terça-feira, 12 de maio de 2009

CARTA A UM MÉDICO CONHECIDO




“Ora, como está?
Venho neste e-mail tentar fazê-lo pensar em algumas coisas que faz habitualmente e, provavelmente, nem pensa nisso. (Apesar de ter a certeza que você se está “pouco” borrifando para quem quer que seja, principalmente os seus “doentes”).
Primeiro, caso nunca tenha reparado, é uma falta de consideração enorme atender telefones ou ler quando as pessoas estão na sua consulta ou a falar consigo. Reparei nisto logo na primeira consulta, mas pensei que a sua competência como médico podia compensar, de alguma forma, estas faltas de respeito.
Segundo, e mais importante: quando não sabe o que se passa, ou não pode fazer nada, diga “NÃO POSSO FAZER MAIS NADA”. Experimente, só custa a primeira vez.
Claro que não dizer isto permite-lhe ter um estilo de vida melhor…até porque dizer uma barbaridade destas implicaria ter que abdicar de muitos 75euros. Que são gastos, muitas vezes, com grandes dificuldades (que você não faz ideia o que é, claramente). Isto, para você poder dizer: “ok, pode continuar coma medicação, vou passar-lhe mais umas receitas”. Eu sei que isto lhe custa compreender, mas: 75euros, para algumas pessoas, implica abdicar de coisas, se calhar essenciais. É que a questão é que, realmente, as pessoas, os seus doentes, depositam alguma fé em si, e nos seus conhecimentos todos, que aparentemente não lhe serve de muito mais, do que encher todo esse ego gigantesco e criar uma arrogância “passiva/inteligente”, brutal (como lhe chamo). O mais irónico, é que, com todos esses conhecimentos, você não reconheça uma palavra chamada “ética”, ou, como é a outra? Ah!...”consideração” (pelos outros).
Agora, não se preocupe, você não é o único. O mundo está cheio de pessoas a fazerem as mesmas coisas. “dá cá “x”, toma lá antidepressivos e vai para casa contente”. E a seguir, estes médicos, vão para casa contentes e de consciência tranquila, porque até “ajudaram” umas pessoas no dia.
A diferença entre estes “outros” e você, é clara. Você leva muito mais dinheiro (ainda tento perceber o “porquê” de isto acontecer) e ainda trata os pacientes com uma dose elevada de desprezo e falta de consideração. A competência é a mesma ou inferior à que tenho visto nos outros psiquiatras/psicólogos, todos. Agora a arrogância, a sua, esta de que falo, é, de longe, muito superior.
Quantas não devem ser as pessoas que de dois em dois meses, no mínimo, lhe levam aí 75euros para você poder dizer: “ok, está tudo bem, pode continuar” ou “olhe, experimente estes antidepressivos, pode ser que funcionem”. Alguma vez pensou nesses seus doentes? –Não me refiro só ao que você pode beneficiar com eles. Mas quantos? Os tolinhos com dinheiro (ou com falta dele) que vão aí todos os dias, porque pensam que realmente você pode fazer muito mais do que os outros podem, porque leva muito mais dinheiro. Eu já referi muitas vezes a questão do dinheiro, mas não necessariamente por me custar pagá-lo, mas por pensar que há pessoas -que você vê todos os dias- que depositam esperanças em si, e apostam pagar tudo isso, em busca de uma resposta. Que você (neste caso) não sabe, e não o admite…porque é melhor para o seu bolso…ou pela tal questão do “tome lá a receita e volte daqui a dois meses”.
Isto é patético! Só não percebo como você consegue dormir descansado, sabendo que tem no bolso das calças a esperança dos outros. Só me ocorrem duas hipóteses para este facto: ou você se está mesmo borrifando para todos, (para não dizer outra coisa), e só olha para o seu umbigo –tão certo quanto você estar a ler isto, se é que chegou a esta parte, e a pensar “este puto está perturbado, não sabe bem o que diz” ou “mais um que vem descarregar as suas frustrações/problemas de saúde em mim”. Ou então, pura e simplesmente, não se apercebe da importância que você tem para os outros/o que você representa, e nas suas próprias acções (ou falta delas). Chama-se a este procedimento falta de consciência e é nesta que eu aposto.
De qualquer forma, caso você ainda esteja a inventar desculpas para si próprio, para não me dar razão absolutamente nenhuma, eu digo-lhe, mais concretamente, porque escrevi isto:
Além de não ter respostas absolutamente nenhumas para me dar, não o admite, põe-se a receitar mais antidepressivos, quando ambos sabemos que isso não é solução nenhuma para o meu caso, e, o mais “engraçado” (para quem gosta de humor negro), é que, enquanto lhe tento explicar o meu ponto de vista em relação à minha regularidade nas suas consultas, você, enquanto fala ao telemóvel, sem me escutar, ignorando-me, me tenta deliberadamente “pôr dali para fora”. Quanta falta de respeito, homem!...e isto diz-lhe um puto de 25 anos…teoricamente doente e com perturbações emocionais. Neste caso, pergunto: que tipo de perturbações são as suas, então?
Em última análise, posso dizer, como conclusão, que já formara há muito tempo atrás acerca de muitas pessoas: você sabe muito; sabe o conhecimento dos livros; gráficos; nomes de substâncias; nomes disto e daquilo. Mas não sabe o essencial: como tratar decentemente as pessoas. E, meu amigo, se foi para isto que você tirou o curso/mestrado/doutoramento/outra coisa qualquer, peça o dinheiro de volta, porque só esse conhecimento não lhe serve de nada…ou de muito pouco.
Agradeço os antidepressivos que me receitou, foram-me muito importantes. Sem ironias ou dúvidas. Mas também qualquer outro médico me teria receitado a mesma coisa, mais cedo ou mais tarde. E não querendo entrar muito em fantasias…talvez me tratasse com mais respeito e com um custo muito mais reduzido.
Tenho a certeza que isto não o fará pensar nem dois minutos acerca deste assunto. De qualquer forma, fica com este “feedback” de uma pessoa consciente, acerca do que se passa, o que não deve ser muito frequente nos seus “doentes”, face ao tratamento que lhe continua a dar.
Para acabar, e como conclusão final de tudo isto, posso respeitosamente afirmar que: você é completamente inconsciente nas suas acções, e (como se diz na sua língua cuidada dos Dr’s?) você está-se bem a cagar para aqueles que o visitam.”

P.S. –ESTA CARTA, AQUI TRANSCRITA INTEGRALMENTE, É UM DOCUMENTO PUNGENTE. FOI ENVIADA, POR UM PACIENTE, A UM DOS MAIORES PSIQUIATRAS DE COIMBRA.
PELA SUA SINCERIDADE, PELA SUA PUREZA, DEVERIA FAZER-NOS PENSAR A TODOS, A COMEÇAR PELO PRÓPRIO ESPECIALISTA.

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