(IMAGENS GENTILMENTE ENVIADAS POR JORGE NEVES)
Certamente, depois de visionarmos estas fografias retocadas em computador exclamamos: que bonito, pá! E não há mesmo dúvida: são mesmo imagens invulgares.
Mas, naturalmente, surgem interrogações. Este esventrar do miolo da cidade antiga valerá a pena para ver passar o comboio modernaço? Evidentemente que a resposta a esta questão não é unânime. Para uns valerá tudo, para outros os sacrifícios são demasiado grandes, e sobretudo é o questionar se os proveitos serão realmente maiores do que os custos.
É o desmantelar do transporte ferroviário da Estação-Nova e em toda a beira-rio, desde a Estação-Velha até ao Largo da Portagem. Com o inevitável desaparecimento do Quiosque Teresinha, junto à gare, e o Bar Navarro. É o arrasar do que resta dos prédios que vai do Largo das Olarias até à Praça 8 de Maio –e que, pelos vistos, estarão paradas mais meio ano. É a interrupção da linha da Lousã para obras durante dois anos.Não teria valido a pena, dentro da cidade, em vez de se ter iniciado esta obra faraónica, ter apostado totalmente nos transportes urbanos? E a linha da Lousã ter sido simplesmente remodelada e mantendo os velhos comboios?
Será que os contemporâneos (que somos nós) não têm obrigação de manter o edificado ancestral tal como o receberam dos antepassados? Não haverá nestes actos, pouco explicados, muita irracionalidade? Não se notará nesta constante mudança uma necessidade de afirmação da cidade? Afinal, turisticamente, o que queremos ser? Uma urbe antiga, ancorada na sua história –como por exemplo Milão ou Pádua-, restaurando o antigo, ou, pelo contrário, uma metrópole moderna, como se tivesse acanhamento de mostrar pequenos cubículos sem casas-de-banho, onde se criaram famílias inteiras? É aqui mesmo que, se calhar, reside a nossa falta de afirmação. Andamos constantemente à procura de uma nova identidade e tentando a todo o custo apagar o que está para trás, como se tais memórias nos envergonhassem a todos. Há neste comportamento uma inevitável obsessão por tudo o que é novo.
Tanto se falou contra Salazar por ter mandado demolir a Velha Alta. Hoje, quando desfolhamos o livro da Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra, “A Velha Alta… Desaparecida”, e vemos aquelas fotografias, sentimos uma dor de alma.
Há 30 anos, mais exactamente no dia 09 de Janeiro de 1980, deixaram de circular os velhos eléctricos, dando lugar aos troleicarros. Pelo jornal “Campeão das Províncias” desta semana ficamos a saber que por detrás deste acto tresloucado de lesa-cidade e lesa-cultura esteve um negócio. Pior: um mau negócio. Por causa da obra de saneamento básico os carris foram arrancados desde a Manutenção Militar até à Rua da Sofia. Para poupar nos custos, a empresa responsável pela obra deu como contrapartida cinco autocarros, cujo custo era inferior à reposição da linha.
Hoje, como “madalenas”, andamos todos a carpir mágoas de crocodilo com saudade dos velhos ronceiros. É de prever que amanhã, depois de se assistir ao descambar financeiro deste inviável meio de transporte para uma cidade média como Coimbra, todos choraremos o velho edificado e a destruição da rede de transportes dos SMTUC. Tardiamente, quereremos voltar atrás. É capaz de ser este o nosso destino, ou fado, ou outra coisa qualquer. É como se andássemos em círculo…para voltar ao inevitável retorno.
Pode ser que eu esteja enganado…
6 comentários:
No meu ver, ganha a mobilidade, o comercio da baixa pura e simplesmente acaba.A baixa passará a ser um local só de passagem e não de paragem.
Oh srº Luis Fernandes, a única coisa que está verdadeiramente mal nas fotos é o mamarracho do edificio Arnado.Veja lá se consegue que aquilo seja demolido.
Ah esqueci - me que não pode ser senão o proprietário deixa de receber as rendas do Ministério da Justiça e ainda têm que construir o tribunal de Coimbra!!!
Se eu não estivesse tão mal visto no partido, eu seja cego de todos os olhos, se não tentava fazer-lhe a vontade. Mas, amigo, é uma tristeza. Ninguém liga nada ao que escrevo e muito menos à minha pessoa. Ainda por cima, também não frequento o círculo de amigos do dono da Volvo. Fosca-se! O que faço eu afinal? Interrogará você. Eu sei lá! Debito umas postas de pescada...
Olhe, apesar da minha insignificância, vejo que pelo menos você e o Jorge Neves vão lendo os meus disparates.
Um abraço aos dois.
Nestas fotos sinceramente, nem foi a falta de pessoas o que mais me afectou, uma vez que as poucas que nelas aparecem ou devem ser turistas ou então comerciantes indignados. Afectou-me isso sim, pura e simplesmente o facto de não ver carros. E mais, se repararem no pormenor, nem carros estão estacionados à beira rio. Pergunto eu? Será que foram todos para os hipermercados das redondezas, uma vez que na baixa já nem se pode estacionar, e lá estacionam facilmente e por tempo indeterminado? .... Cada dia que passa e se levanta um pouco mais do pano deste empreendimento, eu digo para comigo mesmo "porque não tive pais tão iluminados".....haja dinheirinho do ZÉ que isto é um Forrobodó para uns quantos
Luis, você não diz disparates.
Escreve e muito bem, dizendo o que lhe vai na alma, para ver se abre o crâneo a alguns iluminados da nossa CIDADE.
Olhe vem, o seu blog tem crescido e de que maneira.
Grandes artigos de opinião e critica, sem qualquer carga politico-partidária. Assim deveria ser a Comunicação Social ao informar como vai a nossa Cidade. Mas não, só escrevem o que lhes apetece e muitas vezes omitem para não beliscar o Perfeito da Praça 8 de Maio. Parabéns e não atire a toalha ao chão.
Sou leitor assíduo deste blogue e cada vez mais me parece que isto só serve para dizer mal do que se vai fazendo na baixa. Desta vez é o metro o alvo das criticas.
Será que não consegue ver o quão positivo será este projecto para a baixa? Já pensou que a baixa de hoje é diferente da baixa que conheceu à 50 anos e que será diferente da futura baixa? É a evolução natural das coisas. A baixa de Coimbra tem que evoluir e criar zona novas e modernas. É certo que para fazer o metro vai ser preciso demolir alguns edifícios, que por sinal já estão a cair de podre, mas vai permitir criar um novo corredor de circulação na baixa e reabilitar a zona da beira rio, que actualmente está completamente degradada.
Gostava que o senhor tivesse referido no seu post o esforço que a SMM fez para preservar uma loggia antiga que foi descoberta durante as demolições e que vai ser integrada no projecto do metro para a baixa, ficando visível ao publico.
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