segunda-feira, 16 de março de 2009

BAIXA: COMPLOT OU MERA COINCIDÊNCIA?




Maria José está inconsolável. Dona “Zeca”, como é carinhosamente tratada na Baixa, é comerciante numa casa com mais de sete décadas de história, a “Casa Arménio”, na Rua do Corvo. Esta mulher, toda vestida de negro, que o destino, numa daquelas partidas que nunca esperamos, empurrou abruptamente para a frente dos negócios, quase chora, quando compara outros tempos passados do seu falecido marido. Quando na zona histórica se podia deixar, fosse o que fosse, qualquer artigo de amostra pendurado à entrada da sua loja.
Há uma semana, durante o dia, roubaram-lhe um bom casaco caro. Hoje, segunda-feira, logo de manhã, não foi outro porque os vizinhos impediram o indivíduo e evitaram o furto. Foi por pouco que não se fez justiça à moda de Fafe na Rua do Corvo. Os comerciantes da rua, eles também vítimas destes furtos de ocasião, deixaram as suas lojas e estavam cheios de vontade de “molhar a sopa” no energúmeno. Foi por pouco. Mentalmente, quando se fala com eles, chega-se à conclusão de que estão dispostos a tudo. “Se a polícia, que o deve fazer, não zela pela nossa segurança teremos de ser nós a pôr a “mão na massa”, diz-me um deles, tentando manter uma calma que não sente.
À mesma hora, no Largo das Olarias, junto à Loja do Cidadão, a Polícia Municipal (PM), com um carro de bloqueadores e vários agentes, perante a indignação geral, repetia o que nos últimos tempos é useira e vezeira. Começaram às 8,30 da manhã. “Estes indivíduos querem acabar connosco. Isto é perseguição. Já viu isto? Querem “espantar” todos os compradores daqui logo ao raiar da abertura das lojas!”, diz-me um comerciante espavorido e quase a perder o tino.
Na quarta-feira passada, Carlos Clemente, o presidente da junta de freguesia de São Bartolomeu, na Assembleia Municipal acusou este executivo autárquico de perseguir os comerciantes. Perante aquele hemiciclo denunciou um anteprojecto da APBC, Agência de Promoção da Baixa de Coimbra, apresentado à Empresa Municipal de Turismo, em que aquela entidade se propunha, durante o verão, na Praça do Comércio, para revitalizar a Baixa, realizar sessões de cinema ao ar livre, o conhecido “Drive In” ou cinema “pára-brisa”. Em resposta por e-mail, o Turismo de Coimbra considerava aquele secular local histórico pouco adequado em termos de segurança e remetia o evento para… o Parque Verde ou a Sereia.
Clemente falou também da insensibilidade dos fiscais municipais ao aplicarem coimas a “torto e a direito” a comerciantes sobre toldos e reclames. Referiu também uma deliberação de encerramento do “Zé-Manel dos Ossos”. Chamou também à colação o desempenho da PM na Baixa. A todos estes alertas na Assembleia Municipal, Carlos Encarnação não respondeu.
Carlos Clemente limitou-se, legitimamente, a ser porta-voz de uma classe mercantil que, quase em desespero, continuando a apostar numa vida decente, tenta sobreviver perante a apatia do executivo municipal.
Entre comerciantes, cada vez mais, ganha consistência a ideia de que esta acção persecutória da fiscalização e da PM e omissão na segurança de pessoas e bens, assim como o “deixa-correr” no abandono de vários prédios, há vários anos, em início de obras, obedece a um deliberado plano maquiavélico, orquestrado no lento empobrecimento compulsivo. Levando uma classe de profissionais à escravidão da miséria, para mais tarde, quando os poucos ainda activos, débeis economicamente, e já sem forças negociais, e o grande comércio centralizado já não render, aparecer um “salvador” e, ao preço da “uva mijona”, comprar quarteirões inteiros. Será complot ou uma junção de factos demasiados coincidentes?

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