quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

BAIXA DE COIMBRA: ACEITAM-SE SEM-ABRIGO, BOM ACOLHIMENTO E MUITOS APOIOS

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)





1 – Há dias, um meu conhecido atirou-me com esta: “ó pá, estou indignado! Veja bem que fulano tal, que comprou há dias o prédio na rua (…) por 600 mil euros e está a negociar outro ali na (…) por 400 mil euros, vai comer à Cozinha Económica. Você não acha isto uma indecência?
Franzindo a fronte, sem responder por palavras à questão formulada, fiquei a matutar no que, provavelmente, será um caso isolado. Porventura, será mesmo?
A dar cobertura a uma indigência fingida de muitos e de apoios públicos a rodos, que tudo indica serem de mais, está acontecer qualquer coisa que não bate certo e, pelos vistos, quem devia fiscalizar, perdendo o norte no mar imenso da solidariedade, está a perder o controlo do porta-aviões.
2 - Hoje, na edição em papel, o semanário Campeão das Províncias noticia: “Cidadãos sem-abrigo: CMC abre caminho para resposta mais abrangente”.
Continuando a citar o jornal, “A Câmara Municipal de Coimbra deliberou, anteontem, abrir caminho para melhoria da resposta aos cidadãos sem-abrigo ao viabilizar a constituição do Núcleo de Planeamento e Intervenção (NPISA).
O organismo, a coordenar pela autarquia, aspira à promoção de uma “abordagem integral da problemática das pessoas em situação de sem-abrigo, da saúde mental à física, passando pela habitação, ocupação, trabalho, formação e ensino e integração cultural e social”, indica a Assessoria de Imprensa da CMC.
(…) A criação do NPISA de Coimbra, a formalizar mediante protocolo a outorgar pela CMC e por outras entidades, visa a articulação e intervenção em rede de todas as instituições que têm vindo a trabalhar nesta área.
(…) O protocolo a outorgar pela CMC irá abranger a Segurança Social, Administração Regional de Saúde do Centro, Associação das Cozinhas Económicas da Rainha Santa Isabel, Associação Integrar, Associação Nacional de Apoio a Jovens, Cáritas Diocesana de Coimbra, Fundação Assistência Médica Internacional, Venerável Ordem Terceira de São Francisco, Casa Abrigo do Padre Américo, Centro de Acolhimento de João Paulo II, Associação “Casa”, Associação Todos pelos Outros, Associação O Ninho da Mariazinha, Instituto de Emprego e Formação Profissional, Cruz Vermelha Portuguesa e Fundação ADFP.”
Ou seja: em síntese, estão implicadas 3 (três) entidades de apoio generalista, ou transversal, a Segurança Social, a Administração Regional de Saúde do Centro e o Instituto de Emprego. Em apoio directo no terreno, ou específico, estão representadas 13 (treze) instituições.
3 Para além das associações citadas, a CMC, no início de 2015, implementou o Fundo de Emergência Social. O Fundo de Emergência Social (FES) é uma medida de apoio social, implementada pela Câmara Municipal de Coimbra, em articulação com as Comissões Sociais de Freguesia (CSF), através de protocolo, que visa a proteção de indivíduos e /ou agregados familiares em situação de grave ou emergente carência social e económica ”.
Em 2017, este programa teve uma cabimentação de 100 mil euros. Desconheço se continua em execução e qual a inscrição para o ano em curso.
Em Abril de 2017, nessa altura ainda candidato à presidência da CMC, Jaime Ramos, presidente da ADFP, de Miranda do Corvo, inaugurou ao fundo do parque da cidade de Coimbra o projectoSem-abrigo Zero Casa da Dignidade”, uma nova valência de apoio aos “descamizados”. Era seu opositor, Manuel Machado, que viria a ganhar a cadeira da autarquia. Com imputações variadas e ao sabor de cada interveniente, estalou a guerra entre os dois, com Ramos a acusar a edilidade de a sua nova criação ter sido “saneada do PISAC”, projecto que funciona nas instalações da edilidade e tem por âmbito assegurar respostas aos sem-abrigo.
Em Dezembro de 2018, o projecto “Sem-abrigo -Zero” foi contemplado com um subsídio de 19,257.61 €.
Ainda em Dezembro de 2018, Na mesma publicação institucional da Câmara, foi concedido um apoio financeiro de 10,245.92 € ao Centro de Acolhimento João Paulo II.
Embora não contem para este campeonato, para além do que se mostra, há vários movimentos particulares de grupos e indivíduos a solicitar apoios aos sem-abrigo de Coimbra.
4 – Em 2009 havia em Coimbra 6 (seis) entidades que se ocupavam de um universo de 30 (trinta) sem-tecto.
5 – Segundo a SIC, em 2010 havia em Coimbra 593 (quinhentos e noventa e três) desabrigados.
6 – Segundo o Jornal de Notícias, em 2011 havia em Coimbra 200 (duzentos) sem-telha.
7 – Segundo a SIC, em 2014, em reportagem realizada na cidade, foi afirmado que havia em Coimbra 739 (setecentos e trinta e nove) sem-abrigo e 10 (dez) instituições no ano anterior, em 2013.
8 – Em Fevereiro de 2018, Manuel Machado, presidente da CMC, afirmou que estavam sinalizados na cidade 37 (trinta e sete) sem-abrigo.
9 – Conforme escrevi em cima, sobre a notícia de hoje plasmada no Campeão das Províncias, existem na cidade 13 (treze) entidades que interagem directamente com os mais necessitados.
Dando como certas as declarações de Manuel Machado de que havia (em 2018) na cidade 37 (trinta e sete) sem-sorte, quantos cabem a cada uma das 13 (treze) associações?… Deixe ver… deixe ver… é só fazer as contas!
10 – Termino com a pergunta: os sem-abrigo são um bom negócio para alguns, não são? Será preciso um novo olhar a bem de todos? Já agora, sem abusar da sua paciência, leitor, quanto cabe a cada contribuinte?


ARTIGOS RELACCIONADOS

"E SE..." (A REALIDADE DOS SEM-ABRIGO EM COIMBRA)"
"SIC: SEM-ABRIGO EM COIMBRA"
"PROJECTO SAÚDE SOBRE RODAS -APOIO À POPULAÇÃO SEM-ABRIGO"
"RTP NOTÍCIAS - SEM-ABRIGO EM COIMBRA"

O VALE TUDO DE SANTANA

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e texto


A HIPOCRISIA DE SANTANA LOPES MUITO BEM APANHADA PELO PNR.
É O VALE TUDO EM NOME DA "SANTA ALIANÇA".
EMBORA NÃO SEJA SURPREENDENTE, É UMA PENA, DIGO EU!

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

A TVI E A TENTATIVA DE RESVALAR A SOCIEDADE PARA A FOSSA

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Ontem, a TVI, num trabalho de responsabilidade da jornalista Alexandra Borges, presenteou-nos com uma reportagem sobre abuso sexual de menores.
Sob duas frases interrogativas - “Pode um professor condenado por abuso sexual continuar a dar aulas? Pode uma educadora de infância condenada por lenocínio ter uma escola?” -, a peça consubstanciava a resposta em dois factos: um, o de um professor condenado a três anos com quatro de pena suspensa estar a dar aulas numa escola de Avanca, Aveiro, e, outro, o caso de uma senhora condenada a três anos de prisão efectiva, por se ter envolvido sexualmente, juntamente com o amante, com crianças.
Já que apareciam com tarja no rosto, se na identificação dos envolvidos nada há a apontar ao canal de Queluz de Baixo, já ao serem mostrados os locais de trabalho dos condenados, e numa das situações, ter dado aso a uma entrevista ao director do agrupamento, a meu ver, deixa muito a desejar e é deveras criticável no que toca ao sentimento de justiça - antes de prosseguir vou clarificar o que entendo por “sentimento de justiça”. Dividindo em duas partes, “sentimento” e “justiça”, vamos começar pelo primeiro. De grosso modo, sentimento é a emoção que todos os seres biológicos sentem na sua vivência quotidiana, a dormir ou acordados. “Todos os seres humanos nascem com um senso inato de valores positivos e negativos”.
Os positivos, como exemplo, entre outros, podem ser a justiça, honestidade, verdade, beleza, humor, vigor. Os negativos, como exemplo, podem ser o contrário da lista de positivos, ou seja, a injustiça, a desonestidade, a mentira, a falsidade, a feiura, a sisudez, a languidez.
Mas há uma questão que marca toda a diferença: embora todos nasçamos com um senso inato, nem todos o aferimos da mesma maneira. Isto é, o que é positivo (justo) para uns pode perfeitamente ser negativo (injusto) para outros.
Por outro lado, Justiça, embora reacção (sentimento) que os humanos expressam, é também um conceito abstracto, um estado ideal de inter-acção social, juízo ou opinião, onde predomina o equilíbrio imparcial entre os interesses das partes em confronto. Por ser um intuito automático em cada um de nós, daí ser considerado por Cícero a maior virtude das virtudes.


SEM ESQUECER O FIO CONDUTOR

Voltando à reportagem da TVI, vamos por partes. Se o canal privado, na peça, tinha por objecto alertar os telespectadores em geral para o abuso sexual de menores e a forma como o Ministério da Educação encara a guarda das crianças em escolas deveria fazê-lo sem particularizar, não mostrando pessoas ou instituições. Isto sim seria serviço público. Uma coisa é exigir que o Estado, através de colocação de psicólogos nas escolas, cumpra a parte que lhe cabe na prevenção e guarda das crianças, outra é criar fantasmas em cada recanto dos centros de convivência escolares.
Pelo contrário, como fez, ao distinguir os actores -mesmo com sombreado no rosto – e precisar os estabelecimentos de ensino, isto foi provocar alarme social. Por conseguinte, em nome de um aparente bem maior que é a defesa das crianças, a televisão, envolvendo todos no mesmo saco e sem respeitar regras de ética e moral, perseguindo apenas uma intenção de manipulação, transforma a sua própria desregulação como justa e as normas da justiça e princípios da tutela da educação como injustas. Não podemos esquecer que este meio de informação, embora privado mas de carácter público, é formador de opinião, por isso mesmo deve ser isento. Ora, como se calcula, ao apresentar o programa embrulhado em laivos de sensacionalismo e já vinculado a um pensamento único elaborado pela jornalista ou redacção, não deixa espaço para a conjectura social. E este contraditório, com hiato para isso acontecer, é imperioso, exige-se que exista.


PROVAVELMENTE SÓ EU VEJO ASSIM


Bem sei que a maioria não vai concordar que o que estou a plasmar, mas tratar alguma casuística como geral é um caminho perigoso, aliás, perturbador da ordem social.
Por outro lado -e já bati na mesma tecla no caso da reportagem da TVI sobre Manuel Maria Carrilho -, a jornalista, como princípio do seu Código Deontológico, mesmo após o transitado em julgado, pelo humanismo inerente à função profissional, deve salvaguardar a presunção de inocência dos sancionados para casos futuros. Aliás, na peça informativa é dito que foram condenados por abuso sexual de menores 5758 pessoas e só 436 reincidiram. Ou seja, menos de 10 por cento voltou a cair no mesmo erro. Afirmar-se que estas pessoas, depois de pagarem na justiça pelas suas falhas, não estão aptas, ou não têm capacidade para trabalharem com crianças é um juízo abusivo.
Em tese, na generalidade, com as coisas vistas desta maneira, qualquer sentenciado em trânsito em julgado não poderia trabalhar mais na sua área profissional. Não é assim, porque cada caso é um caso. Não se deve julgar todos pela mesma bitola narcisista.
Claro que não será despiciente duas premissas importantes: a primeira, é que, enquanto mensagem, o abuso sexual de crianças, pelo temor e pânico que gera na comunidade, passa imediatamente sem obrigar a uma reflexão. A segunda, creio, é o facto de a castração química para predadores sexuais estar a entrar nas nossa casas por via do “Chega”, com estatutos entregues no Tribunal Constitucional e partido a formar ainda por André Ventura.
Para terminar, esta forma de tratar a excepção como regra é perversa. É certo que não vivemos numa sociedade perfeita, onde a contra-ordenação surge ao virar da esquina, mas não podemos esquecer a integração de quem prevaricou.

ARTIGO RELACCIONADO

"Jornal Público: Violência Sexual sobre crianças"

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

5 – HISTÓRIAS AO VIRAR DA ESQUINA: “MONSIEUR VELHUSTRO”

(Imagem de arquivo)





Decorria a década de 1980 a bom ritmo, nem me passava pela cabeça que anos mais tarde enveredaria pelo mesmo ramo de negócio, quando, pela primeira vez, travei conversa com o Carlos Manuel Dias no Largo do Romal, no rés-do-chão de um prédio que, cerca de cinco anos depois e ainda nos gloriosos anos oitenta, viria a ser demolido pela autarquia para alargar uma das mais pitorescas pracetas da Baixa de Coimbra. Após o desmantelamento do prédio passou para o Pátio do Castilho, junto ao Arco de Almedina. Como ficava mais próximo do meu estabelecimento, na altura, volta e meia lá lhe fazia uma visita e comprava uma velharia. Sempre senti uma fascinação absolutamente incontrolável por tudo o que sejam peças antigas. Ao longo da minha vida, lembro-me, sempre que em viagem encontrava uma placa a indicar coisas velhas, imediatamente parava. É inevitável esta ligação a objectos que marcaram o passado passado e passado recente. Basta apenas que sejam originais e singulares.
Nunca foi acessível estabelecer conversa com o “senhor Carlos do Velhustro”, como sempre foi carinhosamente conhecido. Homem de argumentos eloquentes, convicções poderosas e ideias feitas acerca de tudo o que o rodeava, não era fácil condescender e apanhar a sua flexibilidade. Sem aparente filiação ideológica, não era fácil de chegar ao pensamento crítico interior que o movia. Talvez fosse um anti-sistema ou, sei lá, um anti-poder instituído, no sentido que, embora não o afirmasse claramente, sabia que toda a autoridade corrompe e pode ser corrompida.
Com o seu bigodinho fino por cima do lábio superior, numa mistura entre a sedução de Errol Flyn e a intransigência do escritor filósofo e romancista Albert Camus em aceitar de ânimo leve as correntes existencialistas e marxistas, a verdade é que, fosse pela imagem, fosse pela sua idiossincrasia, Carlos Dias - sem o ser - foi sempre um “intelectual”, um figurão respeitado na sua área profissional e até pelos presidentes camarários que se foram sucedendo na cidade.
Nos últimos anos da década de 1980 voltou novamente ao Largo do Romal onde ainda hoje mantém o estabelecimento identificado, com placa alusiva, como “Velhustro”. Juntamente com o apoio da direcção da Escola Silva Gaio e o do Departamento da Cultura, da Câmara Municipal de Coimbra, em 1991, fundou a “Feira dos Trastes”, na Praça do Comércio. Mais tarde este popular certame passou a chamar-seFeira das Velharias de Coimbrae ganhou uma Comissão de Feira composta pela Câmara Municipal de Coimbra/Departamento de Cultura, Junta de Freguesia de São Bartolomeu, Polícia de Segurança Pública, Escola C+S Silva Gaio, Grupo de Arqueologia e Arte do Centro e o “Velhustro” - como se sabe, a mando da edilidade, este popular evento adeleiro, em Julho do ano passado, foi transferido para o Terreiro da Erva. Notoriamente a extinguir-se aos poucos, em farrapos de memória - o Diário de Coimbra deste último Domingo, em bom trabalho jornalístico de uma página, disso dava conta -, era bom saber se as entidades constituídas em Comissão de Feira foram consultadas. Uma coisa tenho a certeza: fosse o dono do “Velhustro” mais novo e estivesse de boa saúde jamais permitiria que fosse feita uma trasladação tão absurda da menina dos seus olhos.
Prestes a comemorar 95 anos, apesar disso e da sua natural fragilidade inerente ao peso da vivência, o estimado Carlos Dias conserva a sua peculiar lucidez. Segundo um familiar directo com quem falei, “sofreu recentemente uma pequena cirurgia mas está muito bem! Devido ao frio que se tem feito sentir, e para não se constipar, mantém-se em casa. Mas, embora tenha de ser acompanhado, um dia destes vai andar por aí, pela Baixa.”
Pelo significado, pela importância carismática que marcou a ferros a nossa memória colectiva contemporânea, o nosso amigo da arte vária, por direito próprio conquistado, merece fazer parte da nossa galeria “Rostos Nossos (Des)conhecidos”. Muita saúde, e muitos anos de vida, senhor Carlos Dias!

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

BAIXA: FALECEU A MINHA VIZINHA ELSA





Durante os últimos anos, entre uma troca de cumprimentos diários e uma conversa curta a narrar coisas da vida, foi uma confinante presente a dar substância ao meu largo. Afinal, sem indivíduos, para que servem os lugares que têm por objecto serem habitados? Como se as comunidades fossem jardins, o povo, no seu encanto natural, são as flores silvestres que, na sua diversidade, conferem uma panóplia de cor, de cheiro e de animação. Tal como as plantas, no imenso mistério que a natureza carrega ao não se prever o derradeiro, as pessoas nascem, crescem e morrem. E foi o que aconteceu com a minha convizinha Elsa Maria Ribeiro Fernandes. Com apenas 57 anos, depois de um breve período em doença prolongada, foi chamada a prestar contas. Hoje, depois das cerimónias fúnebres às 15h30, será sepultada no Cemitério de São Martinho do Bispo.
A nossa proximidade estreitou-se quando, em Agosto de 2016, sem o querer, acabei por ser parte integrante num incidente grave, entre vizinhos, que envolveu um seu filho e quase o mandou também para o outro lado. Felizmente, tudo correu pelo melhor.
Embora eu percebesse o definhamento físico da Elsa, por vezes, ela aparentava não se dar conta e parecia querer prolongar a sua existência o mais possível. Quando lhe perguntava como se sentia, respondia-me que “melhorzita, graças a Deus, senhor Luís!”. Uma ou outra vez, em recortes de catarse existencial, talvez mais sorumbática e a adivinhar que o comando da sua vida não estava nas suas mãos, respondia: “quando partir, levo no coração os meus filhos! Em balanço interior, muito próprio de nós mais velhos, estabelecemos sempre um conflito moral e interrogamos: será que fizemos tudo o que devia-mos? Mas, se não fizemos, os nossos filhos também têm obrigação de nos perdoar, não acha, senhor Luís? Amanhã também serão pais, não é assim?"
Em meu nome pessoal e em nome de toda a vizinhança, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames a toda a família da Elsa. Descanse em paz, vizinha!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

BOM DIA, PESSOAL...

BAIXA: FALECEU O NICOLAU, UM DOS NOSSOS COMPANHEIROS





Conforme os anúncios necrológicos, um publicado no Diário de Coimbra de hoje e outro exposto no mural da Praça 8 de Maio, tomámos agora conhecimento do falecimento e funeral, hoje, do Mário Ferreira Nicolau, de 76 anos, nosso respeitado companheiro nas lides comerciais durante muitas décadas.
Pessoa afável e muito conhecida na Baixa, o Mário trabalhou mais de meio-século no último bazar da cidade: o Bazar de Portugal, na Rua da Gala. Durante cerca de vinte e cinco anos como funcionário do fundador do estabelecimento, o saudoso Fernando Dourado, e outros tantos como proprietário, o Nicolau encerrou a “menina dos seus olhos” em 2013, ano de grande razia comercial, com várias dezenas de fechos de lojas na Zona Histórica.
Para além disso, contava-me ele em 2009, quando escrevi a história resumida da sua vida, foi atleta do Sporting Nacional, agremiação já desaparecida com sede no Largo da Freiria, e que comemoraria um século em Novembro, próximo. Enquanto futebolista da popular colectividade desportiva, militou nos campeonatos distritais da época.
À sua esposa, filhos e restante família, em meu nome pessoal e em nome da Baixa, se posso escrever assim, as nossas sentidas condolências nesta hora de profundo sofrimento. Até sempre Mário! Até um dia, meu caro amigo!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

EDITORIAL: BAIXA DE COIMBRA, UM INSEGURO BARRIL DE PÓLVORA




Como se sabe, e conforme foi notícia em tudo o que é jornal, rádio e televisão, na madrugada do último Sábado o fogo consumiu completamente um edifício desabitado de pessoas no Largo das Olarias, de frente para a Loja do Cidadão e paralelo à Rua da Moeda.
Vamos analisar este incêndio a dois níveis: origem e consequência. Comecemos pelo primeiro nível, ao que tudo indica a origem é criminosa. Segundo declarações de uma comerciante de etnia cigana que faz parte do grupo que ganha a vida a vender roupas e sapatos no Largo da Maracha desde Julho, do ano passado, “Foi fogo posto! Embora tenhamos aí algumas pessoas que ajudam a arrumar a tenda todos os dias, só nós, os vendedores, é que tínhamos a chave de ingresso ao armazém. Tanto é assim que os bombeiros encontraram o cadeado fechado”. Continuando a citar a senhora, “Nós ocupávamos o depósito com permissão da senhora, a proprietária, e, porque já estava estabelecido, até íamos sair daqui proximamente”.
Ou seja, se em tempos lá dormiu um desabrigado – e que, alegadamente, se encontra alojado na Casa Abrigo de Coimbra, agora não se acolhia lá qualquer pessoa. Portanto, juntando os prós e contras, tudo indica que o fogo no armazém foi premeditado. Sem pretender lançar mais achas para a fogueira, e para que não caiam suspeitas ao desbarato na concorrência, é preciso, obrigatoriamente, que a Polícia Judiciária, dando-lhe alguma prioridade, descubra o(s) criminoso(s). Até para prevenir futuros casos análogos, é preciso não remeter este assunto para as calendas do arquivamento por falta de provas. Mais, se o(s) causador(es) da tragédia tinha(m) por objectivo prejudicar amplamente os ambulantes, vai haver repetição em outros prédios das redondezas.
Sabe-se pouco mas, sem sermos investigadores, consegue apreender-se alguma coisa. Levando as declarações da vendedora como verdadeiras, dá para ver que o desastre não teve por fim desocupar o espaço a toda a força. Naturalmente, caindo esta premissa por terra, dá para apreender que a intenção era arrasar a a venda do grupo cigano – claro que não se exclui também a hipótese de se tratar de conflitos internos, entre eles.
E vamos avaliar o segundo nível. Acompanhado de 28 fotos, fomos confrontados hoje na Internet com um pedido de ajuda de António Madeira, proprietário da Hospedaria Moeda, estabelecimento em prédio contíguo ao edifício onde deflagrou a ignição. Escreveu Madeira no Facebook:

A "MENINA DOS MEUS OLHOS" ESTÁ GRAVEMENTE FERIDA E CASO A INTERVENÇÃO CIRÚRGICA NÃO SEJA EFETUADA RAPIDAMENTE, PODERÁ MESMO SER-LHE DECLARADO O ÓBITO.
Dos 16 quartos existentes, apenas quatro estão aptos a funcionar. (1 de casal, 2 triplos e 1 familiar).
Boa vontade dos intervenientes não chega, é preciso actuar JÁ SEM DEMORAS.”


Com vários andamentos, e começando pelo primeiro, é deste apelo sentido que vamos partir. Sem saber detalhes, é de supor que o meu amigo Madeira está atado de pés e mãos por, presumidamente, a companhia de seguros que cobre os seus estragos não pagar enquanto não houver conclusão do processo. Por conseguinte, provavelmente, sem ter qualquer culpa no cartório, foi apanhado pela onda obrigacional e burocrática que não se compadece com quem tem de ganhar a vida.
Segundo andamento: sem saber pormenores, é de pressupor que alguns vendedores ciganos ficaram desprotegidos pela fatalidade. Uma desgraça é sempre uma calamidade seja lá para quem for.
Terceiro andamento: a maioria das edificações centenárias da Baixa, tal como esta agora tocada pelo infortúnio, são constituídas por pisos assentes em sobrado de madeira e paredes separadoras em enxaimel – técnica de construção antiga onde a madeira entrelaçada predomina. Em resultado desta combustão que perpassa facilmente a outras divisões e outros prédios contíguos, as seguradoras não aceitam dar cobertura. Como tal, talvez dois terços da construção existente na Zona Histórica está entregue à sua sorte.
Quarto andamento: é urgente o executivo municipal chamar a si a resolução deste premente problema de elevada gravidade. E como é que se pode resolver? Contactar uma companhia de seguros que, contra um prémio razoável para os inscritos, aceite criar um seguro colectivo de indemnização rápida, uma espécie de fundo-segurador de garantia que vise acudir aos mais débeis. Dividido entre pequenos e médios operadores comerciais, proprietários e inquilinos, era uma forma de evitar futuras adversidades como a que parece estar a verificar-se.


DEIXEMOS O ESPÚRIO E VAMOS AO QUE INTERESSA


Como se sabe, partindo deste fogo na Baixa, está no ar uma guerra entre as Concelhias do CDS/PP e do PS. Sem pretender faltar ao respeito aos intervenientes, como quem diz, um desaguisado entre comadres em ano de eleições, o que discutem eles? Com base nesta conflagração, trocam galhardetes em torno dos Bombeiros Sapadores de Coimbra. Uma das representações, o CDS, afirma que a corporação não está adequada às exigências da cidade, a outra, a do PS, como se estivesse a jogar ténis, passa a bola da responsabilidade para o seu opositor por ter sido governo local entre 2001 e 2013.
Enjeitando as espadas, não seria melhor discutirem o futuro, emendando os erros e evitando mandar pequenos comerciantes e outros operadores para o charco, e arrumarem o passado negro que assombra os dois partidos?
Será que não vêem que estamos todos fartos de querelas vazias de conteúdo? Será que não vislumbram que é preciso argumentar o essencial e deixar de fora o acessório?



terça-feira, 22 de janeiro de 2019

ESCOLHER ENTRE O BEM MAIOR E O MAL MENOR

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(Foto do Expresso)



CDS critica o “silêncio ensurdecedor” do ministro sobre distúrbios em Lisboa e Setúbal”
O CDS-PP acusou Eduardo Cabrita de ter deixado os polícias serem "queimados em lume brando" das críticas e avisou que se tiver havido excesso de violência o caso deve ser investigado.
O CDS-PP criticou esta terça-feira o “silêncio ensurdecedor” do ministro da Administração Interna sobre os distúrbios dos últimos dias em Lisboa e acusou Eduardo Cabrita de ter deixado os polícias a ser “queimados em lume brando” das críticas.Continue a ler aqui O Observador.



Completamente de acordo com o CDS no que toca à actuação de Eduardo Cabrita, Ministro da Administração Interna, sobre os distúrbios e ataques a esquadras da PSP em Lisboa.
Independentemente dos actos que estiveram na génese desta problemática no Bairro da Jamaica deverem ser investigados obrigatoriamente e haver consequências, é obrigação do ministro da pasta colocar-se ao lado dos agentes da PSP. Tentando passar pelos pingos da chuva e fazer de conta que, neste assunto, se deve manter imparcial é puro populismo. O lugar do ministro, ainda que pugnando pela justiça, é ao lado de quem dá o corpo ao manifesto, representando a lei e a ordem, e não próximo de arruaceiros que, defendidos por grupos e associações cuja defesa é sempre o mesmo argumento com expediente ao racismo e à xenofobia, recorrem a petardos para incendiar a cidade.
Do mesmo modo, a opinião pública - e até publicada – deve saber qual é o seu lugar e, numa espécie de lavar as mãos como Pilatos, não deve abandonar à sua sorte os agentes e uma corporação que intrinsecamente defende a segurança pública e os cidadãos de bem de uma comunidade. Se levarmos a postura ao contrário, isto é, tomando a inércia como certa, que Portugal queremos?

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

4 – HISTÓRIAS AO VIRAR DA ESQUINA: A RAINHA DOS OLHOS NEGROS

(Fotos de arquivo)



Num descarado assédio, quase a desembocar em paixão assolapada, durante anos andei atrás dela para escrever a sua história. Desde o cumprimento meloso com vénia e beijinho no dorso da mão até ao convite para um café, nos vários encontros que ocorreram nas ruas da Baixa, tentei tudo para que a Teresinha me desse um pouco de atenção, uma réstia do seu tempo, para eu poder escrever alguma coisa sobre a sua encantadora figura e a sua história de vida. Mas qual quê? Do alto dos seus olhos negros, fixando-me, parecia dizer: “faz-te jornalista, homem, e depois vem falar comigo! Não passo cartão a genéricos!”. É certo que educadamente, quase em despacho sumário, lá saía a proclamação: “hoje não, que não tenho tempo! Quem sabe outro dia?!”. E eu desesperava para conquistar a confiança da Teresinha Pena.
A sua figura carregada de mistério, carismática e singular, em cruzamento de bela debutante de um baile de gala dos primeiros anos de 1900 e Mata-hari, dançarina exótica onde os olhares masculinos ficavam presos como melaço, fazia parar o trânsito de peões na Baixa da cidade.
O seu caminhar, leve e deslizante mas bem marcado e assente em longos saltos-altos, de musa encantada, que parecia resvalar sobre nuvens, acompanhado com sombra escura em redor dos seus olhos negros, conferia-lhe uma aura mística de personagem densa de energia espiritual.
Para um aspirante a jornalista que, detestando a vulgaridade, se debruça sobre tudo o que seja original e peça de arte viva que toca os sentidos, chegar à “menina” Teresa Pena era o paradigma, o modelo, o tiro de sorte, para uma crónica há muito sonhada.
Se muito esperei, nunca desesperei. Dizia-me o meu sexto-sentido que a minha oportunidade haveria de chegar e realizar o meu intento. Foi então que, num daqueles dias de sol a espreitar pelas frinchas da chuva, a encontrei em esmerada cavaqueira na Loja da Lena, na Rua de Sargento-mor. E rapidamente, num silogismo prático e interesseiro, dei por mim a pensar com os meus botões: Eureka! Estou salvo! É hoje! Vou pedir à Lena que mova a sua influência perante a minha diva e personagem desta crónica. E foi o que aconteceu. A Lena falou e a Teresinha imediatamente confiou. E contou. Obviamente que não vamos falar de quantas primaveras já passaram na sua vida –porque os anjos são eternos. Tem os anos desde que nasceu até hoje. E desde que trintou nunca mais lembrou.
Como se ansiasse por “despejar” o saco das memórias a um simpático desconhecido, a “menina” Teresinha, sempre na primeira pessoa do verbo, desenrolou o longo manto de efabulação que, por ventura, teria sido a sua vida. Senhora de um alter-ego construído em longas noites de insónia, desde o seu casamento com um médico militar até ser a mulher mais linda de Macau, não se sabia onde terminava a realidade e começava a imaginação.
Sem deixar substituta, subitamente, há cerca de quatro anos, desapareceu do nosso meio. As ruas estreitas, os becos e outra ruelas, pela sombra constante de luto, nunca mais foram as mesmas. Mais tarde, sem vislumbrar a morada, conseguimos saber que, pela sua longa idade nunca confessada e fragilidade física notória, por indicação de sua filha, teria recolhido a um lar, em direcção do norte do país. Correu o boato, nunca desmentido, que, por necessidade de ícones no além, Deus a teria chamado para dar uma certa ordem no Céu.
Depois de muito desbravar nas ondas da contra-informação, ficámos a saber que a nossa celebridade e fonte de inspiração está muito perto de nós. Agora com 90 anos, Teresinha, embora com alguns períodos obscuros de tempos-a-tempos, está com bom discernimento mental. Pela parte física, as pernas já mostram o cansaço de muitos dias e desloca-se em cadeira de rodas. A nossa estrela, que tanto iluminou os nossos dias e noites, encontra-se no Solar Billa Donnes, em Figueira de Lorvão, Penacova. Se quiser saber algo mais ou dar uma palavra de apreço a uma mulher que não podemos esquecer, porque marcou um tempo na Baixa de Coimbra e faz parte, por mérito próprio, da nossa galeria “Rostos Nossos(Des)conhecidos”, pode ligar para o número 23947002. Sem lhe perguntar, tenho a certeza que a “menina” Teresinha Pena muito grata ficará.

sábado, 19 de janeiro de 2019

BOM DIA, PESSOAL...

BAIXA: INCÊNDIO AO AMANHECER





Esta madrugada, a hora indeterminada, deflagrou um grande incêndio no prédio do antigo Armazém Amizade, frente para o Largo das Olarias (junto à Loja do Cidadão) e lateral para a Rua da Moeda. Felizmente, o acidente ou incidente, já que ainda não se apuraram as causas, não provocou feridos. Com o interior completamente destruído, a construção ficou apenas reduzidas às paredes estruturais.
Durante mais de trinta anos e até final de 1990, o edifício, composto por rés-do-chão, primeiro-andar e sótão, esteve consignado à venda de artigos plásticos, brinquedos, bijutarias, louças e outros produtos para o lar. Por esta altura de 2000 a empresa entrou em insolvência e o edifício, ficando abandonado, sem electricidade, veio a ser ocupado como arrecadação pelos vendedores de etnia cigana. Era ali que eram guardadas as roupas e artigos de sapataria vendidos diariamente no terreiro em frente ao imóvel abandonado. No último 04 de Julho, Dia da Cidade, num baralhar e dar de novo para tudo ficar igual, para não variar, com a justificação do decurso das obras da futura Avenida Central, a Câmara Municipal, mais uma vez, e condenando a esperança perdida destas pessoas, “chutou” os vendedores ambulantes para o Largo da Maracha, a meia centena de metros. A edificação do antigo Armazém Amizade continuou a servir de espaço de apoio.


FOGO POSTO”, DISSE ELA


Cerca das 11h00, já em fase de rescaldo e com o tempo de chuva amiudada a ajudar a normalizar as coisas, com alguns carros de contra-incêndios e muitos bombeiros à volta, uma das comerciantes ciganas, sozinha, a sofrer em silêncio e com as lágrimas a escorrer pelo rosto bem tratado, olhava as colunas de fumo que se elevavam para o céu e mostravam cruamente o desastre que se abateu na sua prole. Com uma frase, os meus sinceros lamentos, vizinha, pela tragédia que caiu sobre o vosso negócio, procurei contemporizar e estabelecer uma pequena conversa. Como se precisasse de desabafar, retorquiu: “Foi fogo posto! Embora tenhamos aí algumas pessoas que ajudam a arrumar a tenda todos os dias, só nós, os vendedores, é que tínhamos a chave de ingresso ao armazém. Tanto é assim que os bombeiros encontraram o cadeado fechado. Porque fizeram isto? Andam sempre a criar conflito connosco como se fôssemos invasores. Nós ocupávamos o depósito com permissão da senhora, a proprietária, e, porque já estava estabelecido, até íamos sair daqui proximamente. Para além disso, para vendermos na rua pagamos. Ainda agora recebi uma comunicação da autarquia para pagar 55 euros. Houve colegas que perderam tudo! Por que nos fizeram isto, senhor? Deus é grande e vai castigar quem reduziu a pó o nosso ganha-pão diário.