terça-feira, 2 de junho de 2009
A DESORDEM DA ORDEM
Como se sabe, ontem, na RTP1, no programa “Prós e Contras”, houve um alargado debate em torno do Bastonário da Ordem dos Advogados, António Marinho e Pinto.
Ouvi, e vi, com atenção, na esperança de ficar mais esclarecido em relação à actuação do timoneiro dos causídicos. Confesso que se estava baralhado confuso fiquei. O que vi ali, como certamente outros se aperceberam, foi um “faroeste” num xerifado. Todos disparavam e se agrediam mutuamente, mas todos eram amigos, segundo diziam. Estranha amizade aquela. Advogados! Dirá você, num meio de um bocejo.
Que deve haver muitas maçãs podres no seio da classe também não fiquei com dúvidas. Que fiquei ainda mais confuso do que já estava em relação à personalidade de Marinho e Pinto também é verdade. Que deve ser uma pessoa de extrema sensibilidade não duvido. Que é bipolar –no sentido de actuar nos pólos, ou seja tão depressa dá a camisa como, em caso de refrega, pode desnudar o outro- tenho a certeza. Perante aquelas desoladoras imagens de desentendimento –afinal nem me deveria admirar. O que vimos ali é o que se passa em todos os sectores da sociedade, é o que se passa no país. É assim no funcionalismo público em geral, é assim nos sectores primário, secundário e terciário.
Aqui, no rectângulo “do todos reivindicam, todos têm um diagnóstico e sabem o que é preciso fazer”, mas depois a força esvai-se em discussões fúteis como a que assistimos ontem, com os interesses conflituantes de uns e de outros.
O bastonário, em metáfora, pareceu-me um transmontano -puro, sério e bom, embora truculento a lidar com os citadinos, hipócritas, interesseiros e imberbes- caído no meio de uma cidade cheia de burgueses cheios de vícios. Aliás, constatei isso quando ele, sozinho como Robin dos bosques, se insurgiu contra o tratamento preferencial –trata-se de dar preferência ao advogado num qualquer serviço público. É lógico que tem razão. Alguém numa fila gosta de se ver ultrapassado por outro qualquer? Ainda se lembram do “caso do Multibanco” em Coimbra? Pois, eu conto. Segundo os jornais à época, estava uma fila de várias pessoas para uma máquina de levantamentos de multibanco. Veio um juiz, em serviço no Tribunal Constitucional, e, sem explicações, colocou-se à frente de todos. Um dos pacientes –que infelizmente já não está entre nós- da fila insurgiu-se contra a má-educação do magistrado e este mandou prendê-lo. Digam lá está certo o que o juiz fez? O bastonário tem ou não razão em estar contra o tratamento de preferência?
Apesar de continuar perdido sem fio condutor, ainda que discorde um pouco da forma de actuação em detrimento do conteúdo, acho que Marinho e Pinto poderia ter dado um bom bastonário. Não está certo em tudo. Mas na maioria está. Uma oportunidade perdida pela recuperação da imagem da justiça. Uma pena!
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