terça-feira, 5 de maio de 2009

EDITORIAL: AQUELA DESAPARECIDA COIMBRA TELEVISIVA




Hoje, como se sabe, a partir da Praça 8 de Maio, foi transmitido o programa da RTP1 Praça da Alegria, apresentado por Jorge Gabriel e Serenela Andrade.
Embora os apresentadores tivessem referido várias vezes ser um programa especial, fiquei sem saber se seria exclusivamente alusivo aos 110 anos da Queima das Fitas. Fosse, ou não fosse, em prol da academia, a verdade é que esta transmissão televisiva pareceu-me algo compactada, para turista ver, em torno da Universidade e da semana académica. Quem viu e ouviu o programa, além-fronteiras, certamente, mais uma vez, pensou que a Lusa-Atenas é apenas uma cidade de estudantes, de farra nocturna até ao amanhecer, e nada mais. É como se a cidade mostrasse ao mundo uma face superficial que, na prática, não tem.
Quando qualquer turista aporta na cidade, vindo à procura dessa mística de boémia, fica frustrado porque não a encontra em lado nenhum.
É como se o burgo, para o bem e para o mal, vivesse agarrado a um estigma de saudade; como se a cidade tivesse parado no tempo; como se este fado, que se nos cola ao corpo, nos arrastasse para uma época que não existe mais.
Quem ouviu falar Alberto Martins, líder parlamentar do PS –outrora presidente da Associação Académica, aquando da crise académica de 1969- ou Almeida Santos, facilmente infere que falam duma Coimbra do passado, uma cidade que apenas existe na sua (deles) memória.
No limite até se poderá pensar que até pode ser positivo, turisticamente, continuar a falar da “outra Coimbra desaparecida” nas brumas do nevoeiro da memória. Pessoalmente, penso que não. Deveria ser mostrada, e nomeadamente pela televisão, a Coimbra dos nossos dias. Acho deprimente continuar a querer mostrar a todo o custo uma cidade cujo espírito há muito morreu.
Quem viu o programa, além-mundo, estou certo, ficou com a impressão que a cidade não tem mais nada do que uma Universidade com cerca de quarenta mil alunos. Foi mais do mesmo. Não tem comércio, não tem serviços, ou indústria. Não tem património natural, ou monumentalidade memorial.
Para mim, foi um programa perdido para a cidade. Mesmo até na animação, para além de André Sardet, do Orfeon Académico e grupos relacionados com a Associação Académica –muito fracos, do ponto de vista de desempenho, por sinal-, parece que a cidade não tinha oferta que chegasse para preencher as cerca de cinco horas de transmissão em directo. Tiveram de contratar artistas de Lisboa, como por exemplo a Mónica Sintra e outras, obviamente sem desprimor para estes profissionais do espectáculo.

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