("A ÚNICA COISA QUE ME RESTA É ESTA CANETA", DIZ O EX-MINISTRO DE CAVACO)
Eu embirro com esta imprensa que temos. Ou seja, que não temos, porque a que temos não serve. Vão desculpar que estou irritado. E não é por nada mas quando estou furibundo disparo em todas as direcções. Tanto me faz apanhar pela frente uma televisão, como um rádio ou até uma “catrafada” de jornais. É tudo a mesma porcaria. Fosca-se! Parecem os partidos que concorrem ao Parlamento Europeu. Querem é ser eleitos, e mais nada!
Vejam bem se não tenho razão para estar irritado. De manhã, noticiava o semanário “Sol”, citando outro jornal, o “24 horas”, de que ex-ministros ganhavam fortunas depois de terem saído do governo.
Claro que quando vi aquilo, num silolóquio –ah grande palavrão, desculpem lá mas como quero (queria) chegar a ministro tenho de usar palavras caras. Não sabem o quer dizer? Paciência. Eu também não! -dei por mim a falar sozinho, assim numa espécie de “diálogo” só comigo –estão a ver?. Ó Luís, tu és um doido! Então tu, meu artista, que te andas a perder nestes becos e ruelas sem sol da Baixa, não vês que o teu futuro é ser ministro, meu artolas, que já perdeste imenso tempo?!
Vai daí, comecei logo a fazer telefonemas –agora até uma boa altura, pensei cá com os meus botões. Ontem foram as eleições, e, de certeza absoluta, que falta sempre alguém para preencher um lugarzito lá na Europa de Bruxelas. Porque não é qualquer um que se sujeita a sair do rectângulo –deixando a mulher e os filhos, o cão, o gato, e até os galináceos- por causa de um ordenado “mixuruca” de mais ou menos vinte mil euros. Porra, só pessoas desapegadas dos bens materiais, com grande amor à causa pública é que se sujeitam a um ultraje destes. Claro que, conhecendo-me eu tão bem –sei do que sou capaz- vi logo que um altruísmo destes era genuinamente para mim.
Mas, qual quê? Está tudo cheio. Falei com todos os 22 deputados eleitos, e nada. A única que me deu alguma esperança foi a Ilda Figueiredo, mas foi avisando logo que se calhar o miserável ordenadito ia direitinho para o partido. Isso não! Gritei a plenos pulmões.
Liguei para o gabinete de José Sócrates, não consegui falar com ele. Disseram que hoje de manhã não foi trabalhar, que estava com umas encefalalgias terríveis –palavra que até fiquei com pena do senhor. O que lhe teria provocado estas terríveis dores de cabeça?
A seguir liguei para a Lapa, em Lisboa, e pedi para falar com a doutora Manuela Ferreira Leite. Também não estava. Irritei-me logo. Comecei a ver aqui logo coisa. Isto era complot para não me darem um lugarzito. “Que não senhor, que eu não ficasse com má impressão, que era mesmo verdade, a doutora passou a noite toda a fazer carantonhas à fotografia do Luís Filipe Menezes”, disseram-me do outro lado do fio. Que diabo!, mas por que seria? –interrogo eu, abismado com o comportamento disfuncional desta gente que nos desgoverna e pretensamente dizem querer governar.
Já sei! Disse eu para mim, no tal solilóquio, ligas ao Louçã, que, se não se conseguir nada, para já fica lá o nome. Qual quê?! Também não consegui falar com o líder da esquerda em bloco. Também não trabalhou de manhã. Disseram-me lá da sede de campanha que passou toda a noite ajoelhado a pedir ao Santo Condestável que elegesse o terceiro deputado. “Coitadinho do senhor professor! –disse-me a funcionária em lamento-, quando entrei ao serviço, estava a pobre alma com os joelhos em sangue. Chamei logo o 112”.
Fosca-se!, não me safo mesmo –continuava eu no meu solilóquio-, vou mas é ligar ao camarada Gerónimo. Como ele foi operário trabalhador como eu, certamente vai entender esta minha necessidade. Está bem, abelha. Também não foi trabalhar. Passou a noite toda a dançar, para comemorar a grande vitória da esquerda sobre o capitalismo, ao som da música do Quim Barreiros.
Ao Portas (do lado direito) já nem liguei. Adivinhei que estava também a comemorar a grande vitória sobre as sondagens, que o davam como extinto, coitadinho. Palavra de honra fiquei tão feliz pelo Paulinho.
Pensei, pensei, quem é que me falta ligar?! Ah, já sei! Vou ligar ao Barroso, pensei cá com os meus botões. Falei para o gabinete, lá de Bruxelas, e nada. Ninguém atendeu.
Bolas, para isto. Mas eu não sou de desistir (só às vezes, quando é preciso). Vou mas é ligar ao presidente Cavaco. Como deve estar contente pela vitória da Manuela, pode ser que “chova” qualquer coisinha. Qual quê?! Quando falei à assessora que precisava de um lugarzito, nem me deixou terminar a frase. Pumba! Desligou-me o telefone.
E então agora vou mostrar por que estou bera. Depois de tantos telefonemas inglórios, leio no “Correio da Manhã” que afinal Dias Loureiro, um ex-ministro, não tem bens penhoráveis. Só tem uma quotazita numa empresa em que é sócio.
Porra! Quem é que pode confiar nesta imprensa? Isto é mesmo só para enganar o povo. Lá tenho eu que continuar a cantar a canção do bandido para os poucos que acreditarem em mim. Fosca-se, para isto…
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