sexta-feira, 10 de julho de 2009

CAMINHAR NOS SONS




Já vos aconteceu, num qualquer tempo,
ouvir, repetir, uma melodia em abstracção,
degustá-la, parecer que se caminha lento,
como anjo, nas nuvens, sem pé no chão,
contando os sons de um qualquer vento,
levitando, num grande voo de falcão,
abrindo as asas sem emudecimento,
à procura de um amor, em consumição,
nas nuvens negras, procurando um cimento,
que desse sentido à vida, uma orientação,
até porque o pássaro sabe quanto é ternurento,
em tantos oceanos encapelados haverá acareação,
mesmo na onda gigantesca mora emurchecimento,
numa fortaleza dura mora sempre um coração,
mais cedo, mais tarde, ou até no envelhecimento,
quando já cansado, trôpego, diz não ligar à paixão,
toca sentir a vida, em recta final, de reconhecimento,
todos juraram sempre ser ateus, rezam uma oração,
vem o temor num mundo enorme em desconhecimento,
mudamos tanto, tanto, tanto, que não tem explicação.

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