quinta-feira, 30 de abril de 2009

UMA MENTIRA DESCARADA COM POUCO TALENTO




Na Rua da louça, em passo apressado, caminha um homem de meia-idade, com umas cãs pronunciadas e uma bela rapariga. Com a voz abafada, para ninguém perceber, diz ela para o homem: “Ó senhor vice-presidente, esta coisa de nós virmos dar as boas-vindas, sempre que abre uma novo negócio na Baixa, em nome da Câmara, está mesmo “baril”. Por acaso, não é para me gabar, mas já tinha pensado nisto. É muito interessante. Isto é que se chama serviço personalizado. Era uma lacuna que urgia preencher. É um gesto bonito. E, sabe, viu a expressão daquele hoteleiro, ontem, naquele pequeno restaurante que visitámos? Quando o senhor, com essa humildade que o senhor transparece -ninguém diz que o engenheiro é o vice. O homem nem queria acreditar. Certamente, pensou que o senhor era vendedor de publicidade. Reparou na cara de espanto dele, quando perguntou: “os senhores são da Câmara Municipal e vêm dar-me as boas-vindas??!”
Continua a rapariga, “Ó engenheiro, e quando, a terminar, você lhe deixou o cartão, e lhe disse, “parabéns, em nome do executivo da Câmara Municipal. Se o senhor tiver alguma dificuldade, não hesite, contacte a senhora doutora (…), do gabinete do empresário, que é esta senhora, está ao seu dispor para lhe resolver qualquer dificuldade…reparou? O homem estava de boca aberta”.
“Ainda bem que o presidente criou este novo serviço de boas-vindas a quem investe na Baixa. Palavra de honra, sempre que vou ao blogue daquele “gaijo”, que é comerciante aqui no centro histórico, sabe?...como é que chama a porcaria do blogue?...Ai! Agora varreu-se-me…Bolas!... Engenheiro, ajude-me, porra! É qualquer coisa de…”Morcões Nacionais”.
“O “gaijo” quando souber que fazemos isto até cai de cu! Só gostava de ver as trombas de surpresa dele”, conclui a “boazona”, tentando acertar o passo com o vice, que de andar rápido, um pouco desconjuntado, não percebeu uma frase da “dótora”…

AMANHÃ É O DIA 1º DE MAIO



Amanhã, dia 1 de Maio, é o dia do trabalhador. Logo, fazendo jus à efeméride, todos devem trabalhar. Pelo menos foi o que eu entendi que queria dizer o homem da bandeira da CGTP-INTERSINDICAL. Ou não seria? Pela expressão do “Pinchas”, o boneco pintado na parede da Sapataria Trinitá, se calhar não era isso. Olhem, não sei…pronto!

ABRIU A UNIVOR







Esta semana, na Praça do Comércio, abriu as Confecções UNIVOR. Esta nova loja de vestuário de trabalho e equipamentos de protecção veio preencher uma lacuna na Baixa. Desde o encerramento da Bamby há cerca de dois anos, na Rua Corpo de Deus, que não havia no centro histórico onde adquirir uma jaleca de cozinheiro.
A UNIVOR tem fabrico próprio em S. João de Areias, Santa Comba Dão. Há vários anos que abastecem várias lojas pelo país inteiro.
Vestuário estandardizado, como batas, bibes para criança, pode ser adquirido sem qualquer dificuldade. No entanto se você gosta de originalidade e quer um bibe especial para o “Manuelinho”, com o nome bordado e uma fita vermelha nos bolsos laterais, o Nuno Reis, o simpático anfitrião que nos recebe, diz que é rápido. “Normalmente demora no máximo dois dias. Aqui, na nossa casa, o cliente é rei. Satisfazer completamente a sua vontade no mais curto tempo é a nossa maior satisfação”, diz-me, com convicção, com a certeza de quem sabe do que fala.
Com esta nova iniciativa foi criado um posto de trabalho, para além disso, diz o Nuno, “temos a certeza absoluta que numa altura destas, abrir uma loja de comércio é um acto de bravura. Com modéstia, estamos cá para contribuir para a revitalização da Baixa”.
Boa, Nuno! É assim mesmo que se fala. Um abraço de parabéns e mil desejos de sucesso absoluto. Temos muito gosto em receber um novo colega carregado de optimismo e cheio de força anímica.

UMA IMAGEM CAPTADA AO ACASO...

UMA IMAGEM CAPTADA AO ACASO...


O DISPARATE DO DIA




MANDAMENTOS DA MULHER CASADA

1º-Amar o seu marido sobre todas as coisas –e ao próximo como a vós mesmas. Se como sempre, na cama, você ficar a contar navios, diga-lhe que ele é o maior, é melhor que o John Holmes;
2º-Não o tratar em vão, como se fosse coisa sem valor –cuidado que cada vez há menos homens…e perfeito, perfeito, só mesmo o amante;
3º-Guardá-lo das outras mulheres e das pulgas –é preciso garantir que ele não anda a oferecer rosas a outra qualquer;
4º-Honrá-lo, penteá-lo e trazê-lo sempre limpo –embora não lhe aumente muito a auto-estima, é perigoso;
5º-Não lhe fazer cócegas com demasiada insistência para não o matar –andam demasiados homens a morrer de AVC;
6º-Guardá-lo da má vizinhança e sobretudo da melhor amiga –embora ele seja um grande traste, nesta crise de homens, não é fácil de arranjar melhor;
7º-Não lhe furtar nada às vistas (por que já se sabe que às escondidas é fatal);
8º-Não lhe levantar a voz em público (por que lá em casa já se sabe quem grita mais alto);
9º-Não desejar o marido de outrem (seja pelo menos discreta, porque já se sabe que em pensamento é inevitável…”a galinha da minha vizinha…”);
10º-Não cobiçar os vestidos, as coisas alheias, e muito menos pedir ao marido –a vida está mesmo muito complicada, estamos em crise. Ainda ontem ele ofereceu uma écharpe à Idalina, a colega…).

ANDAR NA TERRA COM A CABEÇA NO CÉU




Não sei se já se aperceberam que ultimamente se vêem cada vez mais pessoas com audiofones nos ouvidos. Passam por nós na rua como zombies que não pertencem a este mundo. Nalguns a música está tão alta que, para além de incomodar, tendo de a “gramar”, é invasora do nosso espaço individual.
Se entrarmos num qualquer transporte público, e um lugar estiver vago, embora os outros estejam completos e até algumas pessoas viajem de pé, só quando nos sentamos naquele lugarzinho guardado para nós, percebemos a razão de ninguém o querer. É que o barulho é ensurdecedor. Estoicamente, lá aguentamos para que ninguém olhe para nós. Não vão os outros pensar que somos fracos e que é um qualquer “ruidozeco” que nos derruba.
Confesso que já me falta a pachorra. Começa-me a saltar a tampa, sobretudo quando alguém tenta falar comigo com as palas –como os burros- nos ouvidos. Começo por dizer que não estou a ouvi-lo. Se a coisa persiste, passo-me e digo-lhe: olhe lá, não se importa de falar comigo sem essa coisa nas orelhas? “Ai desculpe!, até me tinha esquecido”, tenta safar-se o meu interlocutor.
O que me chateia mais é que até pessoas de meia idade –onde normalmente pensamos que reside a virtude, a reserva moral da Nação- estão a embarcar na viagem de “pés-na-terra e cabeça-no-céu”. Isto é que é uma sorte! Parecem bandos de marcianos descarregados por acidente no solo terreno.
O problema é que começa a ser grave. Há três semanas, uma senhora da Europa de Leste, de trinta e poucos anos, morreu trucidada por um comboio, em Coimbra, porque levava nos ouvidos o tal “cabresto”.
Não sei se esta moda é consequência ou não da crise económica e existencial –devido às constantes ameaças de pandemia que nos atropelam. O que sei é que parece uma droga. Com cada vez mais aderentes, todos querem “isolar-se”, fugir de qualquer maneira, desta realidade que parece ficção, do meio em que estão “agarrados” e é impossível desligarem-se.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A FRASE DO DIA...



"O CORAÇÃO DA MULHER É COMO MUITOS INSTRUMENTOS: DEPENDE DAQUELE QUE O TOCA."

UMA "TELHA AMIGA" SEM COBERTURA







Foi ontem inaugurada, na Baixa, uma estrutura de apoio a pessoas carenciadas. Chama-se “Telha Amiga” e, o edifício recuperado para o efeito, tem capacidade para acolher 12 pessoas em simultâneo. Segundo o Diário de Coimbra (DC), “Este equipamento social de Coimbra funciona numa lógica de apoio nocturno, disponibilizando ceia, dormida e pequeno-almoço às pessoas mais necessitadas, que regressam à sua vida de manhã. A estrutura é dotada de seis quartos (alguns com casa de banho privada), uma cozinha, um espaço comum de convívio, um escritório e WC's.
Continuando a citar o DC, “A “Telha Amiga” apresenta um desenho único, combinando equipamentos modernos com verdadeiras preciosidades a nível histórico e patrimonial.”
“A obra é da responsabilidade da Câmara Municipal de Coimbra, que investiu mais de 400mil euros, mas o espaço vai ser gerido pela Casa de Repouso de Coimbra.”
Segundo declarações, no mesmo jornal, do presidente da autarquia, Carlos Encarnação, “O edifício cumpre um papel importante “também do ponto de vista de reabilitação do centro histórico.”

O “jornalista” do Questões Nacionais veio para a rua, umas horas depois, saber o que pensam os comerciantes de proximidade, e, para isso, formulou três perguntas:

1-Concorda que se faça um investimento público de mais de 400mil euros para albergar 12 pessoas carenciadas durante a noite, com ceia e pequeno-almoço?

2-Em sua opinião, que benefícios traz à Baixa?

3-Se não concorda, em troca deste objecto social, que utilização deveria ser dada ao edifício que, entre outras, possui uma porta Manuelina do século XVI?

O primeiro, comerciante de sapatos na Rua Eduardo Coelho, começou por dizer que “socialmente a medida até poderia ser acertada, porém, tendo em conta a disparidade de investimento para o número de utentes é um verdadeiro disparate. Com este dinheiro a Câmara tomava vários edifícios de arrendamento na Baixa, recuperava-os, e colocava aqui gente nova, que é o que a Baixa precisa. É um investimento puramente demagógico.
À segunda pergunta responde, “não traz absolutamente nenhuns benefícios ao centro histórico."
À terceira pergunta, diz não saber, embora tenha a certeza de que o belo edifício está desaproveitado”

A segunda pessoa, a quem foi formulada a pergunta, é uma senhora e é também comerciante de sapataria. Começou por dizer que esta obra, interrompida durante várias fases, e que durou cerca de três anos a ser concluída, de certeza que ficou muito, mas muito, acima do valor indicado. “Não faz sentido nenhum –ou se calhar faz, por ser ano de eleições- um investimento desta envergadura para colocar apenas uma dúzia de pessoas. Isto é um verdadeiro absurdo”, conclui.
Em sua opinião, não traz qualquer benefício ao centro histórico.
Em relação à terceira pergunta, não sabe que fim daria a este bonito e bem recuperado prédio. Uma coisa tem a certeza, este não é o indicado.

O terceiro comerciante tem uma loja na Rua do Almoxarife. Começou por dizer que, aparentemente, o fim social até está certo, no entanto, a relação entre custo e benefício é uma aberração. Não cabe na cabeça de ninguém um investimento desta natureza para albergar apenas 12 pessoas.
Em relação à segunda pergunta, “não traz qualquer benefício ou utilidade à Baixa. É um investimento morto para a sua revitalização.
Quanto à terceira pergunta, diz, sem grande dificuldade, como já tivesse a resposta debaixo da língua: “o que ali deveria ter sido feito era um museu. A Baixa não tem nenhum e seria uma forma de, através de turistas nacionais e estrangeiros, trazer gente para aqui. É uma pena! Um edifício tão lindo…”

UMA "ESTÓRIA" DE HEROICIDADE




O homem de trinta e poucos anos, bem vestido, meio atarracado, com barriguinha saliente, de passo calmo, estacou junto ao balcão da loja de velharias. Calmamente, abriu a pasta, lá de dentro, com mil cuidados, retirou um estojo, e deste, com todo o carinho, pegando numa série de medalhas, meio titubeante, interrogou: “disseram-me que o senhor comprava estes artigos?!”
O dono da loja, primeiro, olhando as várias condecorações, e entre elas a Grã Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, depois, olhando o vendedor nos olhos, interrogou: “estas condecorações são suas? O senhor é bombeiro?”. O homem respondeu que sim, que era Voluntário em Coimbra. O comerciante de velharias, habituado a encarar todo o género de vendedores, e agora mais do que nunca, interrogou admirado: “então, conte-me o que pode levar um bombeiro medalhado, inclusive com a comenda da ordem de Cristo, a querer “desfazer-se” de uma coisa que deve significar tanto para ele?”. O vendedor das comendas, com o ar compungido, com os olhos humedecidos, disse: “estou numa grave aflição financeira e só isso me leva a separar-me da minha segunda alma. Tenho de pagar a creche dos meus dois filhos, de dois anos, gémeos, e não tenho dinheiro. Preciso de 125 euros, que ainda me faltam”.
O homem da loja de velharias, que para além de ter dado tantos trambolhões na vida que o tornaram sensível aos problemas de cada um, um pouco vulnerável perante este aparente afogo financeiro, tenta aconselhar: “repare, estas comendas, comercialmente, têm um valor insignificante e residual, o que quer dizer que o senhor vai vender algo que para si não tem preço, e nunca mais recuperará. Por que é que o senhor não vai falar com a direcção do colégio e roga que esperem mais uns dias? Ou então, no limite, pede aos seus pais, ou sogros? Se vocês estão a passar mal, nomeadamente fome, tenho alguns contactos que posso diligenciar...”
O vendedor de medalhas, olhando o comprador fixamente, e mais uma vez os seus olhos se inundam, diz: “olhe, foi Deus que me pôs no seu caminho. Ainda bem que o encontrei. Se me tivesse separado destas recordações, iria sair daqui de rastos. Muito obrigado. Obrigado mesmo, do fundo do coração!" –e dá um abraço ao vendedor de velharias.
O comerciante, que gosta de escrever e contar as histórias de cada um, interroga o homem se ele se importava de contar a sua, e, sobretudo, o que esteve por detrás dos actos que deram origem às condecorações. O Pedro Agostinho, disse chamar-se assim, anuiu, “com todo o gosto”, exclamou.
“Sou natural de Vila Flor, Trás-os-montes. Foi lá, nos Bombeiros Voluntários que ganhei todas as comendas. Há poucos anos, entrei em rota de colisão com o comandante e vim então para Coimbra. Sou licenciado em Direito e fui colocado no Serviço de Protecção Civil. Agora estou nos Bombeiros Voluntários. Ganho cerca de oitocentos e poucos euros –está a ver, a minha mulher, também licenciada, está no desemprego. Tem uma problema nos olhos que lhe afecta a visão, e com os dois miúdos na creche…”. Espere aí, interrompe o comerciante, então se a sua mulher está em casa por que é não têm os seus filhos junto dela?
“Sabe, continua o medalhado a contar, o pediatra aconselhou uma creche para os miúdos, estavam pouco desenvolvidos para a idade. Precisavam de brincar com outras crianças –tive de fazer mais este esforço, entende?”
Descreva-me, uma-a-uma, cada medalha e o que fez para as merecer, solicita o comerciante.
“Olhe, estas três, diz apontando, correspondem à medalha de grau cobre, prata e ouro, que me foram atribuídas pela dedicação à causa dos bombeiros, respectivamente, nos 5, 10 e 15 anos de serviço;
Esta é a medalha de mérito por grandes feitos da Força Aérea. Foi concedida pela minha coragem na Ilha Graciosa, nos Açores, em 1999, quando um avião da SATA se despenhou na serra do Pico da Madalena. Morreram várias pessoas. Lembro-me que contei mais de 26 cadáveres;
Esta é a medalha de honra, grau-ouro -4 estrelas-, da Liga dos Bombeiros Portugueses. Foi-me atribuída por feitos extraordinários à causa. Por ter salvo 14 bombeiros na Pampilhosa da Serra, em 2006 –quando morreram quatro bombeiros de Mortágua, Lembra-se?” –interroga o contador medalhado;
“Esta é a medalha de grau-ouro, de uma estrela. Foi-me atribuída por feitos extraordinários à causa dos bombeiros;
“Esta medalha, indicando outra, é a cruz de meios de Socorro, da Liga dos Bombeiros Portugueses –esta distinção é imanente à ordem de Cristo. É atribuída ao mesmo tempo;
E esta é a flor dos meus olhos, a Comenda da Ordem de Cristo, foi-me entregue pelo ex-presidente da República Jorge Sampaio, em 2004, que me conferiu a ordem de Comendador, por actos heróicos e dignificantes para a Pátria. Foi em Moçambique, em 2000, aquando das cheias. Fiz um parto em cima de uma árvore, depois de ter resgatado às águas mãe e filha e as ter enviado para terra-firme por helicóptero. Como não havia lugar para mim, fiquei várias horas em cima da árvore à espera que me helitransportassem”.
O homem, sorridente, despediu-se do comerciante, e mais uma vez repetiu: “muito obrigado. Agradeço-lhe imenso. Vou mesmo fazer o que me aconselhou!”
O comerciante de velharias, antes de escrever a história, tentou confirmá-la. Foi aos bombeiros voluntários de Coimbra e, nesta corporação humanitária, não existe ninguém com estas características.
Seguidamente, ligou para a protecção Civil de Coimbra. Igualmente, ali não existe nenhum medalhado assim. Depois ligou para os bombeiros Voluntários de Vila Flor. A mesma coisa. Tal pessoa era ali desconhecida.
Por último, pediu informações, através do telefone, à Liga dos Bombeiros Portugueses, que sendo esta instituição que atribui as comendas, seria a entidade que melhor poderia responder. Nada. Não existe nos seus arquivos nenhuma pessoa com esta descrição.
Em resumo, o que o comerciante de velharias extraiu é que somos um país cheio de talentos em várias áreas e, no caso, dentro da dramatologia. Para tão grandes artistas faltam teatros que os acolham.
Mas, mesmo na mentira, não deixa de ser peculiar…

terça-feira, 28 de abril de 2009

DIAS COM SOMBRA

(Foto surripiada ao "blog Photo de Galileo")





Há dias acinzentados,
a cair na nostalgia,
parecem tão maltratados,
sem vontade, em agonia,
como anjos negros enfezados;
São como a folha seca calcada,
que ninguém tenta apanhar,
é a erva daninha desprezada,
que dá vontade de espezinhar,
numa manhã mal-amanhada;
Parece que o mundo nos cai
nos braços como um menino,
como um torpedo que sai
ao encontro do destino,
assim se parte e se vai;
É apenas um dia só,
um risco na nossa vida,
uma nuvem cheia de pó,
uma alma mais sentida,
pedindo carinho e dó;
Amanhã, o sol vai brilhar,
qualquer coisa vai acontecer,
uma notícia boa vai chegar,
o dia de hoje vai esquecer,
toda a tristeza; que prazer é viver.

ABRIU O AKISS COME





Abriu há uma semana o restaurante “A Kiss Come” na Rua Simões de Castro. Com gerência de Fernando Miguel, um mestre de Hotelaria que passou por várias grandes casas de Coimbra. Este agora revigorado estabelecimento, que esteve encerrado vários meses, promete ser um novo marco no panorama gastronómico da cidade.
Apoiado pela família, está cheio de força e optimismo quanto ao futuro. “O amanhã das cidades velhas é a restauração. É nesta arte pantagruélica que reside o reviver das zonas velhas. Proximamente iremos ter fados de Coimbra, assim como outras iniciativas que, para já, não quero revelar”, diz-me o Miguel em confidência.
Parabéns, a esta nova casa. Que tudo lhe corra conforme deseja, são os votos de um colega que deseja o melhor para o colectivo. Do sucesso de cada um depende o futuro de todos…

EM 112 HÁ SEMPRE UMA MANEIRA NOVA DE ROUBAR







Esta noite, a Perfumaria Cento & Doze, na Rua da Sofia, foi assaltada. Fizeram um buraco redondo na montra com um diamante e roubaram três frascos de perfume.
Eliana, uma das funcionárias não cabia em si de surpresa, “como é possível cortarem um vidro tão grosso por apenas três frascos de perfume? Isto só pode ser obra de profissionais. A partir de agora, nunca mais colocaremos qualquer artigo na montra. Já viu ao que chegámos?" -interroga-me a bonita empregada.
Ao que parece a placa sinalética do alarme estava encoberta com um cartaz. “Se calhar os salteadores pensavam que não tínhamos alarme. Seria isso? Sei lá!” –desabafa Eliana.
De facto, perante este acto, dá que pensar. A partir de agora, quem tiver montras de vidro e, para mais, sem grades, que se cuide…

MORREU A TASCA DA GRAÇA






Hoje, às 11horas da manhã, no 4º Juízo Cível de Coimbra, perante meia-dúzia de testemunhas que esperavam este triste desfecho, a “Tasca da Graça” exalou o último suspiro.
D. Graça acabara de assinar o acordo com a autarquia de Coimbra, sua senhoria até hoje, numa acção judicial em que demandou a Câmara Municipal em Processo Sumário.
De olhos humedecidos, como se de repente parasse no tempo, numa mistura de revolta e de saudade, repete sem cessar: “foi mais que uma década de vida que ali deixei. Tenho tanta pena! A minha tasca, o meu amor!” –e desaba num pranto de mil gotículas sobre um rosto dilacerado pela dor.
Situada nos fundos da curta Rua Velha durante dez anos, até Setembro de 2007, tudo indicava ser mais um tasco qualquer perdido no anonimato de uma cidade envelhecida. Quis o acaso que pelos piores motivos saltasse para os jornais em forma de recorde de arrombamentos. Desde Setembro de 2007 até Agosto de 2008, foi assaltada 15 vezes, supostamente, por uns andaimes colocados durante vários anos estarem a tapar o seu estabelecimento e terem facilitado a intrusão.
Como, em princípio, ninguém suporta ser “violada” tantas vezes, a Graça, naturalmente, não aguentou. Quando se abre um comércio com muito sacrifício, o negócio cola-se à nossa pele, como se fizesse parte de nós. E, em consequência, quando se sofre estupro continuado como este, inevitavelmente, cai uma parte nós –o sonho, agora desfeito pelas contingências e agruras do tempo-, para dar continuidade à vida. Temos de continuar a lutar. Temos família, filhos, netos, temos vida para viver. Vão-se os anéis, ficam os dedos. Mas a sua marca, “deixada no anelar”, perdurará até ao último suspiro da nossa existência. Assim, já se entende o desconsolo e o mar de lágrimas de Dona Graça, como se tivesse acabado de perder um filho.
Helena Mendes, a defensora e amiga de Graça, abraçada a esta, quase a chorar também, afagando-lhe o cabelo, tenta consolá-la conforme pode. Quando lhe pergunto como se portou a Câmara Municipal neste processo, diz-me: “muito bem. Muito bem mesmo! Devemos dizer mal quando temos razões, mas, neste caso, estou impressionada pela sensibilidade demonstrada quer, pelo vereador da habitação, João Gouveia Monteiro, quer, pela directora de Departamento do mesmo pelouro, engenheira Rosa Maria Santos. Neste processo foram inexcedíveis. Foram o rosto humano de uma instituição que tantas vezes consideramos fria e impessoal”, diz-me Helena, a advogada de Graça.
De facto, tendo acesso ao processo agora arquivado por acordo entre as partes, pude constatar o elevado empenho da directora do departamento da habitação da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), que diz o seguinte: “(…) foi remetido a V. Exª a proposta da arrendatária para resolução do contrato mediante o pagamento pela Câmara de (…), montante que considero razoável, não só por se tratar de um estabelecimento comercial, a funcionar com esta proprietária, desde Junho de 1998, escritura de trespasse de 05-06-1998), e com um aviamento rentável, mas também por causa dos prejuízos resultantes do agravamento das condições de funcionamento por falta de obras de conservação e da dificuldade de normal acesso ao estabelecimento proveniente das obras do Centro de Noite em curso.
Em consequência, proponho que a CMC aceite o acordo para cessação do contrato de arrendamento comercial do rés-do-chão do imóvel nº 11-13-15 da Rua Velha , mediante o pagamento de (…), que já se encontra devidamente cabimentado na rubrica (….) de 2009.
À consideração superior. A Directora Do DH, Engª Rosa Maria Santos”.
São com estes procedimentos simples mas carregados de humanidade que nos aproximamos da instituição Câmara Municipal, tantas vezes consideradas por nós, quase, como inimiga dos pequenos investidores. Uma lição a ter em conta.
Parabéns ao vereador Gouveia Monteiro e à engenheira Rosa Maria.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

UMA CONVINCENTE MANUELA





Acabei de ouvir na SIC a entrevista de Manuela Ferreira Leite. Gostei. Muito natural, sem aqueles tiques da velha “máquina da Regisconta”, com uma postura desprendida, a lembrar uma “teenager” inconsequente –a conseguir até, pasme-se, pôr a língua de fora-, Ferreira Leite, na minha opinião, esteve muito bem.
Parabéns aos seus conselheiros de imagem. Temos “mulher”…

A FRASE DO DIA....




"UM MARIDO FICA SEMPRE INQUIETO, POR MAIS PURA QUE TENHA A SUA CONSCIÊNCIA, QUANDO A MULHER LHE DIZ QUE ELE SONHOU ALTO, E SE, PARA PIORAR, ESTA SE NEGA A REPETIR-LHE O QUE ELE DISSE NO SONHO."

O ARTISTA DE HOJE...NA BAIXA




PATRÍCIA, A “EDITH PIAF DA CALÇADA”, OUVE UMA VELHINHA, QUE LHE TROUXE UMA MÚSICA E LETRA DO PRINCÍPIO DO SÉCULO XX.
“PARA QUE A MEMÓRIA NÂO SE PERCA”, DIZ A IDOSA, “ESCREVA A LETRA, PATRÍCIA, ESCREVA, QUE JÁ VEM DO TEMPO DA MINHA MÃEZINHA: “COIMBRA DO MONDEGO, MEU AMOR, MEU DESAPEGO…” -AO MESMO TEMPO QUE, BAIXINHO, CANTA A MELODIA...

(RE)ABRIU A TABERNINHA






A “Taberninha”, um bonito restaurante na Praça do Comércio, implantado bem no casco do centro histórico, e que estava encerrado há largos meses, abriu hoje com nova gerência.
A nova firma adquirente, a Martins & Campos, Lª, mexe-se na hotelaria como peixe na água. Tem um restaurante na Figueira da Foz, o "Cozinha Velha".
Quando interrogo o senhor Armando, um dos sócios desta nova casa que emerge e vem beneficiar esta zona monumental, como é que veio da Figueira para Coimbra, responde: “eu sou nascido na Baixa, e quando um meu amigo me falou desta casa, nem hesitei. Sempre sonhei voltar às minhas raízes. Acho que esta zona tem futuro. É um espaço lindo, que só quem aqui nasceu e brincou como eu, sabe das potencialidades destes cascos velhos, tão importantes na nossa memória”.
Esta nova casa, renascida das cinzas como Fénix, vem preencher e engrandecer uma lacuna na antiga Praça Velha. Foram criados três postos de trabalho.
A Baixa precisa de mais casas e apostas como estas. Parabéns, e que o seu sucesso seja até ao infinito. São os meus votos sinceros.
Quanto a você, leitor, não se fique pela “cusca” deste texto. “Bora lá”, venha inaugurar o novo espaço do senhor Armando. Diga que foi mandado por mim. Pode ser que este simpático empresário lhe ofereça uma bebida. Quem sabe? A mim ofereceu…

UMA MUDANÇA IMPERATIVA









A “DRESS LESS”, uma loja de moda, de pronto-a-vestir, sobejamente conhecida de toda a gente que frequenta a Baixa, na Rua das Padeiras, mudou-se para a Rua do Almoxarife, a vinte passos mesmo em frente.
A Dona Helena, uma mulher de luta, que perante os obstáculos não cruza os braços, quando lhe pergunto a razão desta mudança, para mais a vinte metros ao lado do antigo estabelecimento, responde-me: tinha de tomar esta necessária decisão. A renda que pagava era insuportável. Aqui, apesar de estar um pouco desviada do canal que é a Rua das Padeiras, tenho uma renda acessível. Tinha de optar. Afinal a vida é feita de escolhas, não acha?” –responde-me na interrogativa.
Com várias clientes a entrar e a sair, quase não tendo tempo para me aturar, eu a “correr” atrás da Helena, lá fui perguntando o que podia. Pelo movimento que vejo de pessoas a entrar e a sair, e tendo em conta que só hoje se mudou para a Rua do Almoxarife, parece que os seus clientes seguem-na até ao inferno, em provocação, questionei: “Graças a Deus, ao longo destes três anos, não só fizemos clientes, como em cada um transformei em amigo. Temos muito bom preço e procuramos, nas colecções que apresentamos, estar sempre à frente. Penso que é o justo merecimento de quem se esforça muito”.
Quando lhe pergunto como vê o centro histórico de há três anos para cá, responde: “é uma pena assistir a este contínuo despovoamento. Pelas elevadas rendas praticadas, só se aguentam os chineses. A Baixa está transformada numa “Chinatown”. As lojas de boas marcas, como não conseguem suportar os custos, vão embora e esta zona monumental fica mais pobre. Por sua vez, vêm mais chineses, por sua vez o cliente tradicional pela pouca oferta diferenciada afasta-se…é uma pescadinha-de-rabo-na-boca…”
Isso quer dizer que está pessimista? Interrogo. De modo nenhum. Nada disso! Eu acredito na revitalização da Baixa. Isto vai mudar. Tenho a certeza. É aqui que eu gosto de estar, e, com todas as minhas forças físicas e anímicas, lutarei por ela até à minha última gota de sangue…

EDITORIAL: O ESTADO DA BAIXA






Quem é meu “cliente” diário, por outras palavras, quem faz o favor de ler o que escrevo aqui, há uns meses para cá, certamente deu conta de que, deliberadamente, deixei de dar notícia de alguns assaltos e outros assuntos um pouco para o negro. Progressivamente fui carregando na tónica do optimismo, porque entendo que já somos tão bombardeados pelo pessimismo das coisas más que, inevitavelmente, se queria continuar com “clientes”, teria de optar por leituras mais positivas.
Mas, hoje, vão perdoar-me, lá vou eu “bater no ceguinho”. Este estado de abandono não pode continuar. Paulatinamente está a destruir-se uma ambiência comercial, monumental, residencial e social, sem que ninguém se importe.
A Baixa está entregue ao “Deus dará”. Qualquer “merdanas” faz o que bem entende durante a noite. Se lhe apetecer pintar uma parede com uma frase qualquer pinta, se lhe der na gana de partir uma qualquer montra e roubar o que quiser, está completamente à-vontade.
E estes constantes atentados à propriedade surgem num momento em que os comerciantes não podem com uma “gata-pelo-rabo”. Ou seja, estão de tal modo descapitalizados que qualquer simples quebra de vidro de montra os coloca numa situação deveras difícil. Por que no limite, até poderíamos pensar –e se calhar devemos mesmo- que os comerciantes, para salvaguardar os seus bens, terão de recorrer à segurança privada. Pode ser através de guardas-nocturnos ou outro qualquer meio de segurança. O problema é como pedir dinheiro a uma classe que, na sua grande maioria, está completamente afogada em dívidas. Como é que se ultrapassa isto?
Dizer que, constitucionalmente, cabe ao Estado a segurança pública de pessoas e bens, já não vale a pena. É como se estivéssemos a pregar no deserto para um exército de camelos surdos. Ninguém ouve, ninguém vê que este estado de abandono tem repercussões sociais elevadíssimas. Basta dar uma volta pelo centro histórico e atentarmos nas fachadas das lojas. Outrora reluzentes, hoje, sem reclames, com as luzes das montras apagadas à noite, não passam de imagens desfocadas de um passado recente, tão rico em história, que alguém, deliberadamente, em omissão, contribuiu (e continua) para o seu desaparecimento.
Já escrevi tanto sobre este assunto que até já me faltam as palavras. Já culpei o(s) governo(s) pelo (Novo) Regime de Arrendamento Urbano, já denunciei várias vezes a pouca importância que o centro histórico tem para o executivo camarário de Carlos Encarnação. E não são acusações avulsas. Já estive a falar com ele pessoalmente, e, acerca deste assunto, a resposta foi: “que quer que eu faça? Eu não tenho nenhuma varinha mágica para transformar esta situação!”. Também, mais uma vez, falou nas câmaras de vídeovigilância como se estas fossem a panaceia, a solução que cura todos os males. Pessoalmente, nada tenho contra o presidente da Câmara. Politicamente, enquanto comerciante preocupado com o actual estado da Baixa, tenho. E tenho muito. Acho –tenho a certeza- que um chefe de um executivo que diz continuamente que “ama a Baixa e até mora cá”, não pode, como Pilatos, lavar as mãos e passar a responsabilidade para outros. Deveria mergulhar as mãos nesta massa que é a resolução dos problemas de quem cá vive e trabalha. Naturalmente que não posso também deixar de lembrar que o Governador Civil, Henrique Fernandes, em Outubro do ano passado, numa reunião no Governo Civil, perante vários comerciantes, representantes da ACIC e da APBC, comprometeu-se a interessar-se pela segurança no centro histórico. Até disse mais: que no âmbito do “Contrato Local de Segurança” –um novo instrumento jurídico criado pelo governo- iria desenvolver “demarches” e no prazo de um mês reuniria todos os interessados novamente no Governo Civil. Até hoje. É legítimo questionar quanto vale a palavra dada de um governador civil em representação do governo no distrito?
A Baixa (e a Alta) não é apenas um aglomerado de prédios a caírem de podre. É muito mais. É o centro nevrálgico da cidade, é o seu coração. É a alma de uma urbe que já vem do Condado Portucalense. É aqui que os turistas nacionais e estrangeiros desembocam. Salvar o centro histórico (Alta e Baixa) é apostar no futuro económico do Concelho e até do Distrito.
Deixemo-nos de frases vazias de promessa de candidatura a Património Mundial da Unesco –que desde há cerca de 30 anos que são proferidas e já ninguém acredita nelas. Passe-se à acção directa nestas zonas, através de intervenções localizadas mas com a ajuda de todos: Inquilinos, proprietários, comerciantes e a própria administração. Não é preciso ser arqueólogo para saber que, no estado de abandono em que se encontra o centro histórico de Coimbra, é uma falácia fazer crer na sua classificação mundial. Só os surdos camelos do deserto acreditam…

UM MONUMENTO AO DESLEIXO




Esta “motoreta acelera”, com matrícula de Vila Nova de Gaia, provavelmente furtada, jaz abandonada na Rua da Fornalhinha, há meses, neste local que a foto mostra.
Segundo alguns comerciantes locais, já avisaram a PSP mais do que uma vez. A verdade, é que este meio de locomoção -que fará imensa falta ao seu legal proprietário, presumo- jaz ali inerte e sem vida como monumento à incapacidade de quem deveria resolver as coisas com celeridade e não o faz...

BAIXA: A NOITE DE TODOS OS DESMANDOS









Já no último 24 de Março, a Baixa, durante a noite, foi inundada de desenhos grafittados em prédios recentemente pintados e até sobre pedra, que é mais complicado de retirar as tintas de sprays.
Esta noite, mais uma vez várias paredes foram “pichados” –termo brasileiro para designar o grafitti. Como já nessa altura escrevi aqui no blogue, hoje há uma grande controvérsia em torno de considerar ou não esta pintura como arte. Violando paredes e cercaduras em pedra, acarretando prejuízos para os proprietários, transformando o centro histórico em gueto, penso, que não há dúvida nenhuma de que estamos perante vândalos que, sem eira nem beira, defecam os seus maus instintos em qualquer parede a jeito.
Isto só é possível porque a Baixa está entregue à sua sorte. Por incrível que pareça, tendo em conta o à-vontade com que actuam, temos de agradecer não acontecer pior. Mas, a continuar assim, negros tempos se aproximam…

MAIS UMA LOJA ASSALTADA DURANTE A MADRUGADA

(DESTE PRÉDIO, ABANDONADO HÁ CERCA DE 5 ANOS, NO ESTADO QUE A FOTO MOSTRA, SAIU O BLOCO DE CIMENTO QUE QUEBROU A MONTRA)

(VENDO-SE O BLOCO DE CIMENTO E UM PAU QUE SERVIU PARA RETIRAR AS PEÇAS DE MOSTRUÁRIO)

(ATENTE-SE NA IMAGEM DA LOJA E FACILMENTE SE INFERE O "ÂNIMUS" DO PROPRIETÁRIO)


Esta noite, de Domingo para segunda-feira, a “Medalha de Ouro”, uma loja de artigos de desporto situada no Largo da Maracha, foi assaltada. Apesar de ter grades de protecção, partiram o vidro da porta principal e levaram o que estava mais à mão de semear, entre várias sapatilhas de marca e algumas camisolas.
Armando, o proprietário, que já foi assaltado umas quatro vezes na última década, com ar de quem nada pode fazer perante esta praga que se abateu sobre as lojas comerciais, diz-me que “o pior são os estragos e a sensação de impotência de que sou tomado. Sempre trabalhei toda a vida e, para além disso, fui educado a lutar contra as adversidades, mas isto, o que se está a passar aqui no centro histórico, é algo que ultrapassa a minha capacidade de reacção. Sinceramente, não consigo entender o abandono a que estamos votados. Porque é que nos tratam assim? Sou o único e último resistente de artigos desportivos aqui na Baixa. A favor dos grandes centros comerciais, todas as outras lojas faliram. Foi a “Coimbra Desportos”, a “Chuteira” e outras que não deixaram história. Este arrombamento vem contribuir para o meu total desânimo”.

sábado, 25 de abril de 2009

HOJE É O DIA 25 DE ABRIL




Dando uma volta pelos blogues aqui ao meu lado, fico um pouco constrangido. Os conotados com a esquerda, homenageiam e elevam os homens que fizeram o 25 de Abril, independentemente do que vieram a fazer a seguir. Os simpatizantes da direita, chamam a alguns destes heróis da revolução dos cravos desde assassinos a cobardes.
Que diabo, como não tenho simpatia nem para uns nem para outros e não sei onde me colocar. Talvez o centro, como fiel de balança –e neste caso seria muito cómodo para mim-, resolvia-me parcialmente a questão. O problema é que nunca gostei de ambiguidades, e neste caso, o centro, para além de ser ambíguo é também bipolar, tem um braço e uma perna na direita e os outros membros na esquerda. Então como é que resolvo isto com alguma racionalidade e objectividade?
Para mais, para suprema ofensa da esquerda, presumo, estou a trabalhar hoje, quando a maioria está a gritar loas à origem do feriado. Ontem, quando conversava com um amigo e colega comunista, quando lhe disse que trabalhava hoje, com grande grito de revolta, saído lá das profundezas, exclamou: “o quê, trabalhas no dia da Revolução?! Fogo, a mim, para trabalhar neste dia, nem que pagassem milhões!”
Engraçado é que, para mim, o dia de hoje é apenas um marco assinalado na história de Portugal. E nada mais. Tal como foram datas importantes para o país, como por exemplo, o 1º de Dezembro de 1640 –com a Restauração da Independência e expulsão do reinado dos Filipes de Espanha- ou o 5 de Outubro de 1910 –com a queda da monarquia e implantação da República.
É verdade que em Abril de 1974 eu tinha apenas 18 anos e nenhuma cultura política. Já trabalhava há quase 8 anos. Enquanto eu fui infante, os meus ascendentes andavam tão preocupados com o pão para a boca que sabiam lá eles que havia oposição a Salazar.
O dia da Revolução de 25 de Abril veio apanhar-me a vender trapos numa grande loja da Baixa de Coimbra e hoje encerrada. O patrão, que subira a corda da vida a pulso, nesse dia, se ficou preocupado não o demonstrou. No dia seguinte, quando começaram as manifestações de rua, perante os seus cerca de 15 empregados, tratou de fazer sessões colectivas de esclarecimento político e clarificar que ali, na sua loja, era ele que mandava. Portanto, partido, a haver, teria de ser o PSD ou o CDS. Estas formações político-partididárias é que eram boas. Eram as únicas que defendiam a iniciativa privada. Os outros, e sobretudo os comunistas, “comiam meninos ao pequeno-almoço”.
Fosse por isso ou por outra coisa qualquer, a verdade é que até hoje nunca fui a nenhum comício partidário. Dos 18 aos 25 anos que trabalhei naquela grande firma, fui tentando fazer a minha destrinça entre o comportamento do patrão de direita e outros que haviam na Baixa e que eram assumidamente comunistas. Nunca cheguei a nenhuma conclusão clarificadora de qual deles seria melhor. Aliás, sempre encontrei grandes similitudes na sua forma de proceder. Nunca vi um comerciante comunista distribuir, fosse o que fosse, da sua riqueza, por quem mais precisava. No da direita, igualmente, o que via era que tentava enriquecer o mais possível. Ao mesmo tempo, na firma onde trabalhava, apercebia-me, havia uma “utilização” abusiva dos trabalhadores. Todos trabalhávamos mais para além do horário, diariamente. Em vez de 30 dias de férias eram apenas gozados 15. É certo que no fim do ano todos levávamos um “cheque-bónus” pela lealdade e bom comportamento.
A única diferença que eu notava, quer no comerciante de direita, quer no de esquerda, era o ódio que cada um nutria ao outro. Um era apodado de fascista salazarento, o outro de vermelho ao serviço de Moscovo.
Nesta loja onde trabalhei 9 anos, fui continuando sem manifestar nenhum pendor político-partidário. Mas há uma história engraçada que nunca me esqueci. Em 1975, com 19 anos de idade, tinha as minhas férias marcadas antecipadamente como era norma. Tinha tudo programado para as iniciar na data acordada. Na véspera, o gerente da loja comunica-me o cancelamento das minhas férias previamente anunciadas. Mandei-me aos “arames” e, no meio de uma discussão, disse-lhe que nem pensar. Ia e ia mesmo. Quando chegou o patrão, a mesma coisa. “Não senhor, que não podia ir e pronto!”, verberou o velho comerciante. Então, irritado, interroguei: o senhor pensa que nós somos carne para canhão? O homem, espavorido, olhou-me fixamente, começou a andar à minha volta e a soletrar como um disco riscado: “é comunista! Ele é comunista! Eu tenho um comunista na minha casa!”
Na noite anterior eu estivera a ler a 25ª hora, de Virgil Gheorghiu, e não dormira. Foi a noite toda em claro a ler o livro que até hoje mais me entusiasmou sem conseguir descolar. Uma das frases que memorizara foi exactamente “carne para canhão”.
Esse acontecimento passou e, tenho a certeza, que apesar da minha rebeldia, o velho comerciante, deixou passar. Despedi-me com 25 anos de idade, por minha iniciativa. Bem que ele tentou que eu não o fizesse, com toda a honestidade.
A partir daí, nunca me interessei muito pela política partidária, embora, diga-se, sempre tentei saber tudo o que se passava à minha volta. O mesmo se passa com o futebol. Não gosto do desporto-rei, e não tenho qualquer simpatia por este ou aquele clube, mas aqui, neste desporto, nem me interessa saber. Como se isto fosse pouco sou agnóstico. Já vêm, somando estas parcelas, que sou muito pouco ortodoxo. Sou um desalinhado totalmente do sistema social. Ah…mas esqueci-me de dizer que gosto de fado, o que já não é de todo mau. Do aforismo Fátima, futebol e fado, vá lá, sempre se aproveita o fado!
Ora, como vêm, regressando ao início do texto, estou muito preocupado. Num país em que toda a gente gosta de futebol e tem um partido político de eleição, eu, sendo diferente para pior, está de ver, das duas uma: ou sou um nacionalista de “carregar pela boca”, ou então sou um comunista renegado da pior espécie. Ou seja, acabo por ser um mal-amado por uns e por outros, perdido neste universo homogéneo e unanimista que é a nossa sociedade de consumo político-partidária.
Sou uma espécie de alma esvoaçante, que numa equidistância intencional ou desligada do aparelho “religioso” anda à procura do seu deus terreno.
O que hei-de fazer? Já pensei em fazer terapia partidária, ou então, se esta não resultar, hipnose por regressão. Há qualquer coisa que não bate certo…