sexta-feira, 3 de julho de 2009
A ALEGORIA DOS CORNOS DO EX-MINISTRO PINHO
O gesto do ex-ministro da economia Manuel Pinho no Parlamento –e entretanto demitido pelo primeiro ministro- domina hoje as atenções dos “media”.
A primeira pergunta que nos martela é o que leva um político de grandes responsabilidades a perder as estribeiras e reagir como qualquer inconsequente estudante de uma qualquer faculdade.
É lógico que não é o capote que faz o pastor. Por debaixo do agasalho está o homem, e, nessa perspectiva antropológica, tem de se entender um acto desse menos correcto. E se entendermos –deveríamos entender- que um ministro de Estado está sujeito a uma pressão psicológica elevada, mais facilmente se desvaloriza a acção.
Nós, portugueses, temos muita inclinação a exigir que um ministro do governo ou um ministro da igreja, ou mesmo um outro qualquer funcionário que ocupa um cargo de relevo, para além de ter de ser imaculado, seja, no seu dia-a-dia, um poço de (falsas) virtudes. Ele(s) não pode(m) cometer “gaffes”, ele(s) não pode(m) falar de boca cheia, ele(s) não pode(m) dizer que não lê(em) livros, e muito menos dizer(em) o que pensa(m).
É curioso, passamos a vida a exigir que os políticos sejam honestos connosco nas suas promessas, mas exigimos-lhe o impossível, ou seja, que sejam hipócrita e nos mostrem ser aquilo que não são. Andamos sempre a reclamar que os políticos depois de eleitos passam a sumidades, de peito inchado como um balão. Mas, perante o caso de ontem, poderão estas pessoas agir de outro modo?
É evidente que há aqui uma tremenda falta de tolerância para quem nos governa. Uma falta de cultura política. Neste aspecto os países nórdicos terão muito para nos ensinar.
Por outro lado, com esta hipervalorização de um acto simples, ainda que pouco ortodoxo, talvez se explique por que a vida política seja cada vez menos aliciante para pessoas de grande valor para o país. E, sendo assim, entende-se porque é que os partidos estão cheios de falsos aventureiros, torpedos que apenas querem atingir os seus objectivos pessoais.
Tenho de explicar que tenho uma apetência especial por ver sempre as coisas ao contrário, do outro lado do espelho, como costumo dizer. Se me perguntarem se gostei de ver a acção no parlamento, confesso, não gostei. Mas há muitas atitudes que não gosto em muitas pessoas, e até em mim, e depois? Este caso é susceptível de implicar demissão imediata? Tenho as minhas dúvidas.
José Sócrates, quanto a mim, esteve mal. Agiu no calor da discussão do momento, e pela pressão do calendário eleitoral. Fez o que a oposição queria que se fizesse. A oposição aqui, e sempre, age como um “serial killer”, quer é sangue a todo o custo para satisfazer os seus desejos animalescos. Pouco lhe importa o sofrimento que possa causar a terceiros, neste caso os custos para o país, tendo em conta que é (era) o ministro da Economia, e estamos em fim de legislatura.
Somos mesmo um país de atrasados. Um país de virgens corrompidas, fingidas, que exigem dos outros que sejam o que não são.
Talvez valesse a pena pensar nisto…
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2 comentários:
Espero que este blog seja bastante divulgado, porque quem o lê...sem dúvida que nos indetificamos bastante nas suas palavras. E quem não se identifica com elas, vê pelo menos o "outro lado do espelho" como diz.
Quanto ao Sócrates... sem dúvida ele sim foi um mau exemplo de como um "Patrão" deve tratar os seus "Empregados". Mas dessa parte poucos se lembram realmente!
Este blog é um apoio a causas humanas e culturais e no fundo não precisa muito para o fazer..pega nos seus dons que são as palavras e as pequenas acções num mundo tao perto de si para ajudar quem mais precisa.
É um gosto ler diariamente este blog!Deviam circular por aí mais palavras e acções deste tamanho!
Enriquecem nos a mente!Mts Parabéns!
Obrigado Ana. É muito generosa. Fico naturalmente contente. Estaria a mentir se dissesse o contrário. Muito agradecida mesmo.
Abraço.
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