(IMAGEM DA WEB)
Como se sabe, começou no dia 16, deste mês de Junho, o julgamento de Vitália Ferreira (VF), acusada pela firma “In Tocha, Hotelaria, Lª, da prática de cinco crimes de difamação e de ofensa de pessoa colectiva por declarações prestadas aos jornalistas e ainda a um funcionário do bar da Associação Académica de Coimbra (AAC).
Como ressalva de interesses, tenho familiares a morarem junto à AAC. O que quer dizer que, naturalmente, conheço todo o processo que está na base da demanda que, pelo elevado ruído, opõe VF e os restantes moradores da Rua Padre António Vieira à firma citada.
Naturalmente, pelo desconhecimento deste processo em curso, de alegada difamação, que está a ser julgado no Tribunal de Coimbra e recomeçará na próxima terça-feira, não irei proferir opinião sobre os autos em apreço.
O que me leva escrever é que me parece que esta demanda contra VF deveria servir de caso de estudo. Primeiro, porque VF foi sempre a cara da coragem e da dignidade contra uma afronta que era notória para todos os seus vizinhos da mesma rua. Apesar de um abaixo-assinado, com mais de 90 assinaturas, pelo incómodo causado pelo ruído a todos naquela artéria, foi sempre sozinha à Câmara Municipal contestar a passividade das autoridades competentes e reivindicar um seu direito legítimo ao descanso.
Segundo, igualmente, também num direito legítimo, a empresa acusada, neste processo, passa a vítima, e demanda, por ofensas difamatórias, VF.
Não está em causa a razão, ou não, que assiste a empresa “In Tocha” –não contesto o seu direito de alegação, e, sobre isso, o Tribunal se pronunciará-, mas uma coisa ninguém pode negar, VF aparece neste processo, agora a ser julgado, como uma mártir ou vítima de um sistema que, ainda que pareça justo, pela equidade de reivindicar o direito pelas partes, moralmente, acaba por ser iníquo.
VF, sentada sozinha no banco dos réus, mais uma vez, sem ser eleita, é a representante de todos os moradores da Rua Padre António Vieira. Ainda que lute pelos direitos de todos, é ela que está a ser julgada. Digamos que é uma causa bem “à portuguesa”, em que uns sobem à oliveira e, esforçadamente, abanam a árvore e arranham-se para mandar as azeitonas para o chão. Outros, cá em baixo, no solo, olhando para o esforço do estóico, limitam-se a apanhar os frutos.
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