sábado, 28 de março de 2009
UM TURISMO QUE SOFRE DE RAQUITISMO?
Segundo o Diário as Beiras, “O turismo, em Coimbra, está atrasado, em relação a outras cidades”. Quem o diz é o presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Carlos Encarnação”.
Perante esta afirmação, naturalmente perguntamos: se está diagnosticada a doença –embora fiquemos na dúvida se será raquitismo, mongolismo, autismo- que vacina vai ser utilizada na cura? Segundo as declarações do autarca, na sessão de encerramento da Semana Internacional da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC), tudo indica que vai continuar com “aspirinas”. Pelo menos é o que se entende das suas declarações, perante Luís Alcoforado, do Turismo de Coimbra: “a indústria do turismo continuará a ter grande expansão a nível mundial. Precisamos de ter instalações com capacidade para atrair, investir no melhoramento do ambiente da cidade, de forma a podermos receber turismo de lazer e organizar mais eventos culturais e desportivos”.
Comecemos pelas referidas instalações, a quem compete criá-las? Erguer uma grande infra-estrutura na cidade que pudesse albergar cerca de dez milhares de pessoas –como por exemplo, um grande pavilhão multiusos- não era uma promessa eleitoral do PSD para Coimbra em 2002? E daí para cá, o que foi criado? Pavilhõeszinhos (o de Portugal, no Parque verde e o multiusos do Dolce Vita, cedido em contrapartida pelo grupo Amorim).
Nos referentes aos eventos desportivos, Coimbra tem um grande estádio de futebol, Estádio Cidade Coimbra, que, tal como o Mondego, com uma imensa bacia hidrográfica em frente à cidade, não lhe retira quase nenhuma aplicação prática de benfeitoria. O estádio da cidade, pago por todos nós, é um elefante branco, que, para além de uns quantos jogos da Académica, não serve para mais nada. Depois do falhado negócio entre a autarquia e a TBZ, na gestão desta mega-estrutura do Calhabé, em que esta empresa, em dificuldades económicas, actualmente, se encontra em plano judicial de recuperação financeira.
Mas às vezes nem é preciso construir grandes obras, basta ter imaginação. E quando falo nisso, vem-me logo à memória Óbidos.
Coimbra, se repararmos tem tudo. Tem património natural –que cuida mal, como é o caso do abandono e da intenção de construir uma ponte por cima do Choupal-, tem rio (mal aproveitado), tem mar, a cerca de quarenta quilómetros, tem monumentos -com um centro histórico decadente e mal cuidado-, tem um património comercial ímpar –mas que os guias turísticos não conhecem.
É de décadas o choradinho de que Coimbra não tem turismo porque não tem instalações hoteleiras condignas. Afirmava-se isso, nos anos de 1980, quando haviam apenas quatro hotéis. Hoje a cidade tem uma dúzia de grande qualidade, e mais dois vão ser construídos, e tudo continua como dantes, o mesmo fado desgraçadinho.
Eu acho que a cidade, como o país, sofre da síndrome de “tudo em grande” ou complexo do “pé descalço”. Passa a vida a reivindicar mastodônticos projectos…para acabar por construir mini-projectos -vejam o caso dos multi-usos, ou da piscina que está a ser construída no outro lado do rio.
Mas, depois passa-se uma coisa engraçada (sem graça), se consegue realizar as suas aspirações de construir grandes estruturas de apoio, não lhe sabe dar utilidade porque foram mal planeadas, assentes em premissas erradas –como é o caso do Estádio Cidade de Coimbra, do Metro de Superfície e dos vários pólos Universitários, quando a população estudantil está a decrescer.
Despreza as coisas pequeninas. Por exemplo, a cidade não tem um “Ciber-espaço” de Internet, apesar de, salvo erro, continuar a ser referenciado no roteiro como sendo na “Casa Aninhas"…que encerrou há mais de um ano.
O turismo deveria ser parte integrante de tudo o que se faz na cidade, através de visitas guiadas, na área industrial, como por exemplo a doçaria, o ferro forjado, a olaria, a latoaria, o vime, as fábricas de louça pintada de Coimbra, etc.
A autarquia, de acordo com o Turismo de Coimbra, deveria criar um roteiro de “Estabelecimento Tradicional”. Nesta classificação estariam os estabelecimentos comerciais mais antigos da cidade, alguns com ramos comerciais em vias de desaparecimento, assim como outros que pela sua peculiaridade o justificassem. Algumas tascas, alguns restaurantes, etc. Obrigatoriamente deveriam ser visitados pelos guias turísticos.
Um dos problemas da cidade, e comparando com a minha alguma/pouca experiência de viajante, é que não são valorizadas as minudências, naquilo que é o seu património genético. No fundo, o que a urbe de melhor tem. Os grupos de turistas passam a correr como se fossem em estafeta. Parece que o que conta (para os guias turísticos) é apenas a monumentalidade e absolutamente mais nada.
É preciso mudar os conceitos turísticos de cidade…para quem a “vende”.
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