É domingo, dia de eleições. Os dois homens caminham lado-a-lado, descontraidamente , ao longo das ruas da calçada. Apesar de estar um chuvisco miudinho, curiosamente, ambos estão vestidos com calças de ganga, camisa de meia-manga, com o pulôver pelas costas e atado com um nó sobre o pescoço. Usam ambos óculos e uma longa clareira no centro da cabeça mostra o quanto a têm arranhado nos últimos dias.
A conversa estava animada. Diz um deles: “ó pá, eu bem avisei o partido que isto ia acontecer. Este gajo nunca me enganou. Eu vi logo que isto ia dar bronca. E aí tens o resultado. Se o gajo arranja as quatro mil assinaturas temos o caldo entornado. Ó meu!, estava tudo a correr tão bem! Eu vi logo, eu vi logo! Isto só a mim é que acontece…
-Ó Carlos, desculpa lá, pá, mas acho que estás a ferver em pouca água. Para já, nem acredito que o gajo consiga as quatro mil assinaturas necessárias para a candidatura à câmara. E se conseguir? Que mal tem?
-Ó João, tu estás lerdo ó quê? Se o gajo consegue estou f*d*do! Já viste, estes mentecaptos que votam em nós querem é carne fresca, não importa quem seja. Sabes bem que se o gajo consegue as quatro mil –oxalá que não, Deus queira que não, o Salvador nos salve de tal peste, fazendo o sinal da cruz- e vai a votos, é do nosso eleitorado que sai. Ó meu, foi o pior que nos podia acontecer. Fosca-se! Estava tudo a correr tão bem…
-Estás-te a referir ao gajo do Civil? Ah, pois! Lá isso é verdade. Eram favas contadas. Se o teu ex-amigo do peito vai às urnas, vem baralhar tudo. Estás feito, meu! Ó pá porque é que não vamos a Fátima a pé? Fazíamos uma promessa…
-Qual promessa, qual carapuça?! Ó João, ás vezes és tão estúpido. Achas que isso resolve alguma coisa? Temos de ser mais pragmáticos, homem de Deus! Amanhã, contactas o professor Mambo. Este sim. Tira-lhe tudo, até a vontade de “coisar”…estás ver?! E se não resultar contactas o Dr. Motowa Radi -vi há dias um panfleto dele no blogue "Ponte Europa".
Temos de pensar numa táctica. E se não chegar vamos pelo Sporting…
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