quarta-feira, 8 de julho de 2009

A NOVA VAGA E O HOMEM NA ESCURIDÃO





Por entre laivos de imperialismo em todo o mundo, tenho de confessar: eu admiro os americanos. Tudo começa nos Estados Unidos. Desde os “cowboys”, com a exploração da quinta e conquista da pradaria; a linha de montagem industrial, na reorganização da mão-de-obra; a grande indústria automóvel, com todo o proteccionismo por parte do Estado, que alastraria também à Europa; a grande indústria de extracção do petróleo, como motor de toda a indústria mundial; o nascimento do velho Gramophone; a primeira lâmpada eléctrica; a primeira emissão de rádio; a grande máquina de entretenimento do cinema para todo o globo; a grande indústria do “fast-food”; a Coca-Cola; a produção em massa de material bélico, terrestre e naval; o primeiro humano a poisar na Lua, etc.
No campo social, as grandes reformas, como por exemplo a comemoração do 1º de Maio, começaram nos USA. Igualmente, “ex aequo” com a Europa, por lá germinaram as primeiras ondas de feminismo, ainda no século XIX, e as seguintes nos anos de 1960/70. Contra a discriminação racial, foram dos primeiros abolicionistas, gerando uma guerra fratricida a dividir o país no primeiro quartel do século XIX.
No direito foram sempre uma lição, com uma Constituição que é das mais sucintas e práticas do mundo, a consignar, nos direitos Civis, que tudo é permitido e ninguém deve ser impedido de fazer o que queira, desde que não atinja o direito do próximo. Foi nesta grande nação que se fez o primeiro aborto legal em 1973.
É lá que nasce o Jazz e parte das maiores estrelas de "Rock and Roll".
Por outro lado, no campo económico, é lá que começa a “Grande Depressão de 1929, que se arrasta a todo o mundo. É de lá que parte o “Plano Marshal”, em 1947, de ajuda aos países europeus devastados pela 2ª Grande Guerra. É de lá que, presentemente, para o bem e para o mal, começa a crise mundial do “sub-prime” e o escândalo “Madoff” que arrastaria vários bancos de todo o mundo, inclusive portugueses.
Fazem tudo em grande. Invasões catastróficas, tais como o Vietname e recentemente no Iraque. Morrem pela bandeira com um sorriso nos lábios.
Comecei a escrever este texto pela forma como de um aparente acto de tristeza, os americanos transformaram em alegria. Refiro-me, como já viram, ao funeral de Michael Jackson. Para além de, através de uma máquina financeira sem igual, sem qualquer escrúpulo, como milagre, terem feito de um insolvente vivo, um morto, várias vezes, multimilionário. Quem viu na televisão, em frente ao caixão dourado do finado, uma grande maioria das expressões de muitos amigos era sorridente. Para além de, a formar toilette, juntamente com roupa escura, normalmente ser acompanhada com uma peça vermelha.
E não se pense que estou contra, nada disso. Se a vida é um espectáculo por que raio não o há-de ser também na hora da partida para o outro mundo?
O que eu tenho dúvidas é se esta morte não está transformada numa gigantesca máquina de marketing. Sem que se apercebam, através de um sentimento de perda de uma vida, está alienar-se toda uma população mundial. Sobretudo os adolescentes que pouco conheciam da obra deste músico norte-americano. Está a começar pela sua música, mas, a seguir, creio, virá a “jacson-mania” através de outros objectos de culto.
Claro que temos bem aqui ao lado, em Espanha, um caso idêntico. O que quer dizer que, depois de tantos movimentos religiosos, ao longo da história, tentando elevar o homem moralmente, desapegando-o das coisas materiais, assistimos a uma nova cultura icónica. É como voltássemos atrás, à Antiguidade, ao tempo dos egípcios, à idolatria de novos deuses.
E o curioso é que a criação da Internet, contrariamente ao fim para que foi criada –instruir o homem, quebrando barreiras do desconhecimento, e tornando-o mais culto- é utilizada com mestria nesta adoração de novos ídolos de barro.
O homem, em sentido literal, assistimos, mais do que nunca é um ser manipulável pelos “media”. Insatisfeito com as religiões ortodoxas tradicionais, sempre à procura de uma nova vaga, em que o “re-ligar” já não o liga ao transcendente -porque nele já não acredita-, mas, pelo contrário, precisa de algo material que o toque e, numa mimética, sinta que todos idolatram.
Estamos, assim, no verdadeiro paganismo. Até onde vai conduzir esta nova vaga? Não sei…e provavelmente ninguém saberá. O mundo está em mudança…

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