terça-feira, 29 de agosto de 2023

A QUASE REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE MEALHADA (QUE NÃO ACONTECEU)

 



SER OU NÃO SER EIS A QUESTÃO


A última reunião da Câmara Municipal de Mealhada, que deveria ter acontecido ontem, dia 28, pelas 9h00, não chegou a realizar-se por invocação de ilegalidade e abandono da sala por parte de Rui Marqueiro, vereador eleito pelo Partido Socialista no actual mandato e presidente da autarquia entre 2013 e Setembro de 2021, e seguindo-se os colegas de bancada.


ALEGAÇÕES:


Por parte de Rui Marqueiro, antes de abandonar a reunião no Salão Nobre da Câmara Municipal, foi dito que a convocatória, necessária e obrigatória, estava ferida de ilegalidade por o vereador João Morais Calhoa, da bancada socialista, não ter sido citado dentro do prazo legal para o efeito (3 dias).

Afirmou ainda Marqueiro que, se a sessão se realizasse, qualquer munícipe poderia arguir a sua nulidade.

Em resposta, o presidente da Câmara Municipal, António Jorge Franco, começou por pedir desculpa a José Calhoa por não ter sido chamado dentro do prazo a estar presente. Ratificou que, de facto, houve um lapso dos serviços administrativos. O que aconteceu, esclareceu, foi que a convocatória foi dirigida ao vereador Luís Tobim – que estivera presente na última reunião em regime de substituição – quando deveria ter sido enviada ao vereador José Calhoa.

Quando os serviços, pela voz da jurista camarária Dr.ª Cristina, deram pelo erro era já Sexta-feira à tarde (prazo curto de apenas dois dias para cumprimento da legalidade). Logo, foi contactado via telefone o eleito Calhoa a pedir desculpa pela troca de endereços e, alegadamente, este, brincando com a situação, não deu muita importância ao detalhe, enfatizou a Dr.ª Cristina em plena sessão camarária e transmitida via “streaming”.

Aparentemente, dando o dito por não dito, Calhoa abandonou a sessão. Sónia Leite, também eleita pelo PS, seguiria o procedimento e, um e outro, disseram que o faziam em solidariedade com Rui Marqueiro.


ALEGAÇÕES PARTIDÁRIAS


Também no comunicado publicado, ontem, pelo Partido Socialista no Facebook pode ler-se o seguinte:


(…)...

2 - O Vereador José Calhoa enviou um e-mail para o Gabinete da Presidência informando não ter recebido a convocatória dentro do espaço de tempo que a lei determina.

3 - Face a essa tomada de conhecimento, o Senhor Presidente da Câmara Municipal da Mealhada decidiu manter a reunião na data e hora prevista inicialmente, estando esta ferida de irregularidade na convocatória, pelo que:

Qualquer cidadão, face à ilegalidade da convocatória, facilmente impugnaria a reunião ou até mesmo uma qualquer decisão que viesse a ser tomada.

(…)…”


Na página do Movimento Independente Mais e Melhor na Internet, no Facebook, pode ler-se o seguinte:


(…) …

Houve uma falha no envio de um email, o vereador José Calhoa foi contactado e em momento algum pôs em causa a realização da reunião, mostrando a sua compreensão, mas eis que surge Rui Marqueiro, indignado, em defesa da “vítima” que nunca o foi, “rasga as vestes” e abandona a reunião. Este foi seguido, em solidariedade, pela vítima e pela vereadora Sónia Leite que também precisava preparar a reunião de hoje com os colegas!

(…)…”


ALEGAÇÕES INSTITUCIONAIS CAMARÁRIA


Na página institucional do município mealhadense, no Facebook, pode consultar-se o seguinte extracto:


(…)...


PS abandona reunião da Câmara "por birra política"

Os vereadores socialistas abandonaram, esta manhã, a reunião da Câmara da Mealhada, alegando que a convocatória da mesma foi irregular, na medida em que não foi enviada a um dos seus vereadores, em devido tempo. O presidente da Câmara, António Jorge Franco, lamentou "falta de respeito para com o órgão, os serviços e a população", uma vez que a situação foi corrigida e o vereador contactado, não tendo manifestado qualquer prejuízo em relação à situação.

(…)…”


Salvo melhor opinião, este comunicado oficial exarado na página da autarquia, no Facebook, por estar carregado, eivado, de negatividade e teor partidário, a meu ver, deveria ser reformulado. Na forma como está escrito, não fica bem.


MAS, AFINAL, QUEM TEM RAZÃO?


Antes de responder directamente à questão,como é óbvio, vamos ver o que diz a Lei respeitante, a 75/2013, de 12 de Setembro, nomeadamente no seu artigo 51º:



Artigo 51.º
Convocação ilegal de sessões ou reuniões

A ilegalidade resultante da inobservância das disposições sobre convocação de sessões ou reuniões só se considera sanada quando todos os membros do órgão compareçam e não suscitem oposição à sua realização.”


Ou seja, quer o presidente da Câmara, António Jorge Franco, quer o vereador Rui Marqueiro, ambos, têm razão.


Por outras palavras:


A reunião poderia ter prosseguido desde que “todos os membros do órgão compareçam e não suscitem oposição à sua realização.”

Mas não se verificou a concordância/aceitação por parte de Rui Marqueiro em deixar prosseguir a Reunião invocando a sua ilegalidade. Salienta-se que este eleito estava no seu direito em suscitar a sua não concordância.

Mas, sublinha-se, a Reunião poderia ter prosseguido sem qualquer possibilidade de vir a ser anulada se, porventura, quer Marqueiro, quer João Calhoa, quer Sónia Leite estivessem de acordo em prosseguir.

Assim não aconteceu. E a cada um o que é seu.

Ponto final e parágrafo.


segunda-feira, 28 de agosto de 2023

A REUNIÃO DA CM DE MEALHADA QUE NÃO CHEGOU A SER: O CASO DO DIA

 




Estava o Marcelo pendurado na parede (salvo seja, como quem diz, em foto institucional) do Salão nobre da Câmara Municipal de Mealhada, com olheiras profundas, olhos semi-cerrados, sem conseguir disfarçar o ar de enfado, certamente a acusar os enormes esforços e canseiras que passou a percorrer as trincheiras da Ucrânia e a aprender a ler e a falar ucraniano em cinco dias, quando o maestro do grupo Coral Sinfónico Mealhadense, António Jorge Franco, levantando a batuta, e dando princípio ao ensaio, proclamou ao coro misto: “Bom dia a todos. Vamos dar início à Reunião da Câmara. Não sei se alguém quer tomar a palavra (…)”.

E Rui Marqueiro, no lugar de “baixo”, com uma voz mais grave, que antecedeu o actual regente na condução da música de câmara, pediu a palavra e disse ter tomado conhecimento de que havia uma irregularidade na convocação do ensaio. Ou seja, um dos seus colegas músicos, no caso, o “tenor” José Calhoa, que, sem precisar, se fizesse jus ao talento recebido à nascença, não recorria com frequência ao uso da técnica de “falsete”, não fora notificado dentro do prazo legal. Por conseguinte, retorquiu o “baixo” Marqueiro que, por esse facto, não continuaria no ensaiamento.

O chefe da banda, António Franco, que por vezes intermedeia entre o “tenor” e o “baixo” com a voz de “barítono” e é o compositor de todas as obras apresentadas à comunidade, pedindo desculpas, enfatizou que se, porventura, alguém se sentisse prejudicado seria o “tenor” José Calhoa, que, recebendo as pautas apenas na última Sexta-feira, não se queixou – e até brincou com a situação, segundo aflorou a senhora jurista Cristina, que assessora o grupo coral.

Quando se pensava que, apesar do abandono da sala do “baixo” Marqueiro, os trabalhos musicais iriam continuar, eis que o “falsete” Calhoa diz que, apesar de dar o dito por não dito, em solidariedade com o camarada também abandonava o teatro e não cantava nem piava.

Como um fogo de ignição causado por gasolina, também a “mezzo soprano” Sónia Leite, que é a voz intermediária entre o “soprano” e o “contralto”, e que na maioria das vezes faz “playback” nas actuações, abandonou o palco em respaldo com os demais.

Com os lugares vazios dos coralistas, mesmo assim com quorum para a orquestra continuar, pediu a palavra Hugo Silva, “baixo”, com tipo de voz grave, bem posicionada e sempre bem afinada, elaborou uma resenha histórica dos falhanços idênticos do último mandato do ex-regente Marqueiro.

Pediu atenção a “soprano”, que é a voz mais aguda e de longo alcance, Filomena Pinheiro. Aludiu a vice que a atitude de largar o lugar institucional “era uma birra, um número”. Pior do que isso era a falta de respeito para um lapso dos serviços; uma falta de respeito para com os técnicos desta Câmara, que, em equipa, durante tantos anos trabalharam.

E desabafou o “baixo” Ricardo Santos. Afirmando que “isto era brincar com quem trabalha”, isto não se fazia.

E estava realizada provavelmente a mais curta reunião camarária que não chegou a ser de sempre. Durou pouco mais de vinte minutos.


E MARCELO PARECEU TAPAR OS OLHOS


Mesmo a terminar a mini-sessão, pareceu-nos ver Marcelo Rebelo de Sousa (em formato institucional pregado na parede como Jesus Cristo) a levar uma das mãos a tapar os olhos.

O que teria acontecido para o mestre de cerimónias em viagens de longo alcance fazer este gesto?

Por termos ficado curiosos e clarificar o procedimento de aparente ocultação, usando os nossos canais pouco credíveis, contactámos e fizemos a seguinte pergunta aos serviços da Presidência da República:


Poderá V. Ex.ª justificar o gesto de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, de tapar os olhos no final da sessão que não aconteceu na Mealhada?


Resposta:


Encarrega-me Sua Ex.ª o Chefe do Estado, Professor, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa de informar que tal movimento de surpresa teve em conta o rápido levantamento da cadeira por parte de Sua Excelência o Regente-mor, Eng.º António Jorge Franco, em direcção à funcionária e, em simbologia, lhe depositou um beijo na nuca.

O Senhor Presidente Professor, Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, fazendo analogia com o beijo de Rubiales na boca a uma atleta, e que está a causar um escândalo a nível mundial, temendo o pior, em solilóquio com seus botões, soletrou baixinho: “Ai, Santo Padre Francisco me valha...


terça-feira, 22 de agosto de 2023

EDITORIAL: O VETO DE MARCELO AO PROGRAMA MAIS HABITAÇÃO

 





Salvo a maioria, constituída pela oposição no Parlamento e várias associações ligadas ao arrendamento, que está de acordo com o veto do Presidente da República ao pacote legislativo sobre várias medidas para combater a galopante falta de casas e aumento desmesurado de rendas, embora a minha opinião nada conte, dou de barato que Marcelo Rebelo de Sousa, mais uma vez, esteve mal.

O argumento pelo Chefe de Estado para a devolução do diploma à Assembleia da República, sinteticamente, assenta no facto de “não ter reunido consenso na aprovação no Hemiciclo” – esta legislação foi aprovada com os votos dos deputados do PS, que, como se sabe, detém a maioria.

Estamos todos loucos? Ou trata-se de um delírio declarado do ocupante do Palácio de Belém?

Então os portugueses não sufragaram os socialistas maioritariamente para governar o país durante os quatro anos em curso?

E a invocação de que se trata de um veto político, faz sentido? Faz sim, se entendermos que é uma forma de atrasar o processo legislativo, um “encanar a perna à rã” apenas e só, já que o diploma regressa ao Parlamento e, sendo aprovado novamente por maioria absoluta, o Presidente está obrigado a promulgá-lo. Goste ou não goste. E não tem de gostar, já que não lhe cabendo governar, o seu lugar é de árbitro isento e imparcial.


NÃO FAZER NADA É MELHOR QUE FAZER ALGUMA COISA?


Entre muitas interrogações, podemos questionar: o pacote Mais Habitação é mesmo assim tão mau, tão mau, que não virá resolver nada?

Talvez não seja perfeito, mas, porventura, será um primeiro caminho em busca de uma lei mais aperfeiçoada e de acordo com os entraves que vão surgindo. E são muitos.

Um dos maiores obstáculos será o burocrático licenciamento de obras particulares por parte dos municípios – embora fosse já promulgado um diploma no sentido da simplificação dos procedimentos, espera-se que venha revolucionar o sistema.

Outro, será a continuada discriminação entre velhos senhorios com contratos anteriores a 1990, sujeitos a uma ditadura na imposição de rendas condicionadas, baixíssimas, só comparável ao Estado Novo, e novos senhorios a praticarem valores altamente especulativos e indecorosos.

Outro, não se entende que a lei crie obstáculos à instalação de casas pré-fabricadas em terrenos onde haja recurso a água canalizada, luz eléctrica e saneamento – se isto não é um poderoso lobby para obstaculizar o mercado destas habitações movíveis e proteger a indústria da construção civil, lá que parece, parece.

Outro obstáculo é a continuada inexequível posse administrativa de imóveis abandonados nas cidades, vilas e aldeias. Com medo do fantasma marxista e, sobretudo, receio de perder votos, as câmaras municipais nunca cumpriram nesta parte o Novo Regime de Arrendamento Urbano, de 2006. Daí esta falsa indignação por todos sobre esta medida, agora reforçada, procurando defender a floresta de prédios abandonados, doente e contaminada pelo vírus do desleixo.

Não fazendo nada, tudo indica que iremos todos presenciar a breve prazo medidas draconianas de congelamento de rendas novas.

E os proprietários de Alojamento Local, pela contribuição extraordinária de 15%, estão a ajudar à festa.

Há também um detalhe importante por parte dos Governos de António Costa, a partir de 2015, metodicamente, veio criar, essencialmente nos jovens, a ideia de que ter uma casa é um direito de facto. E não é. Só o será se houver convergência entre o estimular e criar de condições do Estado e vontade e muito sacrifício manifestada pelo requerente do direito. Não há almoços grátis.

A própria Constituição, no seu artigo 65º induz em erro aos menos atentos.


MAS HAVERÁ UMA IDEIA MELHOR?


Será que os cidadãos conhecem o que se anuncia? Estou em crer que não. A maioria segue a reboque os clamores emocionais da oposição, que imbuída de um “bota-abaixismo” endémico e apenas interessada em derrubar o Governo, lamentavelmente, não apresenta soluções melhores, e das associações de proprietários e de inquilinos, que, de forma corporativa e egoísta, estão pouco interessadas em resolver este grande problema no país.


https://www.jn.pt/930535357/conheca-as-principais-medidas-do-pacote-mais-habitacao/  


sábado, 19 de agosto de 2023

EDITORIAL: OS SETE FÔLEGOS DAS GRANDES SUPERFÍCIES COMERCIAIS (2)

 

(imagem de Leonardo Braga Pinheiro)



Em anterior apontamento trouxe à colação o título do semanário “Expresso” da penúltima edição sobre uma alegada transferência das grandes marcas mundiais dos centros comerciais

para a rua das cidades grandes e médias. Invoca o jornal que esta mudança de estratégia é devida ao grande afluxo de turistas que, como formigas, invadem os grandes centros urbanos.

Por especulação, ao ler a notícia, somos levados a pensar que o fim destas grandes catedrais, onde entram todos os fiéis e infiéis por curiosidade e adoração do grande comércio megalómano. Como somos, por princípio, tomados por uma megalomania existencial, sejamos ricos, remediados, pobres, ao vislumbrar tal deslumbramento de riqueza arquitectónica, perante aquele espectáculo visual, todos somos levados a pensar que a obra também é nossa, não no sentido da propriedade propriamente dita mas, sim, intelectual e progressista. É como se com esta visão metafórica o nosso consciente fosse tomado de um alter-ego e nos sentíssemos a cavalgar uma onda de progresso social e a fazer parte de um país desenvolvido e feliz e, enquanto contribuintes de um sistema tributário enviesado, menos pobres e desgraçados. Depressa somos levados a esquecer que, com estratégias de “dumping” de destruição massiva através de preços abaixo de custo, primeiro foram aniquiladas as mercearias, depois os pequenos super-mercados, os cinemas independentes, as livrarias de rua, as lojas de brinquedos. Mas num pensamento apaziguador de contrição, sobretudo se for de meia-idade, relativiza-se com o excesso de oferta da superfície comercial e culpabiliza-se o antigo merceeiro que, fiando, é certo, vendia caro e tinha um lápis de dois bicos. Que importa que muitas aldeias na actualidade não detenham um único estabelecimento comercial para entrelaçar as gentes e torná-las mais socializantes?

E depois deste grande plasmar ao sabor da corrente, vou novamente voltar à notícia do “Expresso”. Por um lado, em especulação, somos levados a inferir que o grande comércio tem os dias contados. Isto é, num eterno retorno, numa justiça divina, ou Natureza de matriz primária, o que foi “roubado”, desviado, da rua, por voltas e mais voltas como boomerang perdido no espaço e que volta a encontrar o caminho, mais tarde ou mais cedo ao mesmo sítio voltará.

Tal como defendi na anterior crónica, embora pareça que assim é, na verdade não é. O que se assiste na actualidade são estratégias comerciais que, em presumidas políticas de terra-queimada, visam a sobrevivência individual, de cada um, durante o mais tempo possível.

E para ilustrar com um exemplo o que acabo de escrever vamos fazer submergir uma realidade. Aqui na Mealhada, onde com duas médias-superfícies a laborar, o “Lidl” e o “Intermarché”, mesmo vivendo em concubinato aparentemente não declarado, foram muito felizes. Mas tudo indica que os bons tempos para ganhar dinheiro já lá vai.

Até agora o “Intermarché”, numa promoção que se entende, tem vindo a oferecer 10 euros em cartão em cada 50 euros de compras. Ou seja, o cliente adquire 50 euros em géneros e são-lhe creditados 10 para descontar passados uns dias no que quiser levar para casa.

Na semana passada, o “Pingo Doce”, inaugurado há cerca de um ano na cidade do leitão, ofereceu em cada 100 euros de compras 20 euros em cartão e 20 euros em combustível.

Ressalvo que não estou armado em moralista, eu também lá fui.

A questão que subjaz, para além de ser muito interessante para os lados do consumidor, é: em cada 100 euros podem ser oferecidos 40 em géneros? Qual a margem de lucro que sustenta tal medida?

Estamos, ou não, perante um ataque destrutivo à concorrência?

Na qualidade de clientes, esta medida deve-nos deixar contentes ou tristes?

Vale a pena pensar nisto?

EDITORIAL: OS SETE FÔLEGOS DAS GRANDES SUPERFÍCIES COMERCIAIS (1)

 

(Imagem de Leonardo Braga Pinheiro)




Na penúltima edição o semanário Expresso noticiava no caderno de economia: “O comércio está a voltar à rua: há grandes marcas a deixarem centros comerciais para ficar mais perto das cidades”.

E em desenvolvimento: “O comércio de rua está a renascer: impulsionado pela reabilitação urbana, que proporcionou novas áreas, e pelo turismo, os negócios de rua estão a crescer em lojas e volume de vendas. E não são só os pequenos negócios a fazer esta aposta: algumas grandes marcas estão a deixar os centros comerciais e a transferem-se para as principais artérias comerciais das cidades.”

Recuando um pouco no tempo, embora a história não refira como tal, o primeiro centro comercial do país, terá sido os Armazéns Grandella, em 1907, distribuídos num prédio de 11 andares com entrada pela Rua do Ouro, em Lisboa, e que viriam a serem destruídos pelo grande incêndio que devastou a zona do Chiado em 25 de Agosto de 1988. Após longa recuperação, viriam a reabrir com novo formato comercial em 1996. Pensados e realizados pelo grande empresário-visionário Francisco de Almeida Grandella, cuja história de vida, eloquente e fantástica no engrandecimento em prol do país, ainda não teve o justo merecimento por parte das autoridades oficiais, após longa recuperação, viriam a reabrir com novo formato comercial em 1996.

O segundo terá sido o “Centro Comercial do Cruzeiro”, em 1951, no Monte Estoril, a funcionar no edifício “Cruzeiro”. O projecto comercial viria a ser abandonado na década de 1970.

O terceiro terá sido o “Apolo 70”, em Lisboa, na zona do Campo Pequeno, com uma área de três mil metros quadrados. Foi inaugurado em 1971 e, meio-século depois, encerrado, por ordem do tribunal, em 2021.

O terceiro, já com planeamento e arquitectura contemporânea, e com a denominação de “Hipermercado” terá sido o “Continente”, em Matosinhos, em 1985.

Voltando à notícia do “Expresso”, não deixa de ser curioso por quanto, por volta da transição do milénio quando se deu a grande multiplicação destes mega-espaços em Portugal, foi vaticinado por muitos economistas que, tendo em conta a comparação com restantes países europeus, o prazo de validade do grande comércio concentrado era de 15 anos.

Por indução, o jornal de Balsemão não estará completamente certo. Ou seja, o teor da informação em “Caixa” parece indicar-nos que as grandes marcas estão a voltar à rua e, por especulação, as grandes cadeias alimentares e outras fazem o mesmo. Mas, a meu ver, não é totalmente verdade.

Devido ao fluxo turístico internacional que diariamente engrossa as grandes e médias cidades e, sobretudo, pela logística, pelos elevados custos de organização, algumas marcas de prestígio, tentando livrar-se do garrote dos shoppings, desde há cerca de quatro anos, estão, paulatinamente, a abandonar as catedrais comerciais. O problema destas cadeias internacionais é pretenderem grandes áreas com mais de um milhar de metros quadrados e raramente se encontrar espaços. As grandes urbes, como Porto e Lisboa, e as médias, como Coimbra, tem um lastro de milhares de pequenas lojas mercantis até, no máximo, uma centena de metros.

O que se verifica, na prática, é grandes cadeias, como a Sonae, o Aldi, o Intermarché e o Bricomarché, estarem a largar as grandes metrópoles e a posicionar-se em cidades pequenas, com áreas comerciais até 2000 metros quadrados, como por exemplo, a Mealhada, que viu abrir, há cerca de um ano, o “Pingo Doce” e, muito em breve , seguir-se-ão o “Aldi” e o “Continente”. No mês passado, Julho, a cidade de Anadia, de rajada, inaugurou duas médias superfícies: o “Bricomarché” e o “Intermarché”.

Não deixa de ser motivo de reflexão o facto de recentemente ter sido anunciado que grupo “Dia”, proprietário da marca “Minipreço”, iria abandonar Portugal e venderia as suas 489 lojas ao grupo “Auchan”.

Estará em coma induzido? Quantos fôlegos tem o grande Comércio?


(Voltarei a este assunto)





quinta-feira, 17 de agosto de 2023

BARRÔ: FALECEU UM DOS NOSSOS



Se a morte, enquanto corte de um ciclo vivencial, mesmo que devido a doença fatal seja esperada a curto prazo, é sempre uma nuvem negra, pesada de sofrimento, de tristeza que se abate e invade o círculo mais restrito de familiares e amigos, em verdade, sobretudo para os mais chegados, é algo indesejável e nunca se está preparado para a receber. Quer se queira quer não, é sempre um choque emocional, um sentimento de injustiça, que nos toma a notícia de alguém que partiu ainda no apogeu da vida e, sobretudo, se, na sua curta passagem terrena, foi uma pessoa simpática, cordata e respeitadora.

E, sem o perigo de exagerar, é o caso da Fátima Pires, que, embora previsível devido a doença prolongada, nos deixou hoje.

A Fátima, esposa do nosso amigo Jorge Jesus, era, sem dúvida alguma, um ser humano maravilhoso. Era uma pessoa positiva, uma luz brilhante, uma mais-valia para a nossa aldeia de Barrô. Aparentemente, com uma vontade abrangente de viver e comunicar, viu o destino trocar-lhe as voltas.

Ao Jorge, aos seus filhos, à Augusta que vê a sua nora desaparecer precocemente, e a toda a restante família, que mal se imagina o sofrimento e dor que lhes caiu em sorte, neste dia marcante, em nome da terra que nos viu nascer, se posso escrever assim, os nossos sentidos pêsames.

Até sempre, Fátima Pires. Descansa em paz.


Post Scriptum: As exéquias fúnebres serão realizadas amanhã, Sexta-feira, 18 de Agosto, pelas 17h30, na igreja de Casal Comba, com missa de corpo presente, e em seguida o féretro seguirá para o cemitério local.


 

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

REUNIÃO DA CÂMARA MUNICIPAL DE MEALHADA: “SUUM EIQUE TRIBUERE” (ATRIBUIR A CADA UM QUE É SEU)



Começo com um título que logo ao primeiro olhar desmotiva a ler o que se segue. Para uns, os puristas, aqueles que não gostam mesmo nada de se esforçar, dirão que um palavrão destes é mesmo só para impressionar. Outros, os que mesmo que não entendam passam à frente, os tolerantes, estão a marimbar-se se é assim ou assado. Fique escrito, nem foi para impressionar nem para provocar. Apeteceu-me. Pronto!

Serve esta curta introdução para repor a verdade histórica, emendar/rectificar, de uma afirmação ditada, hoje, na Reunião da Câmara Municipal de Mealhada por Rui Marqueiro, actual vereador eleito pelo Partido Socialista e ex-presidente da Câmara Municipal.

E o que afirmou o conhecido político?

A terminar a sessão, a vice-presidente Filomena Pinheiro deixou no ar um remoque: “Só para aproveitar para convidar todos presentes a estar - “presentes e público que nos está a ouvir”, atalhou António Franco, o presidente da edilidade – na Feira do Pão e do Mel, que se vai realizar de 12 a 15 de Agosto, no Luso.”

Cortou Rui Marqueiro: “Só vou se a senhora me garantir que há lá pão de Barrô…

Respondeu Filomena Pinheiro: “… A senhora está lá. A senhora está lá.

Enfatiza Marqueiro, “o pão de Barrô é o melhor pão do Mundo…

Na dúvida, Filomena contemporiza: “Ah, mas com certeza que o pão que fala é o que se encontra num espaço (comercial, o Intermarché, acrescento nosso), de outro Barrô…

Corta Marqueiro, “Não, o de Barrô daqui, não é de Águeda, é de Luso…

Franco dá uma mãozinha ao vereador socialista: “Não, de Barrô daqui, Barrô, Luso…

Corrobora Marqueiro, “pão amassado com as mãos, já não se encontra em todo o lado…


AFINAL, DE QUE BARRÔ SE FALA?


Estou em crer que foi um lapso de linguagem, uma confusão instantânea, quer do ex-presidente, quer do actual. O Barrô aflorado, pela tradição de bom pão, é mesmo o de Águeda, não o do Luso. Infelizmente para a minha aldeia, tão carecente de produtos que a elevem ao Mundo.

A não ser que estejamos perante uma jogada de Marketing para lançar no mercado um (novo) pão da nossa avó, amassado, cozido em forno de lenha, como antigamente.

Pelo sim, pelo não, deixo a História do Pão de Águeda – retirada, com a devida vénia, do Facebook: