terça-feira, 16 de junho de 2009

UM DUVIDOSO PROCEDIMENTO (PELO MENOS MORAL)






O Diário de Coimbra (DC) de 12 de Junho trazia um extenso trabalho em que entrevistava o presidente da Metro Mondego, Álvaro Maia Seco (AMS), e com o título: “Demolições na Baixa podem regressar já em Dezembro”.
No final deste ano, o mais tardar nos primeiros meses de 2010, as demolições vão regressar à Baixa de Coimbra e aí, acredita AMS, não haverá mais interrupções até o canal ficar preparado para receber o eléctrico rápido de superfície. (…) Temos preocupações muito grandes de protecção do património e da arqueologia. (…) Neste momento, há três equipas de projectistas a trabalhar naquela zona, que inclui o prédio onde está o restaurante Democrática e ainda os edifícios que dão para a Praça 8 de Maio”, refere AMS ao DC.
Continuando a citar o DC, “Neste polémico processo de demolição do corredor central da Baixa, a Metro Mondego conseguiu evitar o encerramento, mesmo que provisório, da Farmácia Central e da Palmeira. (…) Mas aproveitou assim, esta entrevista, para esclarecer os que tem criticado o facto da farmácia ir agora mudar para um local de onde foi expropriado um comerciante. “As pessoas ficam perplexas mas é a maneira mais eficiente de gerir todo este processo. A outra alternativa era desalojarmos a Farmácia Central e a Palmeira, o que implicava mandar para o desemprego dezenas largas de trabalhadores. (…) Assim, porque já foi feita a prospecção arqueológica ao espaço que era da Joaninha (loja de brinquedos) a Farmácia Central pode mudar-se para lá, para os trabalhos seguirem onde está agora a farmácia. (…) Faz-se então a demolição do prédio onde hoje está a farmácia e a Palmeira e só no fim se destrói o prédio da Joaninha, sendo que a farmácia, nessa altura, sai para o novo edifício e da Joaninha é reconstruído”, extractos da entrevista de Álvaro Maia Seco, presidente da Metro Mondego ao DC.
C
omeço por dizer que o “expropriado”, dono da Joaninha, João Monteiro, é meu amigo.
A seguir, ainda que legalmente o processo possa não ser reversível para o João Monteiro, uma coisa é certa: a empresa Metro Mondego sai muito mal deste aberrante retrato.
É certo que o Monteiro aceitou uma indemnização para largar o seu estabelecimento de cerca de trinta anos e com quatro trabalhadores. Mas há uma coisa que não podemos esquecer: o “lait motiv” da sua saída foi a ameaça de expropriação. E mais: em 30 de Setembro de 2008, encontrando-se o meu amigo João cheio de mercadorias, que tinha adquirido, a contar ainda fazer o Natal no seu estabelecimento, foi abruptamente informado de que teria de sair imediatamente. É certo, saliente-se, de que tal premissa tinha sido acordada, mas num contexto de estado de necessidade.
Ora, o que veio a acontecer é que, passado quase um ano, a loja continua de pé, e, estranhamente, seja ou não para demolir, foi completamente restaurada.
O que vem dizer o presidente da MM é que houve preocupação com as largas dezenas de pessoas para que não fossem para o desemprego. Então e as quatro que trabalhavam na Joaninha, não eram pessoas? Patranhas, e mais patranhas! O que se passou é que, legitimamente e muito bem, a Democrática, a Palmeira e a farmácia Central, souberam resguardar-se, fazendo uma “task force” e, felizmente para eles, levaram os seus direitos avante.
O João Monteiro, porque estava financeiramente debilitado, embarcou neste metro de duvidosa credibilidade futura para a cidade de Coimbra. E o resultado: o meu amigo Monteiro está muito afectado com toda esta situação de flagrante injustiça. Houve aqui, notoriamente, a raiar o escândalo, dois pesos e duas medidas.
Pode até vir dizer o presidente da MM, e acredito que cumpriu todas as formalidades jurídicas, que legalmente está tudo correcto. Mas, para além do direito, estão as pessoas, as suas vidas, as suas memórias, e isso a MM não quis saber. Infelizmente, penso não poder ajudar o João Monteiro, mas se puder, fá-lo-ei…


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