sexta-feira, 15 de maio de 2009

BAIXA: O COMÉRCIO ABERTO AO SÁBADO TODO O DIA






Tudo indica que vai começar amanhã uma nova etapa para o comércio tradicional de Coimbra. Será bom que os comerciantes deixem de pensar no “amanho do quintal”, “em gozar a vida que esta é curta”, “encerrar durante todo o dia”, “esperar por um salvador que os salve”, ou, como alguns disseram, “se você quer trabalhe você”.
Só quem anda de porta-em-porta sabe o quanto custa motivar pessoas que, para além de estarem completamente descrentes, não querem fazer o mínimo esforço, seja pelo que for. Dizer-lhes que só com a ajuda individual de cada um é possível ajudar todos, apelar à sua cidadania, dizendo-lhes que, metaforicamente, estamos todos no mesmo barco e se só meia dúzia remar não será possível chegar a bom porto, é conversa que muitos não querem ter. É simplesmente irritante. Qualquer uma pessoa de boa-fé, perante estes “empata-quecas”, perde as estribeiras. É uma coisa incrível, arranjam sempre argumentos para obstaculizar e para não trabalhar ao sábado. Confesso, que perante alguns comerciantes, sobretudo aqueles que melhor estão financeiramente, perco o meu lado sério, quando me dizem que não podem porque têm muitos empregados. Perante isto, disse a alguns destes: não quer? Então não trabalhe. O senhor, hoje, está bem na vida, mas, tenha calma, porque amanhã pode não estar. Fechar lojas não acontece só aos nossos vizinhos. Quando a sua loja estiver para fechar, no seu “funeral”, prometo que lhe darei uma rosa vermelha!
Pela minha experiência, os mais resistentes à mudança serão os maiores comerciantes da Baixa, e os filhos, herdeiros, de grandes nomes do comércio de rua, que receberam de mão-beijada o esforço de uma vida de trabalho dos seus progenitores. Este grupo de comerciantes chega a ser ridículo. Enerva profundamente o seu egoísmo. Apetece-me chamar-lhes parasitas. Cambada de inúteis! Marinheiros de oceanos de águas calmas, que só sabem cuidar do seu camarote, pouco se importando com o resto da tripulação.
Mal-empregados gemidos de mães que, para os parirem, tanto sofreram.
Eu sei que estou azedo, e não consigo disfarçar. Mas o que quererá esta gente? Lá porque têm uma série de prédios na Baixa, uma boa conta bancária, uma casa no Algarve e, muitos deles, um barquinho ancorado na Figueira da Foz, pensam que não precisam de ninguém? Claro que se são assim hoje, é evidente que nunca fizeram nada para ajudar alguém ou o meio em que estão inseridos. Falar-lhes em comércio de inter-ajuda social, é o mesmo que falar de religião ao meu cão. Pouco se importam com a “Helena”, que ainda ontem, de lágrimas a correr pela face, me dizia que ia fechar a loja porque não aguentava. Que provavelmente iria emigrar, mesmo deixando cá a família, e, sobretudo, o seu grande amor: o seu filhote de 10 anos.
Esta cambada de asnos importam-se alguma vez com esta “Helena” ou outra “Maria” qualquer? Chego a pensar que a sorte, mesmo sendo aleatória, ao bafejar estes “merdanas”, deveria voltar atrás.
Não acredito em comércio justo, enquanto propósito e fim. Acredito sim, num comércio, entre causa/efeito, nas suas implicações societárias, de movimento social que, nas derivas da oferta e da procura, para além de criar emprego, é um dinamizador da economia, revitaliza as cidades, contribuindo para a sua segurança e dá alma às suas ruas, ruelas e becos.
Os seus actuais filhos comerciantes, nem que fosse somente pela memória dos seus pais, deveriam contribuir para o seu desenvolvimento. Enfim…!

Sem comentários: