sábado, 27 de março de 2021

BARRÔ: O (NOVO) “PITROLINO”



De quinze em quinze dias, impreterivelmente à quinta-feira, o som desgarrado, assim parecido como tampas de panelas e tachos, mais direccionado para o ruído do que para a melodia, invade a pacatez de modorra da aldeia de Barrô.

É uma camioneta de caixa-aberta adaptada com cobertura em lona para servir a sua extensa clientela. Dentro do espaço, tudo armazenado com rigor milimétrico, transporta-se todo o recheio de uma velha mercearia. Presumidamente, ali nada faltará aos vastos clientes que, por razões várias, por exemplo, factor idade, dificuldade de locomoção, porventura não poderão deslocar-se à superfície comercial na cidade próxima. É a velha máxima levada à prática: se não se pode manter aberto um estabelecimento na povoação, vem o estabelecimento móvel ao povoado. Onde houver necessidades haverá sempre um comerciante presente para as suprir e fazer a ponte entre o produto e o consumidor.

Certamente poucos se lembrarão do “Pitrolino”. Era um simpático vendedor que, por volta das décadas de 1920 e seguintes, com uma carroça puxada por um burro, percorria as aldeias em redor da cidade fazendo-se anunciar pelo som estridente de uma corneta. Vendia componentes de drogaria até carvão e sabão. Dos mais velhos, quem não se lembra "do sabão azul (macaco) e do amarelo (amêndoa), ambos em barras. O azul era para a roupa e o segundo era para o chão, geralmente em madeira. (…) O homem cortava as barras depois de medir as quantidades com uma fita ou um pau. Além dos sabões vendia outros detergentes e petróleo, benzovaque (para as nódoas da roupa), álcool para assar chouriços, cera ao peso em papel vegetal e caixas de fósforos muito grandes” – extracto retirado do blogue “Mercado de Bem-Fica”.

Nos anos seguintes, sobretudo a partir da década de 1950, melhorando a oferta, já com um veículo motorizado vendia de tudo, incluindo mercearia e vinhos.

Com o desenvolvimento social e a evolução do comércio estático, progressivamente, foram desaparecendo. Primeiro foram substituídos pela pequena mercearia e taberna, que se instalaram nas povoações, sobretudo, a partir de 1950 - em que com o surgimento da televisão em Portugal, com a primeira emissão em 1957, como grande fenómeno de massas, constituiu o grande empurrão. De salientar que a história ainda não foi feita sobre estes pequenos estabelecimentos. Muito para além da venda, eram centros de convívio comunitário e intergeracional.

Aos poucos o velhinho “Pitrolino” foi desaparecendo e dando lugar ao comércio fixo.

Foi então que, a partir de 1995, se assistiu a um assalto nunca visto do Fisco, com impostos sobre o pequeno e pequeníssimo comerciante estabelecido.

Progressivamente, como fuzilados por metralhadora, numa razia, foram caindo um-a-um. Em Barrô, por volta de 1990, existiam dois negócios similares, um era o café do Alberto, à entrada do lugar, e outro era a mercearia e taberna – que mais tarde evoluiu para misto, com máquina de tirar café – do “Toino da Loja”, na rua principal

Era nesta pequena catedral de confraternização, onde os jogos de cartas, de malha, ou fito, de damas e dominó imperavam, que se tecia o interstício da tranquilidade depois de uma semana intensa de trabalho. Era aqui que a paz fluía, estabelecendo-se laços de amizade, e, através do rebate de ideias, se desenrolavam os nós de mal-entendidos.

E mais: era aqui, neste local comercial, que, como cargo oficial dos CTT, era o posto de telefone público do povoado. Sempre que era preciso chamar alguém era obrigação do concessionário fazê-lo.

Para além disso, também aqui estava instalada a única caixa de recolha de correio. Com o encerramento do “Toino da Loja”, que foi o último a fechar portas há cerca de uma dezena de anos, tudo desapareceu.

Como já escrevi mais do que uma vez, os governantes nacionais, que pouco mais conhecem do que Lisboa e a sua zona metropolitana, e que, sobretudo, em tempo de eleições, andam sempre de boca-cheia a falar na desertificação do interior, deveriam ser julgados pelo extermínio deliberado destes pequenos negócios.

Até haver uma nova mudança, que um dia vai acontecer, viva o “Pitrolino” dos nossos dias.



terça-feira, 23 de março de 2021

VÁRZEAS: ATÉ SEMPRE, TIA ANUNCIAÇÃO







Com aquele rosto fechado, circunspecto e envolvido por uma tristeza que parecia ter nascido com ela, mas que gerava em nós um espírito confidente, de grande confiança no maior segredo, recordar-me-ei sempre da minha tia Maria Anunciação da Silva Matos.

Talvez como todos os nascidos em 1935, anos de grande dureza social e financeira, onde a fome era transversal praticamente em todas as aldeias, para o então Portugal que se tentava erguer e ser independente economicamente, Anunciação era bastante reservada. Agarrada aos velhos costumes e muito fechada ao mundo, olhava com alguma desconfiança certas dinâmicas modernas deste tempo hodierno.

De personalidade bem vincada, de pouco valia tentar trocar-lhe as voltas com argumentos de redenção. Ou amava ou odiava, não havia outro meio termo. Tinha uma forma muito honesta, muito recta, muito sua, de estar na vida. Como todos os seus vizinhos que foram batidos pelos ventos, agrestes e pouco desejados, vindos de leste da Segunda Grande Guerra, esse inevitável embate endureceu-lhe o semblante e talvez por isso, de forma extemporânea, não fosse mulher de muitos sorrisos.

Mas, para mim, era essa frontalidade, essa singular forma de ser, que me atraía profundamente.

Com o seu tom voz algo palheta e trejeitos fisionómicos copiados religiosamente através do ADN do seu desaparecido pai – Manuel “Peças”, de Vila nova de Monsarros -, a minha familiar era uma cópia fiel do seu progenitor.

Há dois anos internada em trabalhos continuados, em Coimbra, quis o destino, a Natureza, Deus, que a minha querida tia Anunciação fosse chamada para a última viagem.

Realizado pela Agência Funerária da Carreira, o seu funeral será amanhã, quarta-feira, pelas 14h30, no Cemitério de Luso. Devido às circunstâncias atuais, e com a finalidade de impedir a propagação do Coronavírus (COVID-19), seguindo as directrizes da Direção Geral de Saúde (DGS) e da nossa Diocese, a celebração das exéquias serão apenas para os familiares diretos.

Como familiar indirecto, sou sobrinho, em meu nome pessoal e de todos quantos se queiram associar os nossos sentidos pêsames a todos os meus primos e restante família.

Até sempre. Até um dia, tia Anunciação. Descanse em paz.


 

domingo, 21 de março de 2021

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA





Jornal da Mealhada (edição de 17 de Março)


POSITIVO


A edição do Jornal da Mealhada (JM) desta quinzena, a começar pela capa com grafismo em panóplia de cores que ressaltam ao primeiro olhar, está muito agradável.

Com duas páginas sobre os efeitos da pandemia, uma sobre os efeitos colaterais em alguns negócios que desenvolvem a sua actividade na cidade e outra sobre as crianças no seu regresso às aulas, e mais duas, em destaque, sobre o que se passou no debate sobre o lema “O futuro dos Municípios após a Pandemia” que, perante os presidentes das Câmaras Municipais de Lisboa, Porto e Mealhada, decorreu no Teatro Messias há cerca de 15 dias, lê-se com gosto.

Com seis páginas sobre a Mealhada, onde se inclui um trabalho sobre os centenários refrigerantes Bussaco nas duas centrais; sete páginas sobre os concelhos vizinhos, uma sobre cultura na terra do leitão e outra sobre desporto, verifica-se um maior cuidado na diversidade de temas e equilíbrio entre o nosso concelho local e entre os confinantes.

Quanto à inserção de fotografias, verifica-se algum cuidado em não abusar do espaço que deve ser consignado a notícias.

Pela ainda temerosa melhoria damos os parabéns à equipa que coloca o título de imprensa de quinze em quinze dias em banca. Porém, que não se tome este elogio para continuar a dormir na forma. Como leitor assíduo e amante da imprensa local, como assinante, como residente e recenseado no Concelho, exijo muito melhor. E se para isso for necessário, comprometo-me a manter esta coluna de opinião até ao meu último suspiro.


MENOS BOM


Conforme já tenho escrito, sem desprimor para quem colabora, é notada a carência de colunistas que abarquem os vários ramos da vida, política, sociedade, economia, por exemplo.

Embora nesta edição se faça menção ao Bloco de Esquerda, com uma recomendação no Parlamento ao Governo para uma série de investimentos na Mata do Bussaco, e ao PCP, com a notícia do seu centenário do Luso, a referência à vida política, sobretudo local, continua a ser demasiado tímida. A menos de sete meses é preciso preparar as canetas para o que vem aí. Quem serão os cabeças de listas, prováveis e improváveis? Aos quase certos está na hora de os colocar a falar. O leitor mais informado e interessado na vida política do seu concelho espera isto mesmo do único periódico publicado.

É uma premência que transmita o que se passa nas reuniões de Câmara. Que mostre o trabalho desenvolvido pela oposição e pela maioria. Os leitores precisam de saber a forma como são aprovadas as posturas e restante regulamentação. Quem vota a favor, contra, e se abstém. Ao não ser trazido a público o que se passa no executivo é um forte passo para o total desinteresse dos munícipes.

Tal como venho escrevendomeses, talvez demasiadamente preocupada com os custos de edição, falta ambição à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, proprietária da publicação, para, apostando na história do título e na sua viabilidade económica, aumentar o número de páginas (actualmente são 24) e transformar o JM em semanário.

Do mesmo modo, conforme já escrevi também, falta intimismo e envolvência com os leitores. Por exemplo, um espaço dedicado aos desabafos e denúncia de quem lê; uma coluna de signos astrológicos, datas e significados; inserir um espaço para palavras cruzadas e Sudoku; assinale as diferenças, etc.

Do ponto de vista comercial o jornal não está apanhar o que lhe passa à frente dos olhos. Por exemplo, neste 19 de Março, dois dias depois da última tiragem, comemorou-se o Dia do Pai. Esta edição não deveria ter um caderno especial alegórica à data com a participação dos leitores e com uma aposta forte em publicidade comercial? Outro exemplo, o JM deveria apostar numa página de pequenos anúncios. Não se entende muito bem por que não é aproveitado este filão.


De zero a vinte, atribuo a esta edição 14,5 valores.



JORNAL DA BAIRRADA (edição de 18 de Março)


Conforme nos tem habituado pela grande qualidade jornalística ao longo dos últimos anos, nada de negativo a apontar.


De zero a vinte, concedo 18 valores.



 

sábado, 20 de março de 2021

BARRÔ: QUEREM VER QUE A ESTRADA É MINHA!?!




No mês passado escrevi aqui sobre o (mau) estado da estrada que liga as aldeias de Barrô e Lameira de São Pedro. Enviei o texto para a Junta de Freguesia de Luso e para a Câmara Municipal da Mealhada.

É uma via muito movimentada com cerca de três quilómetros. Embora curta, é muito utilizada por veículos motores e por naturais das duas povoações para caminhadas a pé durante o dia e ao entardecer.

O último tapete betuminoso em condições desse nome foi há cerca de vinte anos, ainda no tempo do falecido presidente da Junta de Freguesia de Luso, Homero Serra.

Em resposta, Claudemiro Semedo, o actual presidente da freguesia, afirmando que a via é da inteira responsabilidade da Câmara Municipal da Mealhada, mesmo assim lá mandou fazer qualquer coisa para melhorar e não se pensar que, ao percorrê-la, estamos em África. E tem sido assim nos últimos anos. Volta e meia lá vai ordenando para remendar os buracos maiores com uns baldes de alcatrão. Mas a operação é como fazer um “lifting”, uma operação plástica, a uma pessoa com um século. Nunca deixa de ser velha.

Da autarquia recebi a seguinte comunicação:


Exmo. Senhor,

António Quintans

 

Em resposta ao e-mail infra, registado nestes serviços sob o n.º 2372, de 22/02/2021, sobre o assunto mencionado em epígrafe, informa-se V/Exa que, de acordo com o teor do despacho do Exmo. Sr. Presidente desta Câmara Municipal, exarado em 25/02/2021, “a via a que alude é um caminho vicinal da responsabilidade da Freguesia de Luso”.

Com os melhores cumprimentos,

RUI MACHADO
Assistente Técnico - Secretaria

Divisão Administrativa e Jurídica

tel.:231 200 980 (Ext. 222)

e-mail: secretaria@cm-mealhada.pt


Ficamos a saber que a via é um caminho vicinal, que liga aldeias ou localidades próximas dentro de um concelho – se não sabia o significado de “vicinal”, deixe lá, não desespere, eu também não sabia, por isso mesmo tive de recorrer ao dicionário.

Agora vamos à questão principal: se a estrada não é da Junta de Freguesia e também não é da Câmara Municipal, de quem será? Às tantas é minha… Sei lá?!?

 

sexta-feira, 19 de março de 2021

HOJE É O DIA DOS BONS FILHOS

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




19 de Março é a data atribuída a São José, operário e padroeiro dos trabalhadores e também patrono e protector da Igreja Católica.

Simultaneamente, neste dia celebra-se o Dia do Pai. Ou melhor, é o dia dos bons filhos, aqueles que, com um simples telefonema, ao menos nesta época, não esquecem o seu progenitor.

Há pais e pais, há filhos e filhos”, como diz o povo. Quer dizer, portanto, que não há procriadores perfeitos nem herdeiros maravilhosos. Uns e outros, no âmbito da sua imperfeição, serão sempre passíveis de ficarem aquém da esperança de ser.

Uns e outros serão sempre o resultado de um tempo cultural, de um costume mais ou menos libertário, de uma circunstância económica, de uma educação acordada e dividida a meias entre o austero e a liberalidade, de frustrações e momentos de felicidade, de muito ou pouco amor dado na infância.

Como tal, por não se saber as quantidades certas dos factores para obter um bom produto, a resultância final balançará sempre entre a alegria e o desânimo.

É tudo uma questão de sorte”, voltará afirmar o povo na sua eterna sabedoria. Não é certo que um filho muito desejado e muito amado, nascido no seio de uma família de classe média, quando adulto, não seja um escroque, um vadio, uma alma cruel para os seus pais. Uma criança gerada num ambiente paupérrimo, onde pode faltar tudo, desde alimentação até outros bens essenciais, carinho e amor, pela necessidade de ultrapassar a carência, pode perfeitamente vir a ser um pilar de exemplo para os seus e para a comunidade.

Os tempos baralharam tudo. Até aos anos 1970, os filhos estavam subjugados aos mais velhos, pais, avós, padrinhos. Entre eles havia um tratamento reverencial imposto. O trato de “você” era obrigatório. Era normal diariamente os filhos, num acto solene de humildade, pedindo a mão ao progenitor, rogarem: “sua bênção, meu pai!”.

Já não falando nos fortes castigos corporais, por outro lado, era normalíssimo os descendentes entregarem aos pais todo o salário que auferissem no labor do seu trabalho.

A partir do terceiro quartel do século XX, consequência da nova ordem mundial liberal que varreu o mundo, tudo se alterou na relação bilateral entre pais e filhos. Os mais velhos, de mão-beijada, sem pensarem nas consequências futuras, aceitaram conceder aos novos nascidos o poder de decisão que até aí detinham. O poder discricionário, em muitos casos arbitrário, do “Pater famílias”, que já vinha do tempo dos romanos começava a sua iminente extinção.

Os filhos desta altura, por terem sido tão maltratados pelos ancestrais, por ressabiamento com o antanho, desenvolveram uma espécie de reacção de corte com o passado. Os ensinamentos recebidos, que vinham detrás, estavam obsoletos.

O trato de “tu lá, tu cá” passou a ser a nova dinâmica corrente entre velhos e novos. Os filhos, de forma unilateral, em muitos casos, apoderando-se, passaram a ser senhores de decisões no seu dia-a-dia relativas a si e também aos seus ancestrais.

O respeito entre a família, até aí hierárquico e imposto verticalmente, passou a ser, em consequência natural, de aplicação horizontal. Lá em casa, o valor dos votos de uns e outros detinham o mesmo peso. Os mais velhos, perdendo o seu valor empírico e experiencial da praxis, tratados como coisa, ficaram entregues à sua sorte.

A subordinação, progressivamente, foi-se esboroado como castelos de areia batidos pelas ondas do mar.

Sem cálculo intermédio, desaparecendo os princípios do acompanhamento, morais e éticos, que eram o sustentáculo da prole, sem revolta e perante os olhos dos mais velhos, passou-se rapidamente do oito para o oitenta. E a revolução, em nome dos novos tempos, veio para ficar.

Os governos do após 25 de Abril de 1974, minando toda a autoridade do professor na escola, quase fazendo dele um mero narrador de programas que iam mudando conforme o vento, lavrando numa área social desvirtuada que facilmente gerava consensos populistas – tal como hoje se verifica com o exagero na protecção animal , confundindo o caso particular com o geral, tomando o isolado pelo todo, construiram facilmente um detonante complemento educacional-formativo de usar e deitar fora conforme a conveniência.

Se verificarmos hoje, o número de pais maltratados pelos filhos é de tal envergadura que assusta. Por vergonha, se a maioria das queixas que não são denunciadas e sofridas em silêncio no recanto de quatro paredes, se o fossem a colectividade sofria um tremendo abalo sistémico. Olhos que não vêem não sentem.

Bem no fundo, no fundo, nem é para preocupar. “Por que filho és, pai serás”, a natureza, na sua infinita justiça, se irá encarregar de castigar a maldade dos prevaricadores. O que não for perceptível agora, por força do destino, sê-lo-á mais tarde. Sempre assim foi, e sempre assim será.

Já ligou ao seu velho pai hoje? Vá lá! Faça o favor a si mesmo.

 

terça-feira, 16 de março de 2021

BARRÔ: FALECEU UM DOS NOSSOS

 



Resultado de doença e consequente internamento hospitalar, faleceu ontem o nosso vizinho Alberto Nunes Marujo, de 87 anos. O falecido, natural de Tomar e residente em Barrô, era viúvo de Celeste dos Reis Rocha Nunes, uma nossa conterrânea desaparecida do mundo dos vivos há vários anos.

Alberto Marujo foi feliz e viveu o resto da sua vida na sua casa com frente para o Largo Dr. Assis Leão e ao lado da casa do Lino Quintans.

Devido à minha recente vinda para Barrô não tenho grandes referências do finado. Sei apenas que era uma pessoa simpática para comigo. Sentado num banco à sua porta a apanhar Sol, algumas vezes nos cumprimentámos com cordialidade.

O funeral, a cargo da Agência Funerária da Carreira, Unipessoal, Lda, realiza-se amanhã, Quarta-feira, às 15H30, no Cemitério do Luso – restrito a familiares directos.

Em meu nome pessoal e em nome de todos os habitantes de Barrô, se posso escrever assim, para a sua família enlutada os nossos sentidos pêsames. Até sempre, senhor Alberto. Descanse em paz.


MEALHADA: TANTA PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO DOS MUNICÍPIOS?

 




Foi anunciado ontem na página da Câmara Municipal da Mealhada mais um debate sobre o futuro dos municípios no Teatro Messias, mas sem público a assistir. No caso e sobre o lema “O presente e o futuro dos municípios portugueses – desafios à governação autárquica”, vai ocorrer no próximo dia 25, pelas 21h00, e pode ser visionado através de transmissão no Facebook e no YouTube do município da Mealhada. Com o envolvimento de cinco edilidades consideradas pequenas, respectivamente, Alcácer do Sal, Cantanhede, Oliveira do Bairro, Mealhada e Anadia, e representadas por eleitos dos partidos CDU, PSD, CDS, PS e com o Movimento Independente Anadia Primeiro – o Bloco de Esquerda não está retratado –, a reunião promete. A moderação do evento está cargo de João Luís Campos, subdirector do Diário de Coimbra.

Relembra-se que no passado 3 de Fevereiro, sobre o tema “O futuro dos municípios após a pandemia” foi realizado um debate entre os presidentes da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, e pela autarquia anfitriã mealhadense representada pelo presidente Rui Marqueiro. Neste com apresentação da estrela televisiva Fátima Campos Ferreira, jornalista da RTP1.

Não deixa de ser curiosa a proximidade, entre elas, de duas mesas-redondas com temas tão idênticos, quer no tempo, quer no espaço.

Uma coisa sabe-se, o primeiro encontro, com a apresentadora Fátima Ferreira a quase ignorar Rui Marqueiro, não correu bem. Por isso mesmo, este segundo debate pode servir para purificar e lavar a alma do presidente.

Mas podemos continuar a especular, a sete meses de eleições autárquicas nacionais e a cerca de um mês de se anunciar o futuro político do economista mais conhecido da Bairrada, estranha-se todo este borbulhar em volta das câmaras municipais, pelo menos nesta altura. Para os mais distraídos, recorda-se que no próximo dia 20 de Abril, através de eleição directa, os municípios que compõem a Região Centro vão votar o preenchimento do lugar de vice-presidente da CCDRC, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Centro, em que o candidato é o presidente da Câmara Municipal da Mealhada. Tanto quanto se sabe, nesta altura, é o único concorrente para coadjuvar Isabel Damasceno.

Se Marqueiro for eleito para o anterior lugar deixado vago por Jorge de Brito, naturalmente, deixará vazia a cadeira do poder na terra do leitão e, como é óbvio, abre novas possibilidades de mudança no poder nos próximos quatros anos.

Daí, interrogarmos a razão de tanta efervescência. Será que Marqueiro já sabe que vai ser eleito e já está treinar para o embate que se avizinha? É o mais provável.


domingo, 14 de março de 2021

BARRÔ: TURISTA ACIDENTAL JÁ FOI PARA O CANIL





Há precisamente um mês escrevemos aqui que andava por Barrô um turista indesejado. De porte eclético, que gosta de coisas e pessoas de modo diverso, tanto apanhava um saquinho de pão quente, acabado de ser deixado pendurado numa qualquer porta ou portão, como uns ovinhos fresquinhos tomados no galinheiro, acima de tudo, quando a fome mais apertava.

Mas, apesar disso, o animal de quatro patas, sem identificação, é mesmo uma doçura. Não a todos, mas sobretudo aos mais chegados, o cão de que falamos, para além de ser muito dócil, obedece a ordens como para sentar-se e dar a pata.

Como escrevi na altura, os pequenos furtos do animal é que não estavam a agradar aos lesados. Vai daí, contactaram a Câmara Municipal da Mealhada e a Associação Quatro Patas e Focinhos para ser recolhido e colocado para adopção.

Esta semana foi levado para a sua casa transitória, pelo menos, até ser conhecida uma família de acolhimento para o nobre animal. Podemos garantir que quem o adoptar fica muito bem servido. No Largo da Capela, onde assentou arraiais, para além de ter boa boca e comer qualquer coisinha, já brincava com as crianças.

Uma coisa é certa, vamos sentir a sua falta.

 

sexta-feira, 12 de março de 2021

MEALHADA: PARA ONDE VAIS RIO QUE EU CANTO?

 




Rui Rio, presidente do PSD, fez anunciar na comunicação social que hoje, em Coimbra, iria anunciar todos os candidatos autárquicos, a nível nacional, em representação do partido.

Afinal, a pompa e a circunstância na cidade dos estudantes foi toda para a aliança entre o CDS, PSD e o movimento Somos Coimbra.

Sobre câmaras da Bairrada disse o que já se sabia, ou seja, anunciou os candidatos por Anadia e Oliveira do Bairro. Sobre o candidato a presidente da Câmara Municipal da Mealhada nem uma palavra.

Ora, este silêncio sepulcral está a tornar-se ensurdecedor e leva-nos a especulações. Que coelho na sua cartola pretenderá tirar? Uma coisa parece dar a entender: Rio, ao não apresentar Hugo Alves Silva como concorrente, tudo indica, anda em conversações à procura de candidato. Estarei errado? Se calhar estou mesmo. E oxalá esteja. Hugo Alves Silva, durante os últimos anos, entregou-se de alma e coração à causa laranja. O que menos merecerá de Rui Rio como reconhecimento é de uma facada nas costas.

Mas se assim acontecer não é de admirar. O ex-presidente da Câmara Municipal do Porto, salvo melhor opinião, como estratega a escolher e a apresentar cabeças-de-lista pelo seu partido é uma verdadeira nódoa.

Com as suas decisões unilaterais em nome da Comissão Política Nacional, sem ouvir as Concelhias e Distritais que melhor conhecem o trabalho dos mais próximos, para além dos enxovalhar, está a destruir as hostes Sá-Carneiristas.

Confesso, até tenho tentado manter alguma admiração pelo economista do Porto – já com Passos Coelho, que está à espreita para lhe cair em cima, não vou à bola nem que me pague -, mas as asneiras em catadupa que vai mostrando, vai-me fazendo perder toda a esperança num homem do leme para unir o PSD.

Está de ver que, após as eleições para as câmaras em Outubro, lá vamos ter de gramar o Coelho. És mesmo aselha, Rio, nem para ti és bom. Porra!


quinta-feira, 11 de março de 2021

BARRÔ: A PASTORA

 





Os mais velhos, pelo menos com mais de cinquenta anos de idade, ainda recordam na memória várias imagens edílicas dos pequenos povoados rurais, como era o caso de Barrô por volta de 1970.

Uma delas, para mim talvez a mais marcante, era o fumo, em fios de algodão, a sair das chaminés em direcção ao Céu e acompanhado de um perfume a cheirar a forno e a identificar que alguém estava a cozer a broa.

Outra cena pitoresca, digna de pintura em tela, era o carro de bois - havia de um só animal e de dois animais. Muitas vezes se ouvia uma espécie de monólogo em jeito de diálogo do lavrador a conversar com os animais. A besta, pela utilidade maior que representava para o desenvolvimento do homem, acabava por ser a sua companhia diária, a sua própria extensão de humanidade. Homem e animal, embora de essência anatómica diferenciada, confundiam-se.

Outra ainda era ver os grandes campeões da malha, ou fito, a a arremessarem as medalhas de ferro na estrada principal, em frente ao desaparecido estabelecimento do “Toino da Loja”.

Outra gravura que nos enchia o coração era ver um rebanho de ovelhas, ou cabras, a pastar nos caminhos de terra-batida, ou em terras em pousio. Normalmente, quem tomava conta da pastorícia eram os miúdos com seis, sete, oito anos. Os mais velhos da família iam trabalhar para os campos e os putos, depois de regressarem da escola, tinham a sua tarefa a desempenhar.

E foi ao ver, ontem, a minha irmã, a Madalena Quintans, a apascentar um pequeno rebanho que não resisti a captar a imagem tão marcante na minha infância, mas, devido ao intenso Sol, tão mal apanhada por mim. Um dia destes, prometo, farei uma fotografia melhor e digna do nome da retratada.


GNR NO BUSSACO: QUANDO A NOTÍCIA É UMA PARVOÍCE

 

(imagem da Web)



Os meios de informação digitais de hoje, transversalmente, difundem a seguinte notícia: “GNR põe fim a convívio ilegal de jovens na Mata do Bussaco” – título do jornal online Notícias de Coimbra.

Tendo em conta de que a intervenção da guarda foi feita ao ar livre e numa floresta, ao lermos a exposição em cabeçalho somos levados a pensar de que dezenas de jovens, aproveitando uma saída precária do domicílio, decidiram juntar-se numa grande farra. Com a tampa da curiosidade a saltar, avidamente, pegamos no texto jornalístico em busca do número de prevaricadores e a quantidade nunca mais aparece. É então que, como montanha a parir um rato, verificamos que eram apenas 5 pessoas que formavam o agrupamento.

Várias perguntas nos atropelam. Uma delas é saber se os agentes da GNR, que intervieram no caso, não saberão distinguir discricionariedade de arbitrariedade – segundo os vários dicionários, “arbitrariedade” significa “abuso de poder ou mando, capricho”; já no tocante a “discricionariedade”, significa “liberdade de apreciação concedida a um órgão administrativo, permitindo que este escolha, numa série de comportamentos possíveis, aquele que lhe pareça mais adequado à satisfação da necessidade pública específica prevista na lei”.

Contudo, sublinha-se, como neste caso a intervenção está a coberto da lei, não se pode chamar de ilegal a interferência dos agentes. O que se pode entender é que os agentes fizeram uma interpretação pura e dura da lei sem levar em conta as diversas atenuantes como, por exemplo, a circunstância, a idade dos intervenientes e o espaço envolvente.

O que se pode apreender é que a identificação de quatro jovens numa mata nacional por ajuntamento e a furarem as regras do confinamento, salvo melhor opinião, é completamente ridículo, uma idiotice. Este acontecimento, sobretudo, no cenário em que se verifica e pelo reduzido número de intervenientes, nunca deveria vir para os jornais. Com um ralhete, em discurso de persuasão, deveria ser tratado no local sem maiores consequências. Não o sendo por direito, por a acção estar coberta pela lei, perante a opinião pública, de facto, deve ser entendida como abuso de direito. É a própria imagem da GNR que não fica bem na fotografia.

Não é que venha ao caso e estamos a falar de uma época e conjuntura diferenciadas, mas somos obrigados a remeter-nos para o Estado Novo quando se considerava que três pessoas juntas poderia ser considerada uma manifestação.

Por outro lado ainda, devemos tomar em conta que notícia é tudo aquilo que possa ser reconhecida como dado ou evento, socialmente relevante que merece publicação em um meio de comunicação social. Por outras palavras, costuma-se dizer que se um cão morder num homem o facto não será notícia. Em contrapartida, se um homem morder num cão isto já será passível de publicação.

Os agentes, em vez de procurarem a notabilidade pública, deveriam merecer uma admoestação pelo Comandante-Geral da GNR.

domingo, 7 de março de 2021

BARRÔ: OBRIGADO, PRESIDENTE DA JFL, PELO XANATO, MAS…






Há cerca de duas semanas, com o título “BARRÔ: UMA VIA PROFUNDAMENTE DEPRIMIDA”, escrevi aqui o estado lamentável em que se encontrava a estrada (?) que liga Barrô à Lameira de São Pedro. Tal como transmitia na altura, é uma via muito utilizada quer por automóveis quer por pessoas das duas aldeias em passeios a pé.

Escrevi também que este caminho municipal levou um tapete betuminoso há cerca de vinte anos e a partir daí tem sido remendado aqui e ali com uns bocados de alcatrão a tapar os buracos mais ousados.

Escrevi ainda que, devido à existência de manilhas entupidas e inexistência de valetas nas margens, sempre que a pluviosidade é muita, a água escorre a bom escorrer ao longo do que resta de uma via que, por partes dos responsáveis políticos, deveria receber outra consideração.

Mas ainda escrevi mais: disse que, segundo o presidente da Junta de Freguesia de Luso, Claudemiro Semedo, e deste fazer o que podia, a responsabilidade pelo (mau)estado do itinerário é da Câmara Municipal da Mealhada. Ora, a autarquia mealhadense tem conhecimento do que se passa por aqui.

Em resposta (ou não) à cronica que escrevi, durante estas duas semanas andaram por lá trabalhadores – presumo, pertencentes à Junta de Freguesia de Luso.

É certo que desentupiram os “boeiros” e até limparam metade das regueiras laterais – das que já estavam abertas. Das que é preciso abrir ficaram para as calendas.

Mas mesmo no caso das já existentes só limparam metade. A outra metade, já próximo da Lameira, ficou à espera de nova oportunidade. Resultado da ineficácia laboral? A água continua a invadir o centro da rodovia.

Por outro lado, os buracos no velhinho alcatrão são mais que muitos. Custa muito mais uns remendos? Já que temos de nos contentar com os emplastros, vamos a isso. Mas, ao menos , que sejam bem feitos. Pode ser?


(veja-se as fotos actualizadas, apanhadas depois da alegada reparação)

sábado, 6 de março de 2021

BARÓMETRO DOS JORNAIS EM PAPEL PUBLICADOS NA BAIRRADA

 



Jornal da Mealhada (edição de 3 de Março)


POSITIVO


A edição desta quinzena do Jornal da Mealhada (JM), dentro do que nos tem habituado, está satisfatória. Com duas páginas em torno da pandemia no país e no concelho, mais duas sobre as vacinas inoculadas sobre os idosos e ainda com uma página a noticiar a realização do evento “O Futuro dos Municípios após a Pandemia”, com muitas fotos à mistura e pouco texto, safa-se a tiragem a falar sobre a Mealhada.

Com um “especial” nas duas páginas centrais sobre os Escuteiros da Pampilhosa e sete páginas sobre concelhos vizinhos, a publicação lê-se com gosto.


MENOS BOM


O grafismo da capa, como montra de uma loja em execução, continua a ser o calcanhar de Aquiles do JM. A moldura desta semana, apenas com uma foto, com títulos e publicidade tudo à mistura, onde não se distinguem uns de outros, está muito longe de agradar ao menos exigente leitor.

Conforme já tenho escrito, sem desprimor para quem colabora, é notada a carência de colunistas que abarquem os vários ramos da vida, política, sociedade, economia, por exemplo. No que toca à política partidária, o quinzenário parece não querer nada com com as forças em confronto no concelho. É preciso clarificar que estamos a sete meses das eleições autárquicas. Quem vão ser os cabeças-de-lista? Se o jornal sabe, deve dividir a informação com os seus leitores, se não sabe, pode e deve procurar especular com as probabilidades que se apresentam. Um jornal, embora não esteja votado para a presciência, como num jogo entre o que se sabe do passado e presente, deve contribuir para fazer adivinhar o futuro. E não está em causa acertar muito ou falhar pouco. Trata-se, isso sim, de, em vez de internamente gerir a informação detida, partilhá-la e lançando desafios aos seus assinantes. Sobretudo, repito, para os fazer reflectir.

O JM precisa de críticos que, com assuntos que façam pensar, o retirem do oceano da rotina instalada.

É uma premência que transmita o que se passa nas reuniões de Câmara. Que mostre o trabalho desenvolvido pela oposição e pela maioria. Os leitores precisam de saber a forma como são aprovadas as posturas e restante regulamentação. Quem vota a favor, contra, e se abstém. Ao não ser trazido a público o que se passa no executivo é um forte passo para o total desinteresse dos munícipes.

Tal como escrevi há duas semanas, talvez demasiadamente preocupada com os custos de edição, falta ambição à Santa Casa da Misericórdia da Mealhada, proprietária da publicação, para, apostando na história do título e na sua viabilidade económica, aumentar o número de páginas (actualmente são 24) e transformar o JM em semanário.

De zero a vinte, atribuo a esta edição 14 valores.


JORNAL DA BAIRRADA (edição de 4 de Março)


Conforme nos tem habituado pela grande qualidade jornalística ao longo dos últimos anos, nada de negativo a apontar.

De zero a vinte, concedo 18 valores. 


quinta-feira, 4 de março de 2021

MEALHADA: UMA ANDORINHA CONTOU-ME…

 





Chegou ontem a Barrô um grupo de andorinhas vindas do Norte de África. Como é costume todos os anos, antes de voltarem todas de vez na Primavera, este bando de pássaros batedores vem à frente para saber como se encontram os ninhos construídos no ano anterior nos beirais, para tomarem o pulso à segurança interna da região e a tensão arterial à política partidária da zona.

Uma delas é minha conhecida e fez questão de me vir logo cumprimentar. Vinha estafadinha, coitadinha. À laia de felicitação rápida, atirou: “foram milhares de quilómetros sempre a voar. Só parámos na Mealhada para comermos uma sandocha de leitão. Ui, que saudades que eu tinha, meu amigo. Foi lá que eu soube de novidades… mas amanhã prometo contar-lhe.

Tenho de confessar que não liguei mais ao assunto. Não é por nada, mas por vezes a minha amiga andorinha dá-lhe para inventar umas fofocas que não cabem nem na cabeça do menino Jesus. Já não é a primeira vez que isso acontece.

Mas hoje, depois do almoço, cá estava presente na minha varanda pronta a despejar o saco das novidades.

Para não se pensar que sou eu que estou a inventar, vou colocá-la a falar na primeira pessoa. Vou ligar o gravador:

O amigo sabia que a política partidária na Mealhada anda toda em polvorosa?

Sabia que, pelos vistos, ofereceram o lugar de vice-presidente da CCDRC, Comissão de Coordenação e desenvolvimento da Região Centro, a Rui Marqueiro? Como se sabe, o posto, até há cerca de um mês, foi ocupado por Jorge de Brito e que, manifestando descontentamento, regressou à CIM, Comunidade Intermunicipal da Região de Coimbra, onde era secretário executivo.

A questão em cima da mesa é que a vacatura deixada por Jorge de Brito tem de ser homologada, através de eleição, pela maioria dos presidentes de Câmara pertencentes à CIM. Ou seja, se Marqueiro for aprovado, num momento em que o futuro se apresenta complicado, sobretudo por uma queixa a decorrer no Ministério Público por prevaricação, é a melhor altura para sair de vez da Câmara Municipal da Mealhada. Marqueiro, com 69 anos, demonstra algum notório cansaço e declaradamente farto de levar pancada e punhalada pelas costas, até provindas de gente que lhe jurou fidelidade.

E, pelos vistos, ninguém lhe leva a mal. Muitos dos seus prosélitos, com lencinhos brancos a serem agitados no ar, abrem-lhe a porta e a oposição em bloco, desde a direita à esquerda, à espera de uma oportunidade, batem palmas.

Mas há mais, meu amigo… Fique a saber que o antigo vereador e presidente da Fundação Mata do Buçaco, Fernando Jorge Franco, está a juntar tropas para avançar e conquistar a autarquia mealhadense. E nada o demove, até porque os apoios, sobretudo dos socialistas descontentes, são mais que muitos.

Se Marqueiro for ratificado para vice da CCDRC, Franco será o cabeça de cartaz dos socialistas. Se a coisa correr mal lá na Comissão e Marqueiro teimar em concorrer à edilidade, Jorge Franco pode avançar à frente de um movimento de cidadãos. Ao que parece, a concelhia socialista, reconhecendo mérito ao novo anunciado, esta semana, até já o baptizou com o ungido de sagração de bom candidato, está com os olhos em Deus a orar para que o processo corra bem a Marqueiro.”

Agora sou a eu a falar. Esta andorinha é completamente marada, não acham?


MEALHADA: O FUTURO DOS MUNICÍPIOS APÓS A PANDEMIA

(Imagem do Jornal da Bairrada)




O debate, “O futuro dos municípios após a pandemia”, patrocinado pela Câmara Municipal da Mealhada, foi realizado ontem, 3 de Fevereiro, no Teatro Messias. Sem assistência de público e com transmissão directa via Internet, estavam em palco os presidentes das Câmaras, Municipal de Lisboa, Fernando Medina, Municipal do Porto, Rui Moreira, e Municipal da Mealhada, Rui Marqueiro. A moderação foi entregue a Fátima Campos Ferreira, jornalista da RTP e responsável pelo programa Prós e Contras, enterrado, há cerca de três meses, no cemitério mediático em mausoléu dourado com dezanove anos de holofotes, com gosto e a contra-gosto.

O tema, em torno do PRR, Plano de recuperação e de Resiliência, e da chamada Bazuca em que se apontam para cerca de 60 mil milhões de euros vindos da Europa, ao longo dos próximos cinco anos, para recuperar Portugal, sendo de grande actualidade e passível de preocupação social, tinha tudo para correr bem. Mas, como em tudo na vida, como no ditado popular, onde se coloca toda a maior esperança é onde reside a probabilidade de maior desilusão. E o aforismo concretizou-se.

Marcado para as 20h00, começou dez minutos depois, nada de maior, pensei para com meus botões, é o velho e caduco costume académico a chegar à Mealhada. Não deveria ser, tentei argumentar em solilóquio, afinal, em pequenas manifestações de vontade, até há sinais da cidade do leitão, a minha sede de concelho, querer liderar o presente em direcção ao futuro.

E tomei nota do segundo percalço. A minha diva vinda Lisboa, envolvida na plumagem de estrela, Fátima Campos Ferreira, a abrir o evento, deu a palavra a Fernando Medina, presidente da edilidade lisbonense, quando, por responsabilidade anfitriã, deveria ter atribuído a recepção laudatória a Rui Marqueiro.

Porra, Porra! Isto parece fadado para não correr bem. Pode ser que não, contemporizei a minha ansiedade.

Foi então que, progressivamente, me comecei a aperceber que o jogo, apresentado para ser a três, afinal, era só a dois. Como num jogo de pingue-pongue, Fátima, como um árbitro viciado, ora passava a bola a Medina ora a Moreira. E os dois ases da política nacional não se fizeram rogados. E falaram, falaram. E voltaram a falar dos seus imensos problemas em lidar com as leis urbanísticas. Moreira foi ao ponto de insultar - ou pelo menos foi deselegante - os cidadãos que, com razão ou sem ela criticam o poder autárquico. Ou seja, uma discussão que deveria incidir essencialmente nas consequências sociais e económicas sobre os munícipes, sobre as pessoas nos próximos cinco anos, o diálogo tornou-se em algo fastidioso e intragável onde ressaltava a política pura e dura dos dois tubarões, mais interessados em espalhar charme e demagogia, como se já estivessem em campanha eleitoral.

Foi patético assistir ao que se passou no magnífico Teatro Messias. As imagens chegaram a mostrar Rui Marqueiro a roer as unhas, certamente não seria de alegria.

Mas umas perguntas emergem: por que não levantou o dedo em riste à apresentadora e reivindicou a defesa do seu lugar? Ou, por exemplo, nas cerca de três vezes que teve a palavra, poderia ter prolongado a dissertação e tentado capitalizar o seu envolvimento, por que não o fez? Goste-se ou não da forma política como se apresenta o actual presidente da Câmara Municipal aos seus munícipes, duas coisa ninguém lhe pode retirar: a sua vasta experiência política e o seu muito saber sobre direito autárquico. Insisto: por que não defendeu ali o seu lugar?

Bom, sempre podemos especular que procurou não dar nas vistas, o que é uma razão de peso. Mas, em boa verdade, esse abatimento acabou por recair na sua pessoa como um ónus.

Sendo honesto intelectualmente, se a culpa deste desaire não deve ser atribuída por inteiro ao líder da edilidade mealhadense, é também certo que o organizador se pôs a jeito ao convidar as duas maiores estrelas polares da política autárquica nacional. Talvez não prevenisse que o intenso brilho emanado dos seu alter-egos mediáticos o iriam ofuscar completamente. Mas, com a conivência da jornalista da RTP, foi isso mesmo o que aconteceu.

Por que razão não optou Marqueiro por convidar os presidentes das câmaras em redor da Mealhada? Uma pergunta que só ele poderá responder. Mas, avento, provavelmente teria pensado que assim chamaria mais pessoas a visionar o acontecimento e, por outro lado, dar-lhe ia uma maior importância no meio dos dois grandes. Fosse assim, ou assado, não deveremos ter vergonha de sermos pequenos. Somo-lo com muito orgulho.


terça-feira, 2 de março de 2021

ONTEM FUI VACINADO. E DEPOIS, O QUE ACONTECEU?

(imagem da Web)



Ontem levei a primeira dose da vacina Astrazneca contra o Covid-19, no Pavilhão Mário Mexia, em Coimbra.

Sob direcção de Rui Nogueira, médico na USF do Norton de Matos e presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e familiar, pareceu-me tudo muito bem organizado e a decorrer sobre o âmbito da normalidade.

Reparei no ambiente cordato, simpático, com sorrisos nos rostos, e de festa que parecia emanar dos profissionais de saúde.

Também nos candidatos à vacinação era perceptível alguma euforia. Era assim como se fossem fazer a primeira Comunhão.

Quanto a efeitos secundários, nada de maior, mas tive alguns. Durante a noite fui acometido de febre e muito frio. Durante o dia de hoje, Terça-feira, voltei a acusar febre e falta de apetite. Mas nada que um comprimido Ben-u-ron não resolva – isto mesmo foi aconselhado em caso de temperaturas corporais acima do normal aquando da toma da vacina.

Vamos todos ficar bem! Vai calhar a vez a todos. Tenhamos esperança.

 

segunda-feira, 1 de março de 2021

MEALHADA: UMA LUZ PARA A VIDA DE ADRIANO

 

(imagem da Web)




Conforme é público, tudo começou com dois desabafos de um cidadão de nome Adriano Ribeiro, residente na Mealhada, e publicado no dia 23 e 24 do mês transacto no Facebook.

Num português legível, Ribeiro começava por pedir desculpa a alguém que se sentisse ofendido por contar um pouco da sua história. Dizia que há doze anos atrás vivia numa casa de renda, mas como ficou desempregado não tinha meios para pagar a mensalidade. Então a madrinha deu-lhe um barracão, que, para além das quatro paredes não tinha mais nada, para viver com a sua filha mais velha – agora são três crianças. Arranjou trabalho e, sem ajuda, foi fazendo os melhoramentos sozinho. Hoje, graças ao seu transpirado suor, não lhe falta nada… Isto é, à excepção de energia eléctrica, que até agora, através de um cabo, vinha da casa de sua mãe.

Mas alguém fez queixa, e até ao dia 26 de Fevereiro, há quatro dias, por imposição superior, presume-se que a E-Redes, o cabo eléctrico teria de ser desligado.

Eu não estou a pedir que a câmara me pague nada, apenas que me ajude a tentar solucionar o meu problema ... Obrigada a todos e as minhas sinceras desculpas”, concluía Adriano Ribeiro, no Facebook.

Logo a seguir, no calor da notícia, a publicação foi objecto de mais de uma centena de gostos, mais de uma centena de comentários e de mais de uma dezena de partilhas.

Mas passados cinco dias, como ciclone que passou e desapareceu no horizonte, aparentemente, estava nas catacumbas do esquecimento. Não é bem assim. Sendo mais preciso, não estava porque cerca de uma dezena de comentadores que se interessaram pelo caso e também alguns vereadores ligados à maioria e à oposição continuavam a trabalhar na sombra.

Por linhas travessas, embora sem confirmação, vim a saber que Hugo Alves Silva, vereador sem pelouro do movimento Juntos pelo Concelho da Mealhada (mJPCM), tencionava abordar hoje, Segunda-feira, o problema na primeira Reunião de Câmara do mês.


O QUE DISSE O LÍDER DO mJPCM?


Abordado Hugo Alves Silva e interrogado se tinha levado o assunto ao Executivo e, a ser verdade, como tinha corrido, respondeu Hugo:

Eu julgo que os serviços municipais ficaram com uma ideia clara das necessidades.

Pressenti que por parte da senhora Chefe de Divisão de Gestão de Urbanismo havia vontade de cooperar, tentando apontar caminhos legais a percorrer.


MAS A MAIORIA NÃO DISSE TUDO…


De uma fonte camarária, que pediu o anonimato, consegui saber que a maioria no executivo, perante este caso que devia chocar todos, evitando a dimensão social, não dorme em serviço. Ou seja, na reunião não disse tudo o que sabia, nem disse tudo o que tinha feito até aí.

Segundo o meu informador, logo na terça-feira, dia 23 à noite, logo que viu a publicação, o vereador Nuno Canilho, vereador da Acção Social, diligenciou junto da acção social e, além de mais, contactou Adriano Ribeiro, actualmente a trabalhar em Espanha.

Também fui informado que, nos dias subsequentes, Arminda Martins, vereadora com o pelouro da Fiscalização e Gestão de Obras Municipais por empreitada ou administração direta, também comunicou com o munícipe. E que está já tratar de resolver o problema.

Quando interrogo a minha fonte se vai haver solução, enfatiza: “a vereadora Arminda Martins, que é engenheira civil, está com o dossier em mãos. Pela sua competência, sei que está mesmo a resolver o assunto. De qualquer forma a Senhora Chefe de Setor da Ação Social e a Diretora da Adelo, Sónia Coelho (a Adelo tem a incumbência do Serviço de Acompanhamento e Atendimento Social - em articulação com a Segurança Social naquela área especifica) estão a acompanhar a situação. Atente-se, porém, a legalização da habitação tem um conjunto de problemas associados. Aquela zona não é área urbana, o terreno ainda está em nome de um familiar que lhe fez uma promessa de doação do terreno.

Sei que vai ser feita, nomeadamente, uma visita ao local por parte dos técnicos municipais e a recolha de toda a informação possível que ajude a deslindar a dimensão jurídica e legal. Compreenda-se, no entanto, que a Câmara Municipal não tem autoridade para validar violações do Plano Diretor Municipal, nem assumir qualquer ação ou decisão contrária à lei.


NOTA DE RODAPÉ: Por lapso, tomei o Senhor Adriano Ribeiro como sendo de etnia cigana. Não é. Ao próprio e aos leitores as minhas desculpas.