(imagem do jornal online Bairrada Informação)
Quem
com ferros mata, com ferros morre.
Se
tivesse tido apoio quando fui acusado,
agora,
a minha posição seria outra”,
Rui
Marqueiro.
Na
parede traseira do Salão Nobre da Câmara Municipal, em retrato
institucional, Marcelo Rebelo de Sousa, o vigilante da democracia,
parecia algo preocupado. Grossas ondas de inquietude na fronte e no
rosto pareciam inundar o seu semblante normalmente resplandecente.
Paralelamente, a República ao lado, em imagem de terracota, parecia
fazer apelos à calma. O que é se passaria de tão anómalo?
Interrogava um passarinho no parapeito da janela.
O
relógio da Igreja Matriz da Mealhada acabara de bater as nove
badaladas. Como se o ambiente estivesse impregnado de ansiedade e
todos os presentes cheios de pressa em despejar o que lhes inundava
as almas, António Jorge Franco deu início à terceira reunião
ordinária deste mês de Maio.
Pegou
na palavra Gil Ferreira, o vereador da Cultura, e general Hill no
filme “Terra Queimada” recentemente passado entre nós
sobre a última invasão napoleónica de 1810/11. Como se dirigisse
as tropas contra os franceses usurpadores e saqueadores da dignidade
nacional, começou por referir a “baixíssima qualidade de
jornalismo”. A “baixa campanha da CMTV é o uso da
política rasteira composta por insinuações, com o único objectivo
de fragilizar o presidente da Câmara.”
E
continuou o vereador: “não é preciso ser professor de
jornalismo para ver que isto é reles. Aqui há gato! Os indicadores
indiciam que o denunciante é um vereador aqui presente: o doutor Rui
Marqueiro.”
Na
parede, Marcelo, como se pretendesse tapar os ouvidos, parecia apelar
a Nosso Senhor Jesus Cristo para que a sessão não culminasse em
chapada. E Deus, como se estivesse ao seu serviço, fazendo-lhe a
vontade, acalmou os ânimos “injectando” serenidade na sala.
A
esta acusação sem rede respondeu o ex-presidente da autarquia
nos últimos oito anos que
não tinha nada a ver com a denúncia feita ao programa televisivo.
“o que aconteceu foi eu ter recebido um telefonema de Ana Leal a
perguntar se eu conhecia bem o engenheiro António Franco; se sabia
onde morava e sabia do facto de ele viver com uma senhora. Respondi
que não sabia. A jornalista perguntou se eu conhecia alguém que
conhecesse. Indiquei uma pessoa, mas antes perguntei se poderia dar o
seu contacto. Eu não tive nada a ver com isto!”
A
terminar a sua intervenção, Gil Ferreira propôs à mesa um voto a
repudiar a “crónica
da semana passada”,
como quem diz, tudo o que se passou e serve de mau exemplo para o
concelho.
Antes da votação, declararia
Marqueiro: “eu
voto com silêncio.”
Em seguida passou-se à
votação e… total unanimidade, todos votaram a
favor e contra os
ventos gerados na cidade e ampliados pelo canal de cabo.
OUTRAS DECLARAÇÕES PARA
CONSTAR EM ACTA
Sobre
a bomba de deflagração caída no meio político, disse Franco:
(para atestar a verdade) “podem
pedir uma certidão à junta de Freguesia de Casal Comba; podem pedir
à Escola de Viseu. Isto não se faz a ninguém!”
Sónia Leite, vereadora da
oposição em representação do PS, disse: “manifesto
a minha repugnância com a forma como foi noticiado.”
Luís Tovim, colega de
carteira dos vereadores da oposição, enfatizou: “repudio
completamente a forma como foi desenvolvida.”
Filomena Pinheiro,
vice-presidente da edilidade, reafirmou: “número
encomendado! Revela uma frieza, mal-estar da pessoa que passou a
informação. Tem de ser alguém muito infeliz. Aquilo fragiliza-nos
a todos. Espero que um dia estas pessoas paguem pelo que fizeram.”
Hugo Silva, vereador da
coligação em apoio à maioria, retorquiu: “está
tudo dito. Não tenho nada a acrescentar. Mas
a questão humanitária é muito importante. Se preciso for, eu e a
minha mulher testemunhamos de que situação marital não se
verifica. Temos de estar preparados para tudo!”
Rui Marqueiro, de certa
maneira contestando o que foi dito, rematou: “se
há alguém que sofreu de atentado fui eu! Se alguém foi vítima de
barbárie fui eu! Vou trazer aqui a forma como tenho sido tratado.
É
muito provável que tenha de abandonar a vida política, pela minha
saúde e da minha mulher.
Juro
que não vi o programa da CMTV. Apenas recebi, por mensagem, uma
notícia da revista Visão.
Quem com ferros mata, com
ferros morre. Se
tivesse tido apoio quando fui acusado, agora, a minha posição seria
outra”, concluiu
Rui Marqueiro.
Neste
período dedicado ao desabafo, foram apresentados e aprovados dois
votos de pesar e de reconhecimento a dois homens que muito
contribuíram para o progresso das suas terras, respectivamente,
Carlos Cidade, por Coimbra e José Castelo Branco de Moura,
ex-autarca da freguesia da Pampilhosa.
E ENTROU O PERÍODO DA
ORDEM DO DIA
Sem
pontos de agenda que mereçam relevância, depressa se chegou ao fim
da convocatória propriamente dita.
Não sem
que antes
se apanhasse uma outra frase mais irónica de Rui Marqueiro : “eu
hoje não estou para me aborrecer. Tenho a tensão alta…”
Mas, apesar da velocidade
furiosa, ainda se “empancou”
no ponto 7, Alteração
da Estrutura Orgânica Municipal.
(sobre este assunto, escreverei uma outra crónica sobre o que me
parece estar na base desta mudança) Estava
em causa novas Unidades Orgânicas
em substituição da Divisão de Comunicação e da Cultura e
Turismo.
Sobre este tema, diria
Marqueiro: “extinção
da Divisão de Cultura e Turismo?… Trata-se do “assassinato”,
entre comas, da Chefe de Divisão. Eu estou contra.”
Respondeu ao repto Gil
Ferreira: “é
redundante ter a Cultura e o Turismo fundidos no mesmo sector. Não
entro nesse raciocínio, que é para afastar pessoas.”
Disse Franco: “estamos
limitados a 15 Divisões. As alterações serão feitas sempre que
necessárias. Não serão escolhidas pessoas por simpatias, ou pela
cor dos seus olhos, mas sim pela sua competência. A Câmara é de
todos, não é de um ou de outro.”
Reitera Marqueiro: “a
casa faz-se pela estrutura…”
“Os
senhores estão aqui há sete meses e apresentam agora uma
mixoriquice malfeita…”
“De aqui a dias faço 70
anos, e já não me comem por tolo. Passei 18 anos na Câmara
Municipal, já ninguém me engana…”
Marqueiro para Hugo Silva: “o
senhor não sabe nada de política autárquica…”
Este ponto 7 seria aprovado
por maioria, com os votos contra dos três vereadores do PS, e para
enviar à Assembleia Municipal para ratificação.
E
pronto! Como a descrição já vai longa, desejando as melhoras a
todos, ficamos por aqui.