sexta-feira, 6 de março de 2009
O HOMEM DO CAIS
Pelo título, poderemos ser levados a pensar que este homem terá a sua barca serrana ancorada no cais da Estação-Nova e, por momentos, entrou nas ruas da Calçada. Claro que o leitor já viu que não é nada disso. Este homem, de nome Giusepe, mais conhecido por “Pino”, há 10 anos que vende a Revista Cais entre as Ruas Ferreira Borges e Visconde da Luz.
Pouquíssimos de nós, mesmo em dia de chuva como hoje, não “tropeçámos” no Giusepe. Certamente, tal como eu, nunca lhe demos atenção. É mais um que vagueia pelas ruas da cidade, como se, com o seu olhar de súplica, procurasse nos nossos olhos um porto de abrigo. Em sentido metafórico, esta pessoa é mesmo o homem do cais. Aquelas ruas são o seu porto. Nós, transeuntes que passamos por ele, quase sempre sem o olhar de frente, olhos-nos-olhos, seremos o seu oceano de esperança.
Mas este homem tem uma história para contar. Afinal, todos temos uma história, não é assim? E se, vagamente, poderemos pensar que este homem será azedo pela natureza da vida, que, em princípio, teria sido pouco generosa com ele, ao trocarmos impressões, ficamos surpresos. Este homem, aparentemente vagabundo de nós, espalha amor de frase em frase.
Giusepe é Italiano. Esteve numa instituição devido a problemas que afectam os humanos, segundo as suas palavras. Gostava que não fosse assim, mas foi. “Valerá a pena renegar a verdade?”, interroga-me. “Temos que nos aceitar como somos. De que vale andarmos em guerra uns com os outros? A vida é amor e o amor alimenta-se da própria vida”.
Veio para Coimbra há uma década. O tempo corre depressa. Nunca imaginei que, desde que vejo diariamente o “Pino”, fosse há tanto tempo.
Já largou a “casa” há muito tempo. Hoje habita um andar arrendado. Vive com a mulher e um filho de 18 anos. “Minha “mulherr” “estarr” “muita” doente. Física e psíquica. "Terr" esquizofrenia", esclarece-me. “Filho andar na escola”.
Quando lhe pergunto se a venda da revista dá para viver, diz-me: “Non! Esta crise veio “piorarr” tudo. Apenas dá para pagar “quarto” (renda da casa)".
Interrogo-o acerca das pessoas, o que pensa delas? São boas ou más para ele? “Muito boas! Eu também não faço mal a ninguém. A vida “serr” muito pequena. Porquê fazer mal? Vida é amor”, conclui.
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