e estrangeiro. E quando este passante tomar outros rumos e começar a falhar? Não seria de bom-senso começar a pensar no “day after”, no dia seguinte?


FIM DA HISTÓRIA



A Rua Eduardo Coelho acordou nesta segunda-feira entorpecida, sem ânimo e com cheiro a depressão. O ar respirável pesado, assim ao jeito de quando um nosso familiar parte, parecia querer transmitir-se aos residentes, aos comerciantes e a quem passava. Embora no Verão e muito próprio de canícula, o tempo, como solidário com as gentes, dividindo-se entre o nublado e solarengo envergonhado, apresentava-se padecente e tristonho. Os turistas, de olhos ao alto, apercebendo-se de que esta tristeza teia uma motivação e algo não estaria bem, sem perguntar verbalmente, pareciam interrogar: o que aconteceu aqui?
Respondemos nós: encerraram as Modas Veiga!
Na colorida montra que deu vida a esta histórica rua comercial até Sábado passado, com um modelo masculino impresso num cartaz da Victor Emmanuel a fitar-nos intensamente, adivinhamos que a preocupação mora ali. Com um micro à frente e uma pequena faixa na boca, como a sequestrar a sua voz, a informar “
ENCERRADO – mudança de instalações”, mostra dizer que só não denuncia a crise que se vive na Baixa por que não pode.

Desde Janeiro, último, é o 23º fecho de casa comercial nesta zona de antanho.
A maioria, fazendo de conta que nada se passa, pode continuar a enterrar a cabeça na areia.


PROCURA-SE...



Sem saber o que lhe aconteceu, se emigrou e para onde foi, continua-se à procura do Verão. Por aqui, pela Baixa, os bitaites acerca do destino da popular estação do ano são mais que muitos e ao sabor de cada intérprete. Pela chuva que continua a molhar os tolos, uns dizem que se amantizou com a Primavera e que foi viver para a costa mediterrânica. Outros, mais virados para a política, afirmam que estamos perante uma manifestação negativa em que o Inverno se perpetua para lixar António Costa. Com a chuva a invadir dois terços de Portugal, assim, o primeiro-ministro não pode mostrar a sua resiliência nem que está preparado para fazer face aos incêndios que se manifestam na época de canícula. Em complemento desta teoria incendiária há quem diga também que, como o Sporting Clube de Portugal está a arder há muito tempo, é um favor a Marta Soares, para que este se ocupe completamente da salvação do clube leonino.
Bem ao jeito do velho Oeste Americano, já se fala em atribuir uma choruda recompensa a quem avistar o velho Verão, tal como o reconhecíamos há uns anos.

BOM DIA, PESSOAL...

segunda-feira, 16 de julho de 2018

FAZ SEMPRE FALTA NUMA CASA PORTUGUESA...

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BAIXA: ENCERRARAM AS MODAS VEIGA







A Rua Eduardo Coelho acordou hoje entorpecida, sem ânimo e com cheiro a depressão. O ar respirável pesado, assim ao jeito de quando um nosso familiar parte, parece querer transmitir-se aos residentes, aos comerciantes e a quem passa. Embora no Verão e muito próprio de canícula, o tempo, como solidário com as gentes, dividindo-se entre o nublado e solarengo envergonhado, apresenta-se padecente e tristonho. Os turistas, de olhos ao alto, apercebendo-se de que esta tristeza terá uma motivação e algo não está bem, sem perguntar verbalmente, parecem interrogar: o que aconteceu aqui?
Respondemos nós: encerraram as Modas Veiga! 
Na colorida montra que deu vida a esta histórica rua comercial até Sábado passado, hoje, com um modelo masculino impresso num cartaz da Victor Emmanuel a fitar-nos intensamente, adivinhamos que a preocupação mora ali. Com um micro à frente e uma pequena faixa na boca, como a sequestrar a sua voz, a informar “ENCERRADO – mudança de instalações”, mostra dizer que só não denuncia a crise que se vive na Baixa por que não pode.
Desde 1978 na cidade – 22 anos na Rua Adelino Veiga, onde duas grandes lojas marcaram o compasso das tendências da moda e deram emprego a 14 funcionários, e nos últimos 18 na Rua Eduardo Coelho, com dois estabelecimentos, deu trabalho a quatro pessoas -, esta grande marca, representada pelo Francisco Veiga e a esposa Cila, que nos deixa sem sabermos para onde vai, pela amizade e sã convivência, leva consigo um pouco de todos nós. Ficam as lembranças que doem pela amizade que, durante anos e mais anos, nos dedicaram. São emoções que deram alento nas coisas simples da vida. Foram pontas soltas de apoio que, servindo de cimento agregador, nos ajudaram a enfrentar o dia-a-dia e a sermos mais felizes.
Se posso expressar-me assim, em nome dos profissionais do pequeno comércio, em nome dos moradores da Rua Eduardo Coelho e adjacentes, em nome da Baixa da cidade, uma grande salva de palmas.

sábado, 14 de julho de 2018

EDITORIAL: BAIXA, O ADVENTO DOS ÚLTIMOS DIAS





Com muitas pessoas a terem como único rendimento o RSI,
Rendimento Social de Inserção, há na Baixa imensos
locados sem água canalizada e sem luz eléctrica. Sem que
nada se faça, estamos a fabricar um barril de pólvora social.”


Hoje é o dia 14 de Julho de 2018. Segundo a Wikipédia, esta mesma data, mas de 1789, ficou assinalado na história como o início da Revolução Francesa. Os parisienses tomaram a Bastilha. Foram presos os representantes do regime monárquico e libertados sete prisioneiros políticos.
Hoje extingue-se na Baixa uma das marcas mais importantes dos últimos quarenta anos. A seu pedido não vou identificar para já. Alegadamente, mesmo no fim de um percurso de grande relevo comercial na história da cidade, o comerciante vai tentar levar a marca para outro lugar porque esta já não dá, segundo as suas palavras carregadas de emoção e emolduradas com as lágrimas a correrem pelo rosto marcado pelo tempo.
Pela sua partida, o nosso bairro inevitavelmente vai ficar mais pobre. A partir de hoje, o pequeno supermercado fica com menos fregueses. O pequeno restaurante, onde almoçavam todos os dias, vai ficar com várias cadeiras vazias. O café, onde tomavam a bica diariamente e às vezes uma cerveja com tremoços, vai vender menos . O barbeiro masculino vai perder mais um cliente, a somar a outros tantos que já lá vão; a cabeleireira, olhando de dentro para fora e fazendo contas à vida, vê sumir mais um cliente. O dono do quiosque da esquina, preocupado já com a razia que grassa, vê desaparecer mais um comprador de jornais.
Nós, aqueles que vão ficando na fila à espera de partirem também, vemos irem pessoas que gostávamos muito, camaradas confiáveis onde a amizade, como artérias sanguíneas, eram o fio de vida que nos conduziam diariamente para um fim anunciado mas esquecido.
Eles, os comerciantes, marido e mulher, depois de quatro décadas a percorrer o mesmo caminho numa rotina que se transformou vital, na segunda-feira, depois de uma noite mal dormida, vão acordar e, ao lembrar-se que já não vão para o mesmo sítio de sempre, vão receber um ilusório murro no estômago que, apesar de ser psicológico, vai doer muito mais. Com o pranto a correr pelas cercanias do rosto, vão abraçar-se e, em perguntas de retórica, vão interrogar que mal fizeram para merecer uma sorte assim.
Adivinha-se, porque fazem parte de uma geração muito sacrificada que passou muito para chegar até aqui, que vão resistir ao sentimento de falhanço que, num roer sem explicação, lhes consome a alma. Em nome das coisas boas, têm mesmo de reagir à adversidade.


UMA TRAGÉDIA QUE PARECE INVISÍVEL


Nos últimos tempo, nunca tanto se falou e escreveu sobre erudição. Em Coimbra, vindo dos cofres municipais, desde feiras de rua até festivais patrocinados pelo erário público, há dinheiro, em milhões, para tudo o que faça soar a campainha da Cultura. O conceito passou a ser uma espécie de lençol que vai cobrindo os interesses dos apoiantes mais chegados -que, a propósito, são os menos necessitados– e, escandalosamente, vai descobrindo os pés, como quem diz, abandonam-se à sua sorte, aqueles que mais precisam e não têm voz para reivindicar.
Curiosamente, ou talvez não, não há planos integrados de contingência em políticas para revitalizar e recuperar o comércio tradicional. Na última década, contabilizadas pelo blogue, teria encerrado cerca de uma centena de lojas tradicionais mais antigas. Desde Janeiro, último, contando com este fecho de que escrevo agora, já lá vão 23.
O comércio de rua, por ser estruturalmente económico porque, para além de tocar a macro, mexe directamente a micro-economia doméstica, é também essencialmente social. E não será cultural? O desaparecimento de profissionais do comércio no Centro Histórico, por falta de apoio do executivo local, é assustador -e, como escrevi em cima, por imbricar no consumo de outros negócios, está a contribuir para o afundamento desta área velha. Salvo poucas excepções, apesar de tentar uma adaptação às circunstâncias, estruturais e conjunturais, a compra e venda familiar está em fase de liquidação.
E, perante o funeral que se avista aos nossos olhos, com o elogio enternecedor e desbragado da oposição, o que faz o governo local da Praça 8 de Maio? A toda a pressa, num faz-de-conta impossível de disfarçar, criou um Orçamento Participativo com a temática “A Dinamização do Centro Histórico”. Depois do concurso concluído e atribuídos vencedores, alguém pode apontar um destes projectos que traga alguma coisa de novo para a Baixa e para a Alta?
Sem que nada se faça para inverter esta tendência, embora com menos gravidade que em Lisboa e no Porto, a habitação, em Coimbra, para moradores de uma classe média está também a desaparecer. Por o conforto nunca ter sido uma qualidade, e coadjuvado por leis e políticas de empobrecimento dos proprietários, cuja venda de prédios, agora, é uma fuga para a frente, estão a multiplicar-se imensos casos sociais encobertos. Com muitas pessoas a terem como único rendimento o RSI, Rendimento Social de Inserção, há na Baixa imensos locados sem água canalizada e sem luz eléctrica. Sem que nada se faça, estamos a fabricar um barril de pólvora social.


É PRECISO APOIAR A TOXICODEPENDÊNCIA


Ainda que pareça paradoxal escrever que “é preciso apoiar a toxicodependência” é assim mesmo que deve entender-se. Bem sei que ficaria melhor escrever “que é preciso lutar contra a toxicodependência”.
Quero dizer que, em vez de se gastarem milhões a lutar contra o narco-tráfico da droga é preciso mudar o sentido das políticas sociais. Desde há cerca de meio-século que as normas legislativas vão ao encontro do que agrada mais ao povo, inculto, agarrado a uma moral bacoca e incapaz de pensar no futuro dos netos. Isto é, como nos filmes, o que interessa a esta massa abstrata é que, em espectáculo cinematográfico, os maus sejam presos e os bonzinhos continuem na mesma vida -desde que não seja o nosso filho. Mesmo que seja só a arraia miúda e os cabeças do dragão continuem impunes. Neste show mediático, fazendo a vontade aos políticos de carreira, as polícias embarcam no quadro cénico e expressam que estão atentas e, de peito cheio e ufano, mostram na televisão que apreenderam mais umas quantas dezenas de toneladas de material.
E socorri-me desta longa introdução para mostrar que é preciso, com urgência, fazer alguma coisa de visível para evitar o cenário trágico que se está a passar em muitos largos, becos, ruas e ruelas da Baixa. Nunca o consumo endovenoso, à vista de todos, foi tão flagrante.
Estamos perante um caso de saúde pública.
É preciso criar uma estrutura reservada para que estas pessoas possam injectar-se com segurança, com cuidados médicos. Por outras palavras, contra ventos e marés da opinião pública, é preciso criar com brevidade uma sala de chuto na Baixa.
Estes políticos que temos a gerir a cidade são capazes de um arrojo destes? Terão a coragem necessária para afrontar a falsa moral que nos rodeia? Na dúvida, espera-se sentado!