quinta-feira, 16 de julho de 2009

BAIXA: A ESTRUTURA DA INSENSIBILIDADE








 A história começa na Finlândia, no Norte da Europa. Dois investidores russos, naquele país nórdico, apaixonados por Portugal, talvez pelo seu clima ameno, contactam um promotor imobiliário: queriam investir no nosso país.
Segundo o meu informador, que tem acompanhado de perto esta odisseia, e que pediu o anonimato, “perante o desejo dos compradores, e quererendo estes apostar na hotelaria, o intermediário finlandês, para além de outros, aconselhou a compra de uma fracção destinada a esse efeito, no Edifício Azul, aqui em Coimbra, no Largo das Olarias, junto à Loja do Cidadão”.
Continuando a citar o meu depoente, “os russos não conheciam nada de Portugal. A mais de cinco mil quilómetros da cidade dos estudantes, perante, o vendedor, formularam algumas questões, e, logo ali, com a fotografia e plano do futuro estabelecimento, imaginaram um anteprojecto de uma esplanada coberta em frente à futura Pizzaria.”Não há problema nenhum. Não é preciso nada. Tratam do licenciamento do estabelecimento e colocam lá a futura esplanada que ninguém vos chateia”, terá dito o promotor do país vizinho da Rússia. E os investidores adquiriram a loja de Coimbra.
Ainda segundo o meu informador, “há cerca de três meses começaram a tratar do licenciamento do estabelecimento na autarquia, ao mesmo tempo que adquiriam maquinaria e decoravam a futura pizzaria. Segundo a sua convicção, como tudo estava a correr lindamente, há cerca de um mês, através do IEFP, Instituto de Emprego e Formação Profissional, contrataram 6 pessoas, que já estão a pagar salários. Contam estar abertos pelo menos até à meia-noite, e com serviço de entrega de pizzas ao domicílio”.
Continua a minha fonte, “por pura ignorância, há cerca de três semanas, começaram a montar a estrutura para a futura esplanada, em frente ao estabelecimento, sem qualquer projecto ou licença camarária. Logo a seguir veio a fiscalização e embargou toda a obra. Ou seja, embora sejam projectos autónomos, o interior da futura pizzaria e as obras da esplanada”.
Continuando a citar, “olhe que são pessoas de uma humildade a toda a prova. Repare, durante este processo de adaptação do estabelecimento, houve um vizinho que se queixou aos russos do barulho dos operários. Pois, acredite nisto: eles pararam imediatamente as obras. A partir daí foram concluídas durante a noite e ao fim de semana”.
“o que me parece é que há aqui uma extrema falta de sensibilidade. Os russos estão na disposição de retirar imediatamente as barras de aço inox. Uma pizzaria aqui na Baixa é importantíssima para a sua dinamização. Era bom que abrisse depressa. O problema é que parece que a câmara não leva isso em conta. Ainda há dias aqui passou o advogado dos investidores russos e me disse que até a simples confirmação de uma reunião com a edilidade para desbloquear o problema está a ser difícil”, enfatiza o meu amável informador.

EM JUÍZO DE VALOR:
Como ressalva de interesses, por impossibilidade, naturalmente que não ouvi nem os investidores russos nem ninguém da autarquia. Logo, sobretudo no tocante à Câmara Municipal de Coimbra, podem as coisas não ser como aparentam. Mas vamos partir do pressuposto de que serão mesmo assim, e…?
Nesse caso, a ser assim, a autarquia não está a levar em conta vários factores:
1-É um importante pólo dinamizador para a Baixa. É deste género de estabelecimentos que o centro histórico precisa;
2-Vai empregar 8 pessoas;
3- É um investimento de mais de um milhão de euros –há cerca de três anos, um funcionário da firma mediadora que estava a vender esta fracção pediu-me 900 mil euros;
4-Não entendo, como é que se pode embargar todo o projecto se a violação incide apenas na falta de autorização de montagem da esplanada;
5- Não entendo, e levando a sério as palavras da minha testemunha, como é que a autarquia trata este caso com alguma (aparente) displicência;
6-Não entendo, como não é levado em conta a atenuante de serem estrangeiros e, portanto, desconhecedores da nossa tramitação legal.
Ficam aqui várias questões por responder. Tenho esperança que depressa este processo, a bem de toda a Baixa, e em que prevaleça o bom senso, seja desbloqueado.
Vou aguardar serenamente –como se diz na gíria
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