No meu largo mora um preto,
angolano, toca, canta de contente,
nunca ninguém o viu triste,
com alma de descontente;
Ao fim-de-semana, nesta praça,
o amigo não é ignorado,
esteja sol ou chuva faça,
na sua alegria é notado;
Será que tem alma diferente,
não gosta de fado inquietação,
parece que não é como a gente,
terá música no coração?!;
O preto está sempre a rir,
nunca está triste o rapaz,
como se procurasse fugir
duma senda em grande paz;
Porque é tão alegre este ser,
em lição põe-me a pensar,
será para os lusos um dever,
na angústia, na depressão estar?!;
Ao ritmo africano, apetece-me dançar,
não devo, tenho pena, parece mal,
estou triste, estou abatido, devo mostrar?
se não estou, vou ficar, é fatal;
Mas porque é o homem assim,
se apenas a diferença está na cor?
Interrogo em pensamento para mim,
navegará ele na lua, e eu em mar de dor?!
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