terça-feira, 31 de março de 2009

ATÉ UM DIA DESTES PADRE CARLOS...




Foi só hoje, ao desfolhar o Diário de Coimbra, que através do anúncio da celebração da missa de sétimo dia, que soube da morte do padre Carlos Alberto Gomes de Carvalho.
Este homem, que em vida conheci pessoalmente, foi uma pessoa muito grada e querida na paróquia de Santa Cruz, aqui na Baixa de Coimbra. De voz bem timbrada –inconfundível, diria-, como barítono, não deixava ninguém indiferente. Algumas vezes o ouvi na Igreja de Santa cruz, nos sermões, sempre duma lucidez impressionante. A sua voz, como mensagem divina, ecoava pelo templo como se tivesse vida própria, como se houvesse uma ligação perfeita, uma simbiose, entre a voz e aquelas pedras centenárias. Engraçado como podemos, ao longo do tempo, recordar o timbre da voz de alguém. Pessoalmente, contactei algumas vezes com ele. Durante anos, pelo Natal, vinha sempre comprar uma prenda para um casal seu amigo e que também conheço bem. Pedia-me, então, que o ajudasse a escolher. Recordo-o pela sua forma humilde de estar. Como um homem simples, de personalidade bem vincada, ouvia-me e aceitava a minha opinião.
O padre Carlos, na Igreja de Santa Cruz, foi vigário-cooperador, em funções de substituição, durante uma década, desde 1990. “Desde quando se aposentou do ensino”, segundo me conta o senhor Manuel Tomé, também colaborador na mesma igreja e que privou de perto com este saudoso pároco. Quando lhe pergunto como o achava como pessoa, diz-me: “Era um bom homem. De personalidade muito forte. Para quem não o conhecia era um pouco frio. Era directo e sem papas na língua. Dizia o que tinha a dizer. Doesse a quem doesse. Não ia na cantilena de algumas beatas. Primava pela honestidade”, conclui o senhor Tomé.
Apesar de conhecer o extinto padre Carlos, gosto de ouvir a opinião de quem trabalhou muitos anos com ele. Falei também com António José, também colaborador da Igreja de Santa Cruz: “Era uma pessoa amiga, extrovertida, por natureza bem-disposto, sempre pronto a ouvir. Era de uma personalidade impressionantemente forte”, diz-me António José.
O padre Carlos foi pároco em São Martinho da Cortiça, Tentúgal e Sé Velha. Aqui, nesta paróquia da Alta, por alturas do 25 de Abril de 1974.
Interroguei também uma senhora colaboradora da Igreja para me dar a sua opinião sobre o homem/padre. Sob anonimato, diz-me: “Era uma pessoa directa, sem rodeios. Era frontal e frio. Não utilizava “graxa”. Era um homem que, apesar da sua aparente distância, se interessava por tudo, pela resolução de problemas da vida de quem a ele recorria. Quase sem querer, pela sua honestidade, gostávamos imediatamente dele. Era uma pessoa de acolhimento profundo e em quem podíamos confiar. Desempenhava muito bem o seu papel de padre guardião de almas. Dava um rosto de humanidade e tornava a instituição igreja mais acolhedora –porque (sabe?) às vezes a igreja é muito cinzenta”, confia-me, quase em segredo esta senhora.
O padre Carlos ainda celebrou missa na Igreja de Santa Cruz no dia 22, deste mês de Março. No dia seguinte, a 23, teve um AVC, Acidente Vascular Cerebral e veio a falecer no dia 26 à tarde.
À família enlutada, neste momento de dor, apresento os meus tardios pêsames.
Para o Carlos, o padre amigo, onde quer que esteja, que descanse em paz.
Até um dia destes amigo…

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