segunda-feira, 9 de março de 2009

UM CHINÊS NA PRAÇA VELHA



Antes de escrever este texto tenho de confessar: gosto de chineses. Conheço alguns deles comerciantes, aqui estabelecidos em Coimbra, no centro histórico, e, aos poucos, fui ganhando uma admiração por estes nacionais da China. Dos que conheço, são simpáticos e muito educados. Transmitem uma calma que, muitas vezes, tomara eu ter.
São os primeiros no centro histórico a abrir o estabelecimento e os últimos a encerrar as portas. Trabalham aos sábados, Domingos e feriados. São muito esforçados.
A maioria dos comerciantes portugueses vê com alguma preocupação a sua proliferação nas cidades. Alegam que, por um lado, torna o comércio de rua indiferente, ou seja, passa a ser tudo igual na oferta. Por outro lado, através dos apoios que recebem do seu país natal, vêm inflacionar as rendas já de si muito elevadas. Tenho de admitir que é verdade. Tais argumentos são perfeitamente admissíveis. Mas uma coisa é certa, entre estar a loja encerrada “ad eternum” e estar aberta com um chinês, escolho sem derrogas esta segunda hipótese.
Como já aqui escrevi, nestas rendas, há, por parte dos proprietários dos edifícios, antigos comerciantes, demasiada ambição, quase a raiar a usura. Mas uma coisa é certa, primeiro, têm legitimidade para o fazer –as rendas são livres, felizmente, acrescento- e segundo, e se estivéssemos no seu lugar, como faríamos? Poríamos o nacionalismo ou bairrismo acima dos nossos interesses? Duvido um bocado. Criticar é muito fácil quando estamos no outro lado da barricada.
E isto vem a propósito de quê? Olhe simplesmente porque, segundo informações recolhidas, a partir de quinta-feira a loja dos Marthas, na Praça do Comércio, fica entregue a um chinês, que arrendou aquele lindíssimo espaço por cerca de 3000 euros. Se estivéssemos no lugar dos administradores daquela reputada firma faríamos o contrário? Não me parece. Tendo em conta as dificuldades que o comércio atravessa, não tenho dúvidas, esta Sociedade Anónima escolheu o melhor para os seus accionistas.
Assim sendo, o que resta dizer? Olhe lá senhor chinês seja bem-vindo à praça mais desertificada comercialmente de Coimbra, com mais lojas encerradas por metro quadrado. Que tudo lhe corra bem. O seu sucesso contribuirá para o sucesso dos poucos estabelecimentos que resistem.

3 comentários:

luctupuz disse...

Também não tenho qualquer coisa que seja contra chineses ou qualquer outra nacionalidade, não é nada relacionado com isso que está em causa. Mas um espaço como aquele, quase monumento... (ou mesmo sem o quase), com todo o seu peso até histórico, não deveria ser "largado" assim desta forma. Obviamente que se entende a escolha dos proprietários, mas um outro alguém - CMC, por exemplo (deixem-me sonhar) - deveria ajudar a manter o espaço dignificando todo o local da melhor forma. Longe de querer afirmar que não é local digno de loja chinesa, mas confesso que imaginava uma Galeria ou algo similar naquele local. Fiquei desapontado.

Anónimo disse...

Olá, essa notícia da abertura de uma loja chinesa na antiga Martha's é verdade?

Fiquei espantado (e desapontado) pois ouvi há bem pouco tempo do próprio Eng João Paulo Craveiro da SRU que iria ser feito um esforço para transformar esse espaço num hotel de charme..

LUIS FERNANDES disse...

Obrigado pelo comentário, Daniel.
Se ouviu o engº Paulo Craveiro na Livraria Almedina, do Estádio, eu também estava lá. Parece-me que ele aflorou essa questão apenas como possível. Pelo menos fiquei com essa ideia. Não sei se estamos a falar da mesma intervenção do engº da SRU.