segunda-feira, 13 de julho de 2009

ESCREVENDO...




Eram duas árvores, filhas de outras árvores, perdidas na floresta,
pouco cuidadas, em dias de sequeiro, abandonadas ao deus diria,
em folhagem descuidada, na sombra, ninguém procuraria a sesta,
nenhum melro escanzelado faria ninho, muito menos cantaria,
eram párias, filhas de outras paupérrimas, na luz, eram fresta,
só milagre evitaria que não seguissem a prole de indigência vazia,
só em tristeza e solidão eram fartas, alegria, só em dia de festas;
Uma das árvores, como “lingrinhas”, ambiciosa, talvez Sobreiro,
namorando a ramagem de Oliveira, pensou, porque não uma união?
De duas linhas toscas, fizeram uma mais frondosa, em canto soalheiro,
trocaram juras de amor, fidelidade, de dois, fizeram um só coração,
em vontade única, tocados pelo Sobreiro, construíram um canteiro,
vieram os filhotes, um sobreirinho e uma oliveirinha, uma adoração,
Sobreiro esfalfava-se, para os rebentos não serem um vulgar Salgueiro;
Mas, no dar, havia um pormenor importante que Sobreiro esqueceu,
só se dá valor ao que se recebe se tal dádiva muito esforço e suor custou,
e esse gosto amargo, acre, do dissabor só o conhece quem muito sofreu,
quem herda por acaso, na roleta da vida, é como ter amor que nunca amou,
é fardo, é gosto sem ser gosto, num Agosto de um ano que já morreu,
fantasma de coisa nenhuma, alma negra vazia, dela nunca se separou,
é parasita, é fungo invasor, é vírus que se aloja em algo que não é seu;
Oliveira, mãe-galinha, mesmo vendo o desperdício que se avizinha,
protegendo insano os pródigos, desvalorizando a acção de Sobreiro,
vai alimentando conflitos, em desgaste permanente, parece tolinha,
a vida no agora jardim é pior que noutro tempo miserável cavouqueiro,
Oliveira, mãe-de-azeite, esquecida das nuvens revoltas, tão “tadinha”,
repetidamente, acusa exagero, no escrito pessimista, acusa Sobreiro,
torna-se inconsequente, não reconhece erros, quase os acarinha;
O outro erra sempre, é o culpado de tudo, mesmo se a neve branquear,
chover no nabal, fizer sol na eira, um raio no sonho de um qualquer verão,
não deu carinho aos rebentinhos, coitadinhos, foi viciado a trabalhar,
ficaram frustrados, odeiam o trabalho, uma canseira, um inferno de razão,
é castigo divino, é a vingança do pai, é a natureza numa partida a pregar,
para onde caminha este jardim, tão sonhado, agora poema de canção,
interroga o velho Sobreiro sobre o futuro, que parece escuro e a soçobrar.

Sem comentários: