sábado, 4 de julho de 2009

A FRASE MAIS IDIOTA DO ANO (OU NEM POR ISSO)




Segundo o Semanário Sol online, “o empresário Joe Berardo -um dos homens mais ricos de Portugal- disse esta sexta-feira em entrevista à SIC Notícias que convidou o ex-ministro da Economia Manuel Pinho para o cargo de administrador da sua fundação. “É um homem que ainda tem muito para oferecer a Portugal, justificou.”

Várias questões se levantam aqui. Começo pela mais ordinária e cínica: “é um homem que ainda tem muito para oferecer a Portugal”. Isto proferido assim, neste ar de “coitadinho, vou ajudá-lo. Depois do que ele fez, só eu, o pai dos desgraçadinhos e abandonados políticos, posso interceder por ele”, é dos maiores insultos que se pode fazer a uma pessoa. É simplesmente escabroso.
Eu não conheço Manuel Pinho. Nem nada me move para além de algum sentimento de justiça. Mas, por acaso, ele será algum pobre diabo? Esteve quatro anos no governo, foi por cunha, ou, pelo contrário, foi devido à sua grande competência na área financeira do Grupo Espírito Santo? É verdade ou não que a pasta da Economia, das Finanças e da Educação são as mais difíceis de gerir no governo? Ora, Pinho, apesar da grande antipatia dos “media” –que andam sempre à procura de uma caricatura nos governos para poderem, como abutres, dissecar tudo até ao tutano-, mesmo assim, aguentou-se quatro anos. E, quanto a mim, deveria continuar. O primeiro-ministro, escorregou na casca de banana, colocada de propósito pela oposição. José Sócrates, a três meses das eleições, prestou um mau serviço ao país e não foi solidário com quem, durante quatro anos, o foi consigo, e com todo o programa de governo do partido Socialista.

Depois, levanto outra questão, quanto a mim, muito importante. É urgente legislação que obrigue a que, pelo menos durante uma legislatura de quatro anos, um ex-membro do governo não possa fazer parte de um qualquer grupo económico. É escandaloso o que se está a passar em Portugal. Nem vale apenas citar os diversos actores que fazem parte desta comédia dramático-burlesca. É dantesco. É abominável o que se está a passar no país. É uma sem-vergonhice. Se é preciso, durante quatro anos, subsidiar um ex-membro do governo, faça-se isso. Que durante este período de tempo, se o quiser, trabalhe no Estado. Só assim se consegue evitar este conluio desgraçado entre o poder político e económico.

Para terminar, outra vez, vem então a frase estapafúrdica de Joe Berardo: “É um homem que ainda tem muito para oferecer a Portugal”.
Não tenho dúvida nenhuma que tem. Mas não é desta forma, indigna, que se aproveita a sua experiência e o seu saber. Aproveito, daqui do meu cantinho quase anónimo, para mandar um grande e sentido abraço a Manuel Pinho, e, fazendo votos, para que, pela sua dignidade, não aceite o convite de Joe Berardo.
Sinto-me tão indignado que, em lamento, tal como Maria João Pires, só me apetece renegar à nacionalidade. O meu problema –contrariamente à grande interprete- é que a mim ninguém me aceita.
Tristeza de pais suburbano, terceiro-mundista e pacóvio.

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