Num
tempo de após-pandemia, esperemos que assim seja, para conhecer
melhor os candidatos à Câmara Municipal de Mealhada nas próximas
eleições autárquicas, em 26 de Setembro, em nome da página
Mealhadenses que Amam a sua Terra, propomos aos participantes
responderem a algumas questões que consideramos elementares. Depois
de Hugo Alves Silva (Juntos pelo Concelho da Mealhada); António
Jorge Franco (Movimento Mais e Melhor); João José Pereira Marques
(CDU, Coligação Democrática Unitária); Gonçalo Melo Lopes (Bloco
de Esquerda) apresentamos agora Rui Manuel Leal Marqueiro, candidato
ao executivo pelo Partido Socialista (PS).
Com
69 anos, é o actual presidente da Câmara Municipal e apresenta-se a
sufrágio para o terceiro mandato desde 2013. Antes deste período,
foi presidente da Câmara Mealhadense entre 1989 e 1999, altura em
que foi eleito deputado à Assembleia da República pelo PS.
De
2001 a 2013 foi presidente e vice presidente do Centro de Estudos e
Formação Autárquica, em Coimbra.
Ingressou
na Escola Primária em Antes no ano de 1958, freguesia onde reside. É
licenciado em economia pela Faculdade de Economia do Porto.
Considera-se
tímido, idiossincrasia que, através da genética, herdou do pai.
Tem
por lema de vida: “só é derrotado quem desiste de lutar.”
Como
todos os políticos em exercício, amado por uns detestado por
outros, apresenta-se ao grande combate autárquico com o mesmo
entusiasmo de sempre.
É
assim, Dr. Rui Marqueiro?
Mealhadenses
que Amam a sua Terra (MAST): Como é o Rui Manuel Leal Marqueiro no
dia-a-dia?
Rui
Marqueiro (RM):
Antes
de responder quero corrigir dois dados que são apresentados na
introdução.
Eu
fui de facto vice-presidente e presidente do CEFA, e presidente da
Fundação CEFA que se seguiu, e tudo isto se desenrolou entre os
anos de 2001 e 2011 e não 2013 como aparece na referida introdução.
Tanto
quanto posso relembrar eu vim para a escola primária da Antes em
1960, onde ingressei na terceira classe da então instrução
primária.
De
facto, apresento-me como candidato a Presidente da Câmara Municipal
com o mesmo entusiasmo de sempre, sou dos que pensam que antes de
passar o tempo a pedir ao Município o que pode fazer por mim,
prefiro colocar-me à disposição dele para fazer por ele o que
puder e souber.
Para
quem se interessa por Ciência Política, sabe que este pensamento
não é um original meu, mas que o adotei sempre como guia da minha
vida política.
Sou
um homem dedicado à família, muito reservado por timidez, bastante
expansivo quando crio amizades, a quem sou muito dedicado.
São
raras, mas muito verdadeiras e preciosas.
Adoro
música, não tendo a mais pequena preparação musical, gosto
especialmente de música clássica, de jazz, de música latino
americana, e como quase toda a minha geração adoro os Beatles.
Gosto
imenso de ler, tenho muita curiosidade por biografias de grandes
Homens de Estado; há pouco acabei de ler a biografia de Mandela e
neste momento comecei a ler a biografia autorizada do eng. António
Guterres, que admiro muito.
Espero
não escandalizar os mais ortodoxos ao dizer que li atentamente a
biografia do Prof. Salazar da autoria do dr. Franco Nogueira, obra
apologética, mas notável pelo esforço que constituiu e nos mostra
o interior do Estado Novo e as suas insanáveis contradições.
Li
muitas outras biografias, ou obras de políticos portugueses e
estrangeiros; posso citar De Gaulle, Churchill, Monet, Mário Soares,
Sá Carneiro, Álvaro Cunhal, Fidel Castro e Che Guevara. Enfim
muitos outros que por esta ou aquela razão suscitaram a minha
curiosidade pelo pensamento político ou a praxis política.
Gosto
de conhecer outros países, outras pessoas, tenho um grande fascínio
pelas religiões, embora me falte inteligência para ser crente, e
ficarei devedor do Município por me ter proporcionado poder ser
recebido em audiência coletiva por SUA SANTIDADE O PAPA FRANCISCO,
foi o momento mais fascinante da minha existência, só ultrapassado
pelo dia do meu nascimento.
Para
terminar, o meu dia-a-dia é dividido entre a CMM e a minha esposa e
os meus sogros. De quando em vez uma visita ao Porto onde reside o
resto da minha família.
MAST:
Segundo li em
qualquer lado, em 2017, aquando da então campanha eleitoral
autárquica, alegadamente, o Senhor teria afirmado que aquele iria
ser o seu último confronto
político. A ser
assim, o que o fez mudar de rumo? Foi a cobarde queixa anónima, não
querendo
deixar a ideia que estava a fugir?
Vai
ser candidato para, no exercício de funções, verificar se a
empresa Infraestruturas de Portugal cumpre com o que
lhe prometeu sobre
as obras de
requalificação da Estação da Pampilhosa?
RM:
Para ser
absolutamente verdadeiro, houve quatro coisas que me levaram a
aceitar o convite da Comissão Política Concelhia e da Direção
Nacional do PS.
1-Eu
e o Executivo a que pertenço fomos alvo de denúncias assinadas que
quero ver resolvidas. Até agora nenhuma teve qualquer vencimento.
2-Houve
quem, cobarde e criminosamente, enviasse para o DIAP (Departamento de
Investigação e Ação Penal) e para o TAF (Tribunal Administrativo
e Fiscal) de Aveiro denúncias anónimas. Que eu conheça, foram
cinco.
Quatro
para o DIAP e uma assinada por Maria Silva -obviamente inventada-
para o TAF.
Já
foram arquivadas duas no DIAP; uma aguarda a decisão de abertura de
instrução, após constituição de acusação a mim, aos srs
Vereadores eleitos pelo PS, e a alguns funcionários municipais, e a
uma pessoa estranha ao Município.
A
denúncia feita ao TAF aguarda decisão na primeira instância.
Há
uma denúncia anónima junto do DIAP de que nada sei.
Durante
a campanha eleitoral darei conhecimento público destes factos,
apresentando todos os documentos que possa apresentar, pois alguns
estão sujeitos a segredo de justiça.
Quero
o meu nome absolutamente limpo, não encontrei melhor forma de o
fazer do que dar a conhecer à população do Município a monstruosa
cabala que tentaram malévola e criminosamente montar a nosso
respeito.
3-Há
um candidato à CMM (Câmara Municipal da Mealhada) que não me
merece a mínima confiança na sua integridade pessoal, que considero
absolutamente necessária para o exercício do cargo de Presidente,
deste assunto tratarei durante a campanha eleitoral.
4-Finalmente
tenho a certeza que as IP (Infraestruturas de Portugal) cumprirão
aquilo a que se comprometeram relativamente à Linha da Concordância
e à estação da Pampilhosa, e por isso aqui me proponho ficar para
o garantir.
MAST:
Pressente que há
falta de coesão no Concelho como um todo? Isto é, de facto, parece
existir mesmo um separatismo político-ideológico, sobretudo, entre
a vila da Pampilhosa e a cidade da Mealhada. No seu entender, a que
se deve esta rivalidade? Além de mais, até porque a autarquia
mealhadense, durante
vários mandatos, já
foi presidida por um
filho da terra.
RM:
A rivalidade é
tacanha e não tem razão de ser; a explicação que sempre se
encontra nestes fenómenos de localismo exagerado, fazem-me sempre
lembrar uma máxima do marxismo-leninismo: dizem estes, que o
Esquerdismo é uma doença infantil do Comunismo. Eu
digo que o Localismo exagerado é uma doença infantil da Democracia
Local.
Há
quem possa encontrar raízes históricas, socioculturais etc. etc., e
haverá mesmo quem possa juntar considerações económicas e outras
métricas; há uma de ordem política que me acode sempre: há sempre
quem queira dividir para reinar. Parece-me muito apropriada.
MAST:
Em 2009 foi envolvido numa polémica por querer concorrer contra o
candidato natural e camaradas do mesmo partido, o então presidente
da Câmara, Carlos Cabral. Em 2021, mesmo para a Assembleia Municipal
e desvinculado do PS, é Cabral quem o desafia. Estamos perante uma
reviravolta do destino ou um ajustar de contas entre antagonistas que
precisa de ser saldado?
RM:
Não comento
esta pergunta, porque só o faria se o referido senhor fosse
candidato ao mesmo lugar que eu sou.
Eu
sei desde há muito, que imperou uma certa “azia” contra a minha
pessoa no seio do PS, basta ler o MEALHADA MODERNA de 18 de Julho de
2012, o resto foram especulações políticas que foram resolvidas
como tinham de o ser.
MAST:
Em 2017, com uma
percentagem de 47,58%, conquistou maioria absoluta com uma margem
ainda maior do que em 2013. Agora,
com a apresentação
do Movimento Mais e Melhor, composto por independentes e muitos
socialistas seus
camaradas, com esta
cisão acha que vai ser fácil ganhar?
RM:
Há um equívoco na
questão, socialistas só há nas listas do PS, independentes há em
todas as listas, nem todos os candidatos apresentados são militantes
de partidos.
Como
não adivinho o futuro, nada direi sobre o resultado das eleições,
que não seja o óbvio, o PS concorre para ganhar.
Numa
situação idêntica em 2001, o PS ganhou e com maioria absoluta, mas
não houve desastres naturais, falências de empreiteiros, uma
pandemia com uma duração de um ano e alguns meses, etc., e por isso
qualquer comparação não é possível.
Este
mandato de 2017/2021 é até ao momento inigualável a qualquer
outro, se quisermos ser imparciais na sua apreciação. Se quisermos
dividir para tentar reinar, então falte-se à verdade, com papas e
bolos, alguns pretenderão enganar alguns tolos, como diz o nosso
POVO.
MAST:
É um acérrimo
defensor de que a Mealhada, em vez de Aveiro, passe a pertencer ao
distrito de Coimbra. Se ganhar, vai sensibilizar o Grupo
Parlamentar
do seu partido na Assembleia da República para propor a alteração?
RM:
Eu, a título
meramente individual, defendo a integração da Mealhada no distrito
de Coimbra, no PS há quem pense como eu, e há quem assim não
pense.
Este
assunto diz respeito a todo o Município, que se tiver o mesmo
entendimento que eu, dever-se-á criar um movimento nesse sentido.
Até
agora, não perspetivei muitas pessoas interessadas nesta
problemática.
MAST:
Concorda com o actual mapa de freguesias Nacional? Se não concorda,
se ganhar as eleições, acaba com a União de Freguesias da
Mealhada, Antes e Ventosa do Bairro e volta à reposição antiga?
RM:
Eu
sempre fui contra a União de freguesias no Município da Mealhada;
por isso, se for eleito Presidente da Câmara,
continuarei a ser e estarei ao lado daqueles que queiram separar as
freguesias que foram unidas.
MAST:
Em termos de turismo, o concelho é uma manta de retalhos. Com o
Luso, que já foi bandeira azul nas recordações dos mais velhos, a
apresentar-se a quem o visita como um desgosto ao primeiro olhar.
Tenciona criar um roteiro promovido pela autarquia a envolver não só
a Mata Nacional do Bussaco, as duas vilas do Luso e Pampilhosa, mas
também as aldeias em torno da Mealhada, juntando o património
construído, os recursos naturais, a actividade cultural, a
gastronomia e os vinhos?
RM:
Discordo
inteiramente dos considerandos da pergunta.
Nem
o Concelho é uma manta de retalhos, nem o Luso pode ser visto com
olhos de há cinquenta anos atrás.
Nos
últimos trinta anos o Luso foi enriquecido com variados benefícios
que hoje o ajudam a lutar contra o decréscimo de importância de
estância termal.
Os
Velhos do Restelo, não aceitam alterações das condições do Mundo
atual.
E
sobre o roteiro convido as pessoas a visitarem mais os postos de
turismo, há dois no Município onde encontrarão ampla divulgação
do Município.
E
na FMB (Fundação Mata do Bussaco) encontrarão infelizmente um
valioso quadro a menos, desaparecido, ao que diz a PJ por incêndio
fortuito, em dezembro de 2013, mas encontrarão um convento de Santa
Cruz renovado e as capelas da Via Sacra com a reparação que foi
permitida pelo Estado.
Quanto
à famosa restauração Mealhadense, essa apesar da pandemia,
continua a resistir, a ganhar garfos de platina, de ouro, prémios da
mais variada natureza para “azia” de alguns, felizmente poucos.
MAST:
Tenciona combater a desertificação das povoações em redor da
Mealhada? Se sim, de que forma? Depois
desta experiência do transporte flexível com recurso a táxis
subsidiados, conta instalar um sistema de pequenos autocarros, de
ingresso e regresso,
que chegue a todas as aldeias, vilas e cidade?
RM:
Temos em curso
dois projetos piloto.
Transporte
flexível em táxi, e reposição da linha 7440 na freguesia de
BARCOUÇO.
Temos
ainda a decorrer o concurso internacional da Comunidade
Intermunicipal de Coimbra, e ainda a rede pública de transportes
escolares que podem ser utilizados por qualquer munícipe.
Após
estes projetos piloto, teremos uma maior possibilidade de entender
que necessidades reais existem em matéria de transportes públicos
MAST:
Substituiu completamente a sua equipa de vereadores. Diz o povo que
em equipa vencedora não se mexe. Significa que pressentiu alguma
vulnerabilidade para o combate, ou foram eles que, depois das
acusações instauradas pelo Ministério Público, bateram a porta
com estrondo por, rebaixados e mal pagos, não estarem sujeitos a
esta constante humilhação pela judicialização da política?
RM:
O PS tem,
felizmente, muitos e bons quadros com experiência política.
Na
equipa que agora vai a votos tem o primeiro elemento com quarenta
anos de vida política local, que sou eu.
Em
segundo apresenta outro elemento com elevada experiência da Política
Local com trinta anos destes meandros da Política Local.
O
terceiro elemento da lista é a única pessoa sem experiência
política local anterior, mas em quem deposito toda confiança pela
sua experiência profissional.
O
quarto elemento já trabalhou na Câmara Municipal, é uma pessoa da
minha total confiança pelo seu saber e integridade pessoal.
O
quinto é um jovem que já foi membro da Assembleia Municipal.
O
sexto elemento já teve contacto com a realidade de reuniões da
Câmara Municipal, e é profissional de saúde que nas circunstâncias
atuais nos pode ser muito útil.
O
sétimo elemento é professora sem experiência política relevante,
mas pertence a uma classe profissional muito importante para a
autarquia.
Os
elementos que agora saem da lista, todos estão com esta candidatura,
fazem parte da sua Comissão de Honra, continuarão a servir o
Município onde e quando for necessário, como o fizeram até aqui.
Quanto
a ganhar mal, só posso responder que ninguém vem para a Câmara
Municipal obrigado, por isso as queixas sobre isso não possuem
razão.
Quanto
à defesa que os membros da Câmara deverão fazer do seu bom nome,
esse aspeto não está em causa, continuarão a defender-se como até
aqui.
MAST:
Nos últimos meses, no nosso Concelho, temos vindo a assistir ao
eclodir de um fenómeno urbano mais próprio das grandes cidades,
refiro concretamente o vandalismo. Há cerca de um ano, ainda sem
apuramento por parte da Polícia Judiciária, foi o incêndio na sede
da Escola de Samba dos Sócios da Mangueira. Entende que estamos
perante um certo anarquismo rasteiro que sempre existiu numa
sociedade conflituante entre o poder instituído e os governados ou,
pelo contrário, estamos perante declarados atentados políticos que
visam passar uma mensagem de descredibilização do executivo no qual
é líder?
RM:
Sobre a última
questão, direi apenas que vândalos de diversa natureza, sempre
existiram, e continuarão a existir, não é uma realidade concelhia,
regional, nacional, infelizmente já assisti a vandalismo muito pior
em muitos países do mundo.