“tenho
69 anos, senhor Luís! Apesar de ser pai de três
filhos
e ter netos, estou sozinho há muitos anos.
Quando
eu morrer não tenho ninguém para me fechar os olhos…”
Ontem
veio ter comigo. Depois do cumprimento da praxe, falando baixinho, em
sussurro muito próprio de gente bem formada e educada em bons
colégios, atirou: “o senhor Luís pode emprestar-me dois euros
até amanhã? É que estou sem dinheiro para ir para casa de
autocarro e tomar um café!”
Conheço-o
há cerca de oito anos. Uma ou outra vez, talvez porque precise de
conversar vem à minha loja. Num desses intervalos, convidou-me para
ir a sua casa. É um homem sozinho, agarrado às recordações. Do
seu passado de glória, na altura com cerca de 60 anos, fazia o seu
alimento espiritual e, de certo modo, a justificação para a sua
continuada existência solitária. De tal modo se projectava nas
coisas, como se estas fossem uma extensão de si mesmo, que escrevi
um texto a seu respeito e dei-lhe o título: “Um homem no seu castelo”.
Hoje,
durante a manhã, veio pagar parte da sua dívida. “Só lhe
posso pagar metade, um euro, não se importa, pois não?”,
concluiu com a certeza de que, sendo assim, o cumprimento da palavra
dada, tal como lhe incutiram em criança, ficaria sem beliscadura.
Sentados
numa mesa com dois cariocas de limão como testemunhas, com a certeza
de que, mesmo estando a entrar na sua intimidade, era pela amizade
que nos unia, de supetão, atirei: diga-me uma coisa para eu
entender melhor, o senhor tem uma boa reforma, como justifica
que chegue a esta altura do mês sem um cêntimo?
Sem
se sentir intimidado pela intrusão respondeu: tenho 69 anos,
senhor Luís! Apesar de ser pai de três filhos e ter netos,
estou sozinho há muitos anos. Quando eu morrer não tenho ninguém
para me fechar os olhos… Vou casar com uma miúda de 24 anos. Gosto
dela, sabe? Eu preciso dela! Tenho muito desejo sexual. Costumo ir
ali ao Largo das Ameias, à (…) e à (…)… São
prostitutas! Abusam de mim! Gasto lá o dinheiro todo!
Esta
rapariga gosta muito de mim. Vou casar com ela!”
Ontem,
por volta das 13h30, um homem de cerca de 35 anos, depois de ter
acessado às torres do Arnado pelo rés-do-chão, entrou no elevador
que dá acesso a diversos serviços judiciais ligados ao Ministério
da Justiça, abriu uma das portas de emergência do 6.º andar e
atirou-se no vazio.
No
pouco que consegui saber, era um homem de olhar perdido, vazado, de
rosto amargurado, cabelos desgrenhados e barba de muitos dias. Digo
eu, extraindo palavras não proferidas, anunciava e cheirava a morte.
O
assunto, hoje, no rés-do-chão do centro comercial é tabu. Ninguém
sabe nada, ninguém viu nada, ninguém quer falar do que aconteceu.
Conseguir algo substancial para escrever a notícia é quase preciso
percorrer loja por loja, restaurante por restaurante. Eureka!, lá se
conseguiu tirar qualquer coisinha de um super-anónimo, muito
anónimo, e mais ainda incógnito sublinhado pela recomendação “eu
sei pouco! E não quero lá o meu nome, está a ouvir?”
Quando
pergunto a razão de todo este segredo, se será porque pode
prejudicar a reputação do centro comercial implantado no centro da
Baixa, o meu interlocutor não sabe responder. “É assim porque
é assim! E pronto! O que é que interessa isto? A morte de alguém,
mesmo para noticiar, importa a alguém?”, interroga-me
com cara de anjo.”
UM
CASO PARA REFLEXÃO
Os
jornais diários da cidade de hoje, Diário de Coimbra e Diário as
Beiras, não escrevem uma linha sobre a ocorrência. Não
tenho a certeza mas creio que há legislação nacional que sanciona
a divulgação de suicídios, pelo menos, de forma sensacionalista.
Mas, tanto
quanto julgo saber, o critério de noticiar ou não uma
morte por autocídio
fica no âmbito
da metodologia da
redacção
de qualquer órgão de comunicação social, embora, diga-se, a
Organização Mundial de Saúde, OMS, recomenda que, para não se
estimular o acto de pôr termo à vida, que se trate o assunto com
“pinças”. “O
suicídio é um problema de saúde pública, e o tema não deve ser
abordado de forma sensacionalista. Cada caso encerra um mistério,
uma história de vida muitas vezes dramática, e com grande
sofrimento”,
escreve
Pedro Afonso, no Jornal online Observador.
Continua
o articulista, “Apesar
de aparentemente estas situações terem na sua origem patologia
psiquiátrica, importa refletir sobre as consequências e os perigos
de se divulgar os suicídios, de forma sensacionalista, na
comunicação social. Há muito tempo que se sabe que o suicídio não
deve ser publicitado, de forma sensacionalista, pelos perigos que
advêm do efeito mimético que a sua divulgação pode provocar em
pessoas fragilizadas pela depressão. Desde o século XVIII que se
conhece o fenómeno do “suicídio imitativo”, designado por
“efeito Werther”
A
questão é:a
total supressão da notícia é bom ou mau para a colectidade? Porque
uma coisa é noticiar o facto como mais uma morte incidental, sem
alardes de sensação, e outra é fazer de conta que nada se passou e
tratar o acontecimento como se não existisse.
Embora
aceite que é um assunto que cabe à decisão dos jornalistas, tenho
para mim que, fazendo de conta que nada ocorreu, seja
lá no que for,
não é o melhor caminho. Empobrece
a comunicação social e deixa uma sensação de vazio no público
leitor que, diariamente, anseia por notícias do seu bairro, da sua
terra. É como se estivéssemos todos a enterrar a cabeça na areia.
Em vez disso, da abolição, dever-se-iam escrever bons textos, sérios, de análise
social que levassem o leitor a entender o que se está a passar na
sociedade portuguesa. O que é que está a concorrer para estes casos
serem repetidos à exaustão? É a economia nacional? São as
políticas sociais que estão a falhar? É o modelo hodierno de
convivência que está a ruir?
Numa
altura de grave crise em que se encontram os jornais em papel, digo
eu, não se deve aceitar de ânimo leve certas directivas, mesmo
vindas da OMS.
Ontem
e hoje, vários candidatos com projectos sujeitos a votação no
Orçamento Participativo, respectivamente, no Coimbra
Participa, destinados a seniores, com mais de 30 anos, e no
Coimbra Jovem Participa, destinados a juniores entre os 14 e
os 30 anos, andaram de loja em loja a procurarem votos para as
propostas que defendem.
Segundo
uma concorrente, que preferiu não se identificar, “sou obrigada
a vir contactar as pessoas directamente porque, por vezes, o portal
do Coimbra Participa onde decorre a votação por via electrónica,
acessível no site institucional da Câmara Municipal de Coimbra,
bloqueia. Foram as pessoas que se queixaram que não conseguiram
aceder.”
Continua
a minha depoente numa crítica implícita à pouca divulgação do
evento, “acredita que andei a percorrer as lojas da Baixa e a
maioria, grande, muito grande, nunca ouviu falar em Orçamento
Participativo, nem o que isso significa?”
A
título de esclarecimento para quem não souber, o Orçamento
Participativo, que está em causa, é uma iniciativa da autarquia
de Coimbra para, sobre o mote “A dinamização do Centro
Histórico”, se apresentarem projectos que serão sujeitos a
votação. Através de um prémio pecuniário de 100 mil euros, o
Coimbra Participa – este destinado a pessoas com idades
superiores a 30 anos – e outro de 50 mil euros, o Coimbra Jovem
Participa – este destinado a jovens entre os 14 e 30 anos –
tenta-se que sejam desenvolvidas ideias novas que possam contribuir
para a revitalização da Baixa e da Alta, que vai até Celas.
A
votação decorre até 30 de Junho (até Sábado, incluído) e o acto
pode ser exercido por qualquer cidadão nacional com idade igual ou
superior a 14 anos por via electrónica, no portal do Coimbra
Participa, no site da Câmara Municipal de Coimbra.
Cada
participante pode votar apenas uma vez em cada projecto.
Os
cidadãos com maior dificuldade de acesso aos meios digitais podem
votar nos seguintes locais:
-Juntas
de freguesia;
-Câmara
Municipal, Divisão de Atendimento e Apoio aos Órgãos Municipais;
-Casa
Municipal da Cultura – Biblioteca Municipal;
-Loja
do Cidadão -Espaço Câmara Municipal de Coimbra.
Faça
como eu que já votei. Deixe-se de desculpas bacocas, dizendo que não
sabe, nunca ouviu falar! Está a brincar comigo, é? Então, diga-me,
já escrevi bastante sobre o dito cujo, não leu nada? Tem mesmo a certeza? Vá lá! Clique aqui em cima. E é só votar! Acredite que não dá dor nem tem efeitos secundários!
“deviam
fazer um trabalho de pesquisa sobre uma das pessoas aqui citada para
assim contribuirem para uma melhor informação aos munícepes de
Coimbra.Bom Ano 2018” - Zita
Alex
Começo
por dizer que, apesar da senhora ter comentado o post da ON Coimbra
sobre os”5 blogues mais influentes de Coimbra” há 26
semanas, só hoje, 28 de Junho, tomei conhecimento.
Pelos
comentários ínvios (em que não há caminho) que tenho recebido da
senhora desde há meses a esta parte, bem ao jeito de “atira e
foge”, dou por certo que este seu é dirigido a mim.
Como
ressalva, confesso que, tal qual como tenho feito nos últimos tempos
em relação a apartes seus, estive para não ligar a mais esta sua
ferroada.
Em
jeito de desabafo, lamento o seu rancor permanente à minha pessoa,
embora plasmado em sementes de insinuação (criar
suspeitas no ânimo de outrem) e insídia (espera às
escondidas que se faz alguém para o atacar).
Com
franqueza, não faço ideia onde germinou todo esse seu fel. Falei
com a senhora uma ou duas vezes acerca da vida mercantil.
Conhecemo-nos mal. Admito que, num apriorismo exacerbado e levado à
letra, possa estar a ser levada para campos que a sua racionalidade
não controla. Suponho que, por ambos sermos comerciantes, tenha algo
a ver com a sua opinião, de líder de uma associação comercial
recentemente criada, que, por certo, não será coincidente com a
minha, nomeadamente com textos que escrevo no blogue.
Portanto,
em resumo, apelando ao seu bom-senso e em forma de desafio, venho
rogar-lhe que, de duas, tome uma decisão:
-Ou
esquece que eu existo de uma vez por todas;
-Ou
se, porventura, é detentora de informações relevantes a meu
respeito que os “municepes” - como refere no
comentário deixado no site da ON Coimbra
- devem conhecer, tenha a gentileza de, uma vez por todas,
as plasmar aqui.
Na
segunda-feira da semana passada encerrou a Marvac, uma
vetusta firma de mobiliário, louças e materiais para casa-de-banho,
na Rua Simões de Castro.
Segundo
a página
na
Internet, “A
empresa iniciou a sua actividade em 23 de Janeiro de 1946 na rua da
Sofia nº123 e 125 em Coimbra, no comércio de cristais, vidros e
materiais de construção. Em 1999, a empresa mudou de instalações
para a rua Simões de Castro nº 153, onde presentemente continua a
funcionar.”
Depois
de 70 anos a laborar na Baixa de Coimbra, cerca de meio-século na
Rua da Sofia e vinte anos na Rua Simões de Castro, quase a pedir
desculpa por partir sem despedida, quase em segredo, a Marvac foi
para o infinito de silêncio onde repousam todas as grandes empresas
que marcaram a história da cidade.
Embora
só esta semana fosse oficial, depois de meio ano em actividade,
encerrou a semana passada, na
Rua do Corvo,
o estabelecimento “Tripas&Fitas”,
uma bonita casa de hotelaria com
cafetaria e
cujo chamariz principal são as celebérrimas tripas de Aveiro e
outros doces de estalar o palato.
Não
se sabe ao certo a razão do fecho do espaço comercial e industrial.
Isto é, se foi por causas conjunturais e económicas se por motivo
de força-maior.
Um
vizinho, que pediu o anonimato, afirmou que Mara Ventura, que veio de
Aveiro tentar a sua sorte na cidade de Aeminium, foi obrigada a
encerrar por doença. A ser assim, e, se calhar, antes não fosse,
desejamos as rápidas melhoras à jovem
empreendedora que, apesar do pouco tempo entre nós, granjeou uma
aura de simpatia.
Desde
Janeiro, último, é
o 23º encerramento comercial na Baixa.
SEMENTEIRA
EM TERRA NOVA
No
início da semana passada, no antigo Augusto Neves, um quase
centenário estabelecimento de ferragens que foi para os anjinhos em
2008,
na Rua da Sofia, abriu a “Loja do Euro”.
Embora
já exista um estabelecimento na Baixa com o mesmo conceito, na Rua
da Gala, onde qualquer produto tem o mesmo valor de uma
moeda de
euro, este novo espaço, que agora abre portas, nada tem a ver com o
concorrente. Segundo informações curtas de alguém que sabe do que
fala, este novo investidor vem de Viseu. Nesta
cidade e Lamego
detém vários estabelecimentos no género.
Ao
novo vizinho desejamos as maiores felicidades.
QUADRO(S)
DE ESPERANÇA
(Foto do Diário de Coimbra)
Citando
o Diário de Coimbra”Se
tudo correr como deseja Gonçalo Quadros, dentro de um ano e meio, a
sede da Critical Software estará instalada no Arnado, no edifício
dos antigos armazéns da Coimbra Editora. O imóvel, com cerca de
quatro mil metros quadrados, foi recentemente adquirido pela empresa
portuguesa - que hoje celebra o seu 20.ª aniversário - e a
expectativa é a de que o edifício venha a acolher cerca de 400
novos funcionários (…).”
Durante
a manhã da última quarta-feira a zona da Loja do Cidadão foi
interditada a trânsito automóvel para filmagens.
Segundo
uma fonte que pediu o anonimato, trata-se da nova grelha de
publicidade à empresa de comunicações NOS. Segundo a minha fonte,
uma equipa de filmagens está a percorrer várias cidades do país e
com vários artistas nacionais a interpretarem “a minha
casinha”, uma recriação dos “Xutos e Pontapés”.
Na
última sexta-feira, o Diário de Coimbra (DC)
-o
nosso “Calinas”, como é tratado com carinho pelos mais velhos -
deu uma
lição de
jornalismo ao
“novato” jornal PÚBLICO.
Por
ocasião do seu 88º de existência o DC, ao contrário do seu
congénere, fez um bom trabalho a propósito da comemoração dos
cinco anos de Património Mundial, atribuído pela UNESCO. Ouvindo
todos os intervenientes com responsabilidade no presente e no futuro,
no caso, comerciantes, hoteleiros, residentes e representantes do
poder instituído, deu voz a todos. Quem leu, mais que certo, ficou
com uma opinião mais bem formada sobre a consequência da
legitimação para
a Alta e para a Baixa da cidade.
Tal
como anteriormente, este ano, para “celebrar
a inscrição da “Universidade de Coimbra, Alta e Sofia” na Lista
do Património Mundial da UNESCO sob o signo da reflexão e
intervenção artística” começou na sexta-feira passada um vasto
programa que “convida à deambulação e propõe a (re)descoberta e
novas leituras da Cidade através do cruzamento de vários
patrimónios: do edificado à língua e à música, da imagem à
palavra e desta ao corpo e ao seu movimento no espaço-tempo”
- texto retirado do programa oficial das festas que, desde
cinema, roteiro gastronómico entre estabelecimentos hoteleiros no
Centro histórico, teatro na rua e um jantar num largo da Baixa,
decorreram
entre 22 e 24
de Junho.
A
crítica a estes eventos pode ser sintetizada numa pergunta e numa
exclamação: já foi? Nem dei por isto!
SÓ
DEVE MEXER EM VELHARIAS QUEM SABE
A
Feira de Velharias, realizada ao
quarto Sábado de cada mês habitualmente na Praça do Comércio,
devido ao facto de ter sido instalado um ecrã gigante e uma zona de
lazer, fanZone, na antiga praça velha, foi transferida para o
Terreiro da Erva neste
último Sábado.
Segundo o jornal online Notícias
de Coimbra, “Com
esta transferência, a título excecional, a Câmara Municipal de
Coimbra cumpre, assim, a calendarização de uma iniciativa que
acolhe dezenas de expositores, oriundos de diferentes pontos do país,
para exibição e venda de antiguidades de índole diversa, este mês,
num espaço que merece ser vivificado”
Por
que não houve informação suficiente, sobretudo para os visitantes,
houve pouca gente no reclassificado Terreiro da Erva a visitar as
tendas. No
mínimo, mandava o bom-senso que fosse colocado um painel aéreo a
atravessar a antiga praça velha para os habituais clientes deste
certame tomarem conhecimento da mudança de local.
Para
complicar ainda mais, esteve uma canícula de quase 40 graus celsius.
Para
encrencar
ainda mais a coisa, Manuel Machado, o presidente da Câmara Municipal
de Coimbra, que nunca colocou os pés no antigo espaço da Praça do
Comércio, deu-lhe para ir ver como é que ficavam arrumados os
estendais na “menina
dos seus olhos”,
como quem diz, no Terreiro da Erva restaurado sob este seu reinado.
Se
seguisse o seu horóscopo, não
devia ter ido por que não estava nos seus dias.
Para
embrulhar ainda mais o que já estava muito emaranhado, numa
“espécie
de posso, quero e mando”,
deu-lhe
para se meter com uma vendedora que não tem papas na língua. A
Inês Contins, da Figueira da Foz, uma esforçada mulher de trabalho,
que conheço bem, como é óbvio, não fala a mesma linguagem estatutária de
Machado, o político bem sucedido, e o desencontro só poderia dar
bronca.
Ora,
por conseguinte, juntando
tudo num caldeirão, é de prever que, se o pelouro da Cultura
continuar a tratar os vendedores com o mesmo desrespeito e não descer do ilusório pedestal em que se julga entrosado, a toponímia do
velho terreiro seja alterada muito em breve para “Praça dos Coveiros da Feira de
Velharias”.
Na
presença, elevada pela consideração, de muitos amigos do
expositor, ontem, pelas 18h30, no Recordatório Rainha Santa Isabel,
ao lado do Portugal dos Pequenitos, foi inaugurada, e estará
presente até 30 de Julho, a exposição de fotografia de Mário
Afonso.
Sobre
o tema “Aqui há gato”, o visitante pode perder-se pelas
imagens “falantes”, cheias de sensibilidade, do autor.
Cerca de vinte fotografias de gatos, captadas pelo olhar artístico
de Mário Afonso, nas mais variadas posições, mostram, ou parecem
mostrar, que os felinos também têm sentimentos e, para quem tiver
disponibilidade mental para recolher os momentos, transmitem uma
linguagem de amor.
Se
nós, humanos, no campo dos talentos somos o que fazemos, também é
verdade que se não mostrarmos o nosso desempenho e o sujeitarmos à
crítica social é como se essa actividade não existisse. E isto
para tentar perceber a generosidade do meu amigo Mário Afonso ao, de
uma forma gratuita e sem o habitual “O que é que eu ganho com
isso?”, nos oferecer o fruto das suas divagações sem nos
pedir nada em troca.
Mas,
afinal, quem é o homem que, em
traços curtos,descrevo?
“O
Mário, é
um
franciscano sem hábito”.
Quem
o afirmaé
José Gomes, um
amigo comum. “Éum
ser humano
fantástico”,
prossegue.
“Foi
fundador da secção de fados da Associação Académica de Coimbra,
foi colaborador em diversas publicações, regionais e nacionais, e
também da RTP.”
Falando
por mim, o Afonso é aquele amigo do peito, aquele ser único que
está sempre disponível vinte e quatro horas por dia para o seu
chegado. É um sujeito sorumbático, introspectivo, que, por falar
pouco, dá a parecer que anda nas nuvens, que é nefelibata, e não
se apercebe do que gira à sua volta. Puxamos dele a primeira frase, e como génio saído da lamparina, não pára de nos surpreender
pela acutilância e fundamentação das suas teses. O Mário é um
especulador, no sentido de observador, presente na cidade. Nas suas
deambulações, com o seu olhar projectado e materializado na máquina de guardar instantes, a recolha de imagens surge como um grito
silencioso de revolta.
Numa
frase curta, gosto dele. Pronto!
Por
tudo o que foi explanado e pelo que fica por dizer, visite a
exposição “Aqui há gato”, no Recordatório, e como se
fosse embaixador das pessoas de boa-vontade, deixe um abraço ao
Mário Afonso.
Há
dois anos, em Janeiro de 2016, os hoteleiros com esplanadas na cidade
foram surpreendidos
com um brutal aumento de licenças de ocupação de via pública. Até
aí o espaço era cedido gratuitamente. Sem aviso prévio passou a
cobrar-se 2 euros por metro quadrado.
Há
cerca de três meses, sem se saber a razão, ocupação
de via pública com expositores de postais na Baixa passou de 10
euros por ano para 10 euros por mês. Os expositores de fruta
seguiram aumentos na mesma lógica.
FILHOS
DE DEUS
Há
menos de um mês, durante uma semana, foi realizada
a Feira Cultural de Coimbra no Parque da cidade. Sem que os
vendedores presentes pagassem um cêntimo, a autarquia derreteu 202
mil euros na sua concretização.
No
âmbito das Festas da Cidade, dentro de dias vai ser inaugurada a
Feira Popular. Foram cabimentados 50 mil euros para que os ingressos
por parte do público sejam gratuitos.
Foram
anunciados 40 mil euros para custear a FanZone na Praça do Comércio,
onde inclui a realização de espectáculos com artistas.
A
decorrer entre 13 e 22 de Julho próximo, vai decorrer o Festival das
Artes 2018. Tal como no ano passado, por unanimidade, foi aprovado um
subsídio de 70 mil euros à Fundação Inês de Castro. “Subordinada
ao tema 'Amores e desamores', a edição deste ano do Festival volta,
no entanto, a ter como palco principal, à semelhança dos anos
anteriores, os jardins da Quinta das Lágrimas, particularmente o
anfiteatro (ao ar livre) Colina de Camões.”
Na
década de 1990, durante alguns anos, vendi em feiras de velharias. É
mais que certo que não repetirei mas, do ponto de vista humano, foi
uma experiência muito rica. Para além de travar conhecimento com
imensos vendedores esforçados que vinham de vários pontos do país
para ganharem uns cobres e fazerem face à sua vida difícil, conheci
outros, tais como, professores, engenheiros, funcionários públicos
cuja necessidade era meramente o contacto com os objetos antigos para
aumentarem a sua colecção. Como se estivessem numa festa,
frequentavam os certames como vendedores, mas compravam mais do que
vendiam.
Enquanto
andei por lá de terra em terra, deu também para apreender que o
vendedor de velharias era sempre desprezado por todos, pelos colegas,
pelos compradores e, sobretudo, pelas entidades camarárias que, como
actores de um teatro cénico para alegrar o povo e revivificar o
lugar, se serviam deles gratuitamente e cujo pagamento era a
desconsideração contínua a raiar a humilhação. Resultado de um
costume implacável, que sempre o colou o vendedor de arte ao “ferro
velho”, poucos sabem e dão o valor que estas pessoas
representam para a cultura nacional, para que esta não se perca nas
amálgamas dos vazadouros. O vendedor de velharias é um
carismático recuperador do passado e cuidador da memória colectiva.
Encara o seu ofício como missão social. Mais, na maioria dos casos,
o que o move são os sentidos da estética e da utilidade social e menos o interesse
monetário que possa advir de um qualquer bem que se enamorou num
primeiro olhar. Estas pessoas, bem ao género do “Livreiro de
Cabul”, são generalistas e apaixonados pela arte em geral.
Gostam de tudo o que seja diferente, desde que toque os seus
sentidos, e fuja ao comum.
I
Vem
esta longa introdução para melhor entender a desabrida e
deselegante frase proferida hoje por Manuel Machado, presidente da
Câmara Municipal de Coimbra (CMC), para um expositor que reclamava da
transferência da Praça do Comércio, onde se realiza desde 1991,
para o Terreiro da Erva -aparentemente a título excepcional por
causa da implantação de uma FanZone, com ecrã gigante e área de
lazer, para visionar os jogos do Mundial. Embora, disseram alguns
vendedores, no Edital que comunicava a transferência estava plasmado ser também a título experimental.
Afinal,
depois de interrogar, o que respondeu o autarca à reclamação?
Simplesmente isto:
-Quanto
é que a senhora paga por expor?
-Nada,
senhor presidente! (respondeu a vendedora)
-Então,
se a senhora não está contente não venha. Não volte! (rematou
Machado)
Antes
de entrar na análise sobre a reacção rude, intempestiva e
inadequada de Machado, vamos aos preliminares:
Primeiro,
sabendo os serviços da cultura municipal que a Feira de Velharias se
realiza sempre ao quarto Sábado de cada mês na Praça do Comércio,
porque razão colocaram lá a FanZone sabendo que colidia com o
certame?
Por
que não colocou o ecrã gigante noutro local da Baixa?
Porque
não fez o contrário e instalou a FanZone no Terreiro da Erva? Tendo pensado antecipadamente na mudança para o Terreiro da Erva porque não foi colocado um painel gigante na Praça do Comércio a informar os visitantes que mensalmente se deslocam a Coimbra da transferência?
Segundo,
tentando dar resposta a estas questões formuladas, especulando, é
de prever que o pelouro da Cultura agiu assim porque, por um lado,
quer enterrar de vez a Feira de Velharias, por outro, pelo pouco
respeito que manifesta a pessoas que esforçadamente se deslocam a Coimbra para animar a cidade
-relembro que o critério não é igual para todos, basta recordar
que alguns expositores que estiveram presentes na Feira Cultural de
Coimbra, alegadamente, tiveram direito a subsídio de deslocação. Não se procura tratamento igual -já que todo o espaço público que tenha por objecto retorno de investimento deve ser pago. Quem vende no espaço público, sem abuso da parte administrativa, deve comparticipar nos custos de implantação, não o fazendo, para além de gerar desigualdade, está a ser beneficiado em relação aos comerciantes instalados. Contrariando o que se possa pensar, o facto de não ser cobrada qualquer verba não serve os interesses dos expositores, já que nos últimos vinte e cinco anos a CMC nunca investiu qualquer verba, sobretudo em publicidade, para promover o certame. A alegoria esteve sempre entregue ao seu mentor Carlos Dias, proprietário do Velhustro, e decano das antiguidades na cidade. Para o bem e para o mal, foi graças a expensas suas que a festa mensal se foi fazendo e mantendo ao longo dos anos. Certamente pela elevada idade de Carlos Dias, sendo parceira na fundação da feira, a CMC entendeu, por volta de 2010, colocar uma técnica no terreno a par com Carlos Dias. Talvez porque apanhou o mercado franco em cima de uma crise económica conjuntural e em crescimento, não foram feitas as alterações necessárias e tudo continuou como dantes
II
A recessão que se instalou no país, levando ao nascimento acelerado de feiras de rua em todos lugares habitados, fossem cidades médias, pequenas ou vilas, para além da demasiada oferta fragilizar todos os mercadores deu-se também o aparecimento do "Abutre sem alma". Este personagem, que sempre existiu no mundo comercial mas só aparece de tempos a tempos, quando as condições estão criadas, é um operador insensível, cuja arte, enquanto mística, não o toca, é um mero adquirente entre o vendedor e o comprador. Vende um móvel do IKEA e uma pintura de autor consagrado com a mesma displicência. Não distingue os valores da utilidade e artísticos. Não diferencia uma primeira edição rara de um vulgar livro de escritor de fim-de-semana. Frio e sem coração, só dois pensamentos conduzem a sua vida: ganhar dinheiro e ganhar dinheiro. Quem não se recorda o que aconteceu a toneladas de obras artísticas em ouro que foram esmagadas e vendidas ao quilo? Apresentando-se com simplicidade, bem-falante, gerando confiança a quem pretende vender, começa por prometer mundos e fundos. No meio de malabarismo psicológico, acaba por não cumprir o prometido e, levando apenas o mais valioso, acaba a pagar o que quer. Esmagando o vendedor particular, deixa-o a chorar com as mãos na cabeça. Chegado com parte da carga ao armazém/loja a sua preocupação é realizar dinheiro rapidamente. Para isto acontecer, vende a qualquer preço -chegando a alienar peças com preço inferior ao custo. A sua intenção maior, e que lhe proporciona um certo gozo interior, é arrasar toda a concorrência em redor e criar fama de vender barato. Como no acto de adquirir, o coleccinador/comprador/consumidor é desprovido completamente de valores de ética, moral e justiça, transformando-se num aborto sem senso, absorve sofregamente tudo sem pensar e torna-se instrumento precioso na destruição colectiva da arte. Quanto mais espremer o vendedor para comprar acessível, proporcionalmente, mais o prejuízo aumenta na sua extensa colecção que detém em casa. A factura tardará mas não falhará. Virá mais tarde quando quiser vender um acervo de obras que custaram ao longo de uma vida uma fortuna e verificar que, aparentemente sem nada fazer, perdeu cerca de dois terços do valor atribuído. Claro que a contribuir para tudo isto foi também o facto de, na última década, o conceito de arte se ter promiscuído: qualquer um é pintor, e pinta em barda, qualquer um é escritor, e escreve livros atrás de livros, qualquer um é escultor, e produz escultura a esmo, qualquer um canta e edita discos. A assistir a tudo isto está um público que, porque fica bem, sem coragem para dizer não, aceita tudo sem pestanejar. O resultado desta hecatombe, como se adivinha, só pode redundar em tragédia. Por este andar, qualquer dia, comemos em pratos de faiança antigos, mas, como o seu preço desvalorizou infinitamente e ninguém dá nada por eles, envolvidos pelo manto da miséria, passamos fome. As pessoas esquecem que a Arte, para constituir valor, nunca poderá ser democrática. E quando for acessível a todos, como está acontecer através do excesso de produção a baixo custo, o desvalor acentuado extermina toda a criação artística à sua volta. É que a Arte para levar o selo diferenciador do comum tem de possuir quatro princípios acoplados: ser rara, ser cara, ser genuína, e ser descoberta. Perdendo uma destas premissas, passa a desconhecida ou vulgar objecto de adorno.
III
Quanto
à manifestação de Manuel Machado para a senhora que interpelou, é
de prever que aconteceu assim porque, tal como escrevi na introdução,
como os vendedores não pagam ocupação de espaço público, logo, no
entender do edil, quem deve agradecer, curvando a espinha e aceitando todas as faltas de respeito, são estes animadores sociais. Vindos de longe, com despesa certa e gratuitamente, como nada pagam, no entender do autarca, estão sujeitos a qualquer arbitrariedade sem poderem reclamar. São os novos saltimbancos, os trabalhadores sem salário e sem direitos que animam, fazem atrair gente, mas a cidade não lhes é devedora de qualquer atenção.
A
Feira de Velharias, realizada ao quarto Sábado de cada mês
habitualmente na Praça do Comércio, devido ao facto de ter sido
instalado um ecrã gigante e uma zona de lazer, fanZone, na antiga
praça velha, foi transferida para o Terreiro da Erva. Segundo o
jornal online Notícias de Coimbra, “Com esta transferência, a
título excecional, a Câmara Municipal de Coimbra cumpre, assim, a
calendarização de uma iniciativa que acolhe dezenas de expositores,
oriundos de diferentes pontos do país, para exibição e venda de
antiguidades de índole diversa, este mês, num espaço que merece
ser vivificado”
Cerca
de uma vintena de vendedores oriundos de Coimbra e de vários pontos
do país aceitaram o chamamento. Por volta das 11h00 fui ver como se
encaixam os expositores na praça requalificada, em 2016, pela Câmara
Municipal de Coimbra.
Tendo
em conta que se trata de um espaço amplo e lindíssimo, encravado no
coração da cidade e sem utilidade pública depois dos
melhoramentos, gostei de ver o enquadramento paisagístico. A questão
é saber se, depois de vinte sete anos num local certo, os
coleccionadores continuam a ir atrás dos vendedores.
Falando
com dois operadores estabelecidos na zona há vários anos, deu para ver que vêem com
bons olhos a transferência do certame para este local a título
definitivo.
Já
por parte da maioria dos vendedores de velharias presentes hoje o desânimo e a revolta
pela mudança estava em marcha.
Para
Carlos Branco, vindo de Pombal, “gosto deste local! Por mim
continuava aqui! É um sítio muito agradável! Comparando com a
Praça do Comércio, os comerciantes daqui são mais hospitaleiros.
Parecem gostar mais de nós, entendes? É certo que aqui, no terreiro
da Erva, não há turistas, mas quanto aos clientes que nos seguem,
tenho a certeza, com o tempo habituam-se.”
Francisco
Moreira, ex-bancário agora aposentado, vem das proximidades, mora na
cidade, “o local é péssimo! É um sítio isolado e
desconhecido dos nossos compradores. Como vês não há gente a
visitar. Para além disso, como não tem árvores, é muito quente!”
Um
outro casal, que preferiu não se identificar, vindo de Lisboa,
falando a uma só voz, disse o seguinte: se a feira for para
continuar aqui não viremos mais! O que mais se vê a bisbilhotar os
produtos são toxico-dependentes.”
Quem
não se queria ficar pela opinião era Inês Contins, da Figueira da
Foz, que já contactava outros colegas para colocar em marcha um
abaixo-assinado. Eis então que, quando convidava outro vendedor a
tomar uma posição por escrito, foi interpelada por um senhor de
pêra, bem-vestido, de fato e gravata, e com óculos escuros:
-Bom
dia! Manuel Machado, presidente da Câmara Municipal de Coimbra!
Pode
dizer-me o que se passa?
-
(Um pouco titubeante pela investida brusca, Inês não se deu por
achada) Bom dia, senhor presidente, peço desculpa mas, como sou da
Figueira da Foz, não o reconheci. O que se passa é que este local
não é o mais indicado para realizar a Feira de Velharias e,
enquanto vendedores, estamos muito descontentes.
-Quanto
é que a senhora paga por expor? (interroga Machado)
-Nada,
senhor presidente! (respondeu Inês)
-Então,
se a senhora não está contente não venha. Não volte! (rematou
Machado)
“mostra
a nu que a entidade pública Universidade de Coimbra,
à
custa do erário público, é capaz de tudo para, de forma
interesseira,
impor a sua verdade construída e assente num
umbiguismo
exacerbado”
Na
edição de ontem o jornal PÚBLICO, num suplemento patrocinado de
sete páginas e mais duas de publicidade, sobre os cinco anos da
inscrição da Universidade de Coimbra, Alta e Sofia, na Lista de
Património Mundial da UNESCO, Organização das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura, mostrou como, a troco de
contra-pagamento, se pode dar um exemplo de jornalismo no seu pior.
Enquanto
leitor diário de jornais locais e nacionais eu já sabia que o mundo
da imprensa escrita em papel caminhava num terreno sem chão, lodoso
e peçonhento, e cada vez mais inclinado para o desaparecimento de
grandes títulos que fizeram história -como é o caso do Diário de
Notícias que, no próximo mês, vai apenas ser publicado uma vez por semana e na
Internet. Mas, no fundo, bem no fundo, sempre tive esperança de um
retorno, e um deles, a meu ver e até agora, por perseguir uma linha
editorial de independência, quer de partidos políticos, quer do
grande capital manipulador, seria o PÚBLICO.
Com
o trabalho encomendado ao diário fundado por Belmiro de Azevedo,
ontem publicado, fiquei com a certeza de que estamos cada vez mais a
caminhar para o charco.
Na
minha modesta opinião de leitor, o jornal portuense, em paradigma,
mostrou o pior que se pode “vender” a um universo de
adquirentes de informação: uma reportagem enviesada,
onde o elogio barato ao pagador sobressai, manipulada, atentatório
aos bons usos e costumes e a uma independência jornalística que se
exige. Uma espécie de corrompimento legal, declarado e aceite
tacitamente na frase “Suplemento Patrocinado”. Quanto
teria custado a encomenda realizada pela Universidade de Coimbra, é
a questão acessória. Já quanto à inquirição principal nem
precisa de grande exercício de análise: mostra a nu que a entidade
pública Universidade de Coimbra, à custa do erário público, é
capaz de tudo para, de forma interesseira, impor a sua verdade
construída e assente num umbiguismo exacerbado. Mais: que,
sem oposição do poder local que convive de braço dado, é uma
cidade maior dentro de uma cidade menor. É a prova provada que,
sendo um Estado dentro de outro Estado, é uma espécie de Vaticano
encravado.
Quem
leu a peça do PÚBLICO, ontem, certamente como eu, ficou com a
certeza de que Coimbra, em relevância, é somente composta pelo
património classificado pertencente à Universidade e… ao Café
Santa Cruz, que era referido na peça duas vezes pelos seus pastéis
Crúzios. Para além do considerado pelo articulista só o deserto. A
restante cidade, fora da área onde as faculdades estão implantadas, é um vazio,
não existe. Nada que surpreenda! Os indícios, para quem quiser ver, são mais que muitos
UMA
BOA LIÇÃO DADA PELO “CALINAS”
Quem
faz o favor de ler o que escrevo sabe que, volta e meia, ando de
candeias às avessas com a imprensa que se faz na cidade. Na maioria
dos dias que compõe um ano, é um jornalismo apagado, sem chama,
sem glória e rendido aos poderes instituídos na cidade. De trás
para a frente, lê-se transversalmente um jornal da cidade em três
minutos.
Pois
pasme-se! Desta vez o local Diário de Coimbra (DC), em especial
pelos seus 88 anos de existência, transcendeu-se. Como a querer dar
uma palmada de luva branca ao concorrente nacional PÚBLICO, o diário
do emérito Adriano Lucas apresenta hoje um trabalho de cinco
estrelas sobre os cinco anos da classificação como Património
Mundial.
Sem
publicidade paga pela Universidade de Coimbra, o DC, ouvindo todos os
actores, desde o Reitor da Universidade, passando por outros órgãos
do poder representativo, até moradores e comerciantes, dá hoje uma
lição de como fazer bom jornalismo, livre e independente.
Curiosamente
os patrocinadores deste caderno especial com 32 páginas vão desde
uma página inteira apadrinhadas pelos Forum Coimbra, pela
Auto-Industrial, pela CIM-RC, Comunidade Intermunicipal Região de
Coimbra, e Iberocar, ren-a-car, até pequenos anúncios de juntas de
freguesia, instituições públicas e privadas e dos melhores do
nosso comércio e da nossa indústria que representam a cidade dos
estudantes.