sábado, 31 de outubro de 2020

BARRÔ, O HALLOWEEN E A LIÇÃO DOS MAIS NOVOS



Provavelmente como todos os lugares pequenos, Barrô, uma aldeia encravada entre a Mealhada e o Luso, estendida na encosta e banhada pelo Sol envolvente, para o bem e para o mal, como todas, é uma povoação com as suas características próprias. Para o bem, é gente humilde e solidária, quando solicitada para ajudar o próximo em dificuldades. Para o mal, os seus habitantes são pessoas algo introspectas, metidas consigo mesmas, onde a simpatia só sobressai depois de provocada pelo outro. É como se os moradores estivessem sempre à defesa perante quem mal-conhecem ou desconhecem de facto. Onde a desconfiança impera como preconceito e princípio de vida em comunidade.

Ora, o que me levou a escrever esta crónica foi a “dádiva” recebida por estes dias na nossa rua principal. Junto à capela do padroeiro São Sebastião, como a provocar a paisagem, rotineira e sempre igual, num costume pagão avistado por outras bandas, sentadas no muro com displicência, pode ver-se e admirar duas bruxinhas feitas de abóboras e vestidas a preceito. O lado engraçado da coisa, chamemos-lhe assim, é que estas duas obras dignas de respeito foram feitas pelas gémeas Leonor e Matide, de apenas cinco anos de idade. É certo que a supervisão artística foi da mãe, Susana Maças, mas não deixa de se realçar a habilidade das miúdas para a arte.

Por outro lado, num lugar onde nada acontece, esta iniciativa, como a estimular os vizinhos, deixa-nos de sobreaviso para o que virá no futuro.

Uma grande salva de palmas para a mãe, Susana e para as filhas Leonor e Matilde.


DESCULPE PERGUNTAR, MAS...

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)


VAI DESCULPAR A PERGUNTA, MAS…


Faz sentido, na Internet, nas páginas dos laboratórios recomendados pela Direcção Geral de Saúde como postos de colheita laboratorial para testes ao Covid-19, ser referido um, e único, na Mealhada, o Beatriz Godinho, na Avenida Dr. Luís Navega, e neste posto não haver colheita e ser remetido para Oliveira do Bairro e Coimbra, concelhos vizinhos da terra do leitão?

Será que o nosso concelho é assim tão tão insignificante que não mereça outra postura laboratorial? Não é por nada, mas...


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

MEALHADA: O ENSURDECEDOR SILÊNCIO DA ESCOLA DE MÚSICA

 

(Foto de Igor Alves surripiada do Facebook)


No calor da envolvência pandémica, o encerramento da Escola de Música da Mealhada (EMM), ocorrido em Março por acção do confinamento, passou despercebido à maioria. Estou em crer, o conhecimento do facto saltou para a berlinda quando há cerca de uma semana foi colocada essa eventualidade no grupo “Mealhadenses que amam a sua terra”, no Facebook. Em seguida, perante alguns comentários, surgiu um especial, o de Igor Alves, presidente da associação sem fins lucrativos e também professor de música neste estabelecimento de ensino, que, indicando o seu número de telefone, se prontificava a esclarecer quem o solicitasse.

Por entendermos que todas as instituições ligadas à formação e à cultura, para além de merecerem da nossa parte uma atenção especial, precisam dos apoios institucional e de todos nós enquanto cidadãos, fomos saber o que aconteceu.

Para isso, contactámos Igor Alves e propusemos-lhe responder pessoalmente a uma série de perguntas feitas por nós.

E aqui ficam conforme nos foram transmitidas:



- Blogue Questões Nacionais (QN): Quantos alunos tinha a Escola de Música da Mealhada (EMM) em Março deste ano?

- Igor Alves (IA): Entre oitenta a noventa alunos. Eram eles os associados da associação.

A nossa escola tinha também um quadro de nove professores, todos a

Recibos Verdes, na modalidade de prestação de serviços, e que se

deslocavam à escola consoante a necessidade de haver aulas.


QN: Qual o valor mensal do arrendamento pago pelas instalações

ocupadas pela EMM?

- IA: o arrendamento mensal era de 300.00€.


- QN: Quanto pagava cada aluno, em média, supondo que a propina seria diferenciada?

- IA: Sim, havia duas mensalidades. A média andaria próximo dos 47.00€.


QN: Quais eram os custos de funcionamento mensais da EMM?

-IA: os custos fixos (renda, água, luz, Segurança Social, comunicações, o meu vencimento, que auferia sobre o ordenado mínimo) eram de cerca de 1500.00€.

A partir de Abril deixou de haver receita, porque, devido ao confinamento, deixou de haver parcerias – instituições protocoladas com a EMM.


QN: Escreveu no “Mealhadense” que “durante 10 anos houve duas

esmolas”, nunca houve verdadeiro apoio a não ser aquele que nós

prestávamos aos pedidos de atuação não remunerados... quando realmente precisámos não houve apoio devido, mas houve para quem foi ocupar as nossas instalações”.

Pode explicar melhor?

-IA: É simplesmente isso mesmo. Reitero o que escrevi.


QN: A EMM nasceu em 2012. Ao longo destes oito anos sentiu sempre a falta de apoio da Câmara Municipal da Mealhada (CMM)? Ou foi somente este ano?

IA: Desde que criei o projecto fui sempre pedindo instalações. Nunca foram cedidas. Verdadeiramente nunca senti apoio. O apoio que tinha era a cedência gratuita do Cine-teatro Messias, mas, comparando com as outras que fazem, isso não era nada.


QN: Já que este ano não houve inscrição, qual foi a verba cabimentada pela CMM à escola no ano passado?

- IA: No ano passado recebemos 797.00€.

Em 2018 cerca de 600.00€. Nos anos anteriores nunca recebemos nada, por haver um problema com a inscrição na Segurança Social.

QN: Sente que, em relação a outras associações, pelos valores atribuídos, a EMM foi discriminada?

- IA: Não senti que a EMM fosse discriminada, mas sinto que era pouco valorizada, tendo em conta o espectro cultural no trabalho desenvolvido.


QN: O que esteve na origem da rotura de diálogo com a autarquia?

- IA: Não houve diálogo. Não havia solução por parte da edilidade.

Da nossa parte havia boa-vontade para continuar o projecto.


QN: O confinamento por causa do COVID teve alguma coisa a ver com o corte de apoio por parte da CMM? Ou seja, essencialmente, a pandemia foi factor crítico para o encerramento da EMM?

-IA: O COVID foi o factor crítico para o encerramento da escola. Porque sem receitas não conseguia suportar os custos.


QN: A edilidade impôs alguma condição para continuar a apoiar o projecto?

- IA: Por parte da autarquia, não houve estratégia clara para continuar o projecto.


- QN: A ter havido comparticipação este ano quanto teria sido?

- IA: Se houvesse comparticipação este ano teria sido na ordem dos 300.00€, uma vez que, devido ao Coronavírus, não haveria possibilidade de actividades ao vivo.


QN: Após a sua decisão de encerrar a escola foi contactado por algum político da CMM, presidente ou vereador, a tentar demovê-lo para não desistir?

- IA: Nunca fui contactado por algum político da CMM no sentido de se arranjar uma solução para o problema. O que mais lamento, tendo em conta o meu esforço e a dedicação como me entreguei a este projecto cultural, foi a forma como fui destratado. Foi uma profunda falta de respeito… Mas a vida continua.


E A CÂMARA, VAI OU NÃO EXERCER O CONTRADITÓRIO?


Através do Facebook, na página da “Câmara Comunicação Mealhada”, contactámos o senhor director de comunicação a convidar a edilidade a exercer o contraditório. Escrevi que poderia comentar o assunto para incluir nesta edição, assim como fazê-lo posteriormente, ou ainda, se preferisse, pela igualdade de tratamento, poderia optar por responder a várias perguntas enviadas por e-mail. Até ao momento não recebemos qualquer comunicação.




segunda-feira, 5 de outubro de 2020

MEALHADA: O “QUID PRO QUO” (TOMAR UMA COISA POR OUTRA)

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




FACTOS:


Em quarenta e cinco anos de eleições para o poder local (1976-2021), a Câmara Municipal da Mealhada foi “apenas” conquistada duas vezes pelo PSD, em 1979 e 1985 – no primeiro mandato, em coligação com o CDS/PP, Centro Democrático Social, e PPM, Partido Popular Monárquico. Nos restantes 10 mandatos autárquicos o PS ganhou sempre com maioria absoluta.


RESSALVA


Esta crónica, sem ter a veleidade de ser confundida com análise científica, a ter alguma razão para ser escrita, tem somente uma ideia de, ao esmiuçar factos históricos, contribuir para ajudar a clarificar um fenómeno, que certamente não sendo único no país, não deixa de constituir um certo mistério.

E porquê o PSD? Interrogou um membro, leitor, aquando do lançamento tema para discussão no grupo “Mealhadenses que Amam a sua Terra”, no Facebook.

Respondendo objectivamente, adianto que, no oposto, poderia colocar a questão ao contrário e interrogar o porquê de, ao longo de mais de quatro décadas, os Socialistas terem tanto sucesso. Poderia, mas, do ponto de vista jornalístico, ressalta muito mais o insucesso dos Sociais-democratas.

Se no princípio era o verbo, devemos começar pela democracia, pelas primeiras eleições locais para o Executivo, em 1976, para a Assembleia Municipal e para as Juntas de Freguesia, depois do 25 de Abril de 1974.

Por falta de tempo – e se calhar, para o caso, nem é muito importante – vou debruçar-me simplesmente sobre as eleições para a Câmara (executivo).


COMECEMOS, ENTÃO, PELO PRINCÍPIO


Pegando no historial do PS/Mealhada:


Em 1976 o PS local estreou-se logo com uma maioria absoluta.

Em 1979, com o PSD a concorrer em coligação (AD), o PS veria fugir-lhe a vitória para os Sá-Carneiristas. Estes viriam a conseguir a sua primeira maioria absoluta.

Em 1982 o PS recuperaria novamente a liderança com maioria.

Em 1985, com o PS a sair derrotado, o PSD, concorrendo sozinho, recuperaria a maioria absoluta.

Em 1989 o PS recuperaria novamente a edilidade com maioria.

Em 1993, com uns retumbantes 55 por cento, o PS repetiu a façanha.

Em 1997, com cerca de 54 por cento, o PS continuava de pedra e cal no Executivo.

Em 2001, com cerca de 43 por cento, continuava a acenar com o lencinho ao maior partido da oposição.

Em 2005, com cerca de 50 por cento, o partido liderado por José Sócrates continuava de pedra e cal na terra do leitão.

Em 2009, com o PS local a eleger cinco vereadores numa possibilidade de sete, lá longe, Sócrates dava saltos de contente.

2013, com o PSD a concorrer em coligação, o PS viria a obter cerca de 47 por cento e a eleger quatro vereadores contra três da coligação “Juntos Pela Mealhada”.

Em 2017, mais uma vez o PS sairia vencedor com cerca de 48 por cento, elegendo quatro representantes contra três da coligação “Juntos pelo concelho da Mealhada”.


PARTIDOS À ESQUERDA QUEM VOS VÊ NA BANCADA?


Em 1976 começaram por concorrer à Câmara o MRRP e a FEPU, Frente Eleitoral Povo Unido, uma coligação liderada pelo PCP e outras agremiações à sua esquerda. Juntos, sem elegerem representantes, conseguiram cerca de dez por cento do eleitorado.

Em 1979 a APU, Aliança Povo Unido, teve um resultado de cerca de 12 por cento. Elegeu um vereador.

Em1982 a APU, elegendo um representante, obteve um resultado de cerca de dezanove por cento do eleitorado. E o PCPT/MRPP teve menos de meio ponto.

Em 1985 a APU, novamente elegendo um vereador, voltou a obter cerca de dezanove por cento. O MRRPP já não concorreu.

Em 1989 o PCP-PEV (CDU) teve cerca de seis por cento.

Em 1993 o PCP-PEV (CDU) conseguiu cerca de quatro por cento.

O PSN, Partido da Solidariedade Nacional, ligado aos aposentados, viria a contar com 1.75%.

Em 1997 o PCP-PEV (CDU) teve 6.11%.

Em 2001 o PCP-PEV (CDU) conseguiu cerca de quatro por cento.

Como curiosidade, neste ano, um grupo de cidadãos concorreu à Câmara e conseguiu um resultado de cerca de vinte por cento e eleger um vereador.

Em 2005 a CDU teve cerca de oito por cento nas urnas.

Em 2009 a CDU conseguiu cerca de sete por cento.

Em 2013 a CDU teve cerca de oito por cento.

Em 2017 a CDU teve 6.5%, muito atrás do Bloco de Esquerda, que obteve 6.66%.


O CENTRO-DIREITA A SUMIR-SE NO HORIZONTE


Em 1976 o CDS obteve um resultado para a Câmara de 9.22%.

Em 1979 e 1985 concorreu em aliança com o PSD.

Em 1989 o CDS desapareceu em combate.

Em 1983 teve um resultado de 1.83%.

Em 1997 teve 2.68%

Em 2001 desapareceu.

Em 2005 teve 1.22%.

Em 2009 desapareceu nas trevas.

Em 2013 desapareceu nas trovas do vento.

Em 2017 continua-se à procura no concelho onde pára o CDS.


A ABSTENÇÃO COMO FONTE DE REFLEXÃO


Em 1976 a Abstenção foi de 45.36%.

Nos anos seguintes, até 1997, foi descendo para a ordem dos trinta por cento.

Em 1997 foi de cerca de quarenta e três por cento.

Em 2001 foi de cerca de trinta e oito por cento.

Em 2005 a Abstenção foi de cerca de quarenta e dois por cento.

Em 2009 foi de cerca de quarenta e três por cento.

Em 2013 foi de cerca de quarenta e nove por cento.

Em 2017 a Abstenção foi de cerca quarenta e nove por cento.


VOTOS BRANCOS CONTAM?


Em 1976 os eleitores do voto em branco alcançou uma percentagem de 2.47%

Ate 1997 o número de brancos, em queda, manteve-se estável.

Em 1997 a percentagem de brancos foi de 3.12%

Em 2001 foi de 1,95%.

Em 2005 foi de 3.75%.

Em 2009 foi de 2.92%.

Em 2013 foi de 4.41%.

Em 2017 a percentagem de votos brancos foi de 4.19%.


CONCLUSÃO NÃO CONCLUSIVA


Dá para apreender que o concelho da Mealhada, que elege sete vereadores para o executivo, na política não anda bem de saúde. Seguindo o rotativismo entre o PSD e o PS, sendo igual ao que se passa na política executiva nacional mas que dá hipótese a outras forças políticas de respirarem, nas terras mealhadenses os partidos pequenos não conseguem furar o bloqueio e, com esta não-inscrição, contribui fortemente para o seu desaparecimento. Só para exemplificar, basta ver que para além dos dois grandes partidos, PS e PSD, só a APU elegeu um deputado nos anos de 1979, 1982 e 1985. E também o movimento cívico, em 2001, conseguiu eleger um representante.

Ou seja, em quarenta e cinco anos de democracia, só em quatro mandatos partidos fora do arco do poder conseguiram eleger.

E isto é grave? A meu ver, que pouco percebo de política, por distorcer as forças em confronto e impedir alianças à esquerda e à direita, acabando por favorecer o partido mais votado, do ponto de vista da alternância, é gravíssimo.


MAS, E CULPADOS HÁ?


Salvo melhor opinião mais avalizada, o Método de Hondt, fórmula matemática destinada a calcular a distribuição de mandatos proporcionalmente ao número de votos, será porventura o factor maior que está a deteriorar fortemente a diversidade partidária neste concelho.

A seguir vem a abstenção, esse enorme monstro que tanto preocupa os políticos, mas só em tempos de eleições. Depois de eleitos, em quatro anos de mandato, durante três todos a esquecem e convivem alegremente com a falta de comparência de eleitores às urnas. No ano que falta para o sufrágio, como sempre vamos ouvir o apelo ao voto , desde o Presidente da República até ao deputado mais apagado do Parlamento. Nas últimas décadas, nem o maestro máximo da Nação, nem qualquer político com assento numa câmara perdeu tempo a pensar como se ultrapassa o fenómeno da abstenção. Não sabem porque não querem. Vejam o exemplo dos presidentes de junta e aprendam. Estes homens do povo, na maioria simples e sem canudos, estão sempre ao lado de quem os elegeu – claro que há execepções na Mealhada, mas isto também acontece em todo o lado.

Costumo comparar muito a abstenção nas eleições com a crise que alastra na imprensa local. A abstenção não é um fim em si mesmo. É um meio para demonstrar a revolta, o abandono a que foram votadas as populações. A não comparência nas urnas é um subproduto da não ligação existente entre os eleitos e os eleitores, do desprezo, pela altivez e soberba presunçosa com que são tratados os cidadãos.

A imprensa local, de igual modo à política, perdeu a proximidade. Os periódicos, praticamente sem excepção, em vez de escreverem sobre os problemas políticos da sua zona, sem difundirem o que se passa nas ruas da cidade, as dificuldades das povoações em redor, falam de outros concelhos e de notícias distribuídas pelas agências noticiosas. E o mais grave é que estão a contribuir para a iliteracia e o analfabetismo social. Como é que querem, assim, vender jornais?

Como é que os políticos autárquicos, sem passarem cavaco aos munícipes querem captar o seu voto?

Vale a pena pensar nisto?