PELO CHOUPAL, NÃO VAI NADA?? TUDO!!

(UMA PAUSA NO ALMOÇO DO AGRUPAMENTO 222 DA ADÉMIA)

("Ó LUIS, EMBORA SEJAS UM NABO A TIRAR FOTOGRAFIAS, MOSTRA AÍ COMO ESTOU BONITO", RECLAMA O FERNANDO DIAS, "EL COMANDANTE" DE LOS LOBITOS")

(O LUIS COSTA EM RESMUNGO: "Ó PÁ! ISTO ESTÁ UMA PORCARIA, PÁ! ESTÁS A VER, PÁ?!")

(ESTADO-MAIOR DA PLATAFORMA DO CHOUPAL A PLANEAR NOVAS ACÇÕES)

(A SUSANA E A NATY PARA O FOTÓGRAFO: "VÊ LÁ SE NÃO ESTRAGAS A NOSSA IMAGEM?! QUE DIABO! DEPOIS DESTE ESFORÇO, ACHO QUE MERECÍAMOS UM FOTÓGRAFO COMO DEVERIA SER!")

(TRÊS POPULARES NA SELVA DE DETRITOS DA MARGEM DO CHOUPAL)

(O BRUNO PARA O FOTÓGRAFO: "MOSTRE AÍ O MEU EXEMPLO DE CIDADANIA. AINDA HÁ QUEM DIGA QUE A MINHA GERAÇÃO É RASCA...")

(O MIGUEL DIAS PARA O FALSO FOTÓGRAFO: "Ó PÁ JÁ REPARASTE NESTE TRONCO? ISTO É UM A OBRA DE ARTE! A NATUREZA É TÃO GENEROSA COM OS HUMANOS E NÓS RETRIBUIMOS-LHE TÃO MAL!")

(O LUIS SOUSA JUNTO DO PAULO. ESTE RECLAMA:"PÕE MAS É AQUI NO SACO ESSA MÁQUINA, QUE NÃO PRESTA PARA NADA, E AS FOTOGRAFIAS. SÃO LIXO EM FORMA DE LUXO!")

(O JOÃO MELO: "ESTAS DISQUETES DE COMPUTADOR SÃO ESQUISITAS COMO Ó CARAÇAS!")

(O MIGUEL DIAS: "Ó PÁ, FOCA BEM A MINHA FRONTE, VÊ SE APANHAS NA FOTO OS PINGOS DE SUOR. EU TRABALHO! NÃO SOU COMO CERTOS GAJOS, QUE ARMADOS EM JORNALISTAS DE OCASIÃO, NÃO FAZEM NENHUM!")

(A PROVA DE DELITO COMUM)

(COMO OS SACOS AMARELOS SÃO EM MAIOR NÚMERO -PARA QUEM SOUBER- QUER DIZER QUE O PLÁSTICO, EM DETRIMENTO DO VIDRO, É O MAIOR INIMIGO DA MARGEM COMUM ENTRE O MONDEGO E O CHOUPAL)


Ontem decorreu uma acção de limpeza nas margens do Choupal pela "Plataforma do Choupal". Inserida entre várias iniciativas de sensibilização, por este movimento cívico, de que esta mata é nossa, é de Coimbra, e ninguém, em nome da modernidade, tem o direito de a sacrificar, mesmo que seja apenas uma faixa de 40 metros e numa extensão de 150. É preciso, todos, tomarmos consciência de que é necessário preservar a memória do passado. Sem história viva, materializada, não poderemos mostrar aos nossos filhos e netos o quanto, pelo suor transpirado, custou construir. Aparentemente, hoje tudo parece fácil, sobretudo porque o tempo corre mais rápido do que antanho. Por muito que se diga mal do antigamente, dos nossos antepassados, eles devem merecer todo o nosso respeito pela obra deixada feita. Sem estas bases de sustentação, sem estes alicerces, não seria possível alcançar os níveis de bem-estar de que hoje damos por conquistas de todos, por direitos adquiridos. Dentro das nossas mil ocupações diárias, mal temos tempo para reparar nas coisas pequeninas. Só damos conta da sua falta quando desaparecem do nosso quotidiano.
O Choupal é um desses ícones da nossa memória colectiva do passado, presente e futuro, que devemos preservar a qualquer custo. É um património natural importantíssimo para a cidade de Coimbra. Basta ir até lá a um qualquer domingo para verificar as centenas de pessoas que, em liberdade, usufruem daquele espaço paradisíaco.
Deveríamos todos estar agradecidos à Plataforma do Choupal por nos chamar a atenção –que, como se sabe é um movimento nascido quase espontaneamente de vários cidadãos para alertar contra os atentados que estão em marcha. Contrariamente, ao que se quer fazer crer, sobretudo pelos partidos do bloco central, não é um impulso partidário que visa obter protagonismo em seu proveito. E muito menos tem a ver com o Bloco de Esquerda. Nesta plataforma em defesa do Choupal está uma miríade de sensibilidades partidárias. Ninguém pergunta a ninguém se é de esquerda, direita, do Benfica ou do Sporting. Quem apoia, se vem por bem, será bem recebido. Se se disser que os mentores deste movimento de sensibilização são do Bloco, é verdade. E que tem isso a ver com a causa que eu apoio? Imagine-se que até tinha simpatia pelo MIRNE (se existisse)? O que deve ligar as pessoas deverá ser a causa e não a simpatia partidária.
Este movimento deveria representar para a cidade uma grande lição. A ideia que normalmente se tem é de que é uma cidade adormecida, passiva, dolente e que se está a marimbar para quem passa. Tendo em conta a adesão a iniciativas como a de ontem, que apesar do tempo prometer intempérie, foram várias dezenas de pessoas anónimas que aderiram à causa para a limpeza da margem do Mondego.
Sem dúvida que este sucesso de ontem, em parte fundamental, também se deveu à disponibilidade de Fernando Dias, do Grupo 222 da Adémia, e a todos os escoteiros que comanda. Deram um bom exemplo a todos nós como se pode fazer obra, pelo modelo, através do desinteresse e do altruísmo.
Parabéns a todos. Na próxima iniciativa, tenho a certeza, serão muitos mais a aderirem na defesa do nosso Choupal. António Nobre, de onde estiver, está vigilante, como a ver se prestamos para alguma coisa. Se, individualmente, pouco construímos, pelo menos que sejamos capazes de manter o que ele e outros poetas tanto defenderam.