quarta-feira, 30 de outubro de 2019

EDITORIAL: QUEM SALVA O PSD DE COIMBRA DOS JOGOS DE PODER?

(Imagem do jornal online Notícias de Coimbra)




No meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado,
sentado comodamente no cadeirão central, sabendo que não
precisa de fazer nada para os ventos lhe correrem de feição,
coçando a barriga com despudor, sorri a bom rir.
A velhice é um posto!”


A menos de dois anos das eleições autárquicas, enquanto Manuel Machado, com pompa e circunstância, inaugura na cidade as obras de requalificação de um túnel e vai cortar a fita de mais umas linhas de transportes colectivos para servir a periferia, o que fazem os restantes partidos e movimentos com e sem assento parlamentar e que, em longas noites de insónia, pensam vir a ocupar uma cadeirinha ou, como loto, o cadeirão do poder?

1 - A CDU, com o vereador Francisco Queirós à frente de vários pelouros, faz contas à vida. Tomando o exemplo das recentes eleições legislativas, em que a coligação chefiada por Jerónimo de Sousa foi bastante penalizada por ter feito parte da “Geringonça” nos últimos quatro anos, Queirós, que desde 2013 vem dando uma mãozinha ao Partido Socialista no executivo em Coimbra, sabe que tem pouco tempo para mostrar aos conimbricenses a sua utilidade como único eleito pela Coligação Democrática Unitária (PCP-PEV). E portanto, numa prova de vida, tentando demonstrar que está ao lado do povo e não está de “unha e carne” com Machado, em vez de se abster sistematicamente, já começou a votar contra. Levantou a mão nas recentes alterações ao Regimento das Reuniões da Câmara Municipal de Coimbra e repetiu ontem nas Grandes Opções do Plano (GOP) para 2020. Será tarde? Os “inimigos”, ceguinhos para lhe ocuparem o lugar, estão à espreita e vão fazer tudo para lhe darem um empurrão e o retirarem de cena.

2O CDS/PP, a atravessar uma grave crise por causa dos resultados nacionais nestas últimas eleições legislativas e também com os órgãos distritais demissionários por não conseguir eleger nenhum deputado pelo círculo, em jejum do executivo conimbricense desde 2013, quando perdeu o seu único vereador, embora muito vulnerável para encarar o pleito em 2021, não deixará de apresentar uma lista concorrente e bater-se para recuperar a sua anterior bandeira no concelho.

3 – O Cidadãos por Coimbra (CpC), ainda em choque por não ter conseguido reeleger o seu único vereador no executivo em 2017, ainda a atravessar uma grave crise de identidade, resultado de um golpe palaciano e se ter colado ao Bloco, e ter perdido muitos apoiantes de centro-esquerda, vai bater-se forte para recuperar o seu lugar na Câmara Municipal.
É de supor que, para voltar a ter actuação executiva, vai apostar num candidato menos ligado à ortodoxia comunista e mais abrangente, acima de tudo, que roube eleitores ao PS. Tal como fez o Bloco de Esquerda, em Lisboa, é essencial que o CpC, em Coimbra, seja mais aglutinador e tome uns comprimidos de social-democracia. Se assim não for, pressupõe-se, pode continuar apenas representado na Assembleia Municipal. Coimbra, geneticamente, é uma cidade dividida entre o socialismo e o liberalismo da social-democracia, e os coordenadores do CpC sabem isso. É certo que novos dados que estão a emergir podem baralhar tudo e constituir uma séria ameaça à sua existência. E sobretudo com uma nova força política, o Livre, com José Reis, que já defendeu as cores do CpC.

4 – O Iniciativa Liberal (IL), o Chega, o Livre e o Aliança podem apresentar candidatos em Coimbra, em 2021.
O IL e o Chega, com as suas vitórias recentes de elegerem um deputado na Assembleia da República, se concorrerem na cidade dos estudantes, para além de tudo indicar terem aceitação na urbe, vão roubar votos ao CDS/PP e ao PSD – essencialmente, os sociais-democratas que se cuidem.
Quanto ao Livre o mais certo é concorrer à edilidade conjuntamente com os Cidadãos por Coimbra. No que toca à Aliança, de Santana Lopes, o mais certo é não apresentar lista em Coimbra.

5 – O PSD/PPD, depois de, em 2013, ter perdido a Câmara, um bocado por excesso de confiança de Barbosa de Melo, na altura o chefe da edilidade, e quatro anos depois, em 2017, ter apostado num candidato “pára-quedista” para se bater contra o actual regedor, continua à deriva e sem rumo, de certo modo, copiando a estrutura nacional. Pese embora o grande esforço de Rui Rio para voltar a trazer este grande partido para a ribalta.
A menos de dois anos do grande combate, estranhamente, o PSD local, em jogos de poder no executivo, com uma vereadora a ausentar-se de uma votação proposta pelo seu grupo e noutro caso a votar ao lado do PS quando os seus congéneres votam contra, parece indicar preferir o abismo.
Com ameaças muito sérias do Chega, do IL e do Somos Coimbra virem a ocupar completamente o seu espaço político na cidade, se não reflectir e continuar neste caminho dúbio que os eleitores não percebem, corre o sério risco de passar a ser minoritário no universo público. Quem salva o PSD em Coimbra?

6 – O Somos Coimbra, movimento constituído por dois vereadores eleitos em 2017, é, sem dúvida alguma, o grande combatente e resiliente no executivo. Apesar de saber que a cidade, pelo menos por enquanto, é castradora para movimentos independentes, o seu líder, José Manuel Silva, não se dá por vencido e, estrebuchando como pode, continua a acreditar que vai conquistar o cadeirão-mor.
Estudioso quanto baste, as suas intervenções conjuntas com a sua colega de bancada no hemiciclo são acutilantes e continuam a irritar e a desgastar o chefe do governo local, Manuel Machado.
Com o contorcionismo do grupo social-democrata que estamos a assistir, Silva sabe que os tempos que se avizinham são cada vez mais difíceis para alcançar o poder. Atingir o púlpito só com uma aliança entre a sua agremiação e o PSD. Porém, agora com as piruetas dos laranjas, a tomarem o antigo lugar de Francisco Queirós, quem arrisca subscrever um acordo de governo?

7 - No meio disto tudo, a velha raposa, de voz grossa e emproado, sentado comodamente no cadeirão central, sabendo que não precisa de fazer nada para os ventos lhe correrem de feição, coçando a barriga com despudor, sorri a bom rir. A velhice é um posto!

terça-feira, 29 de outubro de 2019

EDITORIAL: E SE BARCELONA FOSSE COIMBRA?

(Imagem  retirada da Internet)



Qualquer presidente, para se aproximar dos cidadãos,
deveria levar à prática a consideração individual e colectiva.
Como amostra, pelo menos de seis em seis meses, o Salão
Nobre da Câmara Municipal deveria ser aberto a todos quantos
desejassem interpelar o presidente e todos os vereadores, com
e sem pelouro. Numa espécie de prestação de provas semestral,
num bate-papo informal, sujeitando-se os eleitos a responder às
questões suscitadas, mostrar ao povo que aquela é a casa de todos.”


Neste último Domingo, li a entrevista de Jordi Hereu, ex-autarca de Barcelona e agora consultor de planeamento urbano, no jornal Público. Enquanto lia e treslia ia pensando no que se passa na (minha) cidade dos estudantes.
Sendo administrador de um sítio virtual como a Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), esta função que desempenho com grande empenho, tem-me proporcionado uma outra auscultação sobre Coimbra, que se não funcionasse nesta qualidade não me aperceberia.
Levando à letra os desabafos dos mais de sete mil membros, de facto, Coimbra, o nosso burgo, para além de ser cinzento, talvez sofra de défice de bairrismo (basta ver os comentários na página virtual). No entanto, por estranho que pareça, acontecem dois movimentos contrários. Um, é o dos jornais publicados na cidade que, tentando contrariar a onda pessimista, numa captação fotográfica inerte onde falta a crítica imparcial, porque dizer bem tem um leque de recepção mais abrangente, e logo interesseiro, acabam a sobrevalorizar tudo exageradamente, sejam actos públicos ou manifestações empresariais, e concorrem para dar uma imagem falseada dos acontecimentos e do que se pode esperar do lugar onde convivemos diariamente. Outro, por parte da opinião publicada nas redes sociais, dá-se uma atenção exagerada ao que corre mal e um foco diminuto ao que corre bem, com uma crítica acintosa e destruidora. Isto é, tal como se aflora no artigo de Jordi Hereu, ex-autarca de Barcelona, é como se os conimbricenses andassem mal e não se identificassem com o sítio onde vivem. E, de facto, a meu ver, muitas pessoas, demasiadas, andam de relações cortadas com a Lusa Atenas.

E A QUESTÃO É: PORQUÊ?

Comecemos pelo positivo, é um lugar calmo e que dá gozo habitar, com gente que se respeita mutuamente, às vezes, até é solidária. - embora, parece-me, a crise de 2012 veio arruinar e diminuir em muito os laços dessa fraternidade. É um cosmos onde a criminalidade é pouco expressiva e o torna apetecível para se criar família. Tem uma malha urbana densa, mais ou menos servida por uma rede de transportes colectivos que facilitam a mobilidade, o que contribui para arrendar uma casa a valores médios. Apesar de ter o seu coração comercial doente, a Baixa, a cidade dos estudantes detém uma oferta ao consumidor que faz inveja a muitas outras. Embora o emprego seja precário, incluindo os pequenos investidores no terciário do seu tecido urbano, há sempre um lugar para mais um.

MAS, SE NAS GRANDES OPÇÕES É ASSIM, AFINAL, O QUE FALHA?

Falha nas pequenas coisas. E na comunicação política. Nos pequenos detalhes, em exemplo, apontemos o lixo abandonado em tudo quanto é artéria, urbana ou rural. Coimbra, por falta de interesse político em resolver este problema através de sanções, tem cidadãos pouco aprimorados e desligados do seu espaço envolvente. Tratam a cidade como se o seu corpo fosse, como direito, para usar desalmadamente e, sem ponta de obrigação, não respeitar o bem público, que é de todos.
Ainda nos pormenores, atentemos na segurança interna. Ainda há dias o Comandante distrital da PSP, Rui Moura, numa entrevista concedida ao Diário de Coimbra, em jeito de político que defende que está tudo muito bem, aflorava, de bandeira desfraldada, que a cidade não tem valores estatísticos de criminalidade relevantes. É verdade! Mas, na prática, o que se constata? Que a pequena transgressão, como não é participada, não chegando ao conhecimento das autoridades, logo, não existe como dado. Mas, o transeunte convivendo com ela no dia-a-dia, com desconforto, sente gerar nele conflitos vários, sobretudo insegurança e por considerar que a justiça não funciona e, sobretudo, que os seus impostos não são canalizados para os fins que deveriam ser.
No dia a seguir a esta entrevista, constatei, no meio da Rua Ferreira Borges, à hora de almoço, um sem-abrigo, como se gozasse com todos os passantes de ocasião, retirou o pénis e, à vista de todos, urinou em plena via. É grave? Talvez não seja, mas cria o tal sentimento de que, por um lado, não há polícia, por outro, que qualquer um, sem restrições, faz o que quer.
Ainda nessa mesma semana, numa rua estreita, um miúdo de 16 anos furtou um objecto de cinco euros. Sem tentar desculpar o comerciante, mas sendo justo, embora a sua reacção fosse desproporcionada, tem de se compreender, e envolveu-se à chapada com o puto. O que valeu, para que tudo corresse pelo melhor, foi uns vizinhos se envolverem e conseguirem apartá-los.
Ora, está de ver que se nestas ruas houvesse policiamento de proximidade, para além de se estar a contribuir para a prevenção e aumentar um necessário clima de segurança, evitava quadros terceiros-mundistas.

E NA COMUNICAÇÃO POLÍTICA?

Coimbra, digo eu, após a revolução dos cravos, talvez desde Mendes Silva (PS) e António Moreira (PSD), anos de 1979 a 1989, a cidade nunca mais teve presidentes de câmara que abraçassem os cidadãos, ou, no mínimo, que pareçam compreender as suas agruras. Os chefes autárquicos que vieram a seguir – com uma pequena e curta excepção para Barbosa de Melo, 2011/2013, que deixou marca presencial de humildade na Baixa – desde Manuel Machado (PS) a Carlos Encarnação (PSD), nunca cultivaram o relacionamento pessoal com os munícipes, a não ser em campanha eleitoral. A sua conduta, a raiar a prepotência, a grosseria e a superioridade existencial, foi sempre de afastamento e nunca se aproximaram do citadino. Com uma invisível barreira de vidro segregacionista, passou a ser entendido pelo residente como “nós” e “eles”. É certo que esta visão social é transversal a toda a classe política nacional. Mas, nas autarquias, sem quebrar este muro transparente, que não se vê mas se pressente, não há descentralização ou regionalização que valha. Deve atacar-se o meio, como princípio de cimento relaccional, e menos o finalizante. O final, bom ou mau, será sempre o resultado dos instrumentos sociais aplicados na prática.
Qualquer presidente, para se aproximar dos cidadãos, deveria levar à prática a consideração individual e colectiva. Como amostra, pelo menos de seis em seis meses, o Salão Nobre da Câmara Municipal deveria ser aberto a todos quantos desejassem interpelar o presidente e todos os vereadores, com e sem pelouro. Numa espécie de prestação de provas semestral, num bate-papo informal, sujeitando-se os eleitos a responder às questões suscitadas, mostrar ao povo que aquela é a casa de todos.
Tomando atenção ao presente, nem vale a pena recordar o que foi a batalha para que o actual detentor do poder, Manuel Machado, receba, por obrigação, os munícipes, cumprindo o estabelecido no regulamento.
Por outras palavras, a meu ver, este divórcio entre os conimbricenses e a cidade assenta em muito em não se “amar” o seu líder. Mas não é só uma questão de mal-amar. É também em reflexo de promessas não cumpridas, obras faraónicas “não inscritas” para ganharem eleições e mal aceites pelo prejuízo que causam aos autóctones -que, se calhar, se não houvesse défice de comunicação, poderiam ser mais bem acolhidas pelo geral.
E ainda mais: o facto de, para deslocações presidenciais, se adquirirem automóveis topo-de-gama, com valores de custo acima do rendimento do trabalhador-médio. Volto a recordar Barbosa de Melo, que, no seu movimento entre-muros, andava de Smart. O exemplo é tudo, digo eu, que já sou velho.

sábado, 26 de outubro de 2019

BAIXA: UM CASO DE APARENTE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Nesta última semana, dia e noite, no Largo da Freiria, na esplanada do restaurante Padaria Popular, os seus lamentos profundos e entristecidos, como picada de faca afiada, pareciam enterrar-se-nos na carne. Cristãos e membros de outras religiões, políticos de direita, centro e liberais, e de esquerda, gentes solidárias de todos os quadrantes, perante um quadro de tamanha consternação, ninguém ousaria ficar impávido e sereno.
O Sérgio Ferreira, o dono do café, bom amigo e de bom coração, preocupado com a situação, pediu-me ajuda. “Ó Luís, não acha que devíamos fazer alguma coisa?” - interrogou. “Implicitamente, estamos perante um declarado caso de violência doméstica. O companheiro expulsou-a de casa. Coitadinha!”. Continua o Ferreira, “e se ligássemos para a PSP? Aposto que mandariam agentes para tomar conta da ocorrência. O que lhe parece?
A vítima, como se tivesse ouvido o apelo do bom samaritano, olhou-nos e, num choro compulsivo, esparramou o seu pranto na calçada de pedrinhas e becos e ruelas em redor.
O parceiro malévolo, adiposo e aparentar soberba, a obstaculizar a entrada, como se fosse dono de todo o prédio, parecia coçar a barriga e gozar com a situação. “Que crueldade”, parecemos nós dizer em troca de um olhar de compaixão. Há seres que são piores que animais!
O cabrão do gato… a expulsar a inofensiva gata do edifício. Às tantas quer saltar-lhe para a espinha e a coitadinha... - pensei para mim em silolóquio, sem ousar falar alto, não fosse alguém ainda queixar-se de mim por insulto a ser senciente.
E o Sérgio insistia: “se chamar-mos a PSP, acha que vem cá? Isto é, garantidamente, violência doméstica!

PARA REFLECTIR...

Nenhuma descrição de foto disponível.

(Imagens de Afonso Madeira)



Segundo uma publicação de Afonso Madeira, A população da freguesia de Almedina em 1950 atingiu o número recorde de 4332 recenseados. A partir daí, sempre a cair, tinha em 2018, pasme-se, 680 habitantes. 
Com a freguesia de Santa Cruz verifica-se o mesmo declínio.
Números que deveriam fazer pensar a Câmara Municipal de Coimbra.

Pegando nos dados fornecidos, Estranha-se a razão de entre as décadas de 1950 e 1970 – uma época de aparente desenvolvimento industrial na cidade de Coimbra – a freguesia de Almedina ter perdido 1372 habitantes e a congénere de Santa Cruz, depois de, em 1960, ter atingido um máximo de 11473, igualmente, ter diminuído o número de residentes em 748.
Podemos lançar achas para a fogueira:

1 - A 14 de Abril 1943 deu-se início à destruição da velha “Alta” para expansão da cidade universitária, dando sequência à aprovação pela municipalidade da planta com relação das expropriações a fazer, a 19/11/1942.
O plano foi concebido e dirigido por Cottinelli Telmo, nos anos de 1941 a 1948, e prosseguido por Cristino da Silva, entre 1949 e 1966. Estes dois arquitectos, além de responsáveis pelo plano geral, tutelaram estritamente o projecto de cada um dos edifícios”. Continuar a ler aqui.

2 – Atingindo nesta altura o apogeu industrial, presumivelmente com o pleno emprego, e tendo em conta que a habitação nestas zonas foi sempre muito decrépita e sem índices de conforto, com maiores rendimentos da população citadina, teria havido forte deslocalização de moradores para outras zonas da cidade.


sexta-feira, 25 de outubro de 2019

BAIXA: A ÚLTIMA CRÓNICA DO MALHADOR

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Por em Fevereiro, deste ano, depois de estar devidamente inscrito para intervir na Reunião de Câmara Municipal e, abrupta e mal-educadamente, a raiar o enxovalho, ter sido impedido pelo presidente da Câmara Municipal, Manuel Machado, afirmei na sessão seguinte que, até me cansar, e os cidadãos passarem a serem respeitados, iria comparecer a todos os plenários subsequentes.
Durante oito meses fui ostracizado de várias formas. Desde a tentativa dos serviços do Gabinete de Apoio à Presidência tentarem obstaculizarem a minha comparência com o argumento de que não plasmei no requerimento de inscrição “Solicitar esclarecimentos”, até permanentes interrupções na minha explanação, incluindo ruído no microfone, por Machado, tudo foi feito para que a minha desistência fosse consumada.
Muitas vezes fui obrigado a engolir a minha frustração para não cair no exagero do insulto qualificado, que algumas vezes pressenti ser essa a intenção do meu interlocutor. Ali, na interpelação entre o cidadão e o presidente da edilidade, o cidadão, para além de se sentir pequenino, está em desvantagem.
Por um lado, é preciso muita segurança para não se ultrapassar as margens exigidas do decoro e poder entrar-se facilmente na ofensa a detentor de cargo político (artigo 184º do Código Penal), cuja pena mínima pode ser de 150 euros. Claro que os políticos abusam desta posição dominante e é aqui que o equilíbrio se torna difícil. Por outro, para se manter firme, o munícipe tem de ser acompanhado de uma forte convicção de missão. Por outro ainda, temos de se ler muito, estar a par do que se vai discutir e, sobretudo, conhecer a lei e os regulamentos que vamos invocar.
Muitas vezes me senti idiota. Fazendo de conta que não notava os olhares de “compaixão”, em especulação, assim no género: lá vem este outra vez. Coitado, não tem trabalho para fazer e vem para aqui chatear quem cá está!
Os meses iam passando e o atraso, senão habitual de mais de uma, duas, três horas depois do tempo regulamentar, e tudo continuava igual. Em cada intervenção, antes de entrar no assunto que me lá levou, dirigindo-me a Machado, fazia sempre uma ressalva: “como é hábito, passam duas horas depois do tempo prescrito, que é às 17h00, o senhor presidente teima em desrespeitar-me. Ao faltar-me ao respeito, por extrapolação, está a fazer o mesmo ao cidadão-comum em que, mesmo sem procuração, procuro representá-lo.
Esta introdução era calculada por mim, com intenção de, através de provocação, cansar o mayor da cidade. Como picado por abelha, o chefe da autarquia começava a revolver-se na cadeira e não tardava com as interrupções. E eu, numa espécie de verbalização para dominar a insegurança, lá proclamava: “não me interrompa, que depois fico nervoso e demoro muito mais tempo.
Os meses iam passando e eu sem ver uma porta que me permitisse sair com dignidade. Já tinha prometido a mim mesmo que iria até 2021, ano das próximas eleições, a menos que acontecesse um milagre, fenómeno que, pela reiterada teimosia e arrogância do presidente, não acreditava.
A oposição continuava passiva e serena. Para além de algumas palmadinhas suaves nas costas, acompanhadas de grande encómio assim no género “parabéns pela persistência”, mais nada fazia.
Foi então que na segunda sessão, ocorrida em 23 de Setembro, para além das minhas palavras sacramentais na introdução, fui mais duro. E perguntei se, com este reiterado comportamento, o presidente pretendia ficar na história como soberano forte, absolutista, por transformar os munícipes em estúpidos – no qual me incluo. Disse também que não gosto do trabalho da oposição acerca desta temática. Perante este continuado achincalhamento dos munícipes – por que eu ali, embora sem credencial para o efeito, represento o cidadão -, a oposição, ali na reunião, pouco se importando com quem está à espera de intervir, não demonstra suficiente revolta.
Foi a pedra de toque de toque para a oposição acordar da letargia e apresentar uma proposta conjunta, subscrita pelo PSD e movimento Somos Coimbra.
O resto já se sabe, nesta última sessão foi aprovada uma moção para que os munícipes sejam ouvidos impreterivelmente às 17h00. Em face disto, como se calcula, a minha missão terminou, pelo menos na comparência sistemática das reuniões. Claro que quando necessário lá estarei presente.
Pode todo o executivo, vereadores com e sem pelouro, dormirem descansados. Para já, livraram-se de uma grande melga.

TEXTOS RELACCIONADOS



quarta-feira, 23 de outubro de 2019

EDITORIAL: O PSD DEVE UMA EXPLICAÇÃO AOS CONIMBRICENSES

(Imagem desviada da Web)




Coimbra é uma cidade que, fechando-se ao conhecimento geral
- uns porque deliberadamente ignoram, outros porque não têm
acesso à informação –, não participa, ou participa mal. O resultado desta falta de
erudição é o lamento permanente de que, na área cultural, por exemplo,
nunca acontece nada”


1 – No dia 07 de Outubro, na sala das sessões da Câmara Municipal de Coimbra, pela mão de Paulo Leitão, líder da bancada do PSD, foi distribuído um comunicado à imprensa (e ao único munícipe presente no compartimento, no caso eu) onde constava o teor de uma proposta de alteração ao Regimento das Reuniões para ser discutida na reunião seguinte, nesta última Segunda-feira. A proposição era uma acção conjunta do movimento Somos Coimbra e do PSD e visava acabar de vez com o continuado desrespeito que a maioria socialista manifestava para com os cidadãos intervenientes. Desde uma até cinco horas, os poucos munícipes que se aventuravam a intervir tinham de gramar a pastilha e, contra o prescrito no regulamento, esperar para o fim da sessão para serem ouvidos. O resultado deste martírio foi o número de inscrições ter caído a pique desde que o PS ganhou a autarquia conimbricense, em 2013 (pode consultar aqui números precisos após análise exaustiva às actas);


2 - Estranhamente os jornais, diários e semanários, publicados na cidade, em papel e online, nunca referiram esta proposta conjunta da oposição, nem o fim a que se propunha. O porquê de não serem imparciais e manterem uma equidade necessária e continuarem fechados à informação política que os leitores têm direito, só os directores destes meios de informação poderão responder. Convém esclarecer que, salvo raras e honrosas excepções, sempre foi assim. O que se passa hoje, com os socialistas na cadeira presidencial, não é um fenómeno novo. Mudam os governos na Câmara Municipal e a implícita protecção ao poder mantém a bitola. Lá nisto, na sistematização de procedimento, ninguém poderá dizer que os media não são coerentes. Coimbra é uma cidade que, fechando-se ao conhecimento geral - uns porque deliberadamente ignoram, outros porque não têm acesso à informação –, não participa, ou participa mal. O resultado desta falta de erudição é o lamento permanente de que, na área cultural, por exemplo, nunca acontece nada;

3 – Em 17 de Outubro, na Página da Câmara Municipal de Coimbra (Não Oficial), no Facebook, o movimento Somos Coimbra publicou um comunicado a insurgir-se contra a não aceitação da proposta:

"Somos Coimbra partilhou uma publicação.
Ordem de Trabalhos da próxima reunião da Câmara de Coimbra
Repare-se que o Partido Socialista recusou agendar para esta reunião da Câmara a proposta de agendamento apresentada em conjunto pelo PSD e SC, sob a forma de requerimento, para alteração do Regimento das reuniões da Câmara no sentido de fixar a hora de intervenção do público para as 14.30, evitando assim que os munícipes sejam obrigados a esperar horas pela sua intervenção.
É a habitual falta de respeito pelas pessoas. Será para a próxima reunião? Porque não foi nesta?...
Mais uma vez os meios informativos locais não publicaram uma vírgula sobre esta notícia do Somos Coimbra;

4Nesta última Segunda-feira, 21 de Outubro, dia da reunião camarária, José Manuel Silva (JMS), coordenador do Somos Coimbra e vereador sem pelouro com assento parlamentar, à boca da reunião, apercebendo-se que, afinal, a proposta foi agendada mas sem o documento do que era proposto. Ou seja, o assunto foi incluído, mas a proposta não constava da Ordem de Trabalhos. Logo que notou, alegadamente, JMS, embora mantendo a data anterior, corrigiu o post no Facebook com o seguinte teor:
OT da próxima reunião da Câmara de Coimbra
Corrigimos a informação anterior, com um pedido de desculpa pelo equívoco. O tema do regimento da Câmara foi agendado no ponto I.2, mas o documento proposto não foi distribuído, estando agora a ser fotocopiado para ser distribuído por todos os vereadores. A partir de hoje, dia 21, inclusivé, a hora de intervenção do público será rigorosamente às 17h. Uma pequena vitória para a democracia”;

5 -Segundo os dois diários da cidade, numa prosa, curta e ininteligível, que, como não havia sido disponibilizada e publicada toda a informação anterior, obrigava a ler várias vezes para compreender o que tinha acontecido, tudo se tinha modificado.
Citando o Diário de Coimbra, “a alteração ao regimento das reuniões da Câmara Municipal de Coimbra que os vereadores do PSD e do movimento Somos Coimbra (SC) defendiam não foi aprovada (…)… (…) o presidente Manuel Machado colocaria à votação o actual regimento, que dá cinco dias de preparação do processo, mas com a obrigatoriedade de interrupção sensivelmente às 17h00. A proposta da maioria (socialista) seria aprovada com os votos contra de Madalena Abreu e Paulo Leitão (PSD) de José Mnauel Silva e Ana Bastos Silva (SC) e de Francisco Queirós (CDU). No momento da votação estava ausente da sala a vereadora Paula Pêgo (PSD”;

6Depois de ler várias vezes a notícia para perceber a lógica e o encadeamento, entrando a respiração num processo normalizado, é então que o leitor leva a mão ao peito e, em solilóquio interrogativo, exclama:
Espera aí! O que é isto? Estou outra vez sem entender nada. Vamos recapitular: Os vereadores do PSD, conjuntamente com os do SC, propõem o agendamento de uma alteração ao Regimento das Reuniões (parar para respirar).
Na hora da votação, uma vereadora de um dos partidos propositor ausenta-se da sala. Seria assim? Como? Porquê? (respirar outra vez);

7No mínimo, enquanto segundo grande partido democrático, pelo respeito merecido por parte dos seus eleitores e simpatizantes, pela transparência, o PSD de Coimbra deve explicar tudo muito bem explicadinho o que motivou a saída antecipada da vereadora Paula Pêgo da votação, e dando a vitória ao opositor numa bandeja de prata;

8 – Numa altura de grande esforço na reorganização do partido, serenamente, pelo esclarecimento público, sobretudo para evitar especulações desnecessárias e altamente prejudiciais, ficamos a aguardar um comunicado da Concelhia de Coimbra do Partido Social Democrata;
Por parte da imprensa, como já nos habituámos e não esperamos nada de alterações para melhor, podem continuar na mesma. Mas, depois, procurando receber com a mão fechada de pouco dar, não repitam mais petições públicas para novas formas de financiamento estatal e não continuem a reclamar que cada vez mais há menos assinantes e se vendem menos jornais.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

BAIXA: CRÓNICA DO MALHADOR (17)




Tal como já tinha previsto neste texto, a maioria socialista, para não encravar o vereador comunista, Francisco Queirós, cedendo à proposta de alteração do Regimento das Reuniões da Câmara Municipal, preferiu fazer uma pirueta e, finalmente, finalmente, finalmente, passou a interromper a sessão às 17h00. Até 2016 foi assim. As perguntas que emergem é: por que raio tardaram tanto? Era preciso rodopiar entre o comunismo e o socialismo para repor uma situação que, afinal, é mais que justa? Para mim, que não sou político no sentido lato do termo, sendo cidadão, fico satisfeito com a medida anunciada. Gostaria de sublinhar que esta alteração só se verificou pelo envolvimento da oposição, movimento Somos Coimbra e PSD. E também um agradecimento ao Fernando Moura, do jornal online Notícias de Coimbra. Para estes, o nosso aplauso. Como já referi anteriormente, acabamos todos a ganhar. Como proferi no hemiciclo: ALELUIA. ALELUIA!
E agora vamos ao assunto que me levou à sessão: o estranho caso dos três bancos desaparecidos em Agosto. Estranhe-se, ou não, nesta última Quinta-feira foram recolocados novos assentos. Segundo Manuel Machado, a responsabilidade foi da União de Freguesias de Coimbra que os retirou em Agosto para serem recuperados. Estranho, digo eu, que não sou político. A ser assim, substituindo por novos equipamentos, por que raio duraram dois meses? Mais ainda, só há cerca de duas semanas é que taparam os buracos deixados na calçada e agora, colocando novos assentos, voltaram a abrir os buracos. Faz sentido? 
Especulando, vou explicar como teriam acontecido as coisas: Há uma semana fiz a inscrição na Divisão de Atendimento e, como é obrigatório, declarei o assunto que me levava a intervir em sessão de Câmara. Como é óbvio, para se inteirar, alguém do Gabinete de Apoio ao Presidente ligou para a União de Freguesias de Coimbra (UFC). Esta entidade, mais que provável, que mandou remover os antigos com intenção de não recolocar outros em seu lugar, instigada pela autarquia, a toda a pressa, instalou outros novos. Como é de perceber, quer à UFC, quer à edilidade, interessava-lhes esvaziar a minha intervenção. Engulo a muito custo, mas é mesmo assim. O interesse egoísta, pessoal e partidário, esta sempre acima do interesse público. O que me custa a entender é a razão do comerciante (no caso, uma senhora), depois de ter falado comigo na Quarta-feira, não me ter avisado que no dia seguinte havia bancos novos no lugar dos antigos. Enfim! Só soube na reunião que a situação anterior tinha sido reposta.
Faça ou não sentido, o que importa é que a anómala situação foi normalizada e, com este acto, ganhamos todos. Verdadeiramente, este é o fim que deve interessar.


POST- SCRIPTUM - Na posse dos dados que detinha, ontem, Segunda-feira, publiquei esta introdução onde enalteci o papel da oposição na alteração do procedimento camarário. Acontece que hoje, ao ler os jornais da cidade, fiquei incrédulo com o que aconteceu. Afinal a oposição, nomeadamente o PSD, em jogos de poder de bastidores, não merece o elogio que lhes teço. O que aconteceu ontem foi uma vergonha – mas, sobre este caso, escreverei uma crónica a seguir.

E agora, deixo então o texto que li na Reunião de Câmara:


Ex.mo Senhor Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, senhores vereadores:
Conforme é do conhecimento de Vossas Senhorias, na qualidade de munícipe, tenho vindo a trazer às Reuniões da Câmara Municipal assuntos de interesse geral para a comunidade, sobretudo tópicos relaccionados com a Baixa da cidade. No desempenho do direito constitucional de participação política, como princípio de cidadania, entendo ser meu dever sugerir, questionar, ou até “pedir explicações”, conforme reza imperativamente o Regimento para criar barreira, limitando o acesso ao cidadão.
No caso de hoje, sem preâmbulo para incidir directamente e não perdermos muito tempo com considerações desnecessárias, vou falar de um tema que, estou em crer, passou despercebido a quase todos os munícipes. Em Agosto, na Rua das Padeiras, ao fundo, junto à Avenida Fernão de Magalhães, em frente a Farmácia Santa Cruz, inopinadamente,
foram removidos três bancos de madeira e estrutura em ferro, que, instalados ali vão para muitas décadas, tal como os congéneres de jardim, serviam para os transeuntes descansarem, sobretudo idosos e outros com problemas de saúde motora. Sabendo nós que a Baixa não tem muitos pontos de apoio onde se possa pôr os pensamentos em dia, causa alguma perplexidade a retirada abrupta daqueles comunitários assentos onde, carregados de histórias para contar, pregados ao chão junto de várias árvores cameleiras, cobertos pela sombra num tempo de canícula, era um prazer indescritível ouvir os passarinhos.
Sem epitáfio que lhes valha, pelos vistos os bancos morreram. Mas, pergunto, o acto que levou ao seu desaparecimento foi acompanhada com um parecer técnico? Estes equipamentos, de valor social, amparo humano e espaço de liberdade, não deveriam ser para preservar numa zona antiga? Provavelmente nenhum dos senhores se lá sentou enquanto existiram naquele local abençoado, mas conseguem imaginar a falta que fazem? Avaliam a carência, não avaliam?
Tentando ser o mais exacto na informação, consegui saber que uma senhora comerciante naquela artéria, durante o mês de Agosto constatou uma frequência diária anormal de indivíduos sem-abrigo que permaneciam instalados nos assentos durante o dia e noite a dormir. Segundo alegações da lojista, “por um lado, a imagem que passava para a paisagem urbana era degradante, por outro, estava muito preocupada com o destino destas pessoas. Vai daí, liguei para várias instituições de apoio aos sem-tecto para se ocuparem destes pobres sem eira nem beira. Liguei também para a Câmara Municipal a dar conta do que se passava. Para minha surpresa, incredulidade e até tristeza, no dia seguinte assisti à retirada dos bancos que sempre me fizeram companhia. Hoje, no seu lugar estão três automóveis estacionados diariamente. Eu nunca pedi a remoção, nem contribui para esta solução”, afirmou a senhora.

Agora falo eu, senhor presidente da Câmara Municipal. V. Ex.ª, na qualidade de responsável político pelos actos administrativos, teve ou tem conhecimento deste incompreensível furto à qualidade de vida dos moradores da Baixa? Vai mandar instaurar um inquérito? Diga-me, a bem desta parte histórica, tenciona mandar repor estes instrumentos de paz e tranquilidade?


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