quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...






Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: HÁ SILÊNCIOS QUE INCOMODAM":


Sr. Luís, só saberá se o desemprego não desceu, se comparar as insolvências ou simples fechos nos últimos dois anos, com os ocorridos em anos anteriores. Só aí poderá confirmar se o Costa é, ou não, aldrabão. Naturalmente, pode dizer também que o INE, ao fazer as suas estatísticas, ou as finanças e os tribunais, nos registos de falências, encerramentos, etc, também são todos aldrabões. E o comércio interno não está nada em crise. Há muito tempo que as pessoas não consumiam tanto no comércio. O mundo não é a Baixa de Coimbra.

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Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "EDITORIAL: HÁ SILÊNCIOS QUE INCOMODAM":


A Baixa de Coimbra está abandonada e em consequência disso fica doente como fica quem por estas ruas e ruelas passeia diariamente há muitos e muitos anos, que o digam os tristes comerciantes que honestamente teimam em resistir, mas está a chegar a hora em que, queiram ou não, têm que abandonar o barco. Mas entre estes ainda há quem não sinta a crise. «Serão estes os senhores que têm todos os direitos?» Sim porque enquanto uns têm direitos outros têm deveres, e estes sim, sentem a verdadeira crise.
Ainda bem que há um SENHOR chamado LUÍS que ocupa uma grande parte do seu tempo para chamar a atenção dos problemas da nossa Baixa. Pena que a voz dele esteja num tom tão baixo que a maioria das pessoas que eventualmente possam dar uma ajudinha não o ouçam.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

EDITORIAL: HÁ SILÊNCIOS QUE INCOMODAM





Ao longo dos últimos cinquenta anos, nunca,
na história comercial da parte baixa da cidade,
como agora, aconteceu uma coisa destas.

Depois de um final de Dezembro intensamente ruidoso, quando uma manifestação de alguns lojistas e funcionários se postaram em frente da Câmara Municipal de Coimbra para tentar acordar o executivo para a grave crise que se abateu sobre o comércio da Baixa, como a mostrar o aforismo de que depois da tempestade vem a bonança, eis que caímos num final de Janeiro assombrosamente silencioso. E o caso até seria de fazer muito estrondo se levarmos em conta que neste primeiro mês do ano encerram seis lojas na Baixa. Repito, seis estabelecimentos: a Mango, de vestuário, na Rua Ferreira Borges; a Loja da Kika, de roupas e arranjos, na Rua dos Esteireiros; a Loja de Artigos Chineses, vestuário e diversos, na Rua das Padeiras; a TLX, de vestuário, na Rua Eduardo Coelho; a Loja da Laura, calçado de criança, na Rua Eduardo Coelho; a Laculote, de pijamas e roupa interior de homem, na Rua do Corvo. Ao longo dos últimos cinquenta anos, nunca, na história comercial da parte baixa da cidade, como agora, aconteceu uma coisa destas.
Antes de entrar na análise do contexto local, vejamos o que está acontecer com a conjuntura nacional. Basta ligar o televisor e verificamos que há duas realidades. A primeira, difundida em coro por António Costa, o Primeiro-ministro, e Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, apregoam que o país está em velocidade de cruzeiro, com as exportações a crescerem em ritmo alucinante e o desemprego a descer para níveis nunca vistos. Depois vem a segunda realidade, esta a cair nas nossas cabeças como se fosse uma martelada: fecha a fábrica Ricom, da marca Gant, em Vila Nova de Famalicão, e cerca de 800 funcionários vão para o desemprego. Também neste Janeiro outra notícia idêntica: a fábrica Triumph, em Loures, fecha por insolvência e, por isso mesmo, 500 trabalhadores vão engrossar as filas de desempregados. Então, em face disto, surge uma pergunta: quem nos está a enganar? António Costa? Marcelo Rebelo de Sousa? Ou ambos? E aqui, no tocante à postura alinhada do Presidente da República (PR) com o Primeiro-ministro (PM), dá para ver que Marcelo não está a desempenhar o trabalho que se espera dele. Ao verificarmos a segunda verdade, vendo que os resultados da economia estão hiper-inflacionados, facilmente damos por nós a perceber que estamos a ser enganados. Que António Costa, enquanto chefe do Governo, dentro do seu trabalho político, faça isto até se entende. Já o comportamento político do PR é profundamente questionável. A bem dos princípios da transparência e clarificação, ninguém de bom-senso pode concordar com o que está acontecer. Dizermos que Marcelo está a injectar optimismo nos portugueses para tocar o país para frente, como justificação, é pura e simplesmente bizarro. O que se espera do exercício do PR, enquanto função de Chefe-de-Estado, é uma postura de honestidade política, uma espécie de contra-poder perante o governo da nação e outros poderes institucionais. Um árbitro independente. Pensa-se nele como uma espécie de quarto poder instituído acima dos três consagrados: Executivo, Legislativo e Judicial. Ora, com esta formação em linha, o PR está a minar e a viciar a confiança de todos os portugueses -não só os que votaram nele, mas todos.
E agora vamos, então, à conjuntura local, ou seja, ao que se está a passar com a grande depressão no comércio da Baixa. E vamos a uma pergunta de retórica:

O que se passa na Baixa de Coimbra não será em parte o resultado da grave crise que o comércio interno atravessa também em função da instabilidade da indústria nacional?

É certo que podemos entrar no seguinte silogismo: se todo o comércio interno está em crise, logo, os grandes centros comerciais também estão. Acontece que não é assim. As grandes áreas comerciais continuam a abrir e, aparentemente, não sentem a decadência que se respira no comércio de rua. Porquê?
Estou em crer que, sobretudo as grandes marcas internacionais com muitas e grandes lojas, não sentem a incerteza por não estarem dependentes nem da indústria nem dos grandes fornecedores nacionais. Abastecem-se directamente em países emergentes da Ásia e, comprando em grandes quantidades, obtêm preços sem concorrência no nosso mercado.
Então, a ser assim, a estagnação que se sente em Coimbra não é apenas local mas nacional. Mas, se é de facto assim, porque não se ouvem grandes lamentos de outras cidades? Responda quem souber.
Por outro lado, especulando, será que a realidade que está acontecer em Coimbra, ao ser “escondida” pela maioria socialista no executivo, ao fazer de conta que nada se passa, e não ligar ao assunto, não pretende ter o mesmo alcance político do que se constata a nível do rectângulo? Ou seja, sendo este governo local da mesma cor do nacional, faz sentido esta hipótese, não faz? Ou é meramente uma teoria conspirativa? 

A ADELAIDE ESTÁ PARA AS CURVAS





Depois de muitas décadas na Praça 8 de Maio a vender castanhas, amendoins, pistáchios, pinhoadas e tremoços, depois de duas intervenções cirúrgicas e uns meses no estaleiro de uma unidade de acompanhamento e prestes a comemorar o 94º aniversário -será no próximo 12 de Março-, a mulher mais querida do Centro Histórico está para as curvas. Embora um pouco surda e a ver mal, Maria Adelaide, que baptizei como a última tremoceira, agora a repousar na sua casa, “a minha casinha” segundo as suas palavras, na Rua Corpo de Deus, está muito feliz. Acompanhada de perto pela filha e genro, está a ser muito bem tratada, “nada me falta”, confidencia.Tem muita saudade de vender na rua: “ai se eu pudesse! Se as minhas pernas me deixassem... Outro galo cantaria!”, enfatiza com aquele rosto fino e de olhos brilhantes e argutos.
Sentada por baixo de um quadro oferecido por nós em homenagem por fazer parte da galeria de "Rostos Nossos (des)Conhecidos", uma iniciativa nossa para que a memória não se pague e relembre a passagem de imensas figuras típicas que, durante invernos friorentos e verões acalentados, nos fizeram companhia na Baixa e, com a sua presença e à sua maneira, contribuíram para tornar os nossos dias menos cinzentos e sempre iguais.
Na despedida da nossa visita, atirou: “em meu nome, mande lá um beijinho para todos e diga que estou muito bem!

O ARTISTA DE QUEM SE FALA...


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O THE POST... E A ÚLTIMA PÁGINA NÃO EDITADA

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)






Ontem vi o filme “The Post -A Guerra Secreta”, de Steven Spielberg, no cinema.
Sobretudo a quem se interessa por jornalismo, sugiro com veemência o seu visionamento. Se é verdade que primeira parte pode parecer algo enfadonha, sobretudo para quem não esteja dentro do enquadramento histórico, já depois do intervalo, na segunda parte, apresenta-se desenvolta e de fácil compreensão. Embora considere não ser uma obra-prima -talvez esperássemos muito mais de Spielberg-, consegue muito bem passar a mensagem das várias crises que a imprensa escrita atravessa na actualidade. E, pelos vistos, está mesmo para durar.
Sem pretender mostrar arrogância ou qualquer superioridade moral, tenho para mim que este filme deveria ser passado nas faculdades onde se ministram aulas sobre a liberdade de imprensa. E mais: sobretudo em Coimbra, os donos dos jornais que cá se publicam, juntamente ou separado, deveriam ir com os seus jornalistas ver esta fita cinematográfica.
O recado vai, sobretudo, para um certo senhor, dono de um jornal local e centenário, que há cerca de três anos, apresentando-me na qualidade de colaborador semanal, queria obrigar-me a alterar um texto que escrevi sobre o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Manuel Machado, no desempenho das suas funções políticas.
Para se avaliar, deixo a remissão para “A última página não editada... e o esclarecimento”. Coimbra será mesmo uma cidade de cruz ao peito?
Salvo melhor opinião, porque outras haverá certamente, é por estas e por outras que o nosso jornalismo local anda pelas ruas da amargura.
Donos de jornais e jornalistas de Coimbra, por favor, vão ao cinema ver o filme “The Post”!
Termino com uma frase do filme que memorizei: “A imprensa deve servir os governados e não os governantes!

BAIXA: O CORTEZ JÁ PODE TOCAR E CANTAR






Cerca das 14h30 de hoje, das mãos de Elsa Rajado, uma senhora leitora que respondeu a um apelo lançado no blogue, o Luís Cortez estava a receber um pequeno órgão. Segundo as palavras da benemérita, “este órgão foi usado pelo meu filho. Estava arrumado. Penso que agora, com uma nova utilidade, cumpre muito bem a função que lhe destinei”.
Repetindo outras ocasiões em que aconteceu o mesmo, a partir daquele momento, o Luís Cortez pode continuar a exercer o seu trabalho artístico junto à Igreja de Santa Cruz e assim contar com um complemento financeiro que lhe permita fazer face às suas despesas -e também beber uns copos, porque a vida, sendo composta de variáveis opcionais, é feita de tudo isso. Aos olhos de uns, chamemos-lhe puristas, quem vive em função da caridade alheia deveria ter um comportamento moral e ético de acordo com a proporcionalidade angelical ou santificada. Para outros, mais tolerantes com o pecado e o desvio, aceitam que estas pessoas, diferentes entre diferentes, com virtudes e defeitos, são feitas da mesma massa que qualquer um de nós.
Como já escrevi anteriormente, as duas formas de avaliação estão correctas. São opiniões e valem o que valem. Consoante a argumentação contra ou a favor, com a mesma equidade será relevado o ponto de vista de um e de outro sem que qualquer deles, em superioridade moral, prevaleça. Porém, há uma obrigação nesta dialética: respeitar quem discorda da nossa forma de pensar. Acho que arrogar-se no direito de insultar, fazendo uso de achincalhar, recorrendo a infâmia familiar, como foi o caso de alguns comentários recebidos, não está certo e deveria fazer-nos pensar.
Não somos todos iguais porque temos o diferente para nos mostrar isso mesmo. Quero dizer que é a diversidade na Natureza que nos enriquece e não o contrário. O mundo não é perfeito, bem sabemos, mas se fosse estaríamos melhor? Já se imaginou gostarmos todos do amarelo -recorrendo a um conhecido anúncio publicitário televisivo? A última experiência sobre a possibilidade de se melhorar a espécie humana, eliminando os impuros, cegos e outros deficientes motores e de conhecimento, redundou numa enormíssima tragédia histórica, entre 1939 até 1945, na matança de cerca de treze milhões de mortos no Campo de Concentração de Auschwitz, no chamado processo Eugenia, levado a cabo por Hitler durante o período da Segunda Guerra Mundial.
Há ainda um acrescento, ao escrever isto, não quer dizer que sejamos obrigados a gostar de todos: brancos, pretos, amarelos e vermelhos. Nada disso! Enquanto filhos da Natureza, estamos é todos obrigados a respeitar a existência de cada um desde que cada qual não infrinja as leis reguladoras da sociedade, costume e lei escrita, e no seu direito a coexistir não interfira com o nosso. Seguindo o chamado Humanismo Cristão, devemos ser tolerantes com o próximo, perdoando para sermos perdoados, e aceitar as suas diferenças.
É uma conversa chata, não é? Admito. Por isso mesmo, neste respeitante ao humanismo, fico-me por aqui.
Voltando ao Luís Cortez, à senhora Elsa Rajado e a outros leitores que se disponibilizaram para ajudar, em nome de todos aqueles que acreditam que o bem-fazer sem olhar a quem ilumina a alma, muito obrigado.

sábado, 27 de janeiro de 2018

EDITORIAL: FAZER OU NÃO FAZER? UMA QUESTÃO A PENSAR?





Outra vez? Relaxado de uma figa! Estás lixado!
Desta vez não vou mexer um dedo para escrever
seja o que for! Vais ter de te desenrascar sozinho.


BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO
25/01/2018, 3 comentários
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Foi há uns quatro ou cinco dias que me apercebi que o Luís Cortês, um músico que actua na rua e muito conhecido na Baixa, trazia um cartaz pendurado ao pescoço que anunciava o seguinte: “Tenho órgão avariado. Preciso dinheiro para comer”
Não era a primeira vez que vira um apelo igual no Cortez. Nos últimos cinco anos foram pelo menos quatro vezes. E, perante a mesma situação, sem pensar muito, eu sempre agira em conformidade, isto é, com a melhor entrega numa prosa rebuscada que tocasse o coração dos leitores, escrevendo para o mundo, dei a conhecer a necessidade do músico invisual. E já lá vão cinco órgãos desaparecidos ou destruídos e substituídos nos mesmos moldes: ou pelo desleixo de ter permitido o seu roubo junto à Igreja de Santa Cruz, não cuidando devidamente da guarda de uma peça instrumental que é essencial para angariar o seu pão no dia-a-dia, ou por avaria deliberada, deixando o instrumento muitas vezes à chuva de inverno e sol de verão.
Em solilóquio, quando me apercebi do cartaz pendurado no pescoço o meu primeiro pensamento foi: outra vez? Relaxado de uma figa! Estás lixado! Desta vez não vou mexer um dedo para escrever seja o que for! Vais ter de te desenrascar sozinho. E fiquei a remoer o assunto.
Como um Cristo a passear a cruz às costas, o homem continuava a passear-se pelas ruas da Baixa. Para além de mais, tal como noutras vezes a exasperar-me, o Cortez, como se soubesse antecipadamente que alguém se vai condoer da sua situação e intervir a seu favor, numa forma quase provocatória, nunca suplica. Isto irrita qualquer beato. É da psicologia social, qualquer um de nós, perante um pungente apelo faz tudo para ajudar. E quanto maior for o choradinho para justificar o pedido -e então se for humilhante para quem pede ainda melhor-, mesmo que saibamos antecipadamente ser patranha, dobrada é a possibilidade de realização. Dividido entre sentimentos de sadismo e bondade, entre a superioridade e a fragilidade, entre a caridade e a caridadezinha, há qualquer coisa dentro de nós que nos impele a fazer o bem. Ajudar alguém conforta a alma numa espiritualidade de purificação e remete-nos para uma viagem transcendental entre remorso e acerto de contas com o passado.
Ora, como se fosse uma agressão deliberada aos costumes sociais, o Luís, como é seu hábito, apesar de falar com sons arrastados de fadista, não tartamudeia. Como se funcionasse em autodefesa, fazendo das fraquezas forças, fazendo de conta que está na mó-de-cima, não se queixa, nem diz nada. E é claro que isto deixa uma pessoa fora de si, mesmo sendo candidato a santinho. E mentalmente, com toda a minha razão imaculada, ponderação e justeza de anjo-serafim, em sentença sumária, condenei-o ao ostracismo da indiferença.

A CONSCIÊNCIA É TRAMADA

Como se quisesse espicaçar-me, dava de caras com o raio do homem diariamente. E iniciei um inventário mental de razões para intervir a seu favor. Como se tivesse uma folha dividida a meio com defeitos e virtudes, comecei a apontar. No negativo:
-É desleixado, não cuidando dos seus bens;
-Nunca pede o que precisa nem agradece o bem que lhe fazem;
-Quando bebe uns copos maltrata quem não devia;
-Vê-lo embriagado gera em nós um sentimento de arrependimento por lhe fazer bem;
-É um pródigo; gasta tudo sem poupar e sem lembrar o dia de amanhã;
-Faz-nos sentir usados.
E passei a elencar a virtudes positivas:
-É um bom músico. Com a sua presença, a cantar e a encantar, alegra todo o meio envolvente. A sua frequência de animação funciona como um candeeiro que ilumina tudo em seu redor.

Reparei então que, como atributo, só lhe reconhecia a qualidade de bom músico e animador dos nossos dias taciturnos. Nem sempre o silêncio é boa companhia. A ser assim, estava de ver que não devia, mais uma vez, ampliar o seu apelo, Não é assim? Não, não é! Deixando cair as vulnerabilidades do homem e elevando a sua função de artista social, acabei a escrever novamente uma crónica. E mais uma vez os leitores, talvez por sentirem o seu valor, sobretudo em prole do colectivo, responderam à chamada. Entre mais de 13700 visionamentos nestes dois dias, há várias ofertas de comparticipação monetária e de vários órgãos usados -neste caso, pelo que ficou escrito, embora seja um acto de vontade individual, pedimos o favor de lhe ser entregue apenas um, os outros ficarão para outra próxima oportunidade, que, diga-se, não deve tardar.

O CERTO E O SEU CONTRÁRIO

Entre os vários comentários recebidos, como se calcula, ressaltam opiniões como esta, de um meu amigo: “Prosa poética meu caro! E quanto ao órgão... Menos vinho e mais “poipança”. Estamos conversados
Pelo que ficou plasmado, acabo por concordar com eles. Porém há razões que a própria razão desconhece e o intelecto acaba por ser transcendido. Num conflito individual entre o agir ou não agir, fazer, por razões humanitárias, desvalorizando os defeitos do outro, separando o homem, enquanto pessoa singular de atributos e imperfeições, e a sua função social, porquanto elemento agregado e agregador de uma comunidade -embora se compreenda ser difícil de desligar a sua relação de continuidade- e o não fazer, numa questão existencial, o que deve prevalecer?
Tenho para mim que a resposta é óbvia: devemos fazer! Enquanto donos de um raciocínio lógico e seres de bom-senso, devemos ser proactivos e tentar ajudar quem não foi bafejado com este dom natural. E porquê? Porque se entrarmos num sistema de exame consideratório de remuneração em função da reciprocidade, mais que certo, acabamos por fazer tudo por obrigação em função da semelhança. Ou seja, como defendia Durkheim -1858-1917-, o pai da sociologia moderna, regredindo para as sociedades primitivas ou em sub-desenvolvimento, transformamo-nos em seres mecânicos, porque diferimos pouco entre nós, com o mesmo pensamento. Comungando dos mesmos interesses, numa cultura pouco dinâmica, passamos a defender os mesmos valores, incluindo o sagrado e o profano. Sem pensamento crítico, o contestatário é olhado pela maioria com desconfiança.
No entanto, admito, haverá tantos defensores desta tese e o seu contrário quantas cabeças pensantes.
Vale a pena pensar?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

FALECEU O ANTÓNIO JOSÉ, DA VALISE

(Recorte extraído do Diário de Coimbra)




O António José Mendes da Silva, de 65 anos, deixou-nos. Em consequência de doença prolongada, faleceu ontem no Hospital dos Covões. O seu funeral realiza-se hoje às 16h00, da capela mortuária da Igreja de São Martinho do bispo para o Crematório da Figueira da Foz.
Durante décadas foi funcionário das sapatarias Coutinhos, do grupo Valise -com estabelecimentos nas Ruas Eduardo Coelho, este encerrado em 2010, Visconde da Luz e Rua Adelino Veiga-, e nosso companheiro diário calcorreante destas pedras milenares.
Em nome da Baixa, se posso escrever assim, à família enlutada, os nossos mais sentidos pêsames. Que o "Zé" António, como era conhecido por aqui, descanse em paz!

UM COMENTÁRIO RECEBIDO SOBRE...





www.anildo-motta.com deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":


Sinceramente, impressiona-me uma pessoas como esse rapaz, que vi durante um longo tempo em que vivi em Coimbra tocando e ganhando a sua vida honestamente, não conseguir sensibilizar as pessoas principalmente os comerciantes, no sentido de colaborarem para a compra de um simples instrumento que não deve passar dos míseros 150 euros, levando em conta a ajuda que daria a esse ser humano, dando condições para levar uma vida minimamente digna. É inacreditável, assustador saber que essas situações possam ser consideradas banais ao ponto desse rapaz não conseguir realizar o seu desejo, que se resume em um simples instrumento e sofrer mais ainda essa falta e humilhação. Não haver instituições que se sensibilizem com essas situações. Enfim, se for organizado algum peditório para esse fim, gostaria de ser informado. Obrigado. anildomotta@hotmail.com



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Arsénio Facas deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":


Alguém que organize uma colecta que estou na disposição de contribuir.



Daniela Haudek deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":



Como posso entrar em contacto com o sr? talvez possa ajudar!


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Unknown deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":


Este tipo, é um autentico atentado gerador de poluição nas ruas de Coimbra. Este tipo é um grande aldrabão, o que ele quer é dinheiro para ele e a companheira alcoólica comprarem pacotes de vinho no mini-preço da baixa e comida no rei dos frangos, não é que eu seja cliente habitual destes locais , mas as poucas vezes que passo por lá é habitual, assistir a este ritual, ....



Anónimo deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":


Deserteza k não u kenheces bem nem mal,a pessoa k t refers só pode ser mesmo a miséria da tua mãe ou á porkaria do teu pai desses sim.... Deves ter vergonha ,pois derao á luz um monstro sem kuaraçao k es tu. Em fim ,triztesa....



Isagui deixou um novo comentário na sua mensagem "BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO":


Conhece a história deste senhor?
Sabe como perdeu o braço? Foi a trabalhar...e antes era um músico a quem lhe viraram as costas. 

 


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

UMA MALA ESQUECIDA PARA ACORDAR MACHADO?







Segundo informação no local, tudo aconteceu por volta das 14h20 quando um transeunte chamou a atenção de um agente da PSP para uma mala, amarelada e de viagem, abandonada junto ao paredão de pedra ao lado do restaurante Jardim da Manga. Já não dizemos que deveria ter a seu lado uma supernanny, que isso ainda dava uma barraca maior, mas ao menos que tivesse alguém a velar pela sua segurança. Até poderia ser o Pirilau. Agora, a meio da tarde, uma mala sozinha a esta hora do dia? Sofreria a dama de violência doméstica e, colocando-se mesmo ao lado da 2.ª Esquadra da PSP, procurava denunciação? Será que teria sido assediada por um malão de porão enorme que, aventamos, se armasse amiúde em engatatão? Por onde andaria a Comissão de Malas Jovens em Risco para fazer ouvidos moucos e olhos remelados para não ver? Uma mala é sempre uma mala! Tem a sua dignidade, e não anda sozinha na rua, mesmo numa cidade pacata como Coimbra. É ou não é? Uma coisa destas, um abandono destes, em qualquer país do mundo, é sempre uma escandaleira das grandes. E, pelo magote de gente que parou para ver, foi mesmo o que aconteceu hoje na Baixa da cidade. Até vieram as televisões, e tudo! Anda por aí tanto defensor desta área velha a apregoar aos sete ventos de andarilho que a zona histórica está desertificada, sem pessoas, e que não se passa nada! Quê? Assim, com estes defensores das partes baixas da urbe, não vamos longe. É o que é! Então não está à vista de todos que para trazer gente basta abandonar uma virgem e inocente malinha em qualquer beco ou esquina?
Mas, vamos tratar deste caso com a seriedade necessária, que não se brinca com coisas sérias. Porque estamos cá para isso, vamos contar tudo como foi. É assim mesmo! Vamos lá!
Encontrámos a primeira pessoa que, vendo a malinha, nobre e pura, desprotegidada, coitadinha, se indignou e denunciou o caso às autoridades. Segundo as palavras do meu interlocutor que preferiu não se identificar, “era uma vulgar mala média de cor amarelada, com rodas e pega-de-mão levantada e pronta a zarpar. Achei estranho estar ali sozinha, sem acompanhamento, e chamei a atenção de um agente da PSP. Pareceu-me que não me ligou muito. Foi apenas o que pareceu, mas não foi assim, passado um bocado veio logo um grupo deles e vedaram toda a zona em redor. Como vê são agora 17h00 -enfatizou, olhando o relógio- e veja o aparato que está aqui!”
Apesar de já termos informação suficiente para escrever uma crónica sobre a mala abandonada, mesmo assim, não nos deixámos descansar em cima dos louros. Aproveitando as várias centenas de mirones que só arrancavam pé dali depois da malinha rebentar, fomos entrevistar alguns conhecidos e outros que nem tanto.
Comecei e finalizei com o “Chico Pintelho”, um comentador fixo com assento permanente no resguardo de pedra do lago da Praça 8 de Maio. Depois dos cumprimentos e abraços que acompanham sempre estes encontros calorosos, atirei a primeira pergunta: Diz-me, Pintelho, não achas tudo isto muito estranho? O que te parece que seja?
-Ó pá, cá para mim, isto é marosca de algum comerciante que, vendo que Manuel Machado, o edil camarário, não acorda para os problemas da Baixa, tratou de abandonar a mala nas traseiras da Câmara Municipal e, com o rebentamento pela brigada anti-minas e armadilhas da PSP, criar alarido. Uma coisa é certa, interromperam a sua sesta e fizeram evacuar todo o edifício! Pelo menos hoje, somos notícia no país inteiro. Nem me admira que, mais logo, Marcelo, o nosso presidente-comentador, apelando à calma e à união social, vá debitar umas frases muito efusivas em torno disto!

BAIXA: O HOMEM DO CARTAZ AO PEITO





Tenho órgão avariado. Preciso dinheiro para comer

É quinta-feira deste Janeiro que teima em ser sempre o primeiro mês de outros anos que se irão seguir. Os ponteiros do relógio da cabra, na torre da Universidade, como se estivessem a copular para gerar um novo tempo horário, marcando meio-dia estão encavalitados um em cima do outro. A manhã cinzenta, oscilando entre uma luminosidade envergonhada e uma chuva copiosa e acompanhado com uma aragem fria que se entranha nos ossos, faz-nos taciturnos, introspectos e põe-nos a pensar na vida. Como se percorressem um caminho em busca de um mundo melhor e encontrar o Portugal encantado de que fala o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, os transeuntes, como autómatos, que calcorreiam as ruas da cidade baixa parecem alheios a tudo o que os rodeia e seguem um traçado por si definido anteriormente.
Na esquina da rampa que dá acesso à farmácia Universal, em frente à Câmara Municipal, e paredes-meias com a vetusta Igreja de Santa Cruz, Panteão Nacional onde repousam os nossos primeiros reis, um homem, com um copo vazio de plástico em riste, a fazer lembrar a espada de Dom Afonso I, parece com essa posição afoita e provocatória atentar contra a indiferença de quem passa. Se a performance teatral se resumisse a esta posição de tentar sensibilizar os duros de coração, mais que certo, ninguém repararia no quadro cénico. Era apenas mais um cego a pedir uma moeda para complementar um magríssimo rendimento mensal vindo dos cofres da Segurança Social. Mas não, o pedinte tinha um cartaz ao peito que, escrito a marcador, transmitia o seguinte:
Tenho órgão avariado. Preciso dinheiro para comer
Mesmo assim, apesar do apelo ambíguo poder fazer remeter para outra necessidade masculina que se remedeia com Viagra, ninguém pareceu interessado na mensagem do Luís Cortez, um conhecido músico de rua destes becos e ruelas medievais. Um rosto nosso (des)conhecido.
Por conseguinte, se não há quem ligue a um pedido que foge ao vulgar das palavras soletradas com ênfase “uma moedinha, por amor de Deus, Senhor”, e rematada com o apologético “Deus lhe pague, Senhor!”, ligamos nós. E porque o fazemos? Pode interrogar o leitor. Por sermos bonzinhos da silva? Por procurarmos, com os nossos actos terrenos, garantir uma suite de luxo no Céu? Para procurar impressionar e ganhar protagonismo? Sei lá?!? Se calhar um pouco de tudo isso. Mas uma coisa sabemos, como azimute que aponta o norte, enquanto detentores de um instrumento de comunicação, que é a escrita plasmada no blogue, sem formularmos pré-juízos de valor, temos obrigação de elevar o queixume do desafortunado, do carecente de afecto, e, com a nossa forma por vezes romanceada, desencadear um sentimento público que leve outros anónimos a minorar o sofrimento de quem padece. Por vezes, uma pequena moeda dada com amor pode ser extremamente importante para quem não tem um único cêntimo, nem sequer para beber um café.
Mas, vamos lá ao que interessa. Afinal o que aconteceu ao Cortez para o seu órgão deixar de funcionar? Responde lá. Conta tudo, Luís!
O meu órgão apanhou água e ficou sem conserto. Como o senhor sabe, é o meu ganha-pão. É com os seus acordes acompanhado das minhas cantorias que realizo o complemento da minha reforma por invalidez, que é de 350.00 euros. Sem estas pequenas moedas não consigo pagar a renda da minha casinha em Zouparria do Monte e comer. A minha Fátima está desempregada e recebe apenas 183.00 euros de RSI, Rendimento Social de Inserção. Agora sinto-me amputado dos dois braços -o membro superior esquerdo balouça acima do cotovelo. Precisava que me auxiliassem para poder adquirir um instrumento. Até poderia ser um já muito usado e que esteja arrumado num qualquer sótão esquecido. Não necessita de ser um grande instrumento. Precisa apenas de me ajudar a desempenhar a minha função. O senhor acha que alguém vai me ajudar?”

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

RELEMBRAR AS PROMESSAS QUE SE ESBATEM... (2)







Durante mais de um século, as terras de Ceira, Miranda do Corvo, Lousã e Serpins, foram servidos por comboios a circularem no denominado Ramal da Lousã.
Segundo a Wikipédia, esta linha, que ligava a Estação de Coimbra-B, passando pela de Coimbra-A, até Serpins, foi inaugurada em 18 de Outubro de 1885. Em 16 de Dezembro de 1906 seria prolongada até à Lousã. Em 10 de Agosto de 1930 seria aumentada a linha de caminho-de-ferro até Serpins. Em 04 de Janeiro de 2010, com a promessa de renovação dos carris e material circulante substituído por modernas composições, foi encerrada ao tráfego.
Numa espécie de novela em jeito de tragicomédia, o governo de José Sócrates -2005/2009/2011-, depois de, concursos e mais concursos internacionais, veio anunciar que não havia dinheiro para o projecto. Mas deu para o entretenimento.
Em 02 de Junho de 2017, com pompa e muita circunstância, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Coimbra, em representação da cidade esteve Manuel Machado. Vindo de Lisboa expressamente para o efeito, esteve o governante Pedro Marques, Ministro do Planeamento e Infraestruturas a anunciar o (novo) projecto que substitui a infraestrutura pesada do carril por pequenos autocarros eléctricos a rodar sobre pneus, denominado de Metrobus, e para concretizar até 2021.
Como oradores, estiveram Ana Abrunhosa, presidente da CCDRC, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro, e Carlos Pina, o presidente do LNEC, Laboratório Nacional de Engenharia Civil.
Ora, ao que parece, o Orçamento Geral do Estado para 2018 tem uma verba cabimentada de 10 euros. Por conseguinte, a ser verdade o que se lê nas redes sociais, mais uma vez, estamos perante uma enorme fraude, uma pouca vergonha. É certo que ainda faltam quatro anos, até ao final, para realizar o compromisso, mas, perante as notícias,  tudo indica que continuam a a fazer de nós parvos. E não nos deixam muito descansados.
É certo também que os deputados à Assembleia da República do CDS/PP, há quatro dias, questionaram a autarquia de Coimbra e o ministro do Planeamento e Infraestruturas sobre o andamento do sistema de mobilidade do Mondego. Qual foi a resposta da Câmara Municipal e do Governo? Não sei. Ainda não li nada!
Estamos perante mais um embuste?

RELEMBRAR AS PROMESSAS QUE SE ESBATEM... (1)



Transcrição do texto de
José Augusto Ferreira da Silva
(Advogado) publicado no Diário
as Beiras de 22-01-2018.

(Os subtítulos que dividem o texto
são da responsabilidade do editor
deste blogue)


Palácio da Justiça,
Tribunal da Relação
e Rua da Sofia


Faz, por estes dias, um ano que um grupo de cidadãos das diversas profissões forenses e de outros setores da sociedade tornaram pública uma petição (http://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT84492) em defesa da construção de um novo Palácio da Justiça de Coimbra. Tal petição mereceu amplo acolhimento, tendo responsáveis do Ministério da Justiça e do Município de Coimbra assumido publicamente a justeza da exigência e o compromisso com a sua realização.

SUBITAMENTE, NO VERÃO PASSADO

Na sequência disso, assistimos no verão passado a obras de demolição, limpeza e arranjo do terreno cedido em meados dos anos 60 do século XX, ao Ministério da Justiça, sito na confluência da Rua da Sofia com a Rua da Figueira da Foz, para tal edificação. E também ao que se sabe, foi resolvido o problema de habitação precária de alguns moradores que ali viviam em construções degradadas. Estes sinais positivos, porém, são insuficientes. Já nas últimas décadas, houve outros sinais que davam a entender que o problema tinha sido definitivamente desbloqueado e o certo é que, mais de 60 anos passados, continuamos sem um novo Palácio da Justiça. Exige-se, pois, que o Ministério da Justiça dê um sinal inequívoco da sua intenção irretratável de construir o Palácio da Justiça, lançando o concurso público e orçamentando as verbas indispensáveis à sua concretização.

UM SÉCULO DE UMA BOA RELAÇÃO... AMPUTADA

E este é o ano certo para o fazer. Na verdade, comemora-se em 2018 o centenário do Tribunal da Relação de Coimbra, cuja instalação, à época, constituiu o reconhecimento da importância da região, no contexto judiciário do país. Mas também é o ano certo para reparar a amputação grave que foi efetuada pelo anterior Governo ao Tribunal da Relação de Coimbra, retirando do seu âmbito de jurisdição a Comarca de Aveiro. Tratou-se de uma atitude injustificada no plano da organização judiciária e prepotente no plano político que importa que este Governo e a sua equipa do Ministério da Justiça tenham a coragem de reverter.

E POR COIMBRA NÃO VAI NADA? NEM PELA UNESCO?

Finalmente, a edificação do novo Palácio da Justiça traz uma especial responsabilidade ao Município de Coimbra, no que respeita à requalificação da Rua da Sofia. Décadas de desleixo e abandono a que foi votada exigem medidas urgentes que nem a classificação pela UNESCO como Património da Humanidade, há mais de 4 anos, foram capazes de impulsionar. Não pode haver lugar para mais desculpas. Os cidadãos de Coimbra não poderão tolerar mais este estado de coisas.

NO APROVEITAR SE ACUMULA O GANHO...

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

VAI REABRIR O HOTEL MONDEGO E...





O Angola, um mítico café da Baixa, com cerca de sete décadas de existência no Largo das Ameias, vai fechar em 30 de Março. O que está por detrás deste encerramento é o facto de estar inserido no mesmo edifício do antigo Hotel Mondego, que está desactivado da hotelaria há cerca de uma dezena e meia de anos, e agora, num retorno anunciado pelo boom turístico, vai voltar às mesmas lides que o tornou célebre durante quase oito décadas. A área correspondente ao hotel foi arrendada há cerca de uma dúzia de anos aos móveis Okapi, com sede na estrada nacional 111, junto à Cidreira.
Segundo o testemunho de quem sabe e não quer identificar-se, o projecto de transformar todo o espaço em unidade hoteleira para dormidas, incluindo o do café Angola e móveis Okapi, é da responsabilidade do(s) seu(s) proprietário(s) -embora o meu depoente jure a pés juntos ser assim, há rumores a circularem por entre becos e ruelas que a compra do prédio foi efectivada por um conhecido hoteleiro com interesses na Baixa. É verdade? É mentira? Não se sabe, mas também, para o caso, não interessa nada. O que se sabe chega para informação. Borbulhando de efervescência, é a cidade, na sua dinâmica natural, a alterar o seu lineamento. Quem pode, se tem meios e quer, faz. É este poder impositivo, aliando à decisão da vontade a um legítimo interesse egoísta, que faz modificar a paisagem da cidade.
Numa eterna discussão entre o estar, presente, e o ser, futuro, para uns, os protectores do situacionismo, que naturalmente não estão dentro da problemática económica do caso em apreço, tudo deveria continuar igual. Para quem defende esta teoria, a urbe do ponto de vista histórico deveria manter a sua fisionomia, com os seus negócios a continuarem a atravessarem o bucolismo do tempo. Para outros, mais desligados da problemática existencial, que defendem o camartelo como instrumento de progresso, é simplesmente a ordem natural das coisas. Quem tem razão? Se calhar ambos. Embora mal nos apercebamos, porque parece que está sempre tudo igual para pior, sendo justos, a verdade é que a natureza das coisas mostra-nos que tudo se transforma, e, por muito que custe, é quase impossível impedir -basta visionarmos uma paisagem urbana e compará-la com uma fotografia com vinte anos para vermos que a transfiguração é enorme. Na rectaguarda desta metamorfose está sempre a economia. That's life! É a vida!

sábado, 20 de janeiro de 2018

BAIXA: AS RUAS TAMBÉM MORREM

(Imagem da Web)




Para reflexão de um calmo Sábado à tarde, podemos começar por interrogar: o que leva uma(s) rua(s) da cidade a morrer?
Contrariando, para tornar o pensamento sustentável, apresentando as variáveis que lhe dão vida, sem certeza na hierarquia, poderemos adiantar que a primeira será o meio de ligação mais curto. Ou seja, a distância entre uma saída, a montante, e uma entrada, a jusante, que leva menos tempo a percorrer. Por conseguinte, a lonjura entre as duas cambiantes, como economia de tempo, é pensado antecipadamente como um plano de viagem a pé de modo a ser o mais rápido possível.
Outra variável que dará movimento a uma artéria -ou a condenará a morte certa- será, por exemplo, a troca de uma rotina diária. Por exemplo, entre outros, mudar uma paragem de transportes colectivos. Para outro local.
Outra ainda, será o desaparecimento da génese corporativa. Exemplificando, uma via que historicamente e na sua identificação sempre foi encarada num determinado ramo de comércio perder a alma que lhe deu espírito durante mais de um século Coimbra, no centro histórico, tem muitas muitas ruelas que ligavam às corporações de artífices: Rua da Louça, Rua das Padeiras, Largo das Olarias, Rua dos Esteireiros, etc.
Outra mais ainda, será a deslocalização/desertificação, esta a concorrer para agudizar as três enunciadas. Isto é, à medida que a urbe alarga pela criação de novas centralidades e o coração da cidade vai ficando mais vazio o fluxo de transeuntes diminui. Aqui, naturalmente, está incluída a perda de empregos quer no comércio, quer na indústria, quer na função pública, esta, com a deslocalização de direcções gerais para outras cidades -ocorreu sobretudo no magistério do governo de José Sócrates-, assim como serviços transferidos para outras áreas da cidade. Como é óbvio, também a falta de políticas de rejuvenescimento habitacional das últimas décadas, que conduziram a um esvaziamento de moradores.

II

Lembrei-me de escrever sobre este assunto porque, como uma calamidade atmosférica que se bate sobe uma determinada região e, aos poucos, a torna desértica, na Baixa, sem que aparentemente haja alguém que se preocupe com este facto, paulatinamente, estamos a constatar este fenómeno em algumas artérias que, em outros tempos, foram grandes vias habitacionais e comerciais e hoje, perante os nossos olhos e sem que nada se faça para o impedir, estão em coma profundo.
Iniciemos pelas mais notórias, onde a falta de transeuntes, pede uma profunda intervenção de revitalização social:
Rua Adelino Veiga -este homenageado em placa toponímica na antiga Rua das Solas foi um grande poeta operário e, para além disso, grande benemérito e filantropo na cidade. Nasceu a 18 de Novembro de 1848, na Rua das Solas e faleceu a 8 de Março de 1887, no Largo do Romal. Esta via, numa extensão de cerca de pouco mais de de uma centena de metros, liga o Largo das Ameias à Praça do Comércio, se durante o século XIX albergava vários ofícios, já em meados da centúria seguinte foi conhecida pelos muitos bazares de brinquedos. Por altura de 1980, já em profunda mudança, com estas populares casas a encerrarem umas atrás de outras, detinha muitas casas de pronto-a-vestir. Na década de 1990, foram feitas duas mudanças que contribuíram para a total transformação da rua do poeta morto: até aí, a saída de passageiros da Estação Nova era unicamente feita pela porta principal. No escoamento dos comboios, para aceder a outras partes da cidade, a via mais próxima era a Rua Adelino Veiga. Sempre que chegava um trem aquela via enchia com centenas de pessoas a cruzarem-se. Sem se saber a razão, mais que certo para facilitar a desconcentração de passageiros, eis então que foi aberto um portão lateral que dá para a Rua António Granjo e que fica em linha recta com a Rua das Padeiras. Ao mesmo tempo, foi também mudada uma paragem dos autocarros dos SMTUC. Saiu do Largo das Ameias para a Rua António Granjo. Resultado destas alterações: a Rua Adelino Veiga começou a ficar deserta de passantes. Em consequência, paulatinamente, foram encerrando as grandes casas de comércio, Fetal, Saul Morgado, Modas Veiga, Eldorado. Hoje é uma artéria em morte clínica. Com quase uma vintena de estabelecimentos encerrados.
Rua do Corvo -conhecida assim por a meio ter um corvo preto por cima de um antigo estabelecimento de mercearia. Esta artéria, que liga a Praça 8 de Maio até ao Largo da Maracha, durante o último século, sobretudo a partir de meados, foi conhecida pela rua dos tecidos a metro -as lojas, numa identidade muito própria, penduravam os tecidos de várias cores por cima das portas. Hoje, apenas com duas que ainda praticam este género de negócio e com amostras penduradas, com alguns encerramentos, é uma rua solitária que busca uma nova identidade.
Rua Eduardo Coelho – conhecida ainda hoje por rua dos sapateiros, por albergar muitos artífices da arte de coser e cortar cabedal para os pés ao longo dos séculos XIX e XX. No início de XX passou a chamar-se Eduardo Coelho em homenagem ao fundador do Diário de Notícias, que nasceu nesta ruela.
Por volta de 1970, o artífice manual já tinha dado lugar à venda de artigos prontos para os pés. Embora existissem também duas ourivesarias, era composta essencialmente por estabelecimentos com venda de sapatos. Há cerca de uma década detinha em funcionamento 13 sapatarias. Hoje, em memória do passado, restam apenas quatro em funcionamento. Ao longo das suas cerca de oito dezenas de metros, neste momento tem 8 lojas encerradas
Valerá a pena pensar nisto? Estas linhas servirão para alguma coisa?